sábado, 27 de maio de 2017

Capítulo Sessenta e Quatro

Capítulo 64 – Alfa e Ômega



_ Tá legal, e daqui pra onde? – perguntou Bart, olhando ao redor desconfiado. – Alguém tá vendo alguma placa ou coisa do tipo?
         O corredor onde os Omnigears e Chu-Chu estavam era iluminado por trilhas de neon que seguiam pelas paredes, piso e teto, como se fossem uma versão artificial de vasos sanguíneos. Havia painéis holográficos mostrando o terreno lá fora em diferentes pontos de vista, embora os sinais que surgiam na tela não fossem números ou letras de qualquer idioma conhecido para eles. E a voz de Citan se fez ouvir.
         _ Sintonizem seus radares sônicos, todos... Devemos ter um diagrama em segundos... Ah, aí está!
         Nos painéis de todos os Gears surgiu um gráfico mostrando um padrão de túneis interligados formando colméias, e enquanto observavam eles foram instruídos pelo doutor:
         _ As diferenças de cor, mais clara ou escura, devem indicar diferenças de nível, pontos mais elevados ou abaixo de nossa atual posição. Lembrem-se, estamos todos procurando uma estrutura central, algo diferente do andar em que nos encontramos, onde deve haver um duto nos conduzindo para as profundezas de Deus.
         _ Nos atemos ao plano original, então? – Rico bateu os punhos.
         _ É nossa melhor opção – Citan respondeu. – Aqui dentro, os Seraph agirão como células defensivas. Nestes corredores, grupos numerosos serão fáceis de cercar e imobilizar; não devemos seguir todos juntos.
         _ Movimento! – Maria avisou, enquanto o radar de Seibzehn acusava inúmeras formas em aproximação. – Como você previu, Citan, estão vindo por vários corredores; vão nos cercar em menos de um minuto.
         _ Espalhar! – ordenou Citan. – Todos os grupos! E tenham cuidado.
         _ Nos vemos em breve, doutor – Fei murmurou. – Emeralda, vamos!
         Xenogears e Crescens seguiram rumo nordeste, enquanto os demais se espalharam em direções diversas; a idéia era que os Gears e Chu-Chu complementassem os grupos combinando maior poder ofensivo, resistência ou poder ether. Fei conduziu seu Gear depressa, procurando alcançar a saída da rede de túneis e também abrir caminho entre os Seraph, se necessário, e depararam com um Gear cintilante com braços fortes e sem pernas, e outro que lembrava um centauro usando uma armadura, portando uma lança longa. Fei se lembrava das batalhas anteriores, muito antes da destruição da Merkava, e dos Sete Atributos dos Seraph; aquele sem pernas devia ser um Seraph Terra e o centauro, um Seraph Força.
         O centauro investiu com a lança e Xenogears agarrou-se a ela, evitando a perfuração e sendo arrastado para trás enquanto o enfrentava de igual para igual. Fei teve um vislumbre de Crescens sendo atacada enquanto o Seraph Terra fazia seu braço direito crescer mais e então investindo com força explosiva, mas seu próprio duelo estava exigindo atenção no momento.
         Empurrado até uma parede atrás de si, Xenogears deteve a investida do Força e manteve-se travado, Gear e Seraph empurrando um ao outro por um momento tenso. E Fei percebeu o que o outro ia fazer quando as patas dianteiras do centauro ergueram-se.
         O Seraph Força empurrou e fraquejou, deixando-se virar de costas para que suas patas traseiras ficassem em posição para atacar com um coice, como um cavalo. Mas Fei tinha previsto o movimento e Xenogears desviou para esquerda, atacando com um Raigeki sem contato, abrindo a guarda do oponente e lançando-o pelo corredor com um pulso intenso de chi e energia de reação.
         Aquilo não parecia o bastante para deter um Seraph, mas obviamente tinha causado algum dano. Xenogears assumiu uma postura ofensiva e ia avançar quando Crescens surgiu entre os dois e abriu suas asas na direção do Seraph caído, e Emeralda chamou:
         _ Anemo Darm!
