sábado, 31 de dezembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Quatro Ponto Um

(...)

O Gear de Ramsus saltou de sua plataforma sobre os três lá embaixo, e seus punhos maciços golpearam o piso enquanto Andvari recuou deslizando, Fenrir girou para esquerda e pôs-se em guarda e Weltall-2 saltou em recuo, e seu piloto praguejava à meia voz. Descontrolado como estava, Ramsus era um adversário difícil e mesmo assim não era sua maior preocupação. Estavam perdendo tempo ali.
_ Fica frio, Fei – Andvari bateu os chicotes – Em três nós podemos acabar logo com ele.
_ De acordo – Fenrir empunhou a espada – Kahr, se é mesmo preciso...
_ Ninguém... Ninguém vai nos perturbar desta vez... Onda 3, Finalizador!!
Os pulsos do tórax superior e os punhos do inferior se uniram e o resultado foi uma onda de energia poderosa que se expandiu ao redor do Gear de Ramsus, lançando os três inimigos para trás. Abalado, sacudindo a cabeça para clarear as idéias, Fei percebeu-se banhado por inúmeras luzes vermelhas nos sensores de dano e murmurou:
_ Não pode s-ser... Estrutura comprometida...? O que foi...
_ Eu sabia que você seria o único a resistir... Fei...
O Gear de Ramsus batia seus punhos novamente um no outro enquanto seu tórax superior mantinha os braços cruzados. Andvari e Fenrir estavam tombados, um para cada lado, e não havia sinal dos comunicadores deles.
_ Não totalmente... Nossos Gears não são Omnigears de ligação direta, como os outros dois... Não sentimos o dano como nosso. Esses dois... Desta vez ninguém vai interferir! Terra Flare!
Os dois pulsos do tórax superior voltaram-se para Weltall-2 e dispararam, e Fei deixou seu Gear cair como se mergulhasse, desviando por pouco do ataque enquanto assimilava o que lhe fora dito. Weltall-2 reagia com a velocidade de um Omnigear, mas Fei nem sempre partilhava a dor dos danos sofridos, como parecia acontecer com Bart no Andvari. Se compreendera direito o que Ramsus dissera, era por isso que ainda podia lutar.
_ Haha... Desta vez... Ninguém vai ajudá-lo agora! – o Gear púrpura avançou, e Fei ativou seus Turbos e rolou para direita no último instante.
E a cauda longa bateu, chicoteando e jogando Weltall-2 contra a parede, e Fei percebeu que seu Gear não aguentaria outro impacto daqueles. Os sistemas de auto-reparo estavam trabalhando à plena força, mas a extensão dos danos era demasiada. Não havia como alcançar sequer um estado aceitável de resistência antes do fim daquela batalha.
_ Nestas condições... Sem mais interferência – Ramsus continuou balbuciando, seu Gear voltando-se para Weltall-2 como se o encarasse – Não serei derrotado por você. Finalmente... Vou provar minha superioridade! Avante, Amphysvena!
De braços abertos, o Gear púrpura atacou para esmagar o oponente num último choque de seus punhos, mas no interior do Gear negro, a mente de Fei ficou subitamente clara. Não havia qualquer esperança de recuperar seus sistemas ou armadura enquanto estivesse lutando... Então, não havia qualquer motivo para tentar.
_ Desativar sistema de auto-reparo.
_ Hein?
Ramsus não compreendeu o que o outro dissera a princípio, e não parecia importar. Seus punhos se fecharam... mas Weltall-2 saltara, sem sair do lugar, ganhando a altura necessária para chutá-lo de volta para trás.
O choque foi terrível para ambos os Gears, pois Weltall-2 estava danificado o bastante para não suportar bem sequer o impacto dos próprios golpes. Mas conseguiu cair sobre os próprios pés e novamente se postou em posição de batalha.
_ Mas o que...? – Ramsus sacudiu a cabeça, e Amphysvena voltou a bater os punhos como se o próprio Gear estivesse frustrado – Como foi que...
_ Tente outra vez, Ramsus – o Comandante olhou para o Gear negro, e foi como se pudesse ver a expressão de Fei encarando-o através daqueles visores – O Finalizador me trouxe ao limite, sim... mas sem um último golpe, eu não vou cair.
_ Hrrrr... Um último golpe... É o que você vai ter...! Terra...!
_ Onda de Thor!
Weltall-2 foi mais veloz e, quando os pulsos de Amphysvena se voltaram para ele, o Chi flamejante de Fei o atingiu e lançou para trás, toda a força de impacto concentrada num único ponto. Fei lembrava-se dos relatos sobre a luta contra o Gear de Stone, Alkanshel, e que armas de alta intensidade levavam muito tempo para recarregar. Então, se pudesse atacar depressa o bastante, poderia virar a maré daquela batalha. Só não podia ser atingido, uma vez que desviara toda a energia restante para o sistema de combate, e isso incluíra desativar os auto-reparos.
_ Não... Já chega...! – Amphysvena ficou de pé, deslizando adiante como o Stier de Rico fazia – Já chega!
Quatro braços atacando exigiriam uma destreza e velocidade que talvez Weltall-2 não pudesse mostrar em outras circunstâncias, mas Fei sabia o que estava fazendo ao provocar o adversário. A confiança de Ramsus estava abalada, e seu subconsciente trazia insistente as inúmeras ocasiões em que contara ter Fei à sua mercê para ao fim vê-lo escapar, vez após vez. Sua concentração não estava devidamente focalizada, enquanto a mente de Fei estava totalmente voltada para aquela batalha. Com Weltall-2 em condições precárias, ele desviava a maioria das investidas, e aproveitou-se de um ataque mais veloz dos punhos baixos de Amphysvena para lançar o Gear de Ramsus sobre a própria cabeça contra a parede mais próxima. Ganhara a distância que queria.
