Capítulo 52 – El Regulus
Uma visão assustadora esperava
por Elly em Golgoda. O novo Gear de Ramsus e o Omnigear de Miang, à frente da
guarda de Krelian, não causavam a ela sequer metade da apreensão de ver os
Gears e Omnigears de seus amigos pendendo de cruzes escarlates. O Fenrir de
Citan... O Seibzehn de Maria... O Andvari de Bart... E, na parte mais alta do
monte, Weltall-2, tão danificado e incapaz de salvar seu mestre quanto os
demais. Entre os prisioneiros das forças de Krelian, Citan foi o primeiro a
reconhecer o Omnigear de Shevat e sua piloto:
_ Elly?!
_ Sua idiota! – Fei se debateu em
suas amarras, incapaz de se libertar – Por que você veio até aqui? Krelian está
atrás de você! Esqueça de nós! Fuja e se salve!
Mesmo assim, ele sabia em seu
íntimo que ela não o faria; não era algo típico de Elly. Nunca, mesmo nos
lampejos de memória...
_ Eu vim como você disse – ela
estava respondendo – Sou a única de quem você precisa. Eles não têm nada a ver
com isso. Então, deixe Fei e os outros irem!
_ ... Que galante da sua parte,
Elhaym – Krelian murmurou após um momento, quase parecendo lamentar – É como se
aquela cena do passado tivesse sido trazida de volta à vida no presente.
Ele contemplou a máquina que Elly
pilotava e acenou com a cabeça, pensativo:
_ Então, você veio em um
Omnigear... Este também é... ‘o Gear dela’. Hmmm... Permita-me confirmar uma
coisa.
Ele fez um sinal com a mão, e
dois Gears da guarda pessoal de Krelian adiantaram-se, ficando entre Regulus e
Golgoda.
_ Considerarei que tipo de
tratamento seus amigos vão receber... Com uma condição. Que primeiro você
derrote estes dois homens aqui com esse Gear no qual veio... Que tal, Elhaym?
_ Esqueça, Elly! – Fei gritou –
Ele está armando alguma coisa! Não aceite!
_ Fei tem razão! – Citan apoiou –
Krelian não é um homem de palavra, e sempre tem motivos posteriores quando fala
gentilmente com alguém! Mais ainda, estes homens são máquinas de luta criadas
por Krelian! Suas habilidades de combate são imensuráveis! Não são oponentes
que você possa enfrentar sozinha! Não aceite a oferta dele! Escape enquanto
pode!
_ Ora, por favor... – Krelian
retrucou suavemente – Críticas tão pesadas... Não sou tão brutal. E então, o
que vai ser, Elhaym? Mesmo que tentasse fugir agora, não é provável que fosse
escapar. Como pode ver... Toda esta área está cercada pelos meus guardas!
Em silêncio, Elly comprovou o que
ele dissera. Os céus até onde Regulus podia alcançar tinham um anel de Gears
inimigos cercando o perímetro. Não poderia fugir, ainda que quisesse.
_ Não seria lógico fazer a
escolha onde você ainda pode ter alguma chance? Por menor que ela possa ser...?
_ Muito bem então – Elly
respondeu, tentando não ouvir a voz de Fei e seus próprios temores – Farei o
que você diz.
_ Bom – Krelian acenou,
visivelmente satisfeito – Você de fato é minha pequena ave preciosa. Agora,
adiante com isso!
Regulus pousou diante de Golgoda
em posição de defesa, parecida com Vierge mas de aparência mais imponente. Em
sua poltrona, concentrada para o duelo, Elly pensava para si mesma:
_ Se isso der a Fei e a eles
sequer a menor chance de escapar, então eu vou lutar! Não me importo mesmo que
custe a minha vida!!
Diante dela pousaram os dois
Gears especiais, um deles semelhante a uma espécie de dragão verde com lâminas
móveis brotando de suas costas e o outro, um humanóide de feições de caveira,
com uma bola de ferro maciça no lugar da mão direita e um imenso escudo
giratório na mão esquerda. E os dois investiram sem aviso contra ela.
_ Rápidos demais!!
Primeiro as garras do dragão
golpearam no que parecia ser uma combinação de três Níveis de Ataque em um, e
quando ela tentou revidar, o imenso Gear de Rattan atacou, com a bola de ferro
e depois o escudo, lançando Regulus para trás.
_ Sobrepujada... Mesmo no meu
Omnigear... Mas...
Regulus ergueu-se depressa,
embora Elly tivesse a nítida sensação de que parte dos danos causados a seu
Gear estavam se refletindo em seu próprio corpo. Mas sua determinação
permanecia.
_ Eu não posso simplesmente...
Não... Não desse jeito...
Seus Turbos foram ativados, e o Omnigear
de Shevat investiu novamente, atacando mais depressa.
_ Eu não posso perder!!
Regulus avançou sobre Rattan, os
chutes e golpes de seu bastão numa velocidade quase celestial quando comparados
à ‘Tempestade’ de Vierge. Poucos golpes entraram, no entanto, a maioria
repelida ou contida pelo grande escudo enquanto Elly se esforçava.
_
P-preciso... de algum modo... deter... movimento...
O segundo Gear investiu por trás,
aparentemente sem ser notado. Quando suas garras caíram sobre a rival, porém,
encontraram apenas o vazio enquanto Regulus girou entre os dois adversários e
atacou também o dragão com uma versão melhorada da Tempestade, passando pela
defesa do outro e derrubando-o.
_ Parou? É a minha chance!
Haaaaaaaaaaaaaaaah!
Atacando deliberadamente o escudo
de Rattan, Regulus aproveitou o apoio e saltou para mais distante, convocando
então o ataque mais poderoso de ether de que dispunha.
