domingo, 28 de agosto de 2016

Capítulo Quarenta e Sete Ponto Dois

(...)

Fei mal podia acreditar, flexionando os dedos e as mãos estendidas diante de si mesmo e então olhando para o ventre, e para as pernas. As lembranças estavam muito confusas, mas acreditava se lembrar de algo quebrado em seu tronco... Talvez também a perna direita... E agora...
_ ... Estou curado...
_ Você ficou dormindo nesse nanorreator por três semanas.
Havia um senhor idoso de ar gentil diante dele, e Fei tinha certeza de que não o conhecia de parte alguma. Olhou para a máquina que lembrava um liquidificador e de volta para o desconhecido.
_ Nanorreator...? Quem é você?
_ Eu...? – deu de ombros e se afastou um pouco, de costas para Fei – Eu esqueci o meu nome... Algumas pessoas me chamam Taura...
O homem voltou-se, sorrindo abertamente para Fei. O rosto estava meio encoberto pelo manto branco que usava, mas era possível notar que ele estava muito avançado em idade, talvez fosse a pessoa mais idosa que Fei já vira. Bem, depois da Rainha Zephyr, embora ela não parecesse ter a idade que tinha. Mas, ainda havia muita vitalidade naquele senhor, que obviamente sorria ao acenar afirmativamente para ele.
_ E você, parece ter se recuperado completamente. Aqueles eram ferimentos terríveis, mas talvez sua juventude e força tenham ajudado. Mas... os ferimentos da sua amiga são mais sérios, e podem tomar um pouco mais de tempo...
E ele solenemente se afastou, enquanto Fei se dava conta do outro cilindro no aposento.
_ Minha amiga...? Elly!!
Imersa no mesmo líquido esverdeado e num cilindro diferente, Elly dormia. Estava flutuando sentada em posição fetal e parecia inconsciente, e Fei sentia em si uma confusão de sentimentos ao vê-la naquele estado. Ao menos, pelo pouco que podia enxergar de seu rosto, ela parecia tranqüila, e não sentindo dor.
_ Elly...
_ Ei! – Taura chamou da porta do aposento enquanto saía – Pare de ficar olhando para a garota nua e venha pra cá!
Foi quando Fei se deu realmente conta do estado de Elly e ficou de costas, o rosto em brasa enquanto Taura deixava o recinto. Mas, ao se voltar para fazer o mesmo, Fei percebeu alguma movimentação no cilindro.
_ Elly...?
Era como se ela tivesse se movido. Continuava inconsciente e flutuando no nanorreator, mas estava voltada para ele.

_ Fei!!
Citan estava esperando lá fora, e o alívio em seu rosto era imenso quando ele se aproximou e cumprimentou o jovem amigo.
_ Doc!!
_ Eu ouvi o que houve de Taura e vim direto para cá! Rapaz, aquilo sim foi sorte. Foram muito afortunados de ter descido perto da instalação de pesquisas de Taura...
_ Hm, isso não é instalação de pesquisas nenhuma – Taura corrigiu – É o ‘esconderijo de um homem’! E você, rapaz... Citan me falou a seu respeito. Eu fiquei chocado ao ver um casal caído e encoberto de sangue.
_ Um casal...
_ Seja lá como for – Citan interveio – Vocês escaparam por muito pouco. Fei, não se esqueça de agradecer a Taura!
_ Taura, muito obrigado a você – Fei curvou a cabeça – por ter salvo Elly... Elly e eu fomos feridos com tanta gravidade, e agora... Afinal, que máquina é aquela?
Ele tornou a olhar para o próprio corpo, sentindo o local onde tanto doía antes. Parecia difícil acreditar que realmente estivera ferido, porque não havia sequer uma cicatriz.
_ É chamada de ‘nanorreator’. É um equipamento que pode reconstruir substâncias em nível molecular. Não apenas pode curar humanos mas, em teoria, deve também ser capaz de criar muitas substâncias.
Ao ouvir falar em cura molecular e criação de substâncias, Fei sentiu sua memória se agitar. Agora se lembrava de onde ouvira o termo ‘nanorreator’ antes.
_ Não é a mesma coisa que daquele cara em Solaris...? Digo, é o mesmo que Krelian está estudando?
_ Sim, isso mesmo – concordou Taura, desviando os olhos – Eu fui a pessoa quem ensinou nanotecnologia a ele.
_ Foi você?