         Uma erupção de ventos e eletricidade, breve e terrível, explodiu ao redor do Seraph tombado e os danos causados pelo ataque de Xenogears fizeram sua parte, tornando o ataque de nanomáquinas de Emeralda em algo letal. Admirado, Fei viu Crescens girar em sua direção e Emeralda o apressou:
         _ Anda Fei, o tempo está acabando! Precisamos ir depressa!
         _ Emeralda, como você...
         _ Os Seraph de elementos são fracos contra o elemento oposto – ela explicou, enquanto Crescens encontrava a saída dos corredores em colméia. – Depois de um Anemo Darm, aquele Terra estava quase acabado. Mas tem mais deles vindo, vamos poder lutar melhor num lugar aberto.
         Xenogears e Crescens avançaram pelo corredor, tão depressa quanto a estrutura irregular permitia. Embora artificiais, os canais no interior de Deus não tinham regularidade e era comum ter que saltar módulos ou descer a depressões no caminho que, aparentemente, não tinham qualquer função discernível. À distância, quando pareciam na iminência de alcançar a saída do corredor, dois Seraph com asas triangulares, semelhantes a pequenos demônios, começaram a disparar ether de fogo na direção deles.
         _ Seraph de Fogo se aproximando! – avisou Emeralda.
         _ Também podemos atacar à distância – e Xenogears uniu as mãos – Radiância!
         _ Aqua Aroum!
         Uma esfera de chi formou-se no caminho do Seraph à direita, parecendo atrair energia à sua volta e crescer para então explodir, lançando o oponente de volta pelo corredor. E à esquerda, o Seraph foi coberto por uma cascata de água gelada vinda de parte alguma, que se cristalizou e congelou instantaneamente a blindagem do alvo, fazendo-o explodir de dentro para fora.
         _ Mais deles chegando! – Emeralda alertou, os sensores de Crescens disparando – Grupos em aproximação por quase todas as direções; não podemos com tantos de uma só vez!
         _ Isso não vai acabar nunca – Fei murmurou, começando a lamentar a idéia de separar o grupo – Tudo bem, estamos próximos de uma área maior, podemos lutar ou fugir se chegarmos até lá. Vamos!
         Os dois se voltaram e seguiram adiante, até a saída do corredor em colméia onde tinham lutado. A trilha continuava em passarelas abaixo do nível do corredor e Crescens e Xenogears saltaram para chegar lá. Fei pretendia afastar-se tanto quanto possível para escapar dos perseguidores ou, ao menos, colocar tanta distância quanto possível entre eles, mas o novo ambiente onde haviam chegado o distraiu por um momento.
         _ Onde... estamos, agora?
         A passarela onde se encontravam era longa, detendo-se num pilar circular mais adiante de onde outra passagem, para esquerda, se desenvolvia. Não havia qualquer tipo de parede ou barreira lateral nas bordas das passarelas, até onde era possível ver, e ao se aproximar do pilar de união, Fei e Emeralda descobriram um elevador que conduzia para um nível inferior da passarela. Acima do pilar, havia uma espécie de dial.
         _ Que tipo de estrutura é essa...?
         _ Sem sinal de Seraph – Emeralda disse, estranhando a súbita tranqüilidade nos sensores – E, é estranho... Sinto algo de diferente neste lugar.
         _ Diferente, como?
         _ Não sei explicar – Crescens ergueu a cabeça, parecendo vasculhar toda a extensão da área – É ilógico, mas... Mas parece claro que eles não virão até aqui. Não podem vir.
         _ Não podem...? Mas, se eles são a defesa interna de Deus...!
         _ Não podem vir até aqui – a moça repetiu, parecendo procurar por um teto – Não sei explicar, mas é a verdade. Os Seraph não têm acesso a essa câmara.
         Fei perguntaria mais a respeito, quando a voz familiar de Citan se fez ouvir nos comunicadores:
         _ ... Repetindo, alguém na escuta? Podem nos ouvir?
