domingo, 31 de janeiro de 2016

Capítulo Trinta e Quatro

Capítulo 34: Protejam Nisan

  
Nisan estava em silêncio, demais até para uma cidade sagrada. Fei, Bart e Chu-Chu estavam ocultos atrás de um dos muros dos jardins, e a ausência de movimento era enervante.
_ (A Cidade está terrivelmente quieta por alguma razão...) – Fei comentou baixinho. Bart concordou.
_ ( Também não consigo ver ninguém da população.)
_ (Vai ficar tchudo bem – Chu-Chu tranquilizou – Tem um buraco secreto. Foi ichu que eu ouvi).
O trio continuou a observação por mais alguns minutos, até que se voltaram ao ouvir passos. Era Sigurd, que fora fazer um reconhecimento da área com o restante do grupo.
_ (Como é que foi lá, do seu lado?) – perguntou Bart.
_ (Toda a área ao longo das estradas também... Tudo estava tão quieto quanto aqui) – Sigurd respondeu.
Fei voltou-se para Bart. Cabia ao amigo tomar uma decisão quanto ao que fazer. De braços cruzados e rosto baixo por um instante, o pirata considerou suas opções, e então tornou a olhar para Sigurd.
_ ... (Qual sua opinião sobre isso, Sig?)
_ (Pelo pouco que vi – Sigurd meneou a cabeça – não há muito mais que eu possa dizer.)
_ (Ou eles ainda não encontraram aquilo que estão procurando... – ponderou Bart – ou já descobriram, mas acabaram deixando alguns guardas pra trás... Seja lá como for, ainda precisamos verificar a segurança dos habitantes antes de sequer pensar em nos revelar).
Sigurd, Fei e Chu-Chu concordaram com um aceno de cabeça, e Fei não deixou de notar a melhoria. Ele principalmente, que fora por duas vezes abatido por tiros precipitados de Bart, sorriu ao notar que o amigo finalmente tinha aprendido a pesar suas ações antes de agir. E Bart tornou a voltar-se para Sigurd.
_ (Ei! Aliás, como é que a Margie tá lidando com isso?)
_ (Até onde se percebe, ela não parece estar muito diferente de seu ‘eu’ costumeiro. Mas, como ela está se sentindo por dentro... Bem, quem vai saber...).
_ (Sério...? – Bart acenou com a cabeça, parecendo pesaroso – Valeu por tomar conta dela, Sig).
_ (Sem problemas. De qualquer forma – Sigurd voltou-se para partir – devo retornar, para comandar a outra unidade).
_ (Beleza. Vê se se cuida!)
Sigurd ainda verificou os arredores por um momento, certificando-se de não ser visto, e então partiu. Quando ele se foi, Bart comentou meio que para si mesmo:
_ (Margie... Achei que tinha dito pra ela ficar quieta na nossa nave).
_ (Ela provavelmente não conseguia ficar calma, parada dentro da nave sem fazer nada – Fei lembrou).
_ (É, eu sei, mas...)
Bart suspirou, dando de ombros. Já estava preocupado demais com o povo de Nisan e com o fato de não conhecer toda a situação, e a vinda de Margie não auxiliava em nada, pois agora tinha uma preocupação a mais. Mas, talvez, não pudesse ser evitado.
_ (Bom, ela já veio até aqui, não dá pra determos ela agora. Beleza, então... Vamos andando.)
Os guardas de Aveh foram surpreendidos quando o trio saltou de seu esconderijo sobre eles. O primeiro grupo, apanhado totalmente de surpreso, foi dizimado pelo ataque rápido de Fei, Bart e Chu-Chu.
Fora um ataque coordenado, com os membros da tripulação de Bart e também seus companheiros de viagem caindo de surpresa sobre os soldados invasores, espalhados por toda Nisan. A intenção era neutralizar todas as tropas de vigias antes que qualquer represália pudesse ser tomada contra a população.
Fei saltou sobre um dos guardas, atingindo-o com os pés e então vendo que Bart, ocupado com outro soldado, não reparara na escadaria por trás de si.
_ Bart, cuidado! Sua retaguarda está aberta!
Chu-Chu saltou sobre os ombros de Fei e rolou escada abaixo, atingindo o guarda e seu rifle como se fosse uma bala de canhão, um instante antes que atirasse.
Preocupado, Fei foi até a escadaria para ajudar, mas Chu-Chu acenou animadamente para ele lá de baixo.
_ Tchudo bem por aqui, Fei! Achu que esse era o último desse lado!
_ Ah... certo, então. Bom trabalho, Chu-Chu. Bart, e você?
_ Ela deve ter razão, Fei – Bart olhou ao redor – Tudo limpo. Sig, você tá aí? Fala comigo, como tá a nossa situação?
_ Informando, jovem mestre – Sigurd respondeu pelo comunicador – Nosso ataque foi rápido e preciso o bastante. Nenhum dos soldados deixados na cidade conseguiu causar qualquer dano à população.
_ Bom. E o nosso pessoal?
_ Alguns ferimentos leves na batalha, que não puderam ser evitados, mas todos estão bem.
_ Boa, conseguimos libertar Nisan, então! Mas... – e Bart tornou a parecer preocupado – O Jasper de Fatima e os tesouros lendários da família real... Esses continuam em perigo.
Enfim, ao menos, Bart podia sentir que a espera terminara. Havia chegado o momento de jogarem sua última cartada, e as verdadeiras intenções de Shakhan seriam trazidas à luz.

