domingo, 27 de março de 2016

Capítulo Trinta e Oito

Capítulo 38 – Portão 2 – Babel

A Yggdrasil III deteve-se diante sobre um mar de nuvens, no mesmo ponto sob os espelhos onde Fei, Elly e Bart tinham um dia enfrentado Ramsus e Miang, e de lá seguiriam adiante em Weltall, Vierge e Heimdall, e Fei voltou-se para perguntar:
_ O que fazemos a partir daqui, Doc?
_ Olhe para cima – Heimdall mostrou o imenso espelho circular sobre eles – Aquele é um espelho reflexivo. O disparo do Forte Jasper será refletido por aquilo e destruirá o Portão. Então, nos apressemos rumo à sala de controle enquanto nossos perseguidores continuam afastados daqui.
A Yggdrasil partiu enquanto os três Gears penetravam na torre, levando o grupo seguinte rumo ao Forte Jasper. Na Torre de Babel, enquanto isso, Fei e Elly guiaram Citan até a sala de controle do espelho. O catedrático olhou ao redor para os painéis imensos e acenou afirmativamente com a cabeça, satisfeito.
_ Eu controlarei o espelho – voltou-se para os dois – Seu trabalho será afastar o inimigo.
_ Vai ficar tudo bem, Doc...?
_ Nós precisamos fazê-lo – e se afastou, rumo aos controles – Estou contando com vocês.
Fei voltou-se para Elly. Ela sabia qual era a preocupação dele, também estava pensando naquilo. Billy era um excelente atirador, e a lógica de Citan os conduzira com segurança por várias situações anteriores... mas a idéia de receber em cheio o disparo de um feixe de energia, capaz de derrubar montanhas, não era muito animadora.
_ Tudo bem, então...  – Fei deu de ombros, tentando parecer mais relaxado – Vamos fazer nossa parte.
Enquanto os dois voltavam para seus Gears, Citan pensativamente caminhava sobre os painéis de controle, usando seus conhecimentos da tecnologia de Solaris e Shevat para manejar a grande lente da torre. Calculou, ponderou, experimentou alguns dos comandos e ângulos de inclinação e por fim acreditou ter conseguido sua resposta, e ativou seu comunicador.
_ Billy... Billy! Você copia? Estamos prontos por aqui. Iniciar disparos quando estiver pronto.
Fei e Elly tinham acabado de retornar a seus Gears, e a moça sugerira recuarem até a entrada dos corredores. Um confronto muito próximo poderia causar danos ou complicações à operação de Citan, e os dois ainda tinham muito vívida em suas mentes a possibilidade do disparo atingindo a torre.
Estavam a meio caminho da entrada do corredor quando a porta externa se abriu, e dois Gears vieram por ela. Um deles, portando uma espada, era muito familiar.
_ Você... Dominia?!
_ Kelvena também – Elly acrescentou, reconhecendo o Gear golfinho azul ao lado do Bladegash de Dominia – Acho que já descobriram o nosso plano.
_ É claro! – Dominia bradou, Bladegash pondo a lâmina em riste – A antiga plataforma de disparos móvel flutuando sobre Ignas e este refletor, aqui, na Torre de Babel... Eu sei de seu plano de usá-los juntos para destruir o Gerador de Portão abaixo do quartel-general do ‘Ethos’. Mas, naturalmente, não vou deixá-los fazer isso.
_ Pela honra do Comandante e pelo orgulho das Elementos – Kelvena moveu seu Gear, Marinebasher, também se colocando em posição de ataque – Vocês precisam ser mais flexíveis.
_ Aqui vou eu!
Bladegash atacou Vierge enquanto Marinebasher avançou sobre Weltall. A escolha era óbvia; Vierge tinha menor poder físico, e Weltall não conhecia as habilidades de seu adversário.
A espada de Bladegash foi contida pelo bastão de Vierge. Marinebasher investiu contra Weltall, torcendo-se no ar para evitar o primeiro golpe e então atingindo o adversário com um volteio da cauda.
Fei conteve o impulso reverso com dificuldade enquanto analisava a situação. O Gear de Kelvena era um modelo submarino, mas movia-se com a mesma facilidade no ar, como se estivesse nadando.
“Deve usar flutuadores magnéticos – ele deduziu, lembrando-se de algo que Bart e Rico já haviam dito – Um mínimo de energia, e pode ficar indefinidamente no ar. É quase como se estivesse nadando. Mas...”
Marinebasher tornou a investir, agora aproveitando que ele estava contra a parede para prensá-lo.
Weltall ativou seus Turbos e saltou, passando sobre o Gear de Kelvena e pisando em sua cabeça para lançá-lo sobre a parede enquanto caía por trás dele, e voltou-se. Marinebasher talvez pudesse se mover como se estivesse na água, mas aquela não era uma luta submarina. Ele não precisava compensar a resistência do mar, e Weltall era tão veloz quanto o outro. Não estava em desvantagem ali.
Vierge, por sua vez, estava duelando com Bladegash numa certa igualdade de condições. Se por um lado a espada de Dominia dava-lhe maior alcance, Elly tinha habilidade mais que suficiente para bloquear seus ataques.
Bladegash recuou depois de um bloqueio, e sua espada cobriu-se com energia ether vermelha, algo que Elly já vira antes.
“Espada Elemental... Vai usar a Espada de Fogo!”
_ Nós já fizemos essa dança antes, Elhaym – Dominia resmungou – Acha mesmo que pode comigo sozinha? O que pode fazer sem ajuda?
_ Acredite em mim, Dominia...
Bladegash avançou de lâmina erguida, as chamas dançando ao redor. Dominia tinha certeza de que Elly tentaria bloquear o golpe, mas não havia como o bastão de Vierge resistir a uma espada de fogo.
E as aletas de Vierge se abriram enquanto recuava, e Elly lançou seu ataque Aqua Gélida sobre Bladegash, neutralizando o poder da espada de fogo com o elemento oposto.
A espada de Bladegash desceu sobre Vierge; sem o poder do fogo, porém, seu ataque foi outra vez contido pelo bastão da outra. E Elly atacou de repente, recuando um passo e concluindo:
_ ... você não quer saber! Tempestade!