         _ Doc! – Fei respondeu, e o rosto do doutor apareceu no painel – Fei na escuta. Emeralda e eu chegamos a um lugar diferente, fora dos corredores. Há passarelas e pilares, e aparentemente nem teto nem piso inferior. E os Seraph não estão nos perseguindo.
         _ Parece um bocado com onde chegamos – veio a voz de Rico – Mas não vejo vocês em lugar nenhum.
         _ Rico! Vocês estão bem?
         _ Tudo em ordem por aqui – ele parecia estar rindo – Deveriam só ver; Chu-Chu está quase tão blindada quanto o meu Stier.
         _ Hein? – veio a voz de Maria, fazendo par com Billy – Do que está falando?
         _ Lá estou eu, sendo bombardeado por um ataque Seraph quando Chu-Chu aparece do nada, usando a blindagem de um deles como escudo. Eu nunca tinha visto nada parecido; esses Seraph têm um ataque que parece uma auréola, e descarrega muita energia. Mas resolvi adaptar a idéia da Chu-Chu, e tem funcionado bem contra as armas deles. Mas deixem pra lá; que tipo de lugar é esse? Citan?
         _ Só um instante, estou aguardando o gráfico do radar sônico...
         Por um instante houve silêncio, enquanto viam o mesmo diagrama formar-se em todos os painéis. Fei e Emeralda descobriram estar em um dos extremos de uma câmara ampla repleta de passarelas separadas em segmentos. Os sinais dos Gears dos amigos vinham de pontos diferentes do mesmo salão, e as passarelas formavam um padrão curioso de círculos e hastes conectadas.
         _ ... Posso estar enganado, mas... parece o ‘Caminho de Sephirot’ – murmurou Billy, analisando o padrão das passagens – Embora algumas das trilhas não pareçam estar corretas.
         _ Tá – Bart perguntou – E o que é esse negócio aí?
         _ Na crença antiga, a fórmula para a transformação do ‘desejo’ em ‘realidade material’, posto de forma simples – Citan respondeu – Imagino que seja a ‘estrutura’ que mencionei anteriormente; a passagem para o núcleo de Deus encontra-se nesta câmara. Provavelmente no centro.
         _ Ichu devia estar melhor protegidchu – Chu-Chu comentou, olhando ao redor como se esperasse ver uma horda de Seraph emergir das paredes a qualquer momento – É uma parte importante, não é?
         _ Emeralda está dizendo que os Seraph não podem vir, que não têm acesso a essa câmara – Fei lembrou – Doc, isso faz algum sentido pra você?
         _ Talvez – Citan murmurou – Talvez essa estrutura seja um setor vital, um dos condutores principais de energia do complexo todo. Não seria sensato permitir batalhas aqui dentro, se fosse esse o caso.
         _ Mais alguém sentiu que tivemos pouca oposição? – Maria perguntou, olhando preocupada para a passagem de onde viera – Se essa área é tão importante, deveria ter sido melhor defendida, não?
         _ Estão se movendo – Emeralda murmurou, enquanto Crescens continuava a olhar ao redor de si mesma – Para outra parte. Por isso não estão se concentrando tanto em nós.
         _ Que seja, tanto melhor! – Bart exclamou, impaciente – Alguém tem algo contra, ou podemos ir direto pra a área central? Não quero ficar aqui dentro o dia inteiro.
         _ Impaciente como sempre, jovem – Citan murmurou, completando a ligação entre os painéis – Mas dessa vez pode ter razão; estou com um mau pressentimento. Sigam todos pela rota demarcada em seus radares; deve nos levar mais depressa ao ponto central.
         Os grupos de Gears convergiram pelo caminho que Citan marcara pelas passarelas e pilares, por vezes saltando a distância entre elas até reencontrarem-se ao redor do centro da câmara que, como deduzira o catedrático, escondia um poço profundo.
         _ Faz lembrar daquela ‘traquéia’ no Terceiro Portão – Rico murmurou.
         _ Verdade – Bart deu apoio. – E nesse caso, vai você na frente, Fei. Pra mim, uma vez já deu. 

sábado, 20 de maio de 2017

Capítulo Sessenta e Três Ponto Um

(...)