_ Agora é tudo ou nada – murmurou Fei – Sistema Id!
Ramsus estava transtornado, lutando com dificuldade contra seus instrumentos sem entender realmente como fora parar naquela posição, ou porque seu Gear estava de cabeça para baixo contra a parede. E um brilho inusitado em sua visão periférica chamou sua atenção.
_ O que... Não!
Ainda era o mesmo Gear que enfrentava mas, de algum modo, também não era. Ramsus sabia disso. De algum modo, o demônio de seus pesadelos e seu rival estavam fundidos em um, e ao menos agora, ele poderia mostrar isso a todos os idiotas que insistiam que estava levando aquilo longe demais. Só precisaria vencê-lo, e a forma correta de fazer tal coisa voltou à sua mente.
“D-defesa... Só preciso resistir o suficiente para que o Finalizador esteja recarregado, e então...! S-sim, vai funcionar...”
_ Postura da Chama!
Numa versão aprimorada de sua postura defensiva, as quatro mãos posicionaram-se para conter os próximos ataques de Fei. Bastava que os braços se mantivessem barrando os próximos ataques até o Finalizador estar pronto, ainda era possível suportar se ele...
_ Weltall-2 em Modo Hyper...
_ C-como...? Modo Hyper em tais condições...? Não...!
Weltall-2 avançou sobre seus Turbos, toda a atenção de Fei focalizada num único ponto. Sabia que ataques físicos dificilmente passariam pela defesa do Amphysvena naquelas condições, mas...
_ Kosho X!
Um a um, os golpes em seqüência de punhos e chutes de Weltall-2 foram bloqueados pelos quatro braços de Amphysvena, como Fei sabia que seria. Mas o término do ataque incluía dois feixes de chi concentrado, um de cada pulso do Gear negro. E para que o ataque surtisse efeito, Fei voltou os dois disparos na cabeça inferior de Amphysvena, levando em conta que mesmo um Gear composto de nanomáquinas podia ser derrotado se seu piloto fosse separado dele.
_ Gah! O que...? Não, não pode...! Nããããããooo!!
Os gritos de Ramsus e seus golpes frenéticos no painel diante de si não tinham como reviver a metade inferior de Amphysvena que de repente parecia sem vida, com seus braços maciços inertes e voltados para baixo e sua metade superior agora caída ao solo. E Weltall-2 continuava na postura do seu último ataque, enquanto seu mestre suspirava de alívio. Os sistemas de auto-reparo haviam bloqueado as demais funções e agora voltavam combustível e energia para os consertos, evitando a destruição de toda a máquina. Ele não poderia se mover por algum tempo.
_ Fei! Fei! Fei!
Crescens e Chu-Chu estavam se aproximando depressa, e Ramsus soube que acabara. Não havia como enfrentar Fei; por danificado que estivesse, Weltall-2 ao menos estava de pé, e sua cabine de comando caíra com a metade superior de Amphysvena. Fora derrotado novamente.
_ Graaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhh!!!
Embora incapaz de continuar lutando, ao que parecia, havia ainda alguma capacidade de movimento no tórax superior, e Ramsus irrompeu através de uma das paredes, abrindo caminho à força e revelando o que parecia uma passagem secreta.
_ O que é isso...? – Fei perguntou, tentando acompanhar o movimento do outro enquanto Crescens se punha em guarda entre Weltall-2 e a fenda na parede, e Chu-Chu advertia:
_ Fique parado. Vochu tá horrível! O que andou fazendo enquantchu não chegávamos?
_ Foi uma luta difícil, mas esqueça; veja como estão Bart e o Doc.
_ Estamos bem, Fei, obrigado por sua preocupação.
Fei voltou a atenção para os Gears caídos e suspirou de alívio ao ver os dois amigos acenarem para ele.
_ Doc! Bart! Estão todos bem?
_ Nah, eu tô puto da vida! – Bart queixou-se – Ficar sentado esperando enquanto os outros lutam não tem nada a ver comigo. Heh, mas foi uma bela batalha essa aí, Fei!
_ Saiu-se muito bem, mesmo sozinho, Fei – Citan cumprimentou, sorrindo – Só lamento que os nossos sistemas de auto-reparo não pudessem nos colocar em condições de ajudá-lo. Receio que nossos Omnigears ainda precisarão de algum reparo antes de prosseguirmos, lamento.
_ Está tudo bem – Fei verificou os sensores de dano, enquanto o feitiço ‘Vento da Floresta’ de Chu-Chu devolvia a seu Gear os movimentos e algo da energia de reparos – Chu-Chu, você fica aqui e ajuda o Doc e o Bart a se recuperarem. Acho que Emeralda e eu podemos seguir em frente.
_ Vocês e eu também, Fei – Andvari moveu-se devagar, enquanto seu mestre reassumia a cabine de comando – Não deu pra recuperar a tempo de participar da última luta, mas ainda sobrou o bastante do meu Omnigear pra acompanhar vocês.
_ Bart...
_ Anda, não começa com história! Você tá sem tempo e eu sem paciência, e ‘vai’ demorar até os outros chegarem. Andvari é um Omnigear, afinal de contas, e tá bem o bastante pra agüentar mais uma. Vamos começar vendo que caminho é esse que o Ramsus abriu.
Fei estava cheio de objeções, mas também estava dividido entre a necessidade de repararem melhor seus Gears e a urgência de resgatar Elly, e Bart tomou a frente, seguindo pela fenda aberta na parede por Ramsus. Detendo-se na abertura e voltando-se, pareceu a Fei ver o rosto do amigo no Omnigear perguntando:
_ E aí, você vem ou não?
_ Fei... Vem!
Crescens seguira Andvari, e Fei suspirou. Esperava não estar sendo descuidado demais.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Quatro