Vierge atacou com uma sequência rápida de golpes do bastão, forçando Bladegash a recuar e ainda atingindo o Gear de Dominia com alta velocidade.
Vierge e Weltall detiveram-se, ambos em guarda e relativamente ilesos um ao lado do outro, enquanto Bladegash e Marinebasher se reagrupavam.
_ Elly, você está bem?
_ Por enquanto... sim, nenhum problema mais sério – Elly sorriu para Fei pelo comunicador – Mas isso está longe de acabar.
_ É isso mesmo... Precisamos mantê-las ocupadas aqui o máximo que pudermos, até Billy fazer a parte dele.
_ Idiotas – Dominia rosnou – Acham que podem nos deter?
_ Em nome do Comandante, precisamos levar nossa missão adiante! – Kelvena acrescentou – Eu lamento muito, mas vocês vão sair do caminho!
Pouco antes daquilo, Renmazuo, Andvari e Chu-Chu, em sua forma gigante, chegaram ao seu destino. Billy tomou lugar diante do canhão e iniciou os procedimentos, ativando os sistemas e começando os ajustes para um disparo de precisão. Bart também estava auxiliando no que podia, mas a maior parte da operação ficou por conta de Billy, e o pirata olhou ao redor.
_ Ainda tem algum tempo antes do disparo... Me pergunto se está tudo bem com Citan?
_ Tem uma imagem no radar – Chu-Chu avisou, apontando para o monitor principal.
Do lado de fora, um Gear semelhante a um pterodáctilo verde cruzava o céu em alta velocidade em direção a Jasper. Um segundo Gear cor de rosa, semelhante a um leão alado, vinha logo atrás dele, e sua piloto estava falando.
_ Tolone, Tolone!! Ah, tá, você está aí!!
_ Ah, tá bom – Tolone estava sacudindo a cabeça – Então estavam falando sério?! Vocês vão mesmo refletir um disparo enorme de laser com um espelho... Bem idiota.
_ Barras horizontais são difíceis mesmo! – queixou-se Seraphita – Mas, sabe, eu consigo fazer trezentas quando me exercito.
_ Angulando...? – Tolone ponderou, tentando ignorar a tolice da outra e se concentrar no essencial – Para compensar o disparo...? O índice de queda na atmosfera vai ser enorme.
E na ponte de comando do Forte Jasper, Bart estava de braços cruzados.
_ Lá vem eles.
_ Droga...! – Billy estava tentando apressar os procedimentos, ciente de que não haveria tempo suficiente – Estamos tão perto de disparar...!
Bart olhou para Chu-Chu, que acenou que sim com a cabeça, e os dois dirigiram-se para a saída.
_ Billy, eu vou sair pra responder ao ataque. Você vai ficar bem?
_ Eu tenho que fazer isso!
_ Tenta dar um disparo enquanto a gente segura eles. Boa sorte!
_ Deixe comigo!
Chu-Chu saiu pelo domo do Forte Jasper e assumiu seu tamanho gigante. Logo atrás dela, Andvari subiu com um salto, e a comporta foi fechada. Diante dos dois, descendo devagar, Tolone e Seraphita se aproximaram em seus Gears.
_ Hmph! – fez Tolone – Eu não consigo acreditar que vocês tenham sequer pensado num plano tão idiota.
_ Quem teria pensado? – Seraphita perguntou, curiosa.
_ Sabe como é – Bart deu de ombros – Você nunca sabe até tentar.
_ Continue falando enquanto ainda pode – Tolone provocou – Dominia e Kelvena já devem ter tomado a Torre de Babel a essa altura. E vocês, saiam agora daqui!
_ ... Boa! – Seraphita animou-se, e ambas partiram para o ataque.
Tolone começou a investida com seu Gear, Skyghene, e voar dava-lhe a vantagem de atacar tanto Andvari quanto Chu-Chu com alta velocidade e de várias posições diferentes. Até que Andvari se voltasse, ela já estava às suas costas. Quando se voltava, ela estava sobre Chu-Chu. Quando batia seu chicote, ela dava a volta e o atingia pela direita.
_ Gah! Que droga – Bart resmungou – Ela é muito ligeira. Espera um pouco que eu já dou um jeito nisso... Sorriso Selv...!
Foi quando Grandgrowl, o Gear de Seraphita, também entrou no combate. O leão alado rugiu, um estrondo sônico de alta intensidade que atingiu Andvari em cheio, detendo o ataque de Bart. E ele ainda estava surpreso com o golpe por trás quando Grandgrowl saltou sobre suas costas, prendendo-o no piso sob eles.
_ Droga... Isso tá ficando complicado. Billy! Como é que tá indo aí?
_ Preciso de mais algum tempo, Bart.
_ Tempo... Tá ficando... curto, amigo! Mas, tá limpo...
Andvari ainda era um Omnigear afinal, e Bart quis se levantar. Andvari seguiu o comando, e Grandgrowl rolou para trás enquanto o oponente se punha de pé.
Bart procurou pelo Gear verde de Tolone. Chu-Chu segurava Skyghene pelas asas e, embora estivesse visivelmente usando toda a sua força para isso, ao menos sua adversária não estava mais circulando ao redor deles.
_ Bart... depressa! Chu-Chu precisa... de achuda!
Os dois braços de Andvari bateram ao mesmo tempo, enlaçando as duas asas do pterodáctilo de Tolone. E de repente, a pressão sobre Chu-Chu diminuiu.
_ O quê? – Tolone perguntou – Você acha que vai...
_ Ah, eu vou sim. Sai de cima!
Andvari puxou para trás, Skyghene não teve como resistir. Mas Grandgrowl já estava a postos novamente, e rugiu.
Chu-Chu rolou, se colocando entre o estrondo sônico e Andvari, o que não passou despercebido a Bart.
_ Chu-Chu? Sua maluca...!
_ Não dói tanto...
Grandgrowl saltou sobre Chu-Chu como fizera com Bart, mas foi prontamente recebido com um murro. E Bart aproveitou a deixa, girando e atingindo o Gear de Seraphita com o de Tolone. E Chu-Chu disse:
_ Achu que... os Gears de vocês sentem mais porque são de metal. Não dói tanto em Chu-Chu.
_ Sei – mas Bart percebeu que ela parecia atordoada – Vê se não faz isso de novo.
Skyghene e Grandgrowl se colocaram em posição para atacar. Andvari bateu os chicotes e se pôs em guarda, imitado por Chu-Chu, e Bart avisou:
_ Billy, se der pra agilizar aí, vai ser muito bom pra todo mundo. Estamos nos aguentando bem, mas tá ficando complicado aqui em cima.