Sigurd caminhava pelas ruas de Nisan. Detendo-se diante da praça principal, ele olhou para os lados. O silêncio continuava.
_ Nenhum sinal de habitantes... ainda.
Enquanto Sigurd fazia a ronda pela cidade, Fei e seus companheiros estavam reunidos na sala de conferências de Nisan, o mesmo local onde, no que parecia uma vida atrás, eles tinham planejado o malogrado ataque a Aveh. A busca pelos civis não fora de todo perdida; Irmã Agnes da Seita de Nisan fora descoberta, e Margie reunira-se a ela assim que soube, cheia de preocupação.
_ Irmã, você está bem? Está ferida?
_ Eu estou bem. Marguerite e Bartholomew, eu sinto muito...
Foi quando Sigurd adentrou a sala do conselho, e a pergunta nos olhos de todos foi respondida com um aceno de cabeça.
_ Eu tomei algumas tropas e vasculhei a área, mas não pude encontrar ninguém.
_ Sério? – Bart tornou a parecer preocupado. Não tinham permitido qualquer tempo aos guardas deixados ali para agir, ou alertar seus superiores, mas era questão de tempo até Shakhan perceber que não estava mais no controle da cidade. Era preciso que encontrassem o povo com urgência.
_ Anteriormente – Irmã Agnes falou, e todos se voltaram para ela – Depois que se foram... mais da metade dos cidadãos partiu de Nisan. Depois daquilo, a posição de Shakhan no país ficou comprometida, e então... ele não se importou mais com reputações e atacou esta terra.
_ Entendo – Citan ponderou – Um último plano desesperado para reverter a situação...
_ Irmã – Bart indagou – Eu presumo que as pessoas que restam na cidade estão...?
_ Sim – Agnes confirmou – Escondidas no mausoléu.
_ Mausoléu? – Fei estranhou – Esconder-se num túmulo?
_ As Grandes Madres e Reis de Aveh de outrora são reverenciados lá – explicou Margie.
_ Não é só um túmulo qualquer, nem nada do tipo – falou Bart.
_ Bartholomew, sobre aquilo... – todos se voltaram para Agnes – Shakhan e o Jasper de Fatima... Ele está atrás do Tesouro de Fatima.
_ Tesouro? – Citan indagou – Se ele quer o tesouro, tá fazendo o que, atacando este lugar...?
Foi como se alguém lançasse uma luz nos pensamentos de Bart, que de repente atinou com algo que não lhe ocorrera até então.
_ Ahh... É que, na verdade, o Tesouro de Fatima está no mausoléu! Tinha até o testamento do pai lá, mas eu não contei a ninguém.
_ Tesouro... – Fei lembrou-se – Está falando daquela coisa nos pergaminhos de figuras que você me mostrou antes, na sua base?
_ Isso. Se seguir aquela lenda, você supostamente pode colocar suas mãos em algum grande poder.
_ Devemos detê-los de algum modo – frisou Sigurd. E Bart pareceu um pouco menos preocupado.
_ Sem problema. O Jasper está...
_ Eles planejam usar as retinas da antiga Madre – Agnes interrompeu, parecendo pesarosa. E causando horror a Bart.
_ O... O quê?!
_ Remover a retina da falecida Madre, e quebrar o selo – Agnes tornou a dizer, de olhos baixos.
_ Usar o corpo da mãe da Margie...?
_ O corpo da mamãe...!!
_ Eu sinto muito – Agnes explicou – Eles usaram cidadãos inocentes e seguidores da seita como escudo. Não havia outro meio. A verdade que ouvimos previamente de Margie sobre a verdadeira forma do Jasper e como é usado. Eles agora já sabem... Eu realmente sinto muito.
Agnes parecia não poder se perdoar, mas Bart acenou com a cabeça.
_ Bom... Eu não culpo você. Eles tinham reféns!
_ Espere um momento – pediu Citan, tentando entender – Retinas... Do que estão falando?
_ O Jasper de Fatima são as pupilas de azul topázio da Dinastia Fatima – Bart explicou – Em outras palavras... nosso padrão retinal. As portas até o tesouro são abertas por isso... Ou assim é dito.
Todos tinham suas atenções voltadas para ele. Sim, isso explicava a profanação dos mortos de que Agnes falara. E Bart continuou, tornando a acenar com a cabeça.
_ No entanto, ninguém jamais o usou. Não é pra ser usado em conflitos menores. As portas só devem ser abertas quando o reino estiver realmente em perigo. Então nem eu, nem meu pai, nem meu avô, nem mesmo meu bisavô, jamais o usamos.
_ Entendo – Citan ponderou – Então essa é a verdadeira forma do Jasper...
_ Maldição!
Margie voltou-se para Bart, que apertara os punhos de raiva.
_ Aquele urubu velho e careca, ele quer profanar o cadáver de uma pessoa sagrada? Isso é impensável!
_ É um segredo guardado de perto – Citan observou com ar grave – mas as pessoas do ‘Ethos’ não são homens sagrados. Eles simplesmente supervisionam.
_ É, claro que eles não iam ter problema nenhum com isso! Vamos Bart! – Fei apoiou – Antes que o mausoléu seja devastado.
_ Isso aí!
_ Jovem mestre! Eu tenho uma proposta.
_ Hã? O que foi, Sig?
_ Atualmente, Aveh está em confusão com Shakhan correndo para todos os lados. Seria muito fácil derrubar o centro de comando sem qualquer unidade da Gebler por perto – ele lembrou – Será a melhor ocasião para fazermos nossos retorno à capital.
_ Essa é uma boa idéia – apoiou Citan – Shakhan está, muito provavelmente, pensando no Jasper de Fatima como seu último recurso. Enquanto impedimos que o tesouro do jovem caia nas mãos de Shakhan... uma força separada retornará à capital. Ele então não terá mais lugar algum para onde fugir.
_ Eu entendi... – Bart concordou com a cabeça, abrindo um sorriso lento – Parece bom. Podemos acertar todas as contas com um único tiro! Tá certo, vamos nos dividir; eu pego o mausoléu. Vou levar Fei e... que tal você, Citan?
_ Se possível, eu gostaria de voltar à capital com Sigurd – ele declinou – Dois ex-solarianos vão destronar o ‘Ethos’... Quão irônico.
_ Certo, isso vai ser legal. Então, que tal você, Billy? Você disse que queria conhecer mais de Nisan.
_ Eu irei – Billy acenou com a cabeça, e Bart exclamou:
_ Tá certo, isso decide! Os demais, por favor, cooperem com o Sig!
_ Espere, eu vou também!
_ Hein? – Bart voltou-se para Margie, que não estava olhando para ele com o ar costumeiro de quem não queria ser deixada para trás; havia algo mais sério – Mas você não precisa...
E então, Bart lembrou-se. Era do corpo da mãe dela que estavam falando ali, afinal. Ela tinha tanto direito quanto qualquer um a ir, e uma motivação pessoal.
_ Ah, tá certo. Desculpa, Margie. Vem com a gente, então. Beleza, gente... Estou contando com todos vocês! Da próxima vez que eu vir esse tal de Shakhan, ele é um cara morto!



BUT RUN THROUGH THE HEART

domingo, 24 de janeiro de 2016

Capítulo Trinta e Três Ponto Um

(...)