Capítulo 54 – Terra Prometida



<Fei>


Usando os dados obtidos de Razael e sua própria tecnologia de nanomáquinas, Krelian tinha iniciado a construção da arca de deus, ‘Merkava’.
 Seu término era iminente.

Para impedir sua ativação, e resgatar Elly... nós partimos para Merkava!

A aproximação da Yggdrasil III pareceu não causar qualquer tipo de comoção na superfície da Arca de Deus Merkava, uma estrutura metálica imensa que cintilava ao sol. Não havia sinal da ativação de canhões, forças de Gears defensivos ou qualquer outra manifestação de resistência, o que deixou os membros da tripulação apreensivos.
_ Muito esquisito – murmurou Rico, apertando os punhos na ponte de comando – Se essa é a grande hora do sujeito, isso devia estar melhor guardado, não?
_ Será possível que esteja inativo por não estar completa ainda? – opinou Billy, mas Fei não estava com paciência para se preocupar com tais detalhes.
_ Tanto melhor pra nós. Fica mais fácil resgatarmos Elly. Vamos!
_ Espera, espera aí Fei – Bart o deteve pelo ombro – Isso tá conveniente demais.
_ Ela precisa de ajuda, Bart!
_ E nós vamos ajudar, cara. Mas precisamos de cobertura. Sig!
_ Jovem mestre?
_ Assuma o comando e prepare as torres de artilharia pra atirar em qualquer coisa que se mexer vindo da Merkava. Fiquem atentos pra leituras de energia incomuns, também. Ia ser de lascar vir tão longe pra desaparecer com um feixe de reação sem nem ter entrado. E, pessoal...
Ele voltou-se para os amigos, todos reunidos na ponte de comando com eles, e não pôde deixar de sorrir. Quando conhecera Fei, nunca teria esperado que houvesse tantos outros pilotos competentes de Gears no mundo, nem máquinas tão formidáveis. E muito menos, que todos se uniriam a ele em combate. Todos eram hábeis o suficiente para fazer o que fosse preciso e improvisar, então, seu comando foi muito simples.
_ Voltem vivos, todos vocês. Vamos dar uma festa no palácio em Bledavik quando isso tudo acabar, e só vai ter graça se todos estiverem lá.
Enquanto os colegas se cumprimentavam e partiam para o hangar de Gears, Fei recuperou algo do próprio bom senso, e agradeceu:
_ Bart... Muito obrigado. Desculpe por agora há pouco.
_ Você me ajudou a tirar a Margie de Bledavik, parceiro – o pirata sorriu, apertando a mão de Fei – É minha vez. Vai tranqüilo, que a gente tira ela de lá.
Minutos depois, Gears, Omnigears e Chu-Chu em sua forma colossal estavam em franca aproximação rumo à estrutura metálica. Citan sugerira que se aproximassem em grupos pequenos com intervalos de espaço diferentes, de modo que não fossem todos capturados em caso de alguma surpresa desagradável, e assim o catedrático acompanhou Bart e Fei no primeiro trio, aproximando-se do que parecia uma ampla escotilha de embarque e desembarque. A falta de atividade era enervante, e Bart foi o primeiro a se pronunciar.
_ Sig, relatório.
_ Nenhuma atividade anormal detectada ainda, jovem mestre – respondeu a voz do imediato – Estamos todos de prontidão.
_ É, valeu – mudou o comunicador – Citan, o que acha?
_ Não sei dizer, jovem, mas... Há algo aqui.
_ Algo, Doc? Como assim...?
_ Movimento!
O aviso de Citan chegou ao mesmo tempo que os gritos de alerta de Maria e Billy na retaguarda. As próprias paredes pareciam estar ganhando vida!