domingo, 20 de março de 2016

Capítulo Trinta e Sete

Capítulo 37 – Tiro de Precisão
  

No dia seguinte, na sala do conselho do castelo, Bart estava sentado à cabeceira da mesa e cercado pelos retratos dos antigos reis, tendo Citan, Fei, Elly e Chu-Chu sentados na fileira da direita e Sigurd, Billy, Maria e Rico à esquerda, com Maison servindo a todos seu famoso chá. E Bart agradeceu.
_ Graças a vocês, Aveh foi recuperada de Shakhan e da Gebler. Muito obrigado.
Todos inclinaram as cabeças, sorrindo. Alguns tinham comentários pessoais como Rico, que sem dúvida não estava acostumado a tamanha pompa e consideração, mas também ele estava satisfeito por dentro que Bart fosse tão generoso na fortuna quanto tinha sido no infortúnio. E embora ainda fosse o mesmo de sempre, havia algo de mais sério nos modos do rapaz, parecendo-se mais com um rei do que nunca ao prosseguir.
_ Agora, a fim de libertar outras terras de Gebler e Solaris... temos que destruir os outros dois portões e trazer Solaris abaixo. Descobrimos, pelas anotações de Shakhan, que os portões formam as pontas de um triângulo. Uma ponta era o Grande Mausoléu. Duas outras permanecem, mas nós só sabemos onde uma está.
_ Sim, aquela sob o quartel general do ‘Ethos’ – concordou Citan – No entanto...
_ Não estava lá quando seguimos Stone sob o quartel general do ‘Ethos’ – Billy abanou a cabeça – Se está mesmo lá... deve estar enterrado muito abaixo da terra...
_ Então, como vamos destruí-lo? – perguntou Rico.
Por um instante fez-se silêncio e então Chu-Chu opinou:
_ Combinando o poder dos Gears de todo mundo.
_ E o que vamos fazer com os Gears de todo mundo, cavar um buraco gigante no solo? – Rico exasperou-se, e Chu-Chu deu de ombros.
_ O que há de errado com ichu?
A maioria da mesa acenou que não, e Sigurd explicou pacientemente.
_ Isso levaria anos.
_ ... E se nós usássemos o canhão de Shevat... – ponderou Fei, mas Maria rejeitou a idéia de pronto.
_ Se isso funcionasse, já teríamos tentado.
_ Então – Citan considerou, após um curto silêncio – tem que ser algo mais poderoso do que o canhão de Shevat.
_ E não temos uma nave de batalha da Gebler.
Mais silêncio seguiu-se às palavras de Elly, interrompido por Fei.
_ ... Existe alguma arma tão poderosa assim nesse mundo?
_ As naves de batalha da Gebler e o canhão de Shevat são as armas mais poderosas já produzidas pelo homem – Citan esclareceu, e Bart moveu-se inquieto em sua cadeira.
_ ... Mas... parece que me lembro de ver alguma coisa...
_ O quê? – perguntou Sigurd, e Bart continuou perdido em pensamentos, se concentrando muito.
_ Uma arma com poder de fogo igual ao dessas duas... Ah, eu já sei!
Tamanha foi sua exaltação que ele bateu na mesa e derramou o próprio chá, ao que Maison silenciosamente apanhou a xícara caída e a substituiu com outra, devidamente cheia.
_ O Forte Jasper! – Bart exclamou animado – O canhão dele pode derrubar uma montanha! Que tal essa?
Os demais pareceram admirados, começando a seguir a empolgação de Bart, mas Citan abanou a cabeça novamente, chamando a atenção de Bart.
_ Citan, o que foi?
_ Por poderosa que seja a arma do Forte Jasper, como vamos apontá-la para o quartel-general do ‘Ethos’? Para danificar algo tão enterrado sob o solo, teríamos que atacar diretamente de cima. Mas a arma do Jasper...
_ Sim, é claro – Sigurd concordou, e Rico olhou de um para o outro sem querer entender.
_ O quê, estão dizendo que devíamos colocar o Forte Jasper em cima de Babel?
_ Agora que você mencionou – Billy concordou pensativamente – Babel realmente faz sombra sobre o quartel-general deles. Se dispararmos lá de cima, poderia realmente ser possível alcançar tão profundamente sob o solo.
_ Mas como poderíamos mover o Forte Jasper? – quis saber Sigurd, e Elly abanou a cabeça.
_ É impossível. Uma coisa tão pesada...
_ Mas, esperem um pouco! – Fei lembrou – Não havia uma sala de controles em Babel que movia um canhão, ou algo do tipo? Não, esperem... Acho que ela movia o espelho gigante do lado de fora.
Elly e Bart concordaram. Havia mesmo uma sala de controle pouco depois do ponto onde haviam lutado contra Ramsus e Miang, e aquilo parecera sem propósito na ocasião. Mas talvez...
_ Maria, você sabe algo a respeito disso? – perguntou Bart.
_ Nunca ouvi nada sobre essa sala, mas...
_ Mas pode valer a pena tentar – Fei murmurou – Devíamos checar isso.
_ Tá certo...
_ Esperem um momento – Citan interrompeu Bart – Um espelho gigante e um canhão gigante, ambos combinando em ruínas antigas? Deve haver algum propósito nisso...
_ Como o quê?
_ Ah... Resolvi a charada... – Citan murmurou.
_ Charada? – Sigurd perguntou – Mas, que charada?
_ A Torre de Babel e o Forte Jasper são da mesma civilização, uma muito mais avançada do que a nossa própria... As duas estruturas não parecem similares a vocês? Eu acredito que ambas tenham sido construídas com Gears, e com um poderoso adversário em mente.
_ ... É, acho que percebi – Fei concordou com a cabeça – Mas o que isso tudo significa?
_ Significa, que as pessoas que construíram o espelho gigante na Torre de Babel sabiam sobre a arma gigante em Jasper!
_ E...? – perguntou Bart – Aonde você quer chegar?
_ Podemos provavelmente deduzir que o espelho foi construído para refletir algo... Esse algo seria um feixe de energia. Um feixe disparado pela arma de Jasper!
_ Refletir? – Fei perguntou com admiração – Quer dizer que aquele espelho pode refletir um ataque de energia?
_ Sim.
_ Há muito tempo, então – Rico ponderou – Babel e Jasper devem ter estado em guerra.
_ Não exatamente – Citan discordou – O espelho de Babel e a arma de Jasper foram combinados para fazer uma arma.
_ O que cê quer dizer?
_ Mas, aquelas coisas estão tão distantes uma da outra – objetou Elly – Como poderiam ser uma só arma?