Um sinal eletrônico se fez ouvir no outro aposento, e Taura voltou seus olhos para a porta.
_ Não deveríamos desperdiçar tempo falando de um assunto tão pouco importante. Parece que o tratamento dela terminou. Ah, você não precisa vir – ele acrescentou, ao notar que Fei parecia disposto a acompanhá-lo – Apenas espere aqui.
Fei se manteve em silêncio, pensativo enquanto esperava, e Citan percebeu que seu jovem amigo estava imerso em reflexões. E assim ele se manteve até que a porta se abriu e Taura retornou, com Elly caminhando diante dele e parecendo tão ilesa quanto o próprio Fei.
_ Elly!
_ Fei... Eu...
Os dois olharam de um para o outro nos olhos em silêncio pelo que pareceu um tempo muito longo. Enquanto estavam inconscientes... algo acontecera. Algo que dançava nos recessos das memórias de ambos, algo muito importante e profundo, que dizia respeito aos dois. E não havia como descreverem o alívio que cada um sentia por ver o outro plenamente recuperado.
_ Aham! – fez Taura, interrompendo o silêncio – Agora, por que os dois não vão respirar um pouco de ar fresco lá fora? Isso deve acalmar o choque da mudança.

_ Eu sabia que era você...
_ Fei...?
Estavam do lado de fora da casa de Taura, na floresta. Era dia claro e no entanto, estava consideravelmente escuro ali; as copas das árvores eram amplas e próximas e escondiam muito da luz do sol, como na Floresta das Trevas onde ele a conhecera. Ou... onde a reencontrara...
_ Quando você entrou na sala agora a pouco – ele deu as costas a ela, parecendo encabulado – Eu tive medo de que você pudesse ter esquecido de mim e de todo o resto...
_ O que quer dizer...?
_ Digo... porque... Elly, você parecia um pouco diferente de antes...
Elly também deu as costas a ele. Agora ela também estava sem jeito.
_ O... O meu rosto mudou?
_ Não, não é isso – ele voltou-se para ela – Foi mais como se... Bom... Eu quis dizer que sua atmosfera, ou impressão está diferente... Só um pouquinho... Mas... eu senti algo familiar...
Ele tornou a esconder o rosto, e baixou os olhos. Era estranho, sabia do quê estava falando, mas não sabia como dizer aquilo. Principalmente, não sabia como dizer sem parecer ter enlouquecido.
_ Eu me senti do mesmo modo como quando conheci você... Uma sensação peculiar como se já tivéssemos nos encontrado antes, em algum lugar...
_ Fei...
Elly também se afastou um pouco, sem se voltar. Quase parecia que ele também...
_ Sim, o que foi?
_ Eu não me lembro muito do que aconteceu depois que fomos alvejados...
_ Acho que é melhor assim.
_ Mas eu ouvi alguém chamando o meu nome – Elly voltou-se para ele, muito séria, e sabia que de algum modo ele saberia do quê ela estava falando – Eu senti que estava coberta com algo muito caloroso... Me lembro disso com clareza.
Ele não encontrava nada para dizer. Era estranho. Era como se houvesse muito a dizer, mas não com palavras.
_ Obrigada, Fei.
_ Elly...
Cada um deu um passo na direção do outro, ambos olhando diretamente nos olhos. Era sério, muito sério. Estarem juntos ali, vivos apesar de tudo, era algo de extrema importância. Era o que tinha de ser.
_ Fei...
_ Ei, já deu a hora de vocês dois voltarem para dentro! – gritou Taura lá embaixo – Há uma coisa importante de que precisamos falar com vocês!
Os dois olharam ao redor como se despertassem de repente, e Fei tornou a olhar para Elly. O momento passara, sabia. Ela suspirou profundamente e ele respondeu gaguejando que já estavam indo.
Fei e Elly retornaram à câmara do nanorreator, e Taura olhou para ambos com um sorriso satisfeito.
_ Como se sentem agora? O ar fresco da floresta deve tê-los refrescado um bom bocado, hein?
Fei e Elly se entreolharam. Fei só podia supor, mas pela expressão de Elly ela partilhava a opinião dele, de que Taura podia muito bem ter esperado mais uns dois ou três minutos antes de chamá-los de volta. Sem fazer qualquer conta da troca de olhares, no entanto, o ancião pigarreou e prosseguiu:
_ Seja como for... É sobre a remoção do selo... Eu descobri que ele pode ser liberado usando-se a nanotecnologia que regenerou vocês dois. Os nanomontadores estão selados neste casulo.