_ Sistemas automáticos modulares! – Citan avisou, avançando com Fenrir enquanto golpeava para direita – Muito engenhoso; a partir das nanomáquinas que compõem a estrutura, toda a nave pode se subdividir em módulos defensivos independentes, funcionando com inteligência artificial!
_ Beleza – fez Bart, batendo os chicotes de Andvari à esquerda e direita ao mesmo tempo para despedaçar o que parecia um gnomo de metal – E a gente faz o que pra passar por eles?
_ Mecanismos criados com nanomáquinas são virtualmente indestrutíveis, a não ser que possamos desestabilizar suas estruturas moleculares – Citan respondeu, talhando à direita e girando, percebendo então que algo estava se formando sob Fenrir. Enquanto apunhalava para baixo, ele concluiu o raciocínio – Do contrário, eles sempre se reconstruirão.
_ Não precisamos de tanto – Weltall-2 avançou depressa rumo a uma escotilha, fazendo os opositores de Bart desaparecerem com um Tiro Guiado e seguindo com ele – O importante é atravessar, e não derrotá-los, certo? Então, basta danificá-los o suficiente.
_ Na escuta, Fei – apoiou Rico, enquanto Stier pousava como uma bomba sobre outro ponto da estrutura – Agora falou minha língua. Vocês aí, me dêem uma ajuda! Temos que chegar até lá embaixo!
_ Ichu vai ser difíchu! – Chu-Chu replicou, lançando a si mesma como um rolo compressor sobre os primeiros módulos a atacá-los lá em cima – Tem muitos deles no caminho, não vai dar pra passar!
_ Não deveríamos nos separar... – Billy começou, pousando ao lado do Stier e abrindo fogo por toda a volta, mas a voz de Fei veio pelos comunicadores.
_ Chu-Chu está certa, é oposição demais. O melhor é nos dividirmos, e entrarmos por onde for possível. Podemos nos reagrupar no núcleo central.
_ Fei... Eu vou – Emeralda começou, Crescens batendo adiante e atrás de si mesma enquanto sua mestra tentava encontrar espaço para seguir em frente.
_ Emeralda, não! Procure uma escotilha próxima e avance por dentro! Nos encontramos lá dentro!
_ Fei, cuidado!
Weltall-2 se adiantara mais do que os dois companheiros e agora fora agarrado por três Gears nascidos da parede, que pareciam tentar fazer com que fosse absorvido pela estrutura da Merkava quando um novo adversário apareceu, destruindo a todos com um único golpe de sua espada. Era um Gear amalgamado, a fusão de quatro máquinas em uma que todos ali reconheciam.
_ O G Elementos? – Fei perguntou, abrindo o canal de comunicação com as pilotos – Vocês de novo... Vocês, garotas, estão pensando em invadir também?
Um corte amplo de espada e o G Elementos cobriu o flanco esquerdo de Weltall-2 enquanto Fenrir e Andvari se aproximaram, fechando o círculo, e Dominia respondeu:
_ Não faça confusão. Estamos aqui para salvar nosso Comandante. Miang e Krelian estiveram manipulando as emoções dele com o único propósito de eliminar o Imperador. Simplesmente queremos livrar o Comandante desses laços para que ele possa ser salvo! Não estamos agindo nem em nome do mundo... nem em nome da sua namorada, Elhaym! Não temos qualquer intenção de lutar do mesmo lado que vocês!
_ ... Certo – Fei sacudiu a cabeça – Vocês têm suas próprias batalhas a lutar, e nós temos as nossas... Vamos deixar assim.
Mais drones automáticos e semi-Gears começaram a surgir por toda a volta a partir da parede, e os quatro se puseram em guarda. Mas Fei ainda disse:
_ Mas... Se as coisas saírem do controle, recuem. Nós cuidaremos de tudo.
_ Hmph – fez Dominia – Faremos você engolir essas palavras... Espere e vai ver!