_ Bem, os Portões podem estar afastados, mas não são ainda assim um só aparelho?
_ ... Sim, eu entendo o que quer dizer, mas... – Elly concordou, ainda em dúvida, mas Billy a interrompeu.
_ Para que eles utilizaram essa arma, então?
_ Isso, eu não sei dizer.
_ Tanto faz! – Bart se animou, batendo as mãos uma na outra – A questão é, como fazemos pra usar as duas armas como uma só?
_ Aponte a arma do Forte Jasper para o espelho, e dispare. O espelho vai refletir o feixe de energia sobre o Portão.
A surpresa geral na mesa foi resumida num único ‘Putz!’ de Bart, e Maria foi a primeira a perguntar:
_ Você acha que isso vai funcionar?
_ Teoricamente – Citan acenou com a cabeça – Vai requerer alguns ajustes menores...
_ Ajustar o espelho será algo difícil, e tanto quanto tedioso – lembrou Sigurd, mas Citan negou outra vez.
_ Se as duas armas são uma só, então não deve ser tão difícil. Eu espero...
_ Parece perigoso – comentou Rico – Eu acho que foi feito pra refletir disparos de volta no inimigo. Se você estiver errado, o disparo vai voltar e te atingir.
_ Sim – concordou Citan – É por isso que vai ser mais difícil para a equipe do forte. O espelho deve ser atingido com precisão. Precisaremos nos dividir em dois grupos. Um irá disparar a arma enquanto o outro vai ajustar o ângulo do espelho para certificar-se de que o disparo atinja o quartel-general do ‘Ethos’. Já que a idéia foi minha, eu assumirei a parte perigosa de ajustar o espelho.
_ Muito bem, Hyuga, deixaremos que cuide disso – concordou Sigurd – Parece o seu tipo de trabalho.
_ Eu vou também – Fei se prontificou – O Doc pode precisar de ajuda.
_ Pode ser pouca gente se forem só Citan e Fei – Elly comentou – Eu estive lá, então é melhor que eu vá também.
_ Muito bem, então vocês três ficam com Babel – Sigurd concordou – Agora, e quanto à arma?
_ Eu faço isso – Billy se prontificou – Parece ser o meu tipo de trabalho. Não se preocupem, eu não vou errar. Não uso uma pistola há tanto tempo por nada.
_ Bom, provavelmente é melhor eu ir pro Jasper – Bart esfregou as mãos.
_ Eu também! – Chu-Chu se ofereceu – Chu-Chu quer ir também!
_ Então, está decidido – Bart se levantou – Vocês vão com o Citan, Fei e Elly, e apontem o espelho pro quartel-general do ‘Ethos’. Nós vamos mirar o canhão de Jasper no espelho. Todo mundo pra Yggdrasil, e mãos à obra!
Em outra parte, Kahran Ramsus e Miang estavam diante do SOL-9000, e o Ministério Gazel. A imediato olhava para o grande computador tentando esconder seu aborrecimento; os tolos existiam havia mais tempo do que o correto, tendo alcançado um modo de sobreviver muito além de sua verdadeira época. No entanto, continuavam sendo os mesmos de quando ainda possuíam seus verdadeiros corpos, preocupados apenas com a própria existência.
_ Permitir o contato com Shevat...
_ Não apenas Shevat. A derrota em Ignas. A retirada na Thames. E, sim, até Elru, você...
Miang voltou-se. Sabia o que viria, e a expressão de Ramsus deixava claro que também ele sabia. Sua fachada de líder perfeito, de guerreiro invencível, tudo servira muito bem a um propósito por anos, mas a verdade era que sempre houvera uma incerteza em sua vida desde o momento em que adquirira consciência. Um medo profundo que coisa alguma que fizesse poderia mudar, e era agora exposto novamente pelos anciões na máquina.
_ Inútil... Como sempre...
_ Um fracasso desde o início...
_ ‘Lixo’...
_ O q-que foi que acabaram de dizer? – o Comandante olhou para o computador, e o rosto vermelho apenas mostrou descaso.
_ Hmph... É a verdade.
_ E que atitude é essa...? Você devia mostrar alguma lealdade.
_ C-como ousam me ridicularizar me chamando de ‘lixo’? Malditos sejam! Guh... guhaah...!
_ Acalme-se, Comandante! – Miang o amparou gentilmente – Não é bom para você. Ainda não se recuperou da última batalha!
_ Isso não importa – objetou um dos Gazel.
_ Os Cordeiros provavelmente estão a caminho para destruir o Portão. Mas, não desta vez...
_ Eu gostaria de ver seus poderes ‘intrínsecos’ – outro dos ministros comentou com ironia, ao que outro adicionou.
_ Se você não for o ‘lixo’ que achamos que é...
O computador desapareceu, e todos os Gazel com ele. Mas o rosto de Ramsus mostrava que a insegurança deixada por eles não desapareceria tão facilmente. Não importava o quanto se esforçasse, quanta força demonstrasse, sempre era derrotado. Sempre perdia...
“... para ele!!!”
_ Miang... – ele murmurou, o olhar ainda perdido no nada sem se voltar para sua imediato – Lance a nave... Acabar com ele...
Voltou-se. Miang não conseguiu conter totalmente um estremecimento de sua outra metade, a que se preocupava mais com Ramsus. Ele estava caindo aos pedaços. Lentamente, mas estava piorando a cada encontro. A verdade era demasiado cruel para ele.
_ Dessa vez... Irei eu mesmo... e eu vou fazê-lo cair...
_ Comandante, você não pode sair desse jeito!
_ Comandante, solicito permissão para lidar com a situação.
Miang e Ramsus voltaram-se. A voz era de Kelvena, e ela não estava sozinha. Suas colegas Dominia, Tolone e Seraphita estavam com ela, e sua intenção era óbvia: pretendiam enfrentar o inimigo de Ramsus em seu lugar.
_ Todas vocês?
_ Faremos o nosso melhor para cumprir com suas expectativas – Dominia perfilou-se diante de Ramsus como se Miang não estivesse lá.
_ Comandante, por favor – Kelvena tornou a falar – Você deve receber atenção médica...
_ Para fazer de nossos ideais uma realidade – Dominia concordou.
Ramsus não sabia bem o que dizer. Era o seu dever, sua obrigação provar sua superioridade sobre seu odiado rival... mas sabia que Wyvern ainda não fora totalmente refeito; ele próprio não se refizera. E antes que pudesse responder, Kelvena também se perfilou.
_ Bem então, estamos de saída.