Sem pensar no que fazia, Maria desceu nível após nível. Chu-Chu estava lá em cima, e desviou-se quando Achtzehn tentou esmurrá-la, para depois rolar sobre ele.
Maria alcançou os elevadores e desceu. Lá em cima, Achtzehn mudou sua forma de Gear para um imenso canhão. Um disparo poderoso atingiu Chu-Chu e a fez deslizar de costas para trás, mas de alguma forma ela pareceu se proteger com as mãos. E tornou a atacar, batendo em Achtzehn e lançando-o ao chão.
Nos hangares, Maria desceu as escadas correndo, enquanto Achtzehn ainda uma vez golpeava com seus dois punhos como um martelo. Chu-Chu desviou-se para o lado e tornou a bater, fazendo Achtzehn cambalear pesadamente para trás e então rolou sobre ele.
Por fim, Maria alcançou o hangar que Dominia invadira. Ela talvez tivesse mentido sobre o Gear de seu pai, talvez não. Aquilo não importava naquela hora. Naquele momento, o imenso Gear azul era a única esperança de Shevat e seus amigos, e só ela poderia operá-lo corretamente.
 _ Seibzehn!!
Não houve qualquer sinal evidente de reconhecimento por parte do Gear, mas não era preciso. Maria sabia que ele estava pronto. Sempre estivera, apenas esperando por sua mestra.
_ Sinto muito, estou atrasada... Mas, vamos! O inimigo de... de... – sacudiu a cabeça, impaciente consigo mesma. O que ia dizer era verdade agora, ela sabia disso – O inimigo de Solaris está esperando!!
O convés abriu-se abaixo de Seibzehn, e suas luzes acenderam-se. E Maria tomou seu lugar na cabeça do Gear que seu pai construíra, enquanto ele mergulhava no poço de saída do convés.
_ Seibzehn, adiante!!
Lá em cima, Achtzehn tornou-se num canhão novamente, e dessa vez arremeteu sobre Chu-Chu para golpeá-la com todo o seu peso. Mas ela o agarrou pelo disparador e arremessou contra a torre de observação onde Maria costumava ficar.
Achtzehn retornou a sua forma original, quase parecendo exausto.
_ Para uma forma de vida de nível e classe baixa – Nikolai ofegou, sem parecer acreditar – você é muito boa.
_ Não sou uma forma de vida de nível baichu – Chu-Chu tornou a replicar, de pé diante de Achtzehn – Sou Chu-Chu. Não seja um mau perdedor. Se vochu quiser se dechuculpar, é melhor fazer ichu enquanto ainda pode.
_ Morra, seu animal patético! Morra!
E num movimento rápido, o canhão de energia foi embutido no braço direito de Achtzehn, tornando-se uma extensão do mesmo. E diante de tamanho disparo, até mesmo a nova força de Chu-Chu pareceu vacilar.
_ Aichu...! Essa doeu...
Achtzehn aproximou-se, o canhão já reunindo energia para um último disparo. Depois de se livrar de Chu-Chu, e depois de sua psico-trava, não deveria haver mais oposição ao seu ataque.
E então, ouviu o som de motores. Citan estava certo, Seibzehn não fora afetado pela trava. E Nikolai tornou a se admirar ao ver sua criação diante de si, e sua filha.
_ Seibzehn!! E, é Maria...?
_ ... É verdade que eu sou Maria Balthasar – ela respondeu, forçando-se a falar – Mas, você... Quem é você...?
_ Naturalmente sou eu, Nikolai! Olhe para isso, Maria! – a voz de Nikolai exultou – Os resultados da minha pesquisa! Este corpo enorme, poderoso, para sempre cintilante! Não vai haver qualquer envelhecimento ou morte. Eu renasci como uma nova espécie.
_ ... Eu amava meu pai naqueles dias, quando ele era humano... – a menina replicou com tristeza – O sorriso caloroso dele... Eu queria que ele ficasse para sempre ao meu lado!!
_ Maria, você é minha filha – Nikolai não parecia acreditar no que estava ouvindo. A menina talvez só precisasse ouvir a voz da razão – Você sabe o quanto os humanos podem ser estúpidos. Você não precisa perecer juntamente com esses humanos ridículos. Agora venha, Maria. Comece uma vida nova comigo. Começaremos um novo capítulo na vida. Vamos construir um futuro brilhante juntos. Vou estar ao seu lado, e protegerei você desta vez, com certeza. Eu prometo.
_ ... Pai...
Eram as palavras que ela sempre quisera ouvir. Não importava o quanto estivesse determinada a proteger Shevat, seu espírito vacilou ao ouvir aquilo do seu pai. Era como se ainda houvesse algo dele ali, apesar da forma monstruosa de Achtzehn.
Mas, então, Seibzehn moveu-se sozinho, agitando o braço direito diante de si mesmo, como se dissesse que aquilo tudo era tolice. E nem Maria nem Nikolai entenderam.
_ ... Seibzehn...?!
_ Seibzehn... O quê? Você ousa ficar contra mim, seu criador?
O Gear azul começou a estremecer abaixo de Maria, como se estivesse furioso. Ou acumulando energia, para surpresa da menina.
_ I... Isso é...!! Seibzehn?!
_ Interessante... – murmurou Nikolai – Eu vou derrubar você. Mostrarei a você o quanto Nikolai é grande, e o poder do Achtzehn. Venha, Seibzehn!!
Achtzehn se pôs em postura de ataque, e Maria moveu Seibzehn para fora do seu alcance. Só restava ela para defender Shevat... E Seibzehn...! Ele parecia acreditar ainda menos que Midori de que aquele diante dele fosse mesmo seu criador. Aquilo bastava para ela.
_ ... Achtzehn! Eu vou derrotar você!! Vamos, Seibzehn!!
Turbos ativos, Seibzehn bateu-se de frente com seu sucessor, punhos se chocando com punhos, e os dois recuaram dois passos.
Achtzehn voltou seu braço do canhão e disparou, colhendo Seibzehn em cheio com o disparo. Tirando proveito da guarda baixa do outro, Achtzehn dobrou-se novamente na forma do grande canhão e arremeteu para colidir.
Mas o Nível de Ataque de Seibzehn já fora carregado o bastante, e ele decolou para evitar a investida. Antes que Achtzehn retornasse, Maria comandou:
_ Seibzehn, Mega Martelo!
Seibzehn respondeu caindo sobre o Gear vermelho com seus dois punhos, esmagando-o contra o solo uma vez, e outra, e uma terceira vez antes de se afastar.
Achtzehn voltou à sua forma normal. Muito dano fora causado, sim; Seibzehn tinha tanta força quanto ele. Mas era a inteligência de Nikolai, criador de ambos, que o movia. Seu punho esquerdo foi disparado como um míssil e atingiu o peito de Seibzehn em cheio, enviando-o para além das bordas da praça onde lutavam.
Seibzehn tombou, Maria lutando com os comandos enquanto tornava a ativar os imensos foguetes em suas costas, quando Achtzehn surgiu mais acima, novamente na forma de canhão. Ao invés de lançar-se ao impacto desta vez, o canhão concentrou energia e disparou.
Os jatos de Seibzehn se ativaram e ele saiu do caminho do tiro, enquanto Maria comandou:
_ Seibzehn, ativar Cápsula de Mísseis!
Os projetores de mísseis embutidos nos foguetes se expuseram enquanto Seibzehn detinha sua subida diante de Achtzehn, e inúmeros mísseis de ether atingiram o adversário de várias direções diferentes.
_ Ataque Meteoro!
Seibzehn subiu mais, mergulhando sobre Achtzehn como um míssil e atingindo o Gear vermelho com todo o seu peso e velocidade, arremessando-o sobre Shevat e revertendo sua transformação.
E então, Achtzehn parou de se mover. Seus braços baixaram, toda a sua postura parecendo abandonar a luta, enquanto Seibzehn pousou diante dele. E então, Maria tornou a ouvir a voz de seu pai.
_ Maria... Consegue me ouvir, Maria? Eu vou liberar o selo do seu Canhão de Gravitons por controle remoto! Use isso para me derrotar.
_ !! Pai! – Maria exclamou – Você voltou à razão?! Não! Eu não posso fazer isso!! O Canhão de Gravitons... Você mesmo o bloqueou por causa do seu poder destrutivo. Pai, se eu usar isso em você...
_ Dispare!! – Nikolai retrucou – Não faz diferença... Eu, Nikolai, não existo mais...
“Antes que eu sofresse a lavagem cerebral de Solaris, implantei um circuito de consciência em Achtzehn... Isso deveria reagir e ativar-se na presença de Seibzehn. É de onde vem minha mensagem. E, durante a batalha, eu transferi todos os meus dados de lá para Seibzehn. Eu posso ter perdido meu corpo, mas meu espírito está com Seibzehn... Não, com você, Maria. Agora, e para sempre!”
Maria baixou a cabeça, forçando sem sucesso as lágrimas a pararem. Era seu pai de novo. Por pouco tempo, mas era ele, o verdadeiro Nikolai. Saber disso apenas tornava a próxima decisão mais difícil.
_ ... Eu não posso. Não posso me obrigar a fazer isso!!
Seibzehn novamente começou a se mover sozinho, a placa peitoral se abrindo enquanto o Canhão de Gravitons era ativado, independente da vontade de Maria.
_ Hã! Seibzehn! Não... Não consigo te controlar! Pai, você está fazendo isso?! Por favor, não faça ele atirar!!
O emissor no peito de Seibzehn cintilou com luz azul, um halo que se abriu por um instante e então pareceu diminuir ao redor do Gear azul. E ele atingiu Achtzehn em cheio, colhendo o Gear vermelho num campo de gravidade intenso ao qual mesmo ele não podia suportar, sendo esmagado sobre si mesmo até explodir, e nada mais restar, para desespero da menina.
_ ... Paaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiii!!
“Maria... – a voz de Nikolai pareceu vir de todo lugar – Eu sempre estarei com você. Agora e para sempre...”
_ Pai...


Mais tarde, todos estavam reunidos na sala do trono da Rainha Zephyr, e ela fez questão de agradecer.
_ A todos vocês, meu muito obrigado. O gerador foi consertado e o portão está funcionando como de costume. E, Maria... – voltou-se para a menina – Você se saiu muito bem. É muito lamentável quanto ao Dr. Nikolai... Que Solaris fizesse o doutor passar por tudo aquilo. Temos que derrota-los o mais brevemente possível, e restaurar a liberdade!
_ ... Sim.
Maria estava mais silenciosa do que de costume, se tal fosse possível, e todos respeitaram isso. Ela se recuperaria com o tempo. E Fei adiantou-se.
_ Rainha Zephyr, nós também lutaremos para derrubar Solaris. Para começar, onde é Solaris? Como se chega lá?
_ Solaris está escondida dos olhos humanos por três portões – respondeu Zephyr – Um dos portões está sob o Quartel-General do ‘Ethos’, mas... É inalcançável, mesmo com Gears. Eu ainda não sei onde estão os outros dois. Até que possamos destruir os três portões, o caminho para Solaris não se abrirá. Em adição, recebemos algumas notícias perturbadoras – e voltou-se para Bart – Aveh invadiu Nisan.
_ O quê...? Shakhan?
_ O alvo deles provavelmente está em algum lugar no reino – respondeu a Rainha – O tesouro real secreto de Aveh. Um Omnigear, selado por Roni Fatima!
_ Catzo!! – exclamou Bart – Isso não é hora pra hesitar! Tô indo pra Nisan! Não podemos deixar Shakhan fazer as coisas como quer!
_ Concordo – acenou Fei – Não posso deixar Nisan entregue ao seu destino. Certo, primeiro nós vamos para Nisan!
_ Sua nave foi equipada com um módulo aéreo – Zephyr acrescentou, sorrindo levemente – Originalmente, era a nave usada pelo ancestral de Bart, Roni. Façam uso livre dela.
_ Umm... – Maria parecia inquieta – Podem me levar com vocês?
_ Eu tenho um pedido – Zephyr acenou afirmativamente com a cabeça – Fei, levem Maria com vocês. Esta criança, desde sua juventude foi destinada a não ter qualquer escolha a não ser lutar. Até que resolva suas próprias lutas, ela não será capaz de seguir com sua vida. Vá, Maria. E encontre seu propósito na vida... por si mesma.
_ Eu entendi – e Fei estendeu a mão para Maria, sorrindo – Vamos juntos, Maria. Somos amigos de agora em diante, você e... Seibzehn também.
Maria sorriu e acenou, concordando. Ela podia sentir que eles fariam parte de grandes mudanças, que tinham a ver com Solaris, e era bom saber que ela poderia estar entre eles quando tal acontecesse. E a Rainha tornou a falar:
_ Um dos sábios, Gaspar, retornou. Gaspar foi aquele que ensinou artes marciais a Khan e ao Sábio. Tenho certeza de que ele será capaz de ensinar a você novas técnicas, que serão de auxílio em sua jornada. Eu já falei com Gaspar. Antes de partir, você deveria aprender com ele.
_ Eu entendi – e Fei chamou os amigos – Tudo bem, vamos pessoal!