Nós penetramos em Merkava e, enquanto enfrentávamos unidades de armas que se auto-regeneravam através do uso de nanomáquinas, seguimos em direção ao núcleo central...

E então...

Mais uma vez,
Ramsus apareceu diante de nós.


A descida final foi através de um extenso duto vertical que parecia conduzir ao subsolo, indicando que a fortaleza de Krelian era muito mais extensa e profunda do que se julgaria na superfície.
_ Aquilo é...!
O aviso de Citan desviou a atenção de Fei por um momento enquanto ele reconhecia as figuras imensas e translúcidas na passagem como réplicas em tamanho colossal dos anjos na Catedral de Nisan, o anjo masculino de mão estendida para o feminino, e aquilo causou uma estranha sensação de presságio e memória perdida. Ao chegar ao último nível do duto, os três avançaram por uma passagem de portas automáticas e alcançaram um pavilhão maior.
_ Estive esperando por você, Fei!!
_ Ramsus?!
Numa plataforma diretamente acima dos três, Ramsus estava em seu novo Gear, uma forma incomum com a constituição pesada de um gorila, uma cauda longa de chicote e um segundo tórax montado sobre sua primeira cabeça. A figura do alto permanecia de braços cruzados numa atitude confiante, enquanto os punhos do corpo primário batiam um contra o outro constantemente. E o próprio Ramsus, ao contrário do seu Gear, não parecia transmitir nenhuma força ou superioridade.
_ Fei... – ele murmurou com voz trêmula – Se ao menos você não tivesse nascido... Eu... Eu... Vamos decidir isso agora!!
_ Pare com isso, Ramsus! Que razão existe para continuar me enfrentando?! Por quem você está lutando?! Por que sempre tem uma conta para acertar comigo?! Me diga!
_ É tudo por sua causa... – Ramsus murmurou de volta, como se falasse consigo mesmo – Se ao menos você não tivesse surgido e arruinado minhas perspectivas na vida...

“Minha vida... Foi dada a mim no interior de um nanoreator no laboratório de Krelian. Deveria nascer como o ser superior, acima de todos os humanos... Mas então...”.
As lembranças de Ramsus voltaram no tempo e, com o olho de sua mente, ele pôde ver Krelian de pé, parecendo pensativo, diante de um nanoreator repleto de líquido protéico verde, onde uma criatura disforme flutuava. Ao sentir movimento atrás de si, o cientista voltou-se e reagiu sem emoções.
_ Hmm... ‘Desta vez’, seu corpo é jovem.
Uma figura desconhecida se aproximou, o rosto ainda mantido fora do alcance de visão a princípio. Só era possível ver um longo vestido de camponesa, e foi uma voz feminina que respondeu:
_ ... O anterior ficou velho demais.
_ ... E o nome?
_ Karen... Mas nomes individuais não têm qualquer significado para mim.
_ Então... O que a traz aqui?
Ao invés de responder, a desconhecida aproximou-se mais e Ramsus podia lembrar-se dos cabelos escuros e do ar sem expressão, levemente curioso, com o qual ela o encarou.
_ Essa coisa dentro do nanoreator, logo ali... É ele?
_ Hã? – Krelian voltou-se, e então confirmou com um aceno de cabeça – Ah... Código de reconhecimento 0808191 – ‘Ramses’. Foi dito ao Imperador que é um protótipo para um ‘Contato’ artificial.
_ Qual a situação dele? – perguntou Karen, voltando-se para Krelian.
_ Entrou no assim chamado primeiro estágio de crescimento. De agora até a ligação, seu crescimento será várias vezes mais rápido que o de um humano comum. Mas seu desenvolvimento psicológico será um pouco difícil de controlar – deu de ombros – É uma réplica... Então, isso é de se esperar.
Karen teve sua atenção atraída por um pulsar da criatura no tubo e perguntou:
_ Está se movendo... Ele consegue nos ouvir?
_ Sim... Já tem uma vontade própria.
_ Então – Karen deu um sorriso frio – Tenho uma maneira melhor. Vamos nos livrar dele. Não precisamos disto... Nós temos meu filho. Meu filho chegará à idade de quatro este ano.
_ Você ter um filho é... significante? – Krelian perguntou, intrigado.
_ Sim – Karen voltou-se para ele – Eu verifiquei... Não há engano, é um ‘Contato’.
_ Qual o nome dele?
_ O nome do meu filho é... ‘Fei’. Então... Você compreende o que isso significa?
_ Um ‘Antitipo’ correspondente está... – Krelian murmurou, e Karen confirmou com um aceno.
_ Sim... Provavelmente já nasceu em algum lugar... A última!
_ Então – Krelian riu alto – Esta coisa é... inútil.
_ Sim, totalmente inútil.
A forma de vida no reator agitou-se, parecendo protestar, o que divertiu Karen.
_ Haha... Vá atrás disso, ‘menino’... Um amor que é inalcançável para você, não importa o quanto se esforce para alcançá-lo.