Xenogears saltou do hangar da Yggdrasil III, acompanhado por Renmazuo, Crescens e por Chu-Chu em sua forma gigante, as pistolas do Gear de Billy anunciando sua chegada e demolindo os primeiros Seraph à sua frente, enquanto Chu-Chu atirou-se rolando por entre as torres de tiro da Excalibur, derrubando ou danificando outros. E no convés da Yggdrasil, na iminência de ser atacado, Andvari bateu para direita, repelindo o primeiro Seraph a seu alcance, enquanto o Fenrir de Citan correu rumo à proa, talhando à esquerda e direita de si mesmo, impedindo o pouso das unidades mais avançadas dos anjos, postando-se à frente da nave como primeira linha de defesa, e o Stier de Rico esmagava um quarto Seraph entre seu punho e broca antes de deslizar também, resmungando que Citan estava tentando se exibir.
À frente, na Excalibur, Xenogears tomou a frente na proa e Fei varreu a dianteira com um Tiro Guiado, com Crescens deslizando depressa atrás dele. Suas asas abriram-se como mãos, um Thermo Geist de intenso calor explodindo os Seraphs mais próximos enquanto os canhões da nave de batalha tornavam a reduzir a resistência, destruindo vários obstáculos em seu caminho.
_ Não está ruim – Fei anunciou pelos comunicadores – Podemos conseguir! Bart, como estão indo aí?
_ Saco, Fei, não me atrapalha! – o outro bronqueou – Eu tô no meio de uma briga, aqui! Tem Seraph pra tudo que é lado!
Andvari girou para direita, um giro completo, seus chicotes despedaçando os Seraph mais próximos a ele, apenas para ser substituídos por mais deles. Prendendo um em seus chicotes, ele ativou seu Nível de Ataque.
_ Andvari, Modo Hyper – Queda de Meteoro!
Ether conduziu-se pelos chicotes e causou dano pesado ao Seraph aprisionado, e Bart golpeou com ele contra os demais diante de si, abrindo espaço.
_ Não exagere, Bart – Maria avisou, enquanto Seibzhen se ajoelhava e abria sua cápsula de mísseis, alvejando uma multidão de Seraph ao seu redor – Ainda estamos lutando em cima da Yggdrasil; ataques intensos demais vão danificar a nave também.
_ A retaguarda está descoberta...
_ Rico?
Stier saltou, deixando o deslocamento da Yggdrasil carrega-lo até a popa da nave, e seu peso e as metralhadoras em seus ombros saudaram os primeiros Seraph que encontrou, reduzindo-os a pedaços. Mas ele viu seus piores temores confirmados.
_ Escutem, todos vocês: vamos precisar de gente aqui atrás – Stier golpeou, a broca em seu braço direito cravando-se no peito de um dos Seraph antes de começar a girar, maximizando o dano – A Função de Desmonte pode impedir que eles se recuperarem depressa, e estamos passando o rolo compressor, mas não estamos destruindo todos enquanto avançamos; não tem como, com tantos deles! E os que escapam estão quase nos alcançando pela retaguarda. É questão de tempo até...
_ Hmph, pare de reclamar!
À direita do Stier, um Gear amalgamado ergueu-se em asas de metal, enquanto uma cabeça de leão em seu peito rugia, afastando e danificando os Seraph mais próximos. E a voz de Kelvena se fez ouvir.
_ Desculpem-nos pela demora; implantar os nanodesmontadores em cada parte individual levou mais tempo do que esperávamos.
_ É, mas o que importa é que a gente chegou a tempo! – Seraphita exultou – Não íamos ficar de fora da atração principal, né?
_ É sério, dava pra ficar quieta? – Tolone resmungou – Estamos meio que no fim do mundo, aqui. Essa falação toda me irrita.
_ Vocês todas me irritam – Dominia deu a bronca novamente, olhando em volta como se cada uma das outras estivesse diante dela – Ainda acho que devíamos ter vindo cada uma no seu próprio Gear.
_ Mais concentração, menos conversa, senhoras – uma voz masculina veio por todos os comunicadores – Temos um trabalho a fazer.