_ Se ao menos pudéssemos espalhá-los por sobre o mundo todo – murmurou Citan, e Taura voltou-se para ele.
_ Há uma antiga instalação militar nas proximidades... Podemos ser capazes de utilizar o ‘Dispersor em Massa’ localizado lá para lançar este casulo até a atmosfera superior. Uma vez que os nanomontadores sejam liberados lá em cima, as correntes convergentes devem bastar para espalhá-los pelo mundo!
“Eu gostaria de poder fazê-lo – ele acrescentou, voltando-se para Fei – mas estou ficando velho demais para esse tipo de coisa. Além disso, diz respeito ao seu futuro. Um velho não deveria se intrometer. Vocês, jovens, devem fazê-lo por si mesmos! Aqui”.
E entregou a cápsula com os nanomontadores que, caso a missão fosse levada adiante com êxito, liberariam os Limitadores de cada pessoa em Ignas. Fei olhou para o objeto do tamanho de um controle remoto, imaginando como algo tão pequeno poderia afetar o mundo inteiro.
_ E, naturalmente, não estou pedindo que faça isso de graça – Taura acrescentou, retirando algo do bolso – Experimente essa braçadeira.
Sem entender, Fei colocou no pulso esquerdo o que parecia ser apenas uma pulseira de cor escura.
_ O que é isso? – perguntou Citan.
_ Um ‘Dispositivo de Controle das Emoções’ no qual nanotecnologia é aplicada – Taura explicou – Desta máquina em forma de braçadeira, nanomáquinas são infundidas através de sua epiderme até o seu cérebro. Lá, elas refinam as substâncias intracerebrais SSRI, tais como a Serotonina, que controlam as emoções.
Taura voltou-se. Fei continuava olhando para ele com dúvida, e ele acenou negativamente.
_ Bem, eu suponho que seja razoavelmente difícil que você compreenda... Mas, de forma resumida, significa que a manifestação de sua segunda personalidade, ‘Id’, pode ser suprimida.
_ Id...
Fei desviou os olhos e baixou a cabeça. Sim, era forçado a retornar à batalha. E Id estava esperando exatamente por isso para vir à tona novamente. Talvez, dessa vez, em definitivo. Ele sentiu a mão de Elly em seu ombro e perguntou-se se iria colocá-la em risco outra vez.
_ Bem, é claro, isso tudo é teórico... – Taura prosseguiu – Ah, e eu fiz mais uma coisinha, também...! Instalei o mesmo sistema de controle no seu Gear...
_ Você quer dizer que isso pode libertar Id à vontade...? – Citan perguntou, incrédulo.
_ Sim. Eu o chamo ‘Sistema Id’. Mas, naturalmente, não deve ser utilizado indiscriminadamente – Taura acrescentou, uma nota de aviso em sua voz – Use-o apenas como um último recurso.
_ Elly, Doc... Eu...
Fei estava dividido entre a necessidade de agir e o risco que isso envolvia. Eles, os amigos próximos, seriam os primeiros a se ferirem caso algo saísse errado. E não acabaria neles; ele ainda se lembrava do que lhe haviam dito sobre Solaris.
_ Fei, não havia nada que você pudesse fazer – Citan comentou – Embora, isso nunca tornará a acontecer com a tecnologia de Taura. Ele é um dos três Sábios de Shevat.
_ Se você acredita ou não, cabe a você – Taura deu de ombros, e Fei olhou para a braçadeira em seu pulso. A idéia de usar o poder de Id e manter-se no controle podia ser a resposta a várias situações de crise... mas o próprio Taura admitia que não era mais do que teoria. Se algo saísse errado...
Então ouviram a porta de entrada do outro aposento abrir e fechar-se, e Taura olhou naquela direção.
_ Ah? Parece que temos um visitante!
_ Fei...! Nós temos problemas!!
Era um emissário de Shevat. Longe de parecer preocupado com o fato de Fei estar livre, no entanto, ele vinha pedir ajuda.
_ Hoje, um acordo de paz entre Aveh e Kislev está sendo assinado em Shevat... Mas, as armas móveis de Solaris estão se aproximando de Shevat enquanto falamos! Por favor, nos ajude!
_ Isso não tem nada a ver com este jovem!! – Taura interrompeu, passando adiante de Fei e Elly e se colocando entre eles e o emissário, que ficou tremendamente surpreso.