Estavam na sala do trono, Zephyr e duas figuras em mantos. Uma delas era o Sábio, e outra um homem de ar solene e manto azul, saudado com satisfação pela Rainha.
_ Bem vindo de volta, Gaspar. E quanto a Balthasar, ou Melchior...?
_ Não – Gaspar, um homem de ar severo, barba branca e um nariz longo e aquilino respondeu – Eu não os vejo desde então... Além disso, Sua Majestade... Eu vim aqui para cuidar deles, para que não cometam os mesmos enganos tolos novamente.
_ Sua Alteza – um soldado entrou apressadamente, parecendo alarmado – o Omnigear no subsolo está se movendo!! A garota chamada Elly estava próxima, e ele reagiu a ela!!
Sábio e Gaspar voltaram-se para o recém-chegado, mas a notícia não pareceu alarmar a Rainha. Em seu íntimo, ela quase esperara por aquilo.
_ Exatamente como eu pensava...
_ É uma questão de naturalidade – o Sábio falou, casualmente – Mas a garota não pretende pilota-lo... Exatamente como ‘ela’. Ela sabe disso inconscientemente. A existência dentro dela.
_ Ela... era igual a Sophia?
O Sábio manteve-se em silêncio, de cabeça baixa apesar da pergunta de Zephyr. Passado o primeiro instante, a Rainha desculpou-se.
_ ... Lamento.
_ Não, não me importo. Eu não sou ‘ele’.
_ Bem então – Gaspar afastou-se – Vou dar uma olhada nos Limitadores deles.
De acordo com o que tinham ouvido durante sua exploração de Shevat, Fei e os outros tinham descoberto que, depois da guerra ocorrida quinhentos anos antes, Solaris criara Limitadores genéticos para impedir os Cordeiros de alcançarem pleno potencial de combate, tornando-os mais controláveis. Gaspar, no entanto, removeu uma parte do Limitador inserido em seus genes. E, enquanto isso... Chu-Chu reencontrou-se com os outros de sua espécie, e foi natural para eles fazerem uma festa, e sua noite doce e perigosa seguiu adiante... como um sonho que nunca termina. Bem... mas isso é outra história.
_ Fei...
_ Sim, Chu-Chu?
_ Onde vochu está indo sem mim? Chu-Chu vai para qualquer lugar, até o fim do mundo com vochu! O coração puro de donzela de Chu-Chu é só para vochu! Uh hmmm!

 
AND TEARS THAT NEVER FALL

domingo, 17 de janeiro de 2016

Capítulo Trinta e Três

Capítulo 33: Ataque a Shevat! 