“Até então...”

Ramsus pareceu despertar das próprias lembranças, ainda mais frustrado. E o objeto de sua frustração estava diante dele.
_ Por causa da sua existência, eu fui descartado...! Eu estava destinado a ser o representante de deus... Ter o poder do Imperador. Eu estava destinado a ser a suprema existência, ter o poder de exercer controle absoluto sobre todos! Mas... Eu perdi tudo... Por sua causa!!!
_ M-minha mãe...? Como... você a conhece...? Ramsus...!
_ Comandante! Por favor, pare com isso!
O Bladegash de Dominia acabara de surgir por um acesso lateral, e ela obviamente acompanhara o relato de seu líder.
_ Comandante, se o que diz é verdade, então é uma razão a mais para não lutar! Foi apenas usado por Krelian e...
_ Silêncio!! Você... Mesmo você... Ousa me censurar!? Eu a salvei por pouco de se tornar uma cobaia, e agora se volta contra mim!?
_ Está enganado! Nós apenas estamos pensando em seu melhor benefício...
_ Silêncio!! Ao fim, apenas eu posso me ajudar! Sou o único que pode corrigir isso! – e voltou-se para os Gears lá embaixo – Este é o fim para você! En garde! Porque, aqui vou eu Fei!!

sábado, 3 de dezembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Três

Capítulo 53 – Comiseração



O Ministério Gazel esperara por séculos para concretizar seus objetivos, urdindo impacientemente seus planos a longo prazo nos bastidores da história, e tinham sacrificado até mesmo sua própria humanidade para tal. Era compreensível, então, que sentissem júbilo diante do fim da longa espera.
_ O corpo de carne de deus foi recuperado...
_ O Anima e os Animus foram todos obtidos...
_ Tudo o que resta a fazer é nos transformar nos Animus, e nos tornarmos um com a Mãe – Persona – ...
_ ... Isso está incorreto.
A atenção de todos voltou-se para Krelian, chegado num momento que nenhum deles saberia precisar. E o que dissera causou consternação entre eles.
_ O que?
_ O que quer dizer, Krelian? O que acabou de dizer?
Krelian meramente sorriu, acenando na direção do SOL-900. Em resposta, informações codificadas numa placa holográfica deslizaram serenamente para fora do computador, e o monitor com o rosto de um dos Ministros foi desligado sem aviso.
_ O que está fazendo?! Krelian, você ficou totalmente insano?!
_ O que está fazendo aos bancos de memória?! – gritou outro Ministro enquanto um segundo monitor era desativado e outra placa holográfica deslizava do computador.
_ Não toque neles! Não podemos sobreviver sem eles...!
_ Vocês eram os únicos que poderiam ativar a chave... – Krelian gesticulou, fazendo desaparecer mais dos rostos antigos – Mas agora que ela foi ativada, eu não preciso mais de vocês. Estou providenciando para que sejam todos apagados.
_ Como ousa!
Os monitores remanescentes mostravam os Gazel procurando em vão por uma saída que já sabiam não existir, alarmados pela primeira vez em quinhentos anos. Indiferente à comoção que causava, Krelian prosseguiu desativando bancos de memória e dizendo:
_ O único obstáculo que havia entre eu e meus objetivos era Cain. Ele era aquele que detinha controle total das pessoas e assim, era meu maior nêmesis. Mas a única pessoa que poderia exterminar Cain era o próprio Cain. Foi por isso que eu criei uma... ‘cópia de Cain’. Ramsus agiu exatamente como eu previ... matando Cain. Agora não existe ninguém que possa deter a ‘mim’. E não estou interessado em seu poder ou autoridade.
Novas placas holográficas desligaram-se do SOL-9000, os monitores inativos parecendo janelas fechadas mediante o rosto inexpressivo do cientista de cabelos brancos, que prosseguiu com desprezo:
_ Vocês realmente pensaram que esavam agindo por sua própria vontade? São todos apenas peças do sistema. Criados apenas como armas de invasão e opressão... Vocês são apenas armas de interface terminal.
_ Nós... podemos... – o giro orbital do computador esférico pareceu ficar mais lento, mas os Gazel restantes ainda tentavam argumentar – nos tornar... deus...! E você... está...
_ Deus? – Krelian gesticulou para direita – Quem disse que vocês se tornariam deus? Que impertinência! Nós somos ‘humanos’. Fomos criados para ser interfaces terminais de deus. O mesmo vale para vocês, que um dia foram humanos. ‘O homem não pode se tornar deus’... Podemos apenas confiar nós mesmos a deus.
_ Ri... dículo... Indo con... tra a... Mãe...
_ Eu não fui contra ela – outra placa desligou-se do computador, e agora apenas dois monitores continuavam ativos – Esta é a vontade da ‘outra Mãe’.
_ Acha que... pode nos... e... liminar... e ainda ass... im revi... ver deus...?
_ Pode ser feito – Krelian deteve-se por um momento, encarando o monitor ativo diante de si – Seus genes foram espalhados a fim de manter o mundo vivo depois da ‘Queda’ dos dias de destruição. Aqueles genes hoje vivem dentro dos humanos. Os veículos – Anima – ... e os recipientes de seu alinhamento, os – Animus – ... e também a – Persona – ... Ao combiná-los com minhas nanomáquinas, humanos se tornarão seres vivos muito equivalentes a vocês. De fato, eles podem facilmente ultrapassá-los em muito quanto a se tornarem interfaces terminais dignas para deus. Assim, vocês não têm mais qualquer uso para mim. – Deus – , a manifestação física de deus, quer apenas resultados. Os meios são insignificantes para ele... Então, este é meu ‘Plano da Arca’, meu – Projeto Noah – !
_ K... re... li...
Não havia mais o que ser dito, mas era difícil para o Ministério aceitar em silêncio o que acontecia. Tempos antes, tinham se sujeitado a existir como dados no computador para preservar a si mesmos da destruição física e, sem mais nem menos, seriam extintos quando estavam à beira de atingir seu objetivo primal. Parecia injusto demais, mas não haveria escapatória daquele destino.
_ Que todas as suas preocupações cessem – Krelian ergueu sua mão uma última vez – Descansem em paz... ancestrais do homem mortal!
Um gesto displicente de sua mão, e o último monitor escureceu. O computador ainda funcionava e girava no ar, mas todas as suas ‘personalidades’ agora estavam desconectadas do corpo principal. Abaixo dele, na direção para onde Krelian olhava agora, a Chave Gaetia estava ativa e estranhos sinais num círculo desenhavam-se no piso sob sua plataforma. Saboreando o silêncio por um momento, ele murmurou:
_ Agora... Somos só você e eu... Sophia!