_ Taura!!
_ Vocês me dão nos nervos por serem tão egoístas. Citan me falou de vocês. Vocês aparecem depois de descobrir que Id agora está sob controle... Não têm vergonha? Vocês não mudaram nada desde aquela época! Só se importam consigo mesmos! Fei! – ele voltou-se para o rapaz – Não precisa escutar essas pessoas que um dia tentaram matá-lo!!
_ Mas...
Ele também pensava assim, mas de algum modo, aquilo não parecia correto. Parecia errado não tomar atitude alguma enquanto Solaris se lançava ao ataque e, mesmo já tendo outra missão diante de si, ele...
_ Por favor vá. Eu irei até o Dispersor em Mssa...
_ Elly?
_ Não importa o que aconteceu antes – Elly estava de costas para ele, se afastando – Shevat precisa de sua ajuda agora. Mesmo que você esteja salvando algumas pessoas egoístas... Ainda há o mundo e seus países, com muito mais gente inocente. Por favor, não se esqueça disso.
Ela voltou-se para ele, olhando-o nos olhos, e um entendimento mútuo passou entre os dois.
_ Bart e seu pessoal estão lutando para proteger essas mesmas vidas, não estão? Então, por favor, vá ajudá-los!
_ Tem certeza disso? E quanto a você?
_ Não se preocupe comigo. Eu vou conseguir de algum jeito.
_ Mas, você sozinha...
_ Eu acompanharei Elly – Citan assegurou – Você não precisa se preocupar. Eu trouxe comigo o meu próprio Omnigear.
_ Seu próprio Omnigear...? – Fei voltou-se para Citan, admirado, e o catedrático sorriu.
_ Sim, meu Omnigear, ‘Fenrir’. É o mesmo que eu trouxe de Solaris. Eu o deixei com Gaspar para o caso de uma emergência.
_ Doc... – e Fei concordou – Muito bem. Por favor, tome conta dela por mim. E Elly, tome cuidado.
_ Ficamos realmente gratos pela sua bondade, Fei!! – o emissário exclamou, e Taura deu-lhe as costas.
_ Hmph! Se enxerguem.
_ Meu destino é Ignas, certo? – perguntou Fei, e o emissário confirmou.
_ Sim. O objetivo do inimigo é destruir as cidades em Ignas. Já destruíram metade de Bledavik e provavelmente alcançarão Nisan em cerca de quatro horas. Shevat vai tentar afastá-los com todo o poder que tem!
_ Quatro horas – Fei ponderou – Isso é muito em cima!
_ Não precisa se preocupar – Taura sorriu – Balthasar e eu consertamos seu Gear com as nanomáquinas. Está muito mais poderoso do que jamais foi antes. E digo mais, você pode chegar lá na metade do tempo.
_ O quê? O Velho Bal está aqui?
_ Emeralda também está aqui – Citan ajeitou os óculos, e todos foram para fora, onde Weltall esperava por Fei. Era o mesmo Gear de antes, mas não era exatamente o mesmo. As aletas em suas costas assemelhavam-se mais com asas, ele ganhara uma crista maior sobre a cabeça e um ar mais imponente. Parecia exalar confiança.
_ Isso é incrível...! – murmurou Fei.
_ Nos encontramos novamente.
Balthazar veio de trás do Gear e acenou solenemente a cabeça para Fei, voltando-se então para olhar o Gear negro atrás de si.
_ O hospedeiro para o espírito do assassino de deus... Não achei que eu voltaria a trabalhar nele novamente...
_ Mas – Fei olhou para Balthazar e Taura – por que vocês dois estão me ajudando...?
_ Há algumas coisas que não se pode explicar com as palavras – Taura deu de ombros – Destino. Você vai ter que ver o que vai acontecer com seus próprios olhos.
_ Fei... Indo?
Emeralda surgiu de algum lugar por trás do grupo. Fei voltou-se para ela e confirmou.
_ É, isso mesmo. É melhor eu me apressar!
Sem mais uma palavra, Emeralda se afastou.
_ Ei, pra onde você vai?
_ Fei, por favor se apresse! – pediu o emissário.
_ Ah... c-claro.
Os jatos às costas de Weltall-2 foram ativados e, por um instante, ele se manteve onde estava como se apenas se aquecesse. Subitamente, o Gear negro curvou os joelhos e saltou, ganhando os ares velozmente. E sobre a casa de Taura, Elly e Citan observavam a partida.