Os quatro defensores partiram para seus Gears, e cada um tomou posição junto a um dos geradores. Os grupos de atacantes chegaram ao mesmo tempo, e Vierge, Brigandier, Weltall e Stier engajaram-se em combate simultaneamente.
Tropas de soldados em armaduras e dois Gears atiradores, Lil’Foot, avançaram contra Vierge. Mais veloz, Turbos ativos e com um Thermo Dragão para eliminar os soldados, Elly teve pouco trabalho contra os dois Gears, imunes a ataques ether mas fracos demais para enfrenta-la por muito tempo.
_ Eu sinto muito – Elly murmurou ao ver o último dos Gears tombar – Mas não podia permitir que destruíssem o gerador.
Ela evitaria lutar contra Solaris se pudesse, mas sabia que não tinha escolha. Seus amigos, e todo o povo de Shevat, dependiam dela.
No Gerador 2, Brigandier girou e bateu seus chicotes em cruz, derrubando o último dos Cavaleiros Brancos. Seu gerador fora protegido, e tudo o que restava dos inimigos eram pedaços.
_ Hah, vocês não eram páreo pra mim! Nem que viesse o dobro vocês iam conseguir me derrubar! – e ligou o comunicador – E aí, como estão indo pessoal? Fei?
Weltall tombou para trás, atingido em cheio. Os dois Cavaleiros Brancos que o tinham enfrentado não foram grandes adversários, mas o mesmo não podia ser dito do Gear maior que os acompanhava, Cidadela. Maior e mais forte, semelhante a um escorpião sem garras, o Gear de Solaris disparava rajadas sônicas de sua cauda.
_ Agh... Me dê um instante, Bart, eu... estou meio ocupado por aqui.
Fei ativou seus Turbos, e quando a cauda do Cidadela bateu, Weltall desviou-se para trás e saltou sobre ela. A surpresa do inimigo durou pouco, mas quando ele recuou a cauda para atacar novamente, Weltall desceu sobre sua cabine com o golpe que carregara.
_ Hazan!
Já enfraquecida pelos ataques anteriores de Weltall, a armadura de Cidadela não resistiu ao ataque por cima e sua cabine caiu do resto da estrutura, que caiu sobre as próprias pernas um instante depois. Suspirando de cansaço, Fei respondeu ao rádio:
_ Tudo bem por aqui agora, Bart... Gerador 3, ainda funcionando. Estão todos bem?
_ Eu estou bem – Elly respondeu – Algumas avarias menores, mas nada pra me preocupar.
_ Bart?
_ Moleza! – o pirata sorriu – Nem deu pra ficar interessante.
_ Rico, e quanto a você? Está tudo bem?
A princípio, não ouviram bem o que Rico respondeu no Stier, falando baixo demais para entenderem com clareza, e o som de metal batendo em metal estava suplantando a voz do Campeão. Elly, Bart e Fei voltaram-se para seus painéis, tentando entender o que acontecia, e Fei repetiu:
_ Rico, está ouvindo? Qual é a sua situação? Precisa de ajuda?
_ Não precisam se preocupar, Fei – a voz de Citan veio pelos comunicadores deles – Rico acabou com seu adversário quase no mesmo instante que você. Só acho que... ele se empolgou um pouco.
_ Hein?
Citan transmitiu para os monitores dos três a imagem do quarto gerador. Um Gear imenso em forma de disco, Avalanche, estava fumegando no solo, entre os destroços de dois Cavaleiros Brancos. Stier estava sentado sobre ele, seu punho esquerdo perfurando a blindagem do inimigo derrotado enquanto eles finalmente começavam a discernir o que Rico estava resmungando:
_ Gosta de brocas, desgraçado? Não é tão divertido quando alguém enfia uma em você! Eu mostro o que é poder de verdade...!
_ Ao que parece – Citan comentou mediante o silêncio admirado dos três – Avalanche usou ataques pesados de sônicos e também brocas que reduziam a defesa. E Rico ficou um pouco... mal-humorado.
Fosse como fosse, a situação parecia resolvida, já que nenhum dos quatro geradores de Shevat tombara sob o ataque. Mas Jessie não parecia nem um pouco mais aliviado com a visão cômica de Rico reduzindo seu último inimigo a pedaços ainda menores. Afinal, Achtzehn continuava sobre Shevat.
_ Tá, tudo pronto – disse Jessie, na sala do trono, ainda encarando o Gear vermelho mostrado na tela da Rainha com preocupação – Então, o último é... esse. O que Achtzehn vai fazer em seguida?
Como em resposta ao velho pistoleiro, um Gear desconhecido com uma lança em sua mão direita e um pequeno escudo na esquerda, e o que parecia uma única asa em forma de raios em seu ombro esquerdo investiu contra Achtzehn.
_ Gear das Forças de Shevat...!! Sai dessa! Isso aí não é oponente pra você!!
Jessie estava certo novamente. O imenso Gear vermelho sequer tomou conhecimento do ataque do Gear branco de Shevat. Movendo o imenso canhão em seu braço direito para o ombro, e sob o grito de protesto de Maria, Achtzehn disparou em cheio no defensor, tornando-o em cinzas sem qualquer esforço aparente.
_ Praga...! – Jessie rosnou – Eu vou te detonar por essa!
_ Por quê...? Por que isso...? – Maria perguntou, desconsolada. E a voz de Nikolai se fez ouvir mais uma vez.
_ Então, vocês podem servir como cobaias para isso aqui.
Os tanques às costas de Achtzehn abriram-se como os de Seibzehn faziam quando lançava seus mísseis. Mas o canhão, os emissores às costas e a placa peitoral do Gear vermelho se combinaram para lançar um facho de luz vermelha que os cegou através da tela externa por alguns segundos. Nenhuma explosão se fez ouvir, no entanto, e Citan olhou ao redor sem entender.
_ O que foi aquilo...?
_ A nova arma de Achtzehn – respondeu Nikolai – A Psico-Trava Anti-Gear!
_ Doc, aqui é Fei! – a voz do rapaz veio de lugar algum – Weltall simplesmente não se move!
_ Vierge também não está respondendo! – Elly disse.
_ Saco, o que está havendo? – Bart praguejou – Brigandier não tá funcionando!
_ Isso é coisa dele? – questionou Rico, e Citan analisou:
_ Ondas elétricas poderosas estão interferindo com os circuitos de resposta dos Gears. Não se preocupem, isso vai passar logo. Mas...
_ Este tempo basta para apagar vocês da face da terra – bradou Nikolai, e pareceu divagar – Humanos são uma forma de vida imperfeita e tola... Eu vou mostrar a grandiosidade de uma forma de vida perfeita! Achtzehn, a combinação da sabedoria humana e da força do aço.
_ Nesta situação, não posso fazer coisa alguma! – Fei queixou-se, lutando em vão com instrumentos que não respondiam – Está dizendo que temos que sentar aqui e aceitar?
_ Não foi o que eu quis dizer – Citan ponderou, olhando para Maria – E se... Se Seibzehn...
Maria percebeu onde o catedrático queria chegar, mas deu-lhe as costas. Depois do que tinha ouvido, do que Dominia dissera a respeito de Seibzehn... Ela nunca mais poderia pilotar. Citan, alheio ao que ela pensava, continuou sua análise:
_ Se Seibzehn é o Gear irmão de Achtzehn... Pode ser que talvez, só talvez... O que estou dizendo é que não seria surpresa se ele estivesse equipado com um escudo anti-trava.
A Rainha Zephyr olhou para Citan, e então voltou seus olhos para Maria. Ele podia estar certo. E, se estivesse, só havia uma pessoa ali que poderia salva-los naquela situação.
_ ... Ouça, Maria... Se os outros Gears ficaram imóveis, você e Seibzehn são a única esperança. Você é cheia de espírito... Pode decidir o que fazer por si mesma.
_ Mais que isso – Jessie voltou-se, das telas para a menina – Eu não queria ter que dizer, mas... seu pai não está mais lá...
_ Pare com isso!! – a menina gritou, voltando-se para Jessie – Você não tem como saber!!
Jessie apenas meneou a cabeça em silêncio. Ela devia saber. Mesmo sem conhecer os métodos de lavagem cerebral de Solaris, que tornavam a maioria das pessoas em material adequado para uso solariano... Mesmo sem nunca ter visto os métodos de seleção de cidadãos e operários, Maria devia ter percebido que a pessoa operando Achtzehn não agia como o pai de quem ela lembrava. E a menina sacudiu a cabeça baixa.
_ Mesmo assim, mesmo que seja, eu... Pra mim...
_ Sei... – Jessie sacou a carabina, recostando-a no ombro como sempre fazia quando em perigo, ou acuado – Ah, bom... Pode-se muito bem esperar o pior, então.
_ ... Eu sinto muito...
_ Eu echutou indo.
Todos se voltaram para Chu-Chu, esquecida ali desde o início da luta, e Maria perguntou:
_ O quê está dizendo, Chu-Chu?!
_ Então... Por favor, me deichuem ir. – e sorriu, acenando positivamente para Maria – Sem problema. Os deuses vão nos proteger. Andando!
E saiu rolando porta afora, para o espanto de todos. Principalmente o de Maria.
_ Chu-Chu...?!
E a menina correu para fora, seguindo Chu-Chu. Foi encontra-la não muito distante, no alto da torre sobre o castelo onde ela própria costumava ficar. E a criaturinha rosada parecia pronta para a luta, o que era no mínimo uma piada quando se comparava a atitude dela com o ameaçador Achtzehn.
_ Não, Chu-Chu! Não faça isso!
_ Deichue comigo, Maria – Chu-Chu piscou para ela – Sem problema!
Isso era surpresa demais até mesmo para Nikolai. Por disposto que estivesse, ele não estava preparado para um desafio daqueles, e a princípio não tomou atitude alguma além de espantar-se.
_ O que é que há com este animal de baixo nível, de aparência astronomicamente não-intelectual...?
_ Não seja grochueiro comigo – Chu-Chu replicou com dignidade – Não sou um animal de nível baichu. Eu sou Chu-Chu – e, batendo as mãos uma na outra, ela completou:
_ Bem, vamos botar pra quebrar, seu menino mau! Prepare seu traseiro pra ser chutado até o outro lado do horizonte!!
A ameaça ia além do ridículo, ao menos até o momento em que o corpo de Chu-Chu começou a emitir chamas douradas. Uma luz forte cresceu em seu corpo e, por um instante, ela desapareceu na luz... e, diante dos olhares surpresos de todos, ela começou a crescer até ficar da mesma altura de Achtzehn. E pareceu muito satisfeita com isso.
_ Kyow! Eu conchugui! Eu fiz a grande bem grande tranchuformação!
_ Chu-Chu? – Maria gritou admirada, enquanto Nikolai analisava:
_ Entendo... Você é uma forma de vida gigante deste planeta... Não é... um jovem rankar. Nome da espécie, dotesqueChu-Chupolin (intelecto, astronomicamente baixo)! Ainda não foram extintos? Mas, através da engenharia genética, eles supostamente foram minimizados em tamanho... Provavelmente, uma das sobreviventes que tiveram seus Limitadores removidos pelos sábios de Shevat. Intrigante... Você daria uma cobaia excelente. Eu vou usar você para muitas experiências!
_ Maria-irmã-mais-velha...
_ Midori?! – Maria surpreendeu-se ao deparar com a filha de Citan atrás de si – Não, você não devia estar aqui!! É perigoso, então fique lá dentro...
_ Chamando... – Midori pareceu ignorar o que Maria dissera – Seu pai...
_ O que...?
Maria voltou-se com surpresa para Achtzehn, mas Midori sacudiu a cabeça em negativa.
_ Uh uh... Não. Não aquela... coisa assustadora.
E então Maria entendeu do que Midori falava. Achtzehn não tinha mais nada a ver com seu pai. A voz dele, vinda do Gear vermelho, também não. Mas ainda havia algo dele, em algum lugar de Shevat.
_ ... Seibzehn!!

domingo, 10 de janeiro de 2016

Capítulo Trinta e Dois Ponto Dois

(...)