_ Kahr? – Citan e Sigurd exclamaram ao mesmo tempo, admirados ao reconhecer o Vendetta dourado de Ramsus, que surgiu à retaguarda da Excalibur, suas asas bem abertas, enquanto o ex-comandante da Gebler avaliava o amplo arco de oponentes à sua volta por um momento. Alguns dos Seraph mais próximos estavam na iminência de entrar em linha de tiro para alvejar os motores.
_ Hmph.
Vendetta estendeu as duas mãos, abriu-as e chicoteou para os lados, partindo Seraph à esquerda e direita. Fora um ataque amplo, sem força suficiente para destruir muitos dos que atingira, mas impedira o ataque. E era para isso que estavam ali.
_ Sigurd, leve todos até Deus, custe o que custar. Hyuga, seu trabalho é lá dentro; conduza a todos como puder – era quase nostálgico, dar ordens aos antigos Elementos mais uma vez – Nos encarregamos de manter as naves a salvo por tanto tempo quanto possível. Falhar não é uma opção, aqui.
_ Estou correto em presumir – Citan empurrou os óculos de encontro aos olhos, com Fenrir ainda em guarda sobre a proa da Yggdrasil – que se recuperou de sua depressão?
_ ... Era mais objetivo sob meu comando – Vendetta posicionou-se sobre os propulsores da Excalibur, os canhões deslizando sobre seus ombros para abrir Fogo Duplo em varredura, meramente atrasando os Seraph – Faça o que puder, Hyuga, e farei o mesmo por aqui. Tudo o mais pode esperar.
_ Deus já está quase ao alcance! – Zephyr anunciou – Mantenham o curso, toda velocidade à frente! Sigurd, preparar a entrega! Vão precisar de uma barragem de cobertura!
_ Recebido! Fei, jovem mestre, preparem-se para desembarcar! A Excalibur e a Yggdrasil estão entrando a postos; sabem o que devem fazer. Jovem mestre...
_ Beleza, Sig, é a minha deixa!
Andvari saltou da proa da Yggdrasil, indicando o caminho para os companheiros, e tanto seu grupo quanto o de Fei mergulharam rumo a Deus, pousando um atrás do outro sobre a cobertura de metal da estrutura.
No ato, o piso e as paredes em volta deles começaram a estremecer, modificar-se... brotar. E Fenrir colocou-se em guarda, enquanto Citan confirmava:
_ É como imaginamos, Sigurd; os Seraph não são ‘enviados’ por Deus; de certa forma, eles ‘são’ Deus! A estrutura toda é criada a partir de nanomáquinas; se necessário, cada molécula dela pode se converter em uma nova unidade de defesa independente.
_ Tá tranquilo, tudo dentro do esperado – Bart acenou com a cabeça, e deu o comando – Sigurd! Carga da Yggdrasil no meu sinal!
Andvari foi o guia, e uma salva dos Mísseis Bart foi disparada em sua posição, cada um deles carregado com unidades de Função de Desmonte, explodindo sobre os Seraph recém-nascidos e cobrindo-os com pó e destroços, desfazendo as unidades na mesma proporção em que surgiam. Mas isso, sabiam, não duraria muito.
_ Adiante! – comandou Citan – O piso e as paredes estão expostos, mas devem se reformular em segundos! Precisamos entrar agora, ou nunca!
_ Sig, tô indo na frente! – Bart acenou com a cabeça, com um sorriso corajoso para o imediato – Segura as pontas que eu já volto.
_ Até a volta, jovem mestre.
Bart e seu grupo mergulharam nas fendas abertas que, como Citan previra, já começavam a fervilhar e encolher, refazendo-se. O dano da Carga da Yggdrasil seria refeito em breve.
_ É a nossa deixa, também – Fei acenou para os companheiros – Sigurd, Rainha Zephyr, muito obrigado. Afastem-se assim que puderem, nós ficaremos bem. E Ramsus... Muito obrigado.
_ Idiota, do que está falando? – Dominia resmungou, o G Elementos talhando para esquerda e destruindo um Seraph, enquanto Tolone protegia a retaguarda com outro ciclone – Está agradecendo pelo quê?