_ Tem certeza de que você quer seguir adiante com isso? – Citan perguntou – Você queria viver de forma tranqüila, longe do campo de batalha, não queria?
_ ... Eu percebi a mim mesma fugindo da realidade – Elly murmurou, dando as costas a Citan – No início, eu achei que minha situação era parecida com a dele. Eu achei que Fei entenderia meus sentimentos... Eu não sabia se meu amor por ele era real... Eu podia apenas estar desesperada depois de perder minha mãe e meu pai...
_ Elly...
_ Apesar de tudo aquilo – ela voltou-se para Citan, os olhos ainda baixos – eu talvez ainda o ame... É por isso que, eu quero ver o que Fei pode fazer e o que eu posso fazer. Quero que fiquemos separados e pensemos sobre nós mesmos outra vez. Quero entender... como eu realmente me sinto...
Ela desviara os olhos, olhando para algum ponto adiante na mata. Após um instante de silêncio contemplativo, Citan comentou:
_ Você mudou muito, Elly. O que aconteceu a você nessas últimas três semanas?
_ Mesmo? – ela voltou-se, sorrindo fracamente para Citan – Eu não acho que mudei...
_ Sim, você mudou. Eu diria... que você amadureceu. Como uma mãe...
_ Como é que é! – ela ergueu os olhos, agora tremendamente corada – Eu só tenho dezoito anos! Não estou nem perto da idade de ser sua mãe!
_ Desculpe – Citan riu – Você me deu essa impressão, foi só isso.
Ele continuou rindo por mais algum tempo, e Elly sacudiu a cabeça. Fosse como fosse, os eventos já estavam se dando. Não podiam esperar mais.
_ Seja como for, Citan, eu estou indo.
_ Muito bem – ele concordou – Seguirei você assim que terminar por aqui...
_ Eu, eu vou, também.
Emeralda se aproximara enquanto os dois conversavam, e apesar da aparência infantil, seus olhos deixavam bem claro que aquilo não era um pedido; era um comunicado.
_ O quê?
_ Eu vou!
_ Emeralda – Elly abaixou-se, ficando no mesmo nível que o rosto da menininha – eu não posso levar mais ninguém comigo para uma coisa dessas. Vou ficar bem se for sozinha.
Emeralda deu as costas a ela e cruzou os braços, repetindo:
_ Se Elly vai, eu vou também. Emeralda tem que ir com você.
_ Emeralda...?
_ Não! – ela voltou-se e gritou – Emeralda vai também!
Elly olhou para a menininha sem saber o que fazer. Emeralda já se provara em batalha, mas aquilo não seria um passeio, e ela não achava que poderia tomar conta de si mesma e da outra quando estivessem lutando. E Citan sugeriu:
_ Por que não deixá-la ir? Eu estou certo de que Solaris tem um pressentimento quanto ao Limitador. Eles podem interferir, então você talvez se sinta insegura quanto a ir sozinha. Eu acho que Emeralda é perfeita para esse trabalho. Além do mais – ele acrescentou num tom mais baixo, enquanto Elly se voltava para ele – ela vai querer ir, não importando o que diga. Cuide dela até que eu possa me juntar a vocês, por favor?
Elly suspirou e então sorriu e acenou que sim, tornando a se abaixar para falar com Emeralda.
_ Tudo bem, você venceu. Vamos ajudar uma à outra, tá bem?
_ Eu posso fazer isso sozinha – a menina retrucou, tão confiante quanto Rico – Você fica olhando.

Em sua biblioteca, Taura verificava alguns livros e anotações de forma distraída. Ao menos, era o que parecia. Mas ele não estava tão desatento que não pudesse notar o momento exato em que o outro entrara, sem usar a porta. O único sinal de que ele percebera a presença do intruso foi parar de mexer em seus livros.
_ Como eu pensava – ele murmurou sem se voltar – Então, foi você quem trouxe Fei e a garota dele até mim... Eu percebi no momento em que vi os dois juntos. Aliás, como eu poderia deixar de notar... Eles eram tal e qual você e ela. Sim, o mesmo que vocês dois pareciam naquela época... Certo, Lacan?
Ele finalmente se voltou. De pé, semioculto nas sombras mal iluminadas pela vela, Grahf olhava para Taura com os braços cruzados e em completo silêncio.


...ENQUANTO PAIXÃO QUEIMA EM SEU CORAÇÃO

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