_ Hã, se não for pedir demais – o soldado interveio, parecendo sem jeito – seria possível que um de vocês ficasse para trás com a Rainha? Não temos experiência de combate e... se alguma coisa por acaso acontecesse à Rainha...
_ Muito bem, eu entendi – Fei concordou – Então, um de nós devia ficar para trás.
Fei resolveu deixar Bart cuidando da Rainha, e Elly o acompanhou e à Maria enquanto tomavam o rumo do elevador para a doca de Gears. Pareceu estranho aos três sair do palácio para o elevador e não ver a aura dourada costumeira sobre a cidade, mas não era hora para distração, e surpresas os aguardavam. No caminho para baixo, eles vieram a uma parada brusca muito antes de chegar onde queriam, e Maria caminhou até a borda da plataforma.
_ Não adianta! A tranca defensiva está fechada...
Fei olhou em volta. O sistema de defesa de Shevat agora trabalhava contra eles, pois se o inimigo não tinha como chegar à Rainha, eles também não tinham como ir até ele.
_ Não há outra forma de descer até o hangar?
_ Podemos ser capazes de descer se usarmos a escotilha de emergência – Maria olhou para o alto, no duto do elevador – Mas ela não é usada normalmente...
_ Não importa – Fei replicou – Não podemos desperdiçar tempo aqui, seja como for.
_ Você está certo – Elly apoiou – Eles não vão esperar por nós.
_ Entendido – Maria concordou – A entrada da escotilha é logo acima. Podemos descer seguindo a partir dali.
_ Ótimo! Então, vamos!
A plataforma foi conduzida um pouco mais para o alto e, de lá, Fei, Elly e Maria tomaram os túneis do sistema de emergência de Shevat até o hangar, numa descida apressada. Por fim, conseguiram chegar ao mesmo salão onde Maria os saudara ao chegarem. Cruzando a porta por onde ela antes saíra para cuidar de Seibzehn, eles chegaram a um corredor metálico onde as luzes oscilavam, decerto por causa da investida do intruso, e de lá finalmente entraram no hangar 17.
Seibzehn continuava lá, ileso ao que parecia, sua forma imensa semioculta pela meia-luz das lâmpadas de emergência, e Maria olhou ao redor.
_ Onde está o intruso...?
_ Hmph, vocês de novo – veio uma voz familiar e aborrecida de algum lugar – Vocês, pestes, não estão fazendo meu trabalho nem um pouco mais fácil.
E então eles a viram. Fei e Elly colocaram-se diante de Maria, pois Dominia estava parada de pé na cabeça de Seibzehn, seu sabre em mãos.
_ Dominia...! – Elly exclamou, seu bastão posicionado para a defesa – Então foi você?
_ Jamais imaginei que encontraria Seibzehn na minha rota de fuga – comentou Dominia meio que para si mesma, como se considerasse o que fazer. Por fim, pareceu tomar uma decisão e aprumou-se.
_ Eu levarei Seibzehn. Originalmente, isto pertencia a nós, de Solaris.
_ Dominia! – Elly desafiou – Eu não posso deixar que leve o Gear!
_ Tola – a outra murmurou, com o costumeiro ar de superioridade – Nem ao menos sabe que este Gear é o ponto de contato entre nós. Hã?
Ela finalmente percebeu que Fei e Elly não estavam sozinhos, reparando em Maria.
_ Aquela criança... Ei, você... É a filha de Nikolai...?
_ Sem dúvida, eu sou a filha de Nikolai, Maria Balthasar! – a menina saiu da cobertura de Fei, parecendo surpresa – O que isso tem de mais...?
_ Entendo... – Dominia pareceu pensar profundamente – Então, você é a amada filha dele, por quem ele se ofereceu a cumprir aquela difícil tarefa... Ei, garotinha. Quer ouvir uma história interessante? Vamos ver... Que tal o segredo maldito de Seibzehn?
_ ...!? – contra sua vontade, Maria não teve como não se interessar pelo que Dominia estava dizendo – O que quer dizer?
_ O que quero dizer? Vai entender quando ouvir a história.
“Nas últimas décadas, nossos cientistas colocaram muito esforço em pesquisa para criar Gears evoluídos. Não importa o quanto um piloto seja grandioso, enquanto for humano, sempre haverá um espaço de tempo e erro humano enquanto estiver em interface com uma máquina.”
“Foi quando seu pai, Nikolai, foi apontado. Ele era um gênio no campo de mecanismos nervosos cranianos. Eles fizeram Nikolai pesquisar por uma forma dos humanos irem além de humanos... mesclando humanos e máquinas. Em outras palavras, eles estavam tentando criar uma vida nova, uma arma viva suprema, conectando um cérebro humano vivo diretamente a um Gear. Isso teria permanecido uma fantasia sem Nikolai. Mas aquele gênio tornou a fantasia realidade...”
_ Isso é uma mentira!! – bradou Maria – Meu pai não faria uma coisa tão horrível!!
_ Eu não minto, Maria – tornou Dominia – Esta é a verdade. Seu esplêndido pai teve sucesso em fundir homem e máquina. E ele abriu os portões do inferno para os Cordeiros.
Maria silenciou, horrorizada. Seu pai...? Não podia ser! Aquilo não podia ser verdade! E Dominia ainda não terminara.
_ Na realidade, dados e componentes variados obtidos da guerra em Ignas, e das Batalhas de Kislev, foram usados como material experimental. Foi assim que os mutantes humanóides especiais, Wels, nasceram. Wels criados em Solaris foram testados na superfície. Apenas os Wels que passaram nos testes foram desmontados, reestruturados e renasceram. Eles se tornaram o circuito de controle central do Gear... e se tornaram parte da máquina...
“Tudo isso é o resultado da grande pesquisa do seu pai. Seibzehn, o protótipo de um Gear-fusão de homem e máquina. Em outras palavras... Seibzehn foi completado à custa de inumeráveis vidas de habitantes da terra. E no circuito nervoso de Seibzehn está...”
_ Não acha que já falou demais, Dominia?
Uma voz rouca e debochada interrompeu o discurso da líder dos Elementos, e ela olhou ao redor.
_ Quem está aí?!
E o vulto se expôs, ficando sob a iluminação direta de uma das luzes de emergência. Um homem de meia-idade e ar irreverente, olhando para Dominia de cima.
_ Por que mulher é tão fofoqueira? Ficar matraqueando sobre coisas de que não deviam falar. Francamente...
_ Jesiah?! – Dominia estava surpresa demais para manter a atitude superior – Você...?! O quê está fazendo em Shevat?! Logo você, que estava sendo considerado para ser o próximo comandante-em-chefe da Gebler?!
_ Não fique tão agitada – Jessie respondeu, braços cruzados e ar de pouco caso. Depois, a expressão divertida do rosto desaparecendo depressa, ele puxou sua carabina e a fez descansar em seu ombro, de forma quase distraída. Mas seus olhos eram frios quando encarou Dominia.
_ Acho que já brincou com fogo o bastante por hoje. Vá para casa de uma vez. Maria é a única que pode operar Seibzehn. Já devia estar bem a par disto.
_ Hmph, tolos! Não fique tão convencido. A festa está apenas começando.
Mas mesmo ela não parecia disposta a tentar sua sorte contra o velho pistoleiro. Sem perder a pose e, no entanto, não ousando demorar mais diante de Jesiah, ela deu de ombros.
_ Mas, acho que está bem. Minha missão está completa. Só o que resta... – e voltou-se para a menina lá embaixo – Maria, receio que eu precise ir agora. Aproveite a festa. Hah hah hah...!
_ Espere! Dominia!
Fei gostaria de ter punido Dominia por revelar algo tão horrível, mas a líder dos Elementos desapareceu. E Maria aparentemente não percebera, olhando para a face do Gear que pilotara por anos em defesa de Shevat... O Gear que seu pai construíra.
_ ... Pai...
E que, segundo Dominia, fora construído a partir do sofrimento de muitas pessoas. Por alguma razão, ela acreditava na invasora.
_ Ei Maria, não dê atenção ao que ela disse.
A menina não respondeu, apenas continuando a olhar para Seibzehn. E as sirenes de alarme começaram a soar por toda a volta
_ Isso... é...?
_ Parece que nossos convidados chegaram – tornou Jessie, olhando para cima – Vamos subir. A Yggdrasil também está acomodada no convés. Tenho certeza de que os outros caras estão fazendo uma zona por causa disso.
E guardou a carabina, e novamente o olhar sério não parecia o semblante costumeiro de Jessie, quando ele pareceu dizer para si mesmo:
_ Tenho uma premonição horrível... Eu duvido, mas... eles poderiam ter...
Do quê se tratavam os temores do velho pistoleiro, nem Fei nem Elly puderam imaginar naquele momento. E Maria tinha mais em sua mente naquele momento.
_ Seibzehn...