_ ... Estamos todos lutando por nossas vidas, aqui – Ramsus replicou, Vendetta agora na Postura das Chamas, à espera do próximo ataque – Apenas isso. E agora, você deveria ir.
Fei apenas sorriu, acenou com a cabeça e também Xenogears, o último de seu grupo, saltou pela fenda restante no piso diante dele, antes que se fechasse. Um instante depois, era como se a estrutura externa de Deus nunca tivesse sido danificada. Ou como se o grupo de Gears e a gigante Chu-Chu jamais tivessem estado ali.
_ Eles já foram – Kelvena murmurou, um Ataque Nereida arrastando à força um grupo menor de Seraph diante do G Elementos – A sorte está lançada.
_ Uma pena, não podermos participar também – Tolone lamentou, e Seraphita deu de ombros.
_ Bom, acho que vamos ficar bem ocupadas por aqui, de qualquer modo.
Grandgrowl rugiu no peito do Gear amalgamado, e uma investida de espada destruiu outros dois Seraph. Mas a nuvem ao redor das naves de batalha era, simplesmente, maciça demais, e não era preciso que Kelvena analisasse, a situação era clara demais para não entender: não importando quantos destruíssem, não haveria saída dali para qualquer um deles. Ao menos, haviam conseguido cumprir com aquela última missão.
_ ... Um final apropriado, então. E, por mais que me custe dizer isso... Foi uma honra.
_ Aê, dá licença? – uma nova voz veio pelos comunicadores – Foi daqui que pediram reforço?
Explosões começaram a soar do lado de fora do perímetro, e de fora do cerco, um bando de Gears de aparência duvidosa começou a atacar os Seraph.
_ O que...
_ Desculpa a demora, vocês – o piloto de antes tornou a falar, agora tomando postura próximo ao G Elementos com um Hatamoto, a lança em postura de defesa – O que importa é que os lutadores de Nortune chegaram. É só pra manter esses caras ocupados, certo?
Dominia não podia acreditar nos próprios olhos. Um Roda de Fogo caiu com os dois pés sobre um Seraph próximo a uma torre de canhões da Excalibur, e girou ao pousar, estilhaçando mais Seraph à sua volta, disparando balas de ether à sua frente. Mas não havia como impedir os oponentes apenas com aquilo.
E por isso, um Titan caiu sobre eles com sua marreta, batendo à esquerda e à direita e atirando mais Seraph para fora da nave de batalha, prenunciando a brigada de Lutadores que chegava, gritando desafios.
_ Mas quem são esses... – Dominia começou, e Kelvena respondeu:
_ Lutadores do Bloco de Prisioneiros de Nortune, ao que parece – sobre elas, no convés externo da Yggdrasil, podiam ver um Musha atirando com seu rifle nos Seraph que se aproximavam, e então avançando com sua katana contra um outro, que chegara perto demais – Participam de batalhas a bordo de Gears, como entretenimento, disputando a liberdade e, indiretamente, são selecionados para o exército. Ricardo Banderas foi o Campeão Lutador por três anos consecutivos, a bordo do Stier, até ser derrotado por Fei Fong Wong.
_ Mas o que estão fazendo aqui? – Dominia olhou ao redor, sem acreditar que estava vendo um Tin Robot do deserto atacar um Seraph de Deus – Não é lugar pra amadores!
_ Rico os chamou – Sigurd respondeu, os comunicadores da Yggdrasil sintonizados com as Elementos e Ramsus – Discutimos a questão da falta de pessoal para um ataque em larga escala, e ele mencionou Nortune, berço de Lutadores, experientes em batalhar com Gears. Devidamente equipados com os nanodesmontadores de Taura, eles poderiam ser a resposta ao nosso problema.
_ Mesmo assim...! – Dominia começou a protestar, interrompida por Tolone.
_ Sinceramente? Estou impressionada.
_ É o mundo deles também, né? – Seraphita suspirou, aproveitando um pequeno intervalo aberto na horda de Seraph pela chegada dos Lutadores – O que tem de mais se lutarem?