<Fei>


Eu estava indefeso...

Tudo o que pude fazer foi ficar de lado e observar enquanto eles levavam Elly para longe de mim...

Eu... estou indefeso...


Fei se afastara dos amigos e de qualquer outra pessoa, consumido pela frieza da realidade. Diante de Grahf e das forças reunidas por Krelian, ele fora derrotado. Sua força não fora suficiente para proteger os companheiros e cumprir a promessa feita a Elly de retornar em segurança. Pior ainda, ele fora a razão pela qual ela tivera que se sacrificar, surgindo diante das forças superiores do inimigo e sendo forçada a lutar contra eles. Mesmo a bordo do Omnigear que temia, mesmo sozinha, ela lutara... Fora ferida... Porque ele não fora capaz de protegê-la.

Você é fraco!

As palavras de Grahf nunca o haviam perturbado tanto, lançando a verdade terrível sobre ele repetidas vezes. Deveria ter morrido...
_ O que está fazendo aí?
Fei continuou sentado no chão, a cabeça entre as mãos, sem dar qualquer sinal de que tinha reconhecido a voz daquele que sempre parecia surgir do nada. Mas mesmo isso não tinha o poder de perturbá-lo naquele momento.
_ Ah, é você...
O Sábio continuou onde estava, esperando por uma resposta. Após um momento de silêncio, Fei murmurou:
_ Eu... Eu não fui capaz de vencer Grahf... Não tive qualquer chance contra ele – sacudiu a cabeça, desesperançado – Era óbvio desde o início. Era impossível tentar derrotar uma máquina monstro como aquela, para começar... E Elly... Por que ela foi tão tola?
Fei bateu os punhos contra o solo em frustração, continuando:
_ Eu disse a ela implicitamente para não vir... Eu falei pra ela fugir... Ela devia ter percebido que era uma armadilha.
_ Hmm... – o Sábio balançou a cabeça lentamente – Sim, você não será capaz de derrotá-lo desse jeito... Ao menos, não enquanto continuar a lutar com essa espécie de atitude.
Fei voltou a cabeça para encarar o outro. O Sábio caminhou até estar diante do rapaz e os olhos de sua máscara voltaram-se para ele.
_ A razão pela qual perdeu e pela qual aquela jovem dama foi levada foi o seu orgulho. Não estava dependendo um pouco além da conta do poder de sua máquina? ... E isso para não mencionar aquele novo ‘Poder Id’ que você agora é capaz de controlar!
Fei continuou a encarar o Sábio, sem compreender. Mas afinal, com o que mais ele poderia ter contado? Numa batalha de Gears, e contra o poder de Grahf...
_ Qual a fonte do poder de Grahf? – perguntou o Sábio – Sua máquina? Sua técnica? Sua experiência? Não, eu não acho... São os seus sentimentos. Seu coração, seus sentimentos, são dominados por seu ressentimento e seu ódio para com este mundo. Esse ódio é a sua fonte de poder. E os seus sentimentos, Fei, não estavam focalizados o bastante para enfrentar Grahf. Foi por isso que você não pôde vencer. Seus sentimentos devem estar no lugar certo. Isso é força.
“Não estou surpreso que tenha perdido – o Sábio prosseguiu, voltando as costas para Fei – visto que você não compreende o verdadeiro significado da força...”
_ Sábio...
Os dois fizeram silêncio por um momento, o Sábio deixando que Fei absorvesse algo do que lhe dissera antes de prosseguir:
_ Aquela jovem dama... A única coisa em seu coração era seu desejo de salvar a vocês todos. Ela pôs de lado seu medo e pilotou aquela máquina. Foi por ela possuir sentimentos tão fortes que todos vocês continuaram vivos.
“Isso é o que eu penso. Certamente, você foi derrotado. No entanto, isso não quer dizer que acabou – voltou-se para Fei – Como planeja responder aos sentimentos dela? Agora, é a sua vez de ir salvá-la... não?”
Fei não respondeu, mas não estava mais de cabeça baixa. Sua atenção parecia fixa diante de si, enquanto as palavras do Sábio surtiam o devido efeito. Fora vencido e teria que confrontar Grahf, Krelian e seus seguidores novamente, se pretendia resgatar Elly. Mas...
_ Bem – o Sábio questionou enquanto desaparecia como de costume – O que você vai fazer? ... Fei...
E Fei se pôs de pé lentamente, a cabeça erguida e os punhos fechados. Só havia uma coisa a ser feita.
_ Eu, errh... Eu vou...