Minutos depois, todos estavam reunidos na sala do trono da Rainha Zephyr. Não apenas Jessie, Fei, Elly e Maria, mas também Billy, Citan, Bart e Rico, e todos ouviam enquanto o Doutor fazia uma avaliação do que tinham conseguido apurar.
_ As unidades de Gears de Solaris estão em curso de interceptação de alta velocidade com Shevat. Seria razoável acreditar que seus alvos principais serão os quatro Geradores de Portão. Provavelmente planejam acabar conosco, já que os estragos causados por Dominia enfraqueceram a saída do Portão. Já enviamos nossas unidades de interceptação, mas não sei quanto elas vão suportar.
“O povo de Shevat não está acostumado a táticas de Gears. Eu quero evitar sacrifícios desnecessários, se for possível.”
_ É... eu sei, Doc – Fei concordou com um aceno de cabeça – Nós iremos! Já estamos envolvidos. E, não podemos ficar simplesmente parados olhando enquanto essas pessoas morrem.
_ Fei...
A Rainha ficou profundamente comovida com as palavras do filho de Khan Wong, mas ele não era o único piloto presente.
_ Eu não gosto da idéia de trabalhar de graça – Bart murmurou, braços cruzados e cabeça baixa – mas gosto menos ainda da idéia de enfiar o rabo entre as pernas e correr deles! Vamos nessa! Não interessa quem sejam. Eu vou derrubar todos com o meu Brigandier!!
_ Sim...! – Elly concordou – Faremos o que pudermos para proteger o povo daqui!
_ Tch – fez Rico, sacudindo a cabeça em negativa – Desde o dia em que conheci vocês todos, não tem sido nada além de problema... Mas, já cheguei até aqui com todo mundo. Acho que não faz sentido ficar com coisinha agora. Vou mostrar pra eles o que acontece quando se provoca o grande Rico.
_ Eu também vou! – exclamou Billy – O inimigo conseguiu entrar porque eles permitiram a entrada da Yggdrasil. Não podemos permitir que o povo desta terra fique em perigo por nossa causa...
_ É isso aí, vão nessa, jovens! – Jessie interrompeu o filho – Estamos contando com vocês. Especialmente porque minha vida também depende disso. Eu não tenho intenção nenhuma de bater com as botas por aqui.
_ Fica quieto! – Billy voltou-se para o pai, parecendo ter perdido toda a compostura. Jessie sempre conseguia tira-lo do sério – Papai, dava pra você não dizer nada?!
_ Tá bom, tá bom, já sei – Jessie fez sinal de trégua, e Billy sacudiu a cabeça, voltando-se para os outros. Quando o filho não estava olhando, no entanto, o pistoleiro resmungou – Você podia ser mais legal comigo...!
_ Tá certchu! – uma voz fina falou, e todos olharam em volta – Chu-Chu vai achudar também!
Foi quando perceberam que Chu-Chu estava entre eles, quieta até então, e Fei olhou surpreso para ela.
_ ‘Vai achudar’...? Chu-Chu, o quê você está fazendo aqui?
_ Bem... – Elly sorriu, olhando para a criaturinha – Acho que no meio da confusão, ela acabou vindo junto de algum modo.
_ O que eu faço... – Fei lamentou-se – Isso não é um jogo. É perigoso, então volte pra a Yggdrasil. Está bem, Chu-Chu? Seja uma boa garota.
_ Uh hmm – Chu-Chu negou com a cabeça – Chu-Chu não é uma boa garota. Eu echutou naquela idade perigosa agora. E, Chu-Chu pode achudar também! Eu vou com todos vocês. Tá? Tá bom?
_ Tch, certo – Fei acenou com a cabeça, desistindo – Não venha chorando pro meu lado quando as coisas saírem do controle.
_ Heh, então eles chamam você de Chu-Chu também – Maria riu – Muitos dos seus amigos moram nesta cidade. Quer encontrar-se com eles depois?
_ M-mechumo? – Chu-Chu pareceu admirada – Echutão todos aqui? Yaay! Finalmente encontrei eles! Os amigos de Chu-Chu! Eles echutão aqui!!
E pulou de alegria, na expectativa de voltar a ver toda a tribo da qual fora separada já havia algum tempo. E, mais empolgada para a batalha do que qualquer um deles, ao que parecia, ela falou:
_ Então, vamos pôr o melhor de nós nisso! Pechual, temos que dar nochu melhor tiro!
_ Esta é a avaliação das unidades de Gears inimigos – disse Citan em voz grave – Como expliquei antes, quatro unidades distintasas estão indo para cada um dos respectivos geradores. De acordo com a informação coletada em Shevat, temos uma boa idéia das capacidades e composição das unidades de Gears. No entanto, há um Gear gigante que eles estão mantendo na retaguarda do qual não temos qualquer informação.
_ Um Gear gigante não identificado...? – Jessie viu seus presságios parecerem confirmados – Não pode ser...
_ Me permitam coloca-lo na tela.
A Rainha Zephyr tocou um botão no braço de seu trono, e as paredes da sala pareceram tornar-se um grande monitor, uma visão do céu azul por toda a volta do aposento. E à esquerda de seu trono, um Gear imenso de cor escarlate e com um canhão embutido em seu braço direito flutuava. Mais do que o choque para todos de ver tal máquina, Maria admirou-se por conhecer aquele Gear.
_ I-isso é... Achtzehn...?!
_ Qualé a desse Gear de dar medo...? – Bart perguntou, incomodado ao ver o provável adversário – Sabe alguma coisa sobre ele, Maria?
_ Achtzehn... é o segundo Gear que meu pai desenhou... a irmã Gear de Seibzehn. Mas Achtzehn não foi completado...! Além do Seibzehn, meu pai não fez mais nenhum, e supostamente ele queimou os planos...! Então... por que...?!
_ Povo de Shevat! Me ouçam!
Uma voz pareceu vir do Gear vermelho, transmitida por rádio. E, novamente, a surpresa maior foi para Maria, justamente porque conhecia a voz.
_ Essa voz... Não... Pai?!
_ Eu ouvi dizer que alguns ratos interessantes correram para cá – veio a voz de Nikolai, parecendo debochar – Bem a tempo de testarem Achtzehn. Eu posso derrubar vocês e Shevat de uma vez só! Alô, ratinhos, saiam. Venham, minhas cobaiazinhas lindas...
_ Por que isso...!! – Maria não se conformava. Parecia mesmo ser a voz de seu pai, mas o que estava dizendo... Não podia ser ele! – Por que meu pai está...?!
_ Acalme-se, Maria!! – ordenou a Rainha – Isso não quer dizer que o Dr. Nikolai esteja lá dentro!
_ Mas...!! Mas... a voz do papai...!?
_ Maria!! Controle-se! – Zephyr tornou a ordenar – Você pretende perder mesmo antes de lutar...? Contra as mesmas pessoas que fizeram você sofrer?
_ ...!! Mas...
_ Bem, está certo – Citan interrompeu – Vamos considerar nosso próximo movimento! Devemos repelir as forças de Gears e proteger os geradores. Para faze-lo devemos nos dividir em quatro grupos, e interceptar o inimigo. Quatro de nós vão atacar independentemente e defender cada gerador até a morte. Os outros dois, esperam aqui. É perigoso... mas não podemos recuar agora. Se mesmo um gerador cair, é uma derrota para nós.
_ Maria... – ordenou a Rainha – Você espera aqui.
_ Por favor, Maria – Citan reforçou o pedido, e a menina olhou para ambos. Sabia o que estavam fazendo. Fosse ou não o pai dela dentro de Achtzehn, seria muito difícil para ela lutar contra o Gear de Nikolai. Era melhor que ela não tomasse parte.
_ Está bem... Eu entendo.
_ Em seguida – Citan considerou – a formação dos Gears inimigos. No Gerador 1, há dois Gears menores e um complemento de tropas de Solaris. Se não os atingirem depressa e com força, vão terminar pegos na artilharia.
“No Gerador 2, há três Cavaleiros Brancos. Eles são muito rápidos e manobráveis. No Gerador 3, há um Gear grande e um Cavaleiro Branco. Sejam cuidadosos, pois o Gear maior tem alguma espécie de ataque especial. No Gerador 4, há um Gear imenso com um Cavaleiro Branco, sendo que o maior parece ser um Gear de poder.”
_ Eu fico com o Gerador 1 – disse Elly – Vierge e eu podemos com vários inimigos de uma só vez.
_ Eu pego o Gerador 2 – avisou Bart – Podiam ser mais pra deixar a coisa interessante, mas acho que vou me contentar com esses seus Cavaleiros Brancos por enquanto.
_ Então eu fico com o Gerador 3 – Fei ofereceu-se – Eu e Weltall estamos acostumados com o inesperado.
_ Hmph! – fez Rico – Gear de poder, é? Deixe o quatro comigo.
_ Entendido – Citan concordou – Então Billy e eu ficaremos na retaguarda. Todos, preparem-se para a batalha e por favor, apressem-se! O inimigo está quase lá!
_ Entendido! – Fei acenou – Chegamos tão longe, não vamos ser vencidos agora!
Olhando para o imenso Gear vermelho suspenso no ar, Maria não parecia tão convencida disso. Mas, enquanto parte da população de Shevat, ela podia apenas esperar pelo melhor.