Ramsus, enquanto isso, permitiu-se um instante para olhar em volta. Um W. Shaver estava disparando na proa da Excalibur, protegido por um Tin Robot e um Estrela de Prata, que cobriam sua retaguarda. Estavam todos lutando ali. Fossem guerreiros treinados pela Gebler ou os Lutadores de Nortune, era uma grande batalha pela sobrevivência. Ele não precisava de outros motivos.
_ Que façam como quiserem – murmurou, e voltou à batalha.


DILACERADA POR ESSA DOR,

domingo, 7 de maio de 2017

Capítulo Sessenta e Três

Capítulo 63 – O Primeiro e o Último

O alvorecer cintilou sobre a superfície metálica de Deus, a arma planetária que agora convertia todo o planeta num ritmo constante, toda a área ao redor sendo assimilada e transformada em metal num processo inexorável. De sobre o oceano, o sol cintilou também sobre a nave de batalha Excalibur, de Shevat, que se aproximava cada vez mais. Em seu interior, a tensão era enorme.
_ Nada ainda? – a comandante perguntou.
_ Não, senhora – o oficial de radar replicou – Leituras de energia, e sensores de movimento, inalterados. Não há reação perceptível.
_ Não tô gostando disso – Bart resmungou – Como Merkava, aquela coisa tinha um canhão e uma barreira tão fortes que tivemos que improvisar, e agora, chegamos perto assim sem provocar reação. Citan, o que acha?
_ É apenas um palpite – o doutor ajustou os óculos sobre os olhos – Mas, se levarmos em conta o processo de terraformação... Talvez, Deus esteja consumindo energia demais para empregar armas de reação, ou canhões de longa distância. E, nesse caso, deveremos enfrentar outro tipo de resistência.
_ Movimento!
Jerico deu o alerta, e tanto na Excalibur quanto na central de comando da Yggdrasil III, os sensores focalizaram a estrutura metálica imensa diante deles. E ela parecia estar se desfazendo como neve a princípio, até que todos puderam enxergar melhor.
_ Gears...? Não – Jerico meneou a cabeça – São Anjos Seraph, de tipos e tamanhos variados! Todos convergindo em nossa direção! Tempo estimado de chegada... Quinze segundos!
_ Naturalmente – Citan acenou, como se visse suas suspeitas confirmadas – Sem poder empregar energia em excesso, a melhor saída é empregar unidade autônomas, que devem funcionar como ‘anticorpos’ em um organismo. Cada Seraph conta como um Gear independente, e gerados e mantidos pelas nanomáquinas, devem consumir muito menos energia, em comparação com grandes canhões ou projetores de reação. Mesmo em grande quantidade.
_ São muitos – Sigurd murmurou, admirado e assustado, observando o monitor principal da Yggdrasil III – É como se Deus estivesse se desfazendo ao vento.
_ Tanto faz, o primeiro movimento é nosso – Rico resmungou, cerrando as mãos nos controles do Stier, e Bart concordou.
_ Abrir fogo! Eles podem estar economizando energia, mas nós não! Vamos abrir caminho entre esses anjos como der, mas precisamos alcançar Deus, custe o que custar!
A Excalibur tomou a dianteira, seus canhões de cano triplo disparando torrentes de energia que pulverizavam os Seraph, deixando apenas nuvens de fumaça e destroços em seu caminho. Mas o número de unidades era absurdo, e mesmo a salva de tiros da nave de batalha não era capaz de abater a todos. E era questão de tempo antes que se encontrassem.
_ Yggdrasil, iniciar salva de apoio! – Sigurd comandou – Carregar artilharia Anti-Gear especial, em prontidão para disparo! Baterias de apoio, preparar mísseis de proa para lançamento imediato, ao meu sinal!
_ Melhor sairmos também... – Fei propôs, mas Citan o deteve.
_ Espere, Fei! Lembre-se do plano! Devemos aguardar tanto quanto possível antes de agir.
_ Mas...