  

BROKEN MIRROR

domingo, 13 de março de 2016

Capítulo Trinta e Seis Ponto Dois

(...)

Maria aproveitou a chance concedida por Bart e Seibzehn ergueu Weltall, levando-o ao outro extremo da passarela que conduzia até o gerador. E no centro da plataforma, Shakhan continuava a reparar seu Gear numa velocidade impressionante, e não parecia haver coisa alguma que Bart pudesse fazer para impedir.
_ Isso... é tudo o que pode fazer, menino? Então... é melhor começar a rezar!
O esforço de manter o Gear branco contido parecia vir de seus próprios braços, Bart sentiu, e sua mente viajou no tempo para a época do golpe de estado. Para seu tempo aprisionado em Bledavik. Para ele próprio e Margie sendo interrogados sobre o tesouro da família Fatima.
_ Shakhan!! Doze anos atrás, se você não tivesse sido tão faminto por poder – Bart rosnou entre dentes – Margie ainda teria a família dela e não teria tido que ir morar no deserto!
_ O que é que você sabe, seu fedelho que nasceu no trono?! – Shakhan cuspiu de volta, e apontou o escudo para Andvari – Tempestade de Ignas!
Àquela distância, foi como se explosões de fusão tivessem sido começadas à sua volta, Bart percebeu. Era como se o calor fora do Andvari fosse sentido por ele... Era como se ele fosse a mente, e o Gear o corpo. Não era apenas ‘manejar’ sua máquina... Era ser parte dela!
_ Nunca vai se livrar de mim, moleque! – a garra do Gear branco fechou-se no chicote esquerdo, e agora era Shakhan prendendo o inimigo a si – Aveh é minha, agora e para sempre! Você perdeu!
_ Não hoje...
Andvari ergueu lentamente seus olhos para o Gear branco, e Shakhan estremeceu quando eles cintilaram.
_ ... e nem pra você!
O chicote ainda livre bateu novamente livrando Andvari, mas Shakhan mal percebera.  Por um nítido momento, ele pudera ver os dois olhos de Bartholomew Fatima encarando-o, da mesma maneira que faziam quando ele mandava castigá-lo vez após vez por negar-se a lhe dizer onde estava o Jasper de Fatima. Nunca tivera a chance de quebrar o espírito do garoto, pois o haviam resgatado antes disso. E ele voltara agora como um homem, confrontando-o de igual para igual.
_ Você queria o tesouro de Fatima, não queria Shakhan? Foi pra isso que tomou Aveh. Queria poder. Muito bem... Aqui vai o poder que você procurou!
Andvari ergueu seus braços, os chicotes erguidos como se tivessem vida própria. E Shakhan, atônito, viu que uma forma espessa de ether começou a se formar entre eles. Aquilo não era um ataque ether de Bart, mas sim do Omnigear! E a última coisa que ouviu foi a voz de Bart bradando:
_ Andvari em Modo ‘Hyper’! Queda de Meteoro!
_ Modo... ‘Hyper’...?
Os chicotes começaram a cair sobre Shakhan numa sequência cada vez mais rápida, e cada um de seus impactos parecia carregar um pequeno meteoro feito de pura energia ether, atingindo o Gear branco do inimigo como bombas de reação em miniatura.
E Shakhan viu seu Gear enroscando-se ao cabo que o mantinha preso ao gerador. Se a ligação permitia recuperação mais rápida, também queria dizer que ele não podia se afastar, não sem soltar o cabo. E Bart ainda lançava seu último ataque sobre ele quando as reações de energia dentro e fora do Gear o fizeram explodir.
Fei e Maria a tudo assistiram de sua posição pouco mais afastados da área da luta, e a menina, filha e neta de construtores de Gears, murmurou:
_ ‘Modo Hyper’... Bart conseguiu! Alcançou o ‘Nível de Ataque Infinito’!
_ Nível... Infinito? – Fei perguntou, seu Gear pondo-se de pé devagar, e Maria explicou:
_ Gears comuns alcançam o Nível Três, mas nada além disso. Gears que respondem a comandos mentais, no entanto, podem retirar poder do Modo Hyper, onde todos os sistemas funcionam em perfeito alinhamento com o piloto, e então superar os níveis deles. É parte do que torna os Omnigears tão poderosos. No Nível Infinito, são capazes de destruir praticamente qualquer coisa.
_ Incrível... – murmurou Fei – Mas, se Gears que respondem a comandos mentais podem fazer isso...
_ Sim, Seibzehn também – Maria confirmou, antecipando a próxima pergunta – Mas o Modo Hyper pode levar algum tempo de batalha para ficar plenamente carregado. Acho que Bart conseguiu ativar o dele mais depressa como resposta às suas emoções.
O próprio Bart, enquanto isso, parecia alheio á conversa de seus amigos. O gerador de Portão à sua volta morria em explosões de chamas, e o Gear de Shakhan caiu no fosso sem fundo à volta deles.
_ Trono? Pode ficar com ele! – Bart murmurou enquanto o outro desaparecia – Um rei tem que carregar as responsabilidades mais pesadas entre todas! A maior dureza! Uma coisa que você nunca entenderia, seu rebelde!
_ O Portão está em chamas...! – bradou Fei – Vamos, precisamos sair logo daqui!
Weltall, ainda que muito danificado, estava em condições de seguir a retirada, mas Seibzehn e Andvari o apoiavam por sob os braços e, Turbos ao máximo, os três abandonaram a caverna que desabava. No oceano próximo, enquanto isso, os pescadores haveriam de se lembrar para sempre da coluna de luz que saiu das águas, seguida por relâmpagos que pareciam se originar de dentro do próprio mar e que, depois de faiscarem sobre a superfície por alguns segundos, resumiram-se numa violenta explosão submarina. Lendas nasceriam, teorias seriam tecidas, mas muito poucos deles chegariam a associar o fenômeno inexplicável com a derrota final de Shakhan, ou a cerimônia que teve lugar no dia seguinte em Bledavik, capital de Aveh.
Bart estava na varanda do Castelo Fatima, todo o povo da cidade reunido no pátio lá embaixo onde, algum tempo atrás, ele e os amigos tinham estado encurralados por Shakhan e Miang, e onde a intervenção de Maison os resgatara. A situação estava totalmente sob o controle deles agora, mas por alguma razão, ele estava ainda mais nervoso.
Voltou-se. O fato de ter seu melhor amigo ali, seus dois tutores e até o sábio Citan não fazia com que se sentisse melhor; era como se o povo ali embaixo fosse começar a atirar coisas nele. Havia algo estranho tentando sair por sua garganta, e ele respirou profundamente, olhando para todos.
_ Fei, se der qualquer coisa, eu ainda sou seu amigo, certo? Sig... Você não vai mudar, não importando o que eu faça, vai?
_ Qual é o problema, jovem mestre...? – Maison perguntou, e Bart sacudiu a cabeça. Tinham sido de grande ajuda, todos eles, mas ninguém podia fazer por ele o que era sua obrigação.
_ Nah... Acho que eu tenho que fazer o que me pediram.
A população lá embaixo subitamente silenciou quando o jovem pirata veio até eles, repentinamente parecendo mais velho e mais sério do que qualquer um teria imaginado até ali, e foi com solenidade que ele se dirigiu a eles.
_ Meu bom povo de Aveh... Este é Bartholomew Fatima, o Décimo Nono Rei de Aveh, filho de Edbart Fatima IV, o Décimo Oitavo Rei de Aveh.
“Em primeiro lugar, esta pessoa deve se desculpar pelos problemas causados pela ausência inevitavelmente longa desta pessoa do palácio. Em especial, esta pessoa quer dar suas condolências àqueles que perderam família na guerra com Kislev. Esta pessoa vai imediatamente pedir uma trégua a Kislev e iniciar as reparações às vítimas de ambos os países. Todos os cidadãos convocados como soldados também receberão permissão de retornar para casa. Vamos trabalhar juntos, rumo à reconstrução de Aveh!”
O povo lá embaixo exultou em agradecimento e alegria, ouvindo o anúncio que alguns tinham esperado suas vidas inteiras para ouvir. Mas a mão direita estendida de Bart pediu silêncio e encurtou a celebração, e Fei pensou consigo mesmo que nunca antes tinha visto o amigo parecer tanto com um rei.
_ ... Esta pessoa também tem uma outra mensagem final, mas muito importante. Uma declaração da vontade de Edbart IV que desejava apenas paz para seu reino, Aveh. Eu, Bartholomew Fatima, o Décimo Nono Rei de Aveh, assim declaro... Deste dia em diante eu abandonarei a monarquia e criarei a República de Aveh!
Silêncio seguiu-se à declaração por um curto espaço de tempo, no qual Bart deu as costas ao povo. O fez ainda em tempo de deparar com as expressões admiradas de seus dois tutores, Sigurd e Maison.
_ Jovem mestre...
_ O que, em nome de Aveh, está fazendo...?
_ É o desejo do meu pai – ele respondeu de cabeça baixa – Sig, Maison, eu sinto muito. Vocês dois se esforçaram tanto por tantos longos anos pra me devolver ao trono. Agora que não estou mais na linha de sucessão pra ser o rei, nem nada mais que pareça com isso, vocês dois são livres pra ir.
_ O que está dizendo...? – Maison mal parecia poder se manter de pé.
_ Inacreditável.
_ Mestre Sigurd?
Pois a expressão de Sigurd não era de surpresa, em absoluto. Ele tinha um sorriso no rosto e, diante de Bart, perguntou:
_ Não consegue ouvir a multidão lá fora?
Foi quando Bart se concentrou em ouvir. Sim, desde que começara a falar aos tutores ele ouviu que diziam algo lá de baixo, mas não dera a devida atenção, ocupado em ser tão franco quanto pudesse e se desculpar com seus mestres por frustrar as expectativas deles. Mas nem Sigurd nem Maison pareciam mais surpresos. E agora, além da janela, pareciam estar chamando o nome dele...
_ Eles o escolheram como seu rei – Sigurd acenou serenamente – Você vai ficar muito ocupado.
_ Sig...
Bart se voltou. Era o nome dele, sem dúvida. Estavam chamando por ele. Então, ao que parecia, o primeiro líder eleito pela república seria o último rei da monarquia de Aveh... E Sigurd perguntou, quase casualmente:
_ Não vai precisar de alguns assistentes capacitados?
_ Bom – ele voltou-se, sorrindo resignado para os amigos – Aí vai o de sempre.