BROKEN SWORD, AND SHIELD

domingo, 3 de janeiro de 2016

Capitulo Trinta e Dois Ponto Um

(...)


Enquanto procuravam pela cozinha, ou refeitório, que fosse, encontraram um salão de estudiosos, cujo líder expôs sua posição ao trio:
_ Esta terra é uma área de testes para Solaris. Os objetivos deles são engenharia genética, cruzamento das espécies e controle da mente... Eles querem conseguir dados para os organismos recém-criados e dados gerais de combate. Os Cordeiros são apenas criação a ser cultivada para os propósitos de Solaris. O ‘Ethos’ foi estabelecido principalmente para controlar os Cordeiros.
_ Quê?! – Bart admirou-se – Coletar dados de combate?! Então, essa guerra que durou centenas de anos no Continente Ignas... foi só uma farsa planejada por Solaris?!
Elly meramente acenou afirmativamente com a cabeça, sem nada mais para dizer. Mas o estudioso interveio:
_ Não é uma farsa. Para eles, é um estímulo importante sob restrições severas. Criar organismos apropriados que possam se alinhar com as ‘Relíquias Anima’ é um dos objetivos importantes para eles. De qualquer forma, os Cordeiros continuarão a ser as cobaias de Solaris a não ser que alguém os impeça.
Fei acenou afirmativamente com a cabeça. Uma forma mais velada, sem dúvida, mas também aqui havia alguém para tentar convence-los a lutar ao seu lado.
Vagaram mais pelo palácio. No subterrâneo, encontraram o estranho bloco de prisioneiros, que não era usado desde a época da guerra, quinhentos anos antes. Prisioneiros e criaturas perigosas tinham sido congelados e mantidos em animação suspensa ali, o que parecera crueldade demais mesmo depois de tanto tempo. Várias pessoas nos salões comentavam sobre a guerra, sobre Maria e seu pai e sobre os Três Sábios de Shevat, desaparecidos havia algum tempo. Por fim, através das pessoas, encontraram o refeitório e dirigiram-se para lá, e uma bela senhora os recebeu com um sorriso no rosto.
_ Ah, bem-vindos! Você parece ótimo, Fei.
O rapaz admirou-se, vendo um rosto familiar num lugar tão inesperado. E totalmente alheia à confusão no rosto de Fei, ela prosseguiu:
_ A refeição vai estar pronta em breve. Por favor, juntem-se a nós e comam ate estarem satisfeitos.
_ ...!? Yui?! P-por que..., o que está fazendo aqui...!?
_ Ah, eu não disse antes? – Yui sorriu em resposta – Eu nasci aqui. Depois que deixou a vila, eu decidi voltar para Shevat juntamente com os sobreviventes da vila. Porque os soldados de Aveh e Kislev ficavam aparecendo por lá...
_ Entendo...
Fei lembrou-se de ter visto o imenso disco voador, Shevat, enquanto procurava por Citan no deserto. Então era isso; decerto, a terra flutuante resgatara o povo de Lahan naquela ocasião, antes que muitos soldados de Aveh ou Kislev aparecessem.
_ Eu lamento muito, por causar tantos problemas a vocês.
_ O que está dizendo? – Yui admirou-se – Não é culpa sua. Não há nada com o que se preocupar. O povo da vila entendeu depois que vieram para cá e ouviram a história. Não puderam culpar apenas você por aquele incidente, porque Solaris estava por trás dele.
_ Sim... mas...
_ Com licença, mas... – Bart parecia confuso – quem é a dama?
_ Ah, é verdade – Fei voltou-se para ele – Você ainda não a conhece. Essa é a esposa do Doc, Yui.
_ A esposa... do Citan?!
_ Ah, entendo – Yui sorriu candidamente para Bart – Você é Bart, o Orca do Deserto, certo? Ouvi muito falar em você; andou muito ocupado. É um prazer conhece-lo.
_ É... Sim! – Bart pareceu visivelmente sem jeito, sacudindo a cabeça – P-prazer em conhece-la!
Foi muito engraçado, a ponto de Fei abafar o riso com a mão. Yui era mesmo muito bonita, mas era impressionante o quanto Bart havia ficado sem jeito; ele obviamente não pensara que Citan fosse casado e, se tivesse pensado, não imaginara que a esposa do Doc fosse como Yui.
Eles ouviram mais sobre a lenda do gênese, quando os humanos habitavam o paraíso Mahannon com Deus, e comeram um fruto proibido que lhes deu inteligência, mas enfureceu Deus, que os baniu para a Terra. De lá, os humanos teriam criado doze ‘Relíquias Anima’ para lutar contra Deus e retornar ao seu lugar de direito, mas ainda que poderosas, as relíquias não puderam resistir ao poder de Deus, e o mundo banhara-se em sangue, até que apenas homens de coração correto restaram para habita-lo. No entanto, mesmo Deus estava exausto e ferido depois da batalha de dez dias e dez noites, e aguardava-se que um dia ele retornasse de seu lugar de descanso, Mahannon, para dar aos descendentes dos homens de coração correto uma mão de auxílio.
Outra coisa que ouviram e que chamou-lhes atenção foi quanto a ‘Diabolos’, um exército de ‘anjos da morte’ sem rival, sem qualquer medo ou clemência, cujo único propósito parecia ser erradicar toda a vida do planeta, que surgira no meio da disputa entre os humanos quinhentos anos antes, e que os destruía indiscriminadamente, e apenas pela união dos esforços de Roni Fatima, Rainha Zephyr e outros jovens que pilotaram os lendários Omnigears em sua época, o coração de Diabolos pudera ser destruído. Para Bart, foi particularmente interessante que seu ancestral tivesse lutado ao lado da Rainha contra Solaris.
A decisão do trio veio ao final de seu reconhecimento do castelo, e dirigiram-se para a sala do trono onde a Rainha Zephyr os aguardava.
_ Já se decidiram?
_ Meu coração já está resolvido – Fei olhou para os colegas – E acho que posso falar pelo Bart e por Elly, também. Vamos fazer o que pudermos por vocês.
_ Muito bem...
A Rainha ainda sorria quando um tremor intenso sacudiu a sala do trono, e todos olharam em volta.
_ Que tremor foi aquele...?
Em resposta a Fei, as portas se abriram e Maria entrou correndo, dirigindo-se diretamente à Rainha.
_ Majestade, aquilo foi o inimigo...?
_ Alteza! – um soldado entrou – Algo horrível acaba de se passar...!!
_ Qual o significado disso? – Zephyr indagou.
_ Sim! Isso é... Temos um intruso na área do convés! O gerador do Portão foi destruído...!
_ O quê?!
_ Relatório de danos? – perguntou a Rainha.
_ S, sim! Os sub-sistemas estão destruídos... A geração do Portão caiu em 70% do normal! Estamos nos dedicando totalmente a enfrentar o incêndio e a fazer os reparos... Ainda assim, pode levar algum tempo!
_ E quanto ao intruso?
_ Sim, nós acreditamos que seja um único soldado da Gebler. Parece que o indivíduo fugiu para o hangar número 17!
_ Hangar 17?! – Maria alarmou-se – Seibzehn...!!
E fez menção de correr imediatamente para lá, mas a Rainha a deteve.
_ Maria, espere! É perigoso demais que vá por si mesma.
_ Mas... – a menina voltou-se – Não podemos simplesmente deixar o espião à solta...!
_ Alteza – tornou o soldado – temos nossas mãos cheias apenas enfrentando o fogo no gerador do escudo. Se alguém não fizer alguma coisa, é possível que tenhamos ainda mais perdas...!
_ Vou ficar bem – Maria assegurou – Eu posso ir sozinha...!!
_ Maria, o que pode fazer agora, quando nem sequer tem Seibzehn?
_ ...! Mas...
Fei, Elly e Bart se entreolharam. A escolha quanto ao que fazer era óbvia.
_ Então, podemos ir até lá embaixo e acompanhar Maria? – Fei perguntou à Rainha – É a Gebler, certo? Ainda estou aborrecido com eles. Eu vou pegá-los.
_ ... Está bem assim para você, Fei? – perguntou a Rainha – Por favor então, tomem conta de Maria. E cuidem-se lá fora.
Os três curvaram-se, e foram em direção à menina, que os chamou com um sorriso agradecido no rosto.
_ Então, vamos todos juntos.