Capítulo 40: Para Dentro de Solaris
Em algum
lugar em meio ao oceano, um efeito massivo como a estática num monitor se fez
presente. A todos os que puderam presenciar a mudança, pareceu levar quase um
minuto antes que a imagem se estabilizasse, formando uma imensa torre prateada
que se erguia sem limites ao céu, a princípio muito semelhante à Torre de
Babel. Uma estrutura artificial que se abriu por completo, como uma gigantesca
flor de metal, e cada pétala estendida a partir de um suporte central muito
mais fino, até que todas as pétalas estivessem abertas e ligeiramente voltadas
para o alto.
Na sala do trono em Shevat, a
Rainha Zephyr falava a todos os membros do grupo de Fei e mais Jesiah,
explicando a situação:
_ Nós finalmente somos capazes de
localizar e ver Solaris depois de destruir os três Portões na superfície. No
entanto, a não ser que destruamos o gerador principal final, na terra natal de
Solaris... não podemos eliminar completamente o Portão deles.
_ Maria, é aqui onde você e
Seibzehn entram – Citan disse – Agora que o Portão está enfraquecido, podemos
utilizar o canhão de partículas pesadas de Seibzehn para distorcer o espaço e
neutralizar o Portão por um breve momento! Quanto a penetrar em Solaris, seria
melhor nos movermos em grupos pequenos para que não cheguemos a atrair atenção.
Bem, se possível, eu gostaria de...
_ Sim – Elly concordou, notando
que o olhar de Citan se voltara para ela – Eu posso guiar vocês... através de
Solaris.
_ Eu vou também – Fei adiantou-se
– Eu fico um pouco preocupado se for a Elly.
_ Do que está...? – Elly se
voltou para ele, e então pareceu entender – Espere, eu não quis dizer que...
_ Entendido! – Citan bateu as
mãos uma na outra, satisfeito – Então Elly, Fei e eu iremos juntos. O restante
formará um grupo separado para se infiltrar. Maria, me parece que você e
Seibzehn vão esperar do lado de fora, como apoio.
_ Claro... Eu entendo.
_ Bem, vamos descansar por
enquanto. Assim que todos estiverem prontos, devemos todos nos encontrar aqui
antes de partir...
_ Você vai,
não vai...? Para Solaris...
Citan
estava na área de descanso sobre o palácio de Solaris, meditando sobre o que
viria. Depois de tanto tempo, retornaria à sua terra natal. E era mais do que o
risco de ser feito prisioneiro o que o preocupava... como Yui, de pé atrás
dele, bem sabia. E ele concordou:
_ Sim... Eu
escolhi meu próprio caminho. Não há volta...
A esposa
baixou os olhos. Sempre soubera que aquilo um dia poderia acontecer. O que não
tornava mais fácil aceitar a situação quando finalmente se apresentava.
_ Você vai
se ferir... Eles também vão se ferir...
_ Certamente... Mas eu não pude
encontrar qualquer outro caminho para escolher. Se, por acaso, eu for
sobrepujado pelo lado sombrio – baixou os olhos – Até tal ponto, eu já...
_ Não diga mais nada – Yui acenou
afirmativamente, também baixando os olhos – Eu já sei.
Os dois ficaram em silêncio por
um instante. Ela temera aquele momento desde a primeira vez que seu marido
levantara tal possibilidade, e embora falasse demais por vezes, era espantoso o
quanto os cálculos dele podiam ser precisos. Principalmente em situações como
aquela.
Abanou a cabeça, afastando os
pensamentos ruins. Era a hora de ter coragem. E aproximou-se, tocando o braço
esquerdo de Citan.
_ Aqui. Tome a sua espada. E por
favor... Por favor, volte vivo!
Ele se voltou para ela, um pouco
admirado. Que criatura curiosa era sua mulher, de olhos e atitude tão serena
que mesmo ele não podia calcular tudo o que se passava nos pensamentos dela.
Isso, também, fora o que o atraíra para ela. Anos antes, tinha-lhe prometido
não tornar a matar. Agora, era ela quem lhe devolvia a katana.
_ Por favor, tome conta de Midori
– ele acenou, aceitando a arma – E de você também.
Os dois se abraçaram então, um
último beijo antes da partida. Algo para se lembrarem um do outro, e porquê
estavam ali.
A espada já na cintura, Citan
voltava pelas escadarias rumo à sala do trono de Solaris quando reconheceu uma
figura de cabelos grisalhos recostada na parede, que se dirigiu a ele sem se
voltar.
_ Escute, Hyuga. Eu vou para
Solaris, também.
Citan ficou ligeiramente
surpreso. Sabia que Jesiah não era homem de se manter de fora da ação, mas
dadas as circunstâncias, era de se esperar que ele fosse confiar sua parte ao
filho Billy. Seria possível que ele...?
_ Não me entenda mal – Jessie continuou,
mantendo o olhar para fora da janela do corredor – Não significa que eu vou te
ajudar. Eu não sei o que você está pensando, ou tentando fazer... mas, se ficar
do lado deles, eu vou te matar, sem sombra de dúvida. Mesmo que seja pelas
costas.