Mais tarde, o Castelo Fatima estava silencioso. Todo o povo tinha voltado para suas casas, e Bledavik estava em festa, as ruas carregadas de uma atmosfera de liberdade e contentamento que não se mostrava já havia anos. A paz de espírito voltara a todos... ou quase todos.
Maison ouviu a porta da biblioteca se abrir e voltou-se. Bart entrou com uma expressão preocupada para a qual, a princípio, o mordomo não tinha explicação.
_ Ah, jovem mestre! Ainda não foi descansar?
_ Velho Maison, tem uma coisa que eu quero te perguntar.
_ O que é? – Maison perguntou, intrigado com a incomum seriedade de Bart.
_ Onde o Sigurd nasceu?
Não era, de forma alguma, algo que Maison não esperasse algum dia. Bartholomew não era exatamente brilhante fora dos campos de batalha e dos Gears, mas se preocupava muito com todos os seus, e aquela curiosidade um dia teria que vir à tona. No entanto, ele dificilmente teria esperado que viesse à tona em tal situação.
_ Jovem mestre, isso...
_ Ele tem olhos azuis – Bart comentou, lembrando-se do episódio no Forte Jasper – É o Jasper de Fatima.
_ Bem – sim, era a hora de contar – Foi há muito tempo. Quando Sua Alteza e eu ainda éramos jovens... Muito antes de Sua Alteza conhecer a mãe de meu jovem mestre. Sua Alteza se apaixonou por uma certa garota de uma pequena seita religiosa a leste de Aveh.
“Esta seita era muito diferente de Nisan e do ‘Ethos’, mas ela era muito bonita. Então... Ela simplesmente desapareceu. Mais tarde, houve rumores de que ela tinha tido um filho.”
_ Ela desapareceu? – Bart não podia acreditar – O pai abandonou ela?
_ Até onde eu sei, foi o contrário – Maison replicou de olhos baixos – Sua Alteza foi abandonado.
_ Sig é do deserto oriental de Aveh...
_ Certamente – Maison concordou – Quando ele tinha dez anos, foi designado a Sua Alteza, o Rei Edbart, como um escudeiro.
Sigurd estava de pé, na mesma sacada onde Bart se pronunciara naquela tarde. Parecia perdido em pensamentos, o único olho fitando a distância como se ponderasse algo, mas não estava tão desatento para não perceber o momento em que não estava mais sozinho, e voltou-se para deparar com Bart, parado e olhando para ele com um olhar indecifrável.
_ Jovem mestre...?
_ É, não consigo dormir.
_ Sim, tanto aconteceu de uma só vez.
Bart adiantou-se, debruçando-se também sobre a amurada da sacada e sem olhar para Sigurd, que após o primeiro instante também voltou à sua observação silenciosa. Mas ele estava muito consciente da presença de Bart para voltar à sua reflexão.
_ Ô Sig – Bart perguntou, sem deixar de olhar para a distância e em tom casual – Como era a sua mãe?
Sigurd voltou-se, mas Bart não olhou para ele. Após o primeiro instante de silêncio, respondeu:
_ ... Ela morreu quando eu era apenas uma criança, por quê?
_ Tem alguma lembrança dela? – o mais jovem perguntou, ainda sem se voltar – Que tipo de pessoa ela era?
_ Hmm, bem... Ela era muito gentil... Mas, quando eu nasci, parece que o médico disse a ela que não lhe restava muito para viver. Ela vivia com medo constante disso. Como resultado – baixou os olhos – mesmo se ela encontrasse alguém de quem gostava, seu medo da morte era um empecilho. Ela se preocupava com a idéia de poder não estar comigo até o fim...
_ E quanto ao seu pai? – Bart agora se voltou, mas Sigurd continuou a olhar para frente.
_ Supostamente, ele não sabe que eu nasci. No entanto, mesmo sem saber ele ainda me tratou como a um filho.
_ Por que você não contou pra ele que era seu filho?
_ Se minha mãe ocultou esse fato – Sigurd baixou os olhos novamente – devia haver uma razão.
Silêncio. Tanto um quanto o outro apenas olhavam adiante agora, e para Sigurd, não havia mais o que dizer. Mas Bart, após uma pausa, comentou:
_ ... Tem mais no testamento do meu pai do que eu declarei hoje. Eu devo dividir minha herança com o meu irmão. Ele também disse, ‘Você deve dividir a sua metade e a do seu irmão com o povo’.
Sigurd voltou-se para ele, os dois finalmente olhando um para o outro enquanto Bart prosseguiu.
_ Isso sempre tinha me deixado encucado, até agora. Eu não sabia do que ele tava falando. Bom... É tudo o que eu queria dizer. Boa noite!
E Sigurd continuou em silêncio enquanto Bart se retirava de volta para seus aposentos.

  

THE WORLD IS PEACEFUL AND STILL...

domingo, 6 de março de 2016

Capítulo Trinta e Seis Ponto Um

(...)

O Gear de Shakhan procurou ao redor, mas não havia ninguém na caverna que pudesse ser o dono daquela voz, a princípio. Fei e Bart, mais familiarizados com aquilo, voltaram-se num impulso para o alto.
_ Ele de novo?!
Um Gear de bronze desceu do teto da caverna em velocidade vertiginosa, detendo-se sem qualquer dificuldade bem diante de Shakhan com seus braços cruzados. Weltall olhou ao redor ainda mais, e Fei perguntou-se como ele podia ter entrado ali. Diante do Gear do ‘Ethos’, o Gear de bronze começou a cintilar uma agressiva aura vermelha enquanto flutuava sobre o abismo sem fim abaixo de si, e seu piloto falou:
_ Sou Grahf, o caçador do poder. Desejais o poder?
_ Poder? Que espécie de poder? – perguntou Shakhan – Eu tenho o poder do Portão! Assim que eu conseguir fazer esta máquina se mover...!
_ Seus poderes são meramente superficiais – Grahf retrucou inexpressivamente – As ferramentas que produziu com seu intelecto imaturo... Agora, acha que pode vencer?
_ O quê está dizendo? – Shakhan, como outros antes dele, também estava incomodado pela presença do estranho. O que ele dizia, sua atitude, flutuando sem parecer se dar conta sobre aquele abismo sem fim abaixo do Portão... Era muito perturbador, e ele não conseguia entender – Poder superficial?
_ Os esforços escassos de vocês, habitantes da terra, são insignificantes perto do único e verdadeiro poder. Eu o dotarei de meus poderes verdadeiros!
Mais uma vez, a mão do Gear de Grahf cintilou enquanto toda a sua aura vermelha pareceu concentrar-se nela e ele recitava:
_ Meu punho é o sopro divino! Desabrocha, ó semente caída, e revela teus poderes ocultos!!
A mão erguida do Gear estendeu-se na direção de Shakhan e Grahf concluiu:
_ Concedo a ti o poder da gloriosa ‘Mãe da Destruição’!
Shakhan urrou de agonia enquanto o poder oculto em seu interior foi exposto à força por Grahf, e Maria perguntou alarmada:
_ Mas afinal, quem é este homem? O que ele está fazendo?
_ O nome é Grahf, Maria – Fei respondeu, Weltall novamente posto em guarda – Quanto ao que ele está fazendo...
_ Basta dizer que ele tá arrumando problema pra nós, certo? – Andvari bateu seus chicotes, enquanto o Gear de Shakhan voltava a cintilar com poder – Lá vem!
O Gear branco do ‘Ethos’ avançou depressa, e seu punho de três garras caiu primeiro sobre o Andvari e o choque de ambos foi terrível, centelhas voando para todos os lados.
Após o primeiro instante do choque, Andvari foi jogado para trás. O Omnigear continuava sendo poderoso, mas a barreira de energia extraída do Portão também era.
_ Droga... Bart!
_ Isso não é nada bom – Maria diagnosticou – Ele ainda não sabe usar direito o Omnigear.
_ Como assim? Não era só se concentrar nos movimentos?
_ Um Omnigear é mais do que uma máquina comum, Fei – Maria negou com a cabeça – Ele é capaz de tudo o que um Gear comum pode fazer, e vai além. Bart já sabe como fazê-lo lutar, mas até que pare de considerar Andvari apenas um ‘Gear mais poderoso’, não vai conseguir retirar o verdadeiro poder dele.
_ Nem terá tempo para tal – Shakhan voltou-se na direção deles – Chegou a sua vez!
Shakhan avançou sobre eles, e Weltall e Seibzehn ativaram seus Turbos. Era a melhor chance deles de se equipararem em velocidade ao Gear do ‘Ethos’.
Weltall saltou e passou sobre o ombro direito de Shakhan enquanto Seibzehn o atacava pela frente, e o Gear branco pareceu confuso pelo ataque.
Em meio ao salto, Weltall girou e pisou nas costas de Shakhan, lançando-o na direção de Seibzehn, que o recebeu disparando os dois punhos ao mesmo tempo.
Shakhan deteve-se com o choque, mas não parecia realmente danificado. Ao invés disso, ele avançou sobre Seibzehn com seu punho direito, semelhante a um escudo, e o Gear de Maria o enfrentou com seu próprio punho.
Enquanto avançava por trás, Fei viu atônito o soco de Shakhan lançar Seibzehn pesadamente rumo à borda da plataforma onde estavam. Não conseguia imaginar nada fazendo aquilo com o poderoso Gear de Shevat, nem mesmo o Stier de Rico.
Shakhan voltou-se para ele depressa, mas Weltall tinha a vantagem de uma massa muitas vezes menor, manobrando com facilidade para evitar o punho de três garras e subindo no antebraço do Gear branco e ganhando altura com um novo salto.
Estava fora de alcance por um segundo ou dois, e pretendia usar bem esse tempo. Unindo as mãos à sua direita e então voltando-as na direção de Shakhan, Weltall ativou sua Máquina de Ether enquanto Fei bradou:
_ Tiro Guiado!
Uma torrente de chi despejou-se sobre Shakhan, e Fei duvidava muito que aquilo fosse realmente causar muitos danos. No entanto, se pudesse cegar o oponente por algum tempo, Bart e Maria teriam tempo de se recuperarem, e ele podia procurar fraquezas em Shakhan enquanto isso.
Após a descarga de chi, Weltall caiu diante do Gear branco de Shakhan e Fei avançou pela frente, aproveitando-se da cegueira do outro para lançar mão de seu Nível de Ataque.
_ Raigeki!
Um golpe leve, outro e mais outro, e finalmente um último soco explosivo num ponto mais vulnerável, e Fei viu que Shakhan parecera abalado. Fosse lá o que Grahf tivesse feito...
O punho de escudo avançou contra seu ventre, e Weltall procurou contê-lo com seus braços. No entanto, uma emanação de ether cintilou de repente um instante antes de tocar o Gear de Fei, que apenas teve tempo de perceber algo de anormal.
_ O quê...
_ Punho do Selo!
O poder do ataque ‘Selo’ dos Gears Etones ampliado pelo impacto de um Gear de grande porte como o de Shakhan, um ataque poderoso e fortalecido pela descarga de poder de Grahf e do Portão, um golpe que teria pulverizado qualquer Gear comum.
Mesmo Weltall, no entanto, ficou danificado quase além de qualquer esperança de ainda participar daquela batalha. Fei viu, admirado e em dores, seus sistemas registrarem danos massivos em toda a estrutura do exoesqueleto e parte da estrutura interna de Weltall ao mesmo tempo.