_ Uma vez dentro da estrutura de Deus, a Excalibur e a Yggdrasil não poderão nos ajudar – Citan insistiu – Estaremos por nossa própria conta, sem qualquer apoio externo, enfrentando defesas que ainda nem conhecemos. Precisamos poupar nossas forças enquanto pudermos.
_ Segura aí, Fei, nossa hora vai chegar – Bart acompanhava a movimentação externa através de seu monitor, conectado à tela principal da Yggdrasil III – Cara, tem bicho demais lá fora...
_ Canhões de estibordo, abrir fogo! – Sigurd comandou – Torres ‘Anton’ e ‘Belta’, iniciar fogo alternado, varredura em arco amplo, abram caminho para a Excalibur! Iniciar cobertura de apoio!
A Yggdrasil manobrou, posicionando-se sobre a Excalibur enquanto seus mísseis eram despejados num arco de disparo perfeito, atingindo a linha de frente dos Seraph e reduzindo o número de alvos para os canhões intermitentes da nave de Shevat, que já estava atropelando unidades inimigas com seu imenso escudo protetor, abrindo caminho entre as nuvens de opositores como um navio entre as águas.
Ao menos, era a idéia inicial. Assim que as primeiras levas de Seraph começaram a se chocar contra o escudo, porém, os solavancos começaram uma trepidação intensa por toda a nave, e o som de metal se chocando contra o casco ficava cada vez mais alto. Algo estava errado.
_ Relatório!
_ Majestade, o número de Seraphs é grande demais – o navegador respondeu à Rainha Zephyr – Por mais deles que destruamos, a quantidade que chega até nós é absurda. Estão nos atacando diretamente; nossos escudos estão ficando sobrecarregados depressa.
A tela principal ilustrava bem o que o navegador dissera. Inúmeros Seraph, de formas variadas, continuavam a se destacar da estrutura principal de Deus, em direção a eles, e alguns já estavam aglomerados sobre o escudo protetor da Excalibur, muitos já golpeando a barreira. Os projetores de escudo de uma nave daquele porte poderiam resistir indefinidamente a Gears comuns, mas o poder e a quantidade dos Seraph estava levando as proteções ao seu limite depressa.
_ E ainda estamos afastados demais – Taura, também a bordo da ponte de comando, murmurou, voltando a atenção para o monitor externo. Deus crescia diante deles, ficando mais próximo... mas lento demais. Mesmo com o fogo de cobertura da Yggdrasil, não parecia possível cobrir aquela distância antes que fossem apanhados.
_ Concentrem a energia da barreira em forma de cunha, com ênfase na proa – Zephyr comandou – Precisamos levar o grupo de invasão tão próximo da entrada quanto for possível; é tudo o que poderemos fazer.
_ S... Sim, senhora – o oficial de comando respondeu, parecendo em dúvida – Mas, uma vez que alcancemos a entrada, nossas chances de nos afastar serão...
_ Se eles falharem, não teremos para onde nos afastar – Zephyr meneou a cabeça – Lembre-se, eles são a última esperança que temos de deter a conversão do nosso mundo. Sigurd, nos acompanhe! Vamos acelerar!
Os solavancos ficaram cada vez mais intensos. A distância ainda era demasiada, os canhões da Excalibur e os lançadores de mísseis da Yggdrasil destruíam a nuvem de Seraphs aos montes, mas aqueles que chegavam perto o bastante se acumulavam sobre as barreiras de energia, e seus ataques estavam ficando pesados demais; os escudos de ambas as naves cederiam em breve.
_ Aí, não falei? – a voz de Bart se fez ouvir na ponte de comando da Excalibur – Nossa hora chegou! Tá, um pouco antes do que eu pensei, mas tudo bem.
_ Bart?
_ Chu-Chu, Billy, Emeralda, comigo! – Zephyr ouviu a voz de Fei – Precisamos tirar esses Seraph de cima da Excalibur e protege-la até chegar a Deus! Bart!
_ Tudo bem por aqui, Fei. Citan, Rico, Maria, comigo! A Yggdrasil protege a Excalibur, e ‘nós’ protegemos a Yggdrasil! Não deixem essas pestes subirem a bordo!