Jessie o encarou então. Citan
conhecia bem o outro, sabia que ele estava falando sério. Baixou os olhos, um
pouco envergonhado; era de imaginar que Jesiah tivesse enxergado além das
aparências. Não se tornara o líder dos Elementos em sua geração apenas por ser
um grande atirador. Mas, longe de se sentir ameaçado, Citan sentiu uma estranha
segurança naquela ameaça. Se o pior lhe acontecesse... não teria que, um dia,
enfrentar sua própria filha, como Nikolai fizera.
_ Sim... Estarei contando com
isso.
_ Heh... – Jessie sorriu, dando
as costas a Citan – Assim perde até a graça...
_ Seibzehn, vamos!
O imenso Gear azul de Maria
Balthazar deixou seu hangar em Shevat, desta vez levando consigo todos os
outros. Mergulhando pelo poço de lançamento e tomando o rumo de Solaris,
enquanto sua mestra murmurava, enfim partindo rumo ao inimigo:
_ Estou chegando, Solaris...
Seibzehn e eu seremos as asas negras que levarão todos vocês às suas mortes!!
Fei esperara que tivessem
problemas ao se aproximar, mas Citan descartou a possibilidade; era provável
que a terra natal ainda não tivesse sido informada da queda dos Portões; seus
cidadãos decerto estavam desavisados quanto ao problema, o que tornaria seu
avanço mais simples.
Em certo ponto do vôo, no
entanto, Seibzehn pareceu incapaz de prosseguir, e enquanto o trio nas mãos
dele sentia o Gear estremecer, Maria pediu:
_ Isso é a... barreira!! Por
favor, Seibzehn!!
A saída dos jatos imensos de
Seibzehn pareceu aumentar ao apelo de sua mestra, mas a princípio, ele apenas
se manteve voando sem sair do lugar. Então, uma ondulação azulada pareceu se
formar diante dele, e Maria compreendeu:
_ Um campo de gravidade está se
abrindo! A correção de distorção do espaço está começando!
Os jatos de Seibzehn forçaram,
aumentando sua saída. E mais e mais, aos trancos, o Gear de Shevat finalmente
conseguiu ir através da barreira e rumo a uma das hastes de Solaris.
Por causa da distorção do espaço,
a sensação fora no mínimo peculiar para Fei, que teve a nítida impressão de que
estavam de cabeça para baixo, e saltar na plataforma metálica parecia indicar
que iam cair dela para a terra lá embaixo. Mas ele, Elly e Citan desembarcaram
sem problemas e Bart repassou a estratégia:
_ É perigoso nos movermos num
grupo grande. Vamos pegar rotas separadas.
_ Certo – e Citan acenou enquanto
Seibzehn se afastava, com Maria, Emeralda e Chu-Chu na cabeça, Rico e Hammer em
seu ombro esquerdo e Billy e Jessie no direito, levando Bart nas mãos. E Hammer
fez sinal de positivo.
_ Não se preocupem, eu sou bom em
conseguir informação!
_ Você só gosta de assistir a
miséria dos outros – Rico retrucou, de cara fechada e braços cruzados ao lado
dele – Só vai ficar no caminho.
_ Ah, perdão! Sinto muito!!
_ Maria...? – chamou Citan.
_ Sim, o quê?
_ A perturbação que Seibzehn causou
quando rompeu o portão quase se dissipou. Você e todos os outros devem partir
antes que o sistema de detecção de inimigos se ative novamente. Nós cuidaremos
do resto.
_ Certo. Tomem cuidado.
Seibzehn afastou-se, subindo
embora parecesse ir para baixo, e Fei olhou incomodado ao redor.
_ Parece que o mundo inteiro está
de cabeça pra baixo, é assustador.
_ A gravidade em Solaris é oposta
àquela da terra – explicou Elly – Não temos tempo de explicar, você se acostuma
mais tarde. É desconfortável quando vamos à superfície pela primeira vez,
também.
_ Certo... – mas ele claramente
não parecia sentir que o desconforto fosse passar tão depressa, e para tirar
sua mente daquilo, olhou ao redor – Ei, que lugar é esse?
_ Parece algum tipo de depósito
ou centro de distribuição – Elly também olhou ao redor – Não tenho certeza, mas
provavelmente é usado para despachar suprimentos extras, materiais e
combustível reunidos da superfície. São a tecnologia e produtos que vocês, da
superfície, recebem do ‘Ethos’.
_ Por enquanto, recolhamos alguma
informação – Citan olhou em volta, parecendo inquieto, e eles se encaminharam
para dentro. Fei se deteve ao lado de um tubo hexagonal metálico e perguntou:
_ Isso é um container do sistema
de transporte de que a Elly estava falando?
_ Bem... não tenho certeza – Elly
pareceu pensativa – Mas acho que já vi isso antes...
_ Vamos... dar uma olhada?
E Fei de fato entrou no tubo,
olhando curioso ao redor enquanto Elly repreendia.
_ O que está dizendo? Não temos
tempo pra isso. Precisamos sair daqui depressa.
_ Vocês não disseram que tínhamos
que conseguir informação? – Fei deu de ombros – Provavelmente, podemos invadir
o lugar usando essa coisa.
Foi quando a porta do container se fechou e o tubo
deslizou para dentro da parede, enquanto Citan e Elly o perseguiram até onde
foi possível.