_ P-praga...! Esse golpe foi...!
_ Fei! Fei, você está bem?
Andvari saltou sobre Shakhan e o atingiu com seus chicotes, afastando-o de Weltall por um instante.
O Omnigear girou sobre si mesmo, tornando a bater os chicotes e agora ficando entre o amigo e o inimigo. E Bart Fatima suspirou de alívio ao ouvir a resposta:
_ Ainda funcionando, Bart... mas acho que vou precisar de algum tempo antes de voltar à luta. Esse último ataque fez um belo estrago no Weltall.
_ Tudo bem, fica tranquilo – Bart concentrou-se no inimigo diante de si – Esse cara é meu, de qualquer forma. Se recupera aí e deixa comigo.
_ Pirralho convencido – rosnou Shakhan em seu próprio Gear – Vão todos estar mortos muito antes disso!
_ Bart, preste atenção!
Seibzehn deslizou por trás de Shakhan e o atingiu sem aviso com mísseis de seus dedos, fortalecendo seu Nível de Ataque enquanto sua mestra falava:
_ Há poderes ainda ocultos em Andvari que só você pode revelar! Os sábios de Shevat retiraram os Limitadores de todos vocês; você deve ser capaz de fazê-lo agora!
Shakhan voltou-se depressa, seu punho de escudo perdendo Seibzehn por pouco enquanto se afastava. E Maria tornou a atacar, deslizando depressa na direção de Shakhan e chamando:
_ Seibzehn! Ataque Rompimento de Ferro!
O punho de garras de Shakhan veio à frente, mas Seibzehn saltou com o auxílio de seus jatos e caiu pesadamente sobre o Gear branco com seus dois punhos batendo na cabeça do oponente como um martelo.
E Shakhan recuou. Ainda devia poder lutar, mas o dano causado por Seibzehn parecia demais para que ele se mantivesse em combate. Desta vez, no entanto, Andvari prendeu-o com seu chicote direito.
_ Sem essa, careca! Dessa vez... você não vai fugir!
_ Idiota, eu não tenho qualquer intenção de fugir! Vou acabar com todos vocês!
Apesar da contenção de Andvari atrasá-lo, Shakhan aproximou-se mais do gerador de Portão, e o tubo às suas costas ligou-se ao cilindro de energia. E seus sistemas imediatamente começaram a se reparar, mais depressa do que qualquer coisa que já tivessem presenciado.
_ Nada bom! – Maria exclamou – Bart, a energia do Portão está acelerando a capacidade dos sistemas de auto-reparo do Gear dele! Desse jeito, não importa quanto dano nós causemos, ele pode recuperar! A luta vai durar pra sempre!
_ Pra sempre não, Maria – Bart comentou, sombrio – O nosso combustível não vai durar tanto assim. Mas, sem problemas; é só acabar com ele agora, enquanto ainda não se recuperou! Onda Dançante!
Aproveitando-se de estar preso a ele, Andvari puxou-se para mais perto do inimigo girando e batendo seu chicote livre, girando-o sobre a cabeça e tornando a bater. O braço direito mantinha Shakhan de guarda baixa enquanto o outro aplicava o castigo.
Mas Shakhan não se deteria tão facilmente. Conectado ao gerador do Portão, ele ergueu o punho de escudo de seu Gear e bradou:
_ Tempestade de Ignas!
Ao seu comando, um poderoso ataque de chamas explodiu por toda a caverna do gerador e jogando tanto Andvari quanto Seibzehn para trás, dando ao Gear do ‘Ethos’ mais tempo e garantindo que recuperasse mais de si mesmo.
_ Que tal isso, moleque? – Shakhan perguntou entre dentes – O ‘Fogo de Ignas’ dos Etones, amplificado pelo poder do gerador! Poder mais que suficiente para afastar qualquer rato de mim enquanto faço os reparos! Poder para vencer até mesmo um Omnigear, que não pode me causar mais danos do que consiga reparar.
_ Você... fala demais!
Weltall estava na sombra de Seibzehn quando a Tempestade de Ignas irrompera; talvez por isso, as chamas não pioraram mais sua condição. Saltando e novamente valendo-se de sua velocidade superior, ele caiu diante do surpreso Shakhan e lançou Weltall ao ataque com o ataque mais poderoso de seus Níveis de Ataque.
_ Raibu!
Uma sequência de socos atingiu primeiro a junta do braço direito e depois a do esquerdo de Shakhan, que prontamente reagiu.
Weltall saltou sobre o braço que atacou e caiu sobre Shakhan golpeando depressa com os pés, pois o Raibu era algo como uma mistura dos golpes fracos do Raigeki com a tempestade de chutes do Hazan, tornando a aumentar os danos causados pelo ataque de Seibzehn.
E o braço de garras de Shakhan bateu para esquerda, derrubando Weltall novamente. Os danos do Punho do Selo não tinham sido reparados devidamente, e o Gear negro ficou caído diante de Shakhan.
_ Imbecil, de que isso valeu? Posso recuperar qualquer dano que me causem! E você – ergueu o braço do escudo novamente – pode dizer o mesmo? Tempestade de Ig...
_ Seibzehn, Ataque Meteoro!
O Seibzehn de Maria mergulhou sobre Shakhan antes que este completasse seu ataque, e o peso do Gear de Shevat fez o inimigo recuar. Com seu Gear parado diante do outro, Maria acreditava ter entendido o plano de Fei. Desmontar os braços de Shakhan, para que ele não pudesse continuar o combate. Mas estava numa situação delicada.
_ Miserável... – Shakhan rosnou, seu Gear voltando-se na direção deles – Todos vão pagar por isso!
“Se eu atacar com Seibzehn agora – Maria percebeu – Weltall vai ficar aberto à Tempestade de Ignas, e não acho que Fei vai sobreviver a outro ataque nas condições de agora. Se eu tivesse espaço, poderia afastá-lo daqui, mas...”.
_ Maria, tira o Fei daqui! Vai!
Andvari saltou por trás de Seibzehn, caindo sobre Shakhan com seus dois chicotes e fechando os braços, mantendo também o outro contido. Enquanto durava a surpresa do inimigo ao ver que não conseguia se mover, Bart tornou a dizer:
_ Vai logo, tira o Fei daqui! Mais um ataque e ele já era; eu vou acabar com isso e preciso de campo aberto!
_ Bart...
_ Eu já disse que nenhum de vocês... vai sair daqui! Punho de...!
Bart puxou os dois braços para esquerda, e Shakhan foi forçado a acompanhar o movimento, e seu Gear ficou voltado para o gerador de Portão. Não havia como lançar ataques sobre os outros Gears, mas ainda podia atingir sua fonte de força.
_ Vamos, Shakhan... eu quero ver! Manda a gente pelos ares, anda! Quero só ver!
_ M-moleque...!