_ Fantasma da Terra!
Uma emanação tremenda de energia
da terra pareceu mover imensos rochedos sobre os dois Gears que a atacavam.
Quando o efeito do ataque terminou, os oponentes estavam imóveis. Tal foi a
surpresa que Elly quase baixou sua guarda.
_ Eu... Consegui?
Por um longo instante foi o que
pareceu, e Elly pôde apenas ouvir seu próprio ofegar. Então, os dois Gears
vivos puseram-se de pé bruscamente, sem parecer seriamente danificados.
_ C-como pode ser...? Eu pensei
que tivesse tido algum efeito...
_ Ô garota, isso doeu! – o dragão
verde disse – Eu vou te dar o troco!!
_ Você errou em subestimar nosso
poder!
Os dois lançaram-se ao ataque
novamente, e embora Regulus tenha conseguido bloquear a primeira investida, sua
guarda cedeu diante do primeiro impacto. A mesma velocidade e combinação de
ataques dos dois, com um intervalo menor entre eles, e os dois revezando-se nos
golpes, acabaram por derrubar novamente o Omnigear de Elly sob os olhares
preocupados de seus amigos e a expressão indecifrável de Krelian. Era como se
ele esperasse por algo.
_ Guh...! Huff... huff...
_ Hmmm, não estou recebendo
resultados – analisou Rattan, enquanto Elly se esforçava para ficar de pé – Não
podia ser evitado, Mugwort. Já está na hora de encerrar o trabalho.
As duas máquinas tornaram a
atacar enquanto Regulus ainda se punha de pé, e os amigos de Elly podiam apenas
observar com horror enquanto os golpes pesados ou cortantes dos oponentes se
abatiam sobre o Gear de sua companheira.
Maria desviou os olhos, Citan e
Rico observando com ar aflito, Fei se debateu inutilmente em suas amarras e
Bart baixou o rosto enquanto o som de metal golpeando metal parecia alto demais
e os ataques de Rattan e Mugwort lançavam Regulus de um para outro, detendo-se
apenas quando ela caiu inerte.
_ Gahahahahahaha! Já desabou? É
de se esperar. Fraturas múltiplas, perda maciça de sangue... Eu não ficaria
surpreso se a cabine for um mar de sangue. Na pior das hipóteses, morte! Geh hah hah hah hah!!
E após um momento de silêncio,
Regulus tornou a ficar de pé, parecendo ilesa, algo que Mugwort e Rattan
definitivamente não esperavam.
_ O que...? Não há como você
poder ficar de pé depois de sofrer tamanho dano...
Os visores de Regulus cintilaram
e o Gear dragão verde explodiu sem aviso, uma descarga de reação no meio de sua
fuselagem fazendo com que toda a sua estrutura se consumisse e desfizesse em
milhares de fragmentos.
_ M-Mugwort?!!
Rattan voltou-se para Regulus, abalado
mas irritado. Não compreendera bem o que tinha acontecido, mas a essa altura,
não importava mais.
_ Ora sua...! Como ousa fazer
isso ao meu parceiro!
Rattan atacou por cima, novamente
parecendo rápido e forte demais para o Omnigear, mas Regulus voltou-se para ele
e saltou, os dois se equiparando em velocidade por um instante enquanto os
golpes da ‘Tempestade’ agora serviam para interceptar cada um dos ataques de
Rattan.
Os dois caíram separados, ainda
em postura de ataque e de frente um para o outro. Para a surpresa de Rattan
quando se investiria novamente, havia várias marcas redondas marcadas no imenso
escudo em seu braço esquerdo, que trincou e perdeu vários pedaços. A pesada
maça de ferro não se despedaçou, mas as marcas perfuradas e amassadas para
dentro também estavam lá, e era evidente que elas só podiam ter sido causadas
pelos punhos e pelo bastão de Regulus.
_ O q-quê...?
Regulus tinha suas duas mãos
voltadas para ele, as aletas de sua cintura inclinada e catalisando energia,
que ela disparou num único feixe de reação e atingiu em cheio o tronco de
Rattan, parecendo simplesmente atravessá-lo no primeiro instante.
E o imenso corpo máquina do
auxiliar de Krelian explodiu, fragmentos espessos de metal atirados para todos
os lados sem que ele sequer gritasse, antes de Regulus tombar sobre os próprios
joelhos.
_ Não pode ser...! Elly...! –
chamou Fei, sem resposta, enquanto Krelian aproximou-se do Gear imóvel
parecendo menos preocupado do que curioso.
_ O verdadeiro despertar dela...?
Ou meramente estava... ‘protegendo sua mestra’...? De qualquer modo, não altera
o fato de que ela é a existência – Mãe – que estive procurando! Agora homens...
Recolham aquela máquina. A prioridade é a segurança da piloto. Usem o que for
necessário para preservar a vida dela!
_ Bem então – Krelian voltou-se
para os prisioneiros – Estarei levando a garota comigo! Quanto ao resto de
vocês... Por que não chafurdam pateticamente em sua fraqueza enquanto meditam
sobre sua própria falta de qualquer poder verdadeiro?
Krelian e seus seguidores se
retiraram, levantando vôo em seus Gears e aeronaves, mas Grahf ainda deteve-se
por um momento diante de Fei.
_ Deprimente... Você não consegue
proteger uma única mulher. Não vale sequer o esforço de colocar um fim na
agonia de um destroço sem coragem como você!
<Fei>
Elly foi levada... E, como
Krelian tinha dito a ela, fomos deixados vivos...
Krelian estava apenas mantendo
sua promessa...? Não, não pode ser isso...
Tinha que haver alguma outra
razão ‘real’ pela qual ele nos permitiu viver.
E tínhamos que descobrir
isso...