<Fei>


A fim de salvar Elly, começamos a procurar desesperadamente por seu paradeiro...

E duas semanas mais tarde, nós a encontramos.
  


SOBRE A FACE DA LUA.

sábado, 26 de novembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Dois

Capítulo 52 – El Regulus



Uma visão assustadora esperava por Elly em Golgoda. O novo Gear de Ramsus e o Omnigear de Miang, à frente da guarda de Krelian, não causavam a ela sequer metade da apreensão de ver os Gears e Omnigears de seus amigos pendendo de cruzes escarlates. O Fenrir de Citan... O Seibzehn de Maria... O Andvari de Bart... E, na parte mais alta do monte, Weltall-2, tão danificado e incapaz de salvar seu mestre quanto os demais. Entre os prisioneiros das forças de Krelian, Citan foi o primeiro a reconhecer o Omnigear de Shevat e sua piloto:
_ Elly?!
_ Sua idiota! – Fei se debateu em suas amarras, incapaz de se libertar – Por que você veio até aqui? Krelian está atrás de você! Esqueça de nós! Fuja e se salve!
Mesmo assim, ele sabia em seu íntimo que ela não o faria; não era algo típico de Elly. Nunca, mesmo nos lampejos de memória...
_ Eu vim como você disse – ela estava respondendo – Sou a única de quem você precisa. Eles não têm nada a ver com isso. Então, deixe Fei e os outros irem!
_ ... Que galante da sua parte, Elhaym – Krelian murmurou após um momento, quase parecendo lamentar – É como se aquela cena do passado tivesse sido trazida de volta à vida no presente.
Ele contemplou a máquina que Elly pilotava e acenou com a cabeça, pensativo:
_ Então, você veio em um Omnigear... Este também é... ‘o Gear dela’. Hmmm... Permita-me confirmar uma coisa.
Ele fez um sinal com a mão, e dois Gears da guarda pessoal de Krelian adiantaram-se, ficando entre Regulus e Golgoda.
_ Considerarei que tipo de tratamento seus amigos vão receber... Com uma condição. Que primeiro você derrote estes dois homens aqui com esse Gear no qual veio... Que tal, Elhaym?
_ Esqueça, Elly! – Fei gritou – Ele está armando alguma coisa! Não aceite!
_ Fei tem razão! – Citan apoiou – Krelian não é um homem de palavra, e sempre tem motivos posteriores quando fala gentilmente com alguém! Mais ainda, estes homens são máquinas de luta criadas por Krelian! Suas habilidades de combate são imensuráveis! Não são oponentes que você possa enfrentar sozinha! Não aceite a oferta dele! Escape enquanto pode!
_ Ora, por favor... – Krelian retrucou suavemente – Críticas tão pesadas... Não sou tão brutal. E então, o que vai ser, Elhaym? Mesmo que tentasse fugir agora, não é provável que fosse escapar. Como pode ver... Toda esta área está cercada pelos meus guardas!
Em silêncio, Elly comprovou o que ele dissera. Os céus até onde Regulus podia alcançar tinham um anel de Gears inimigos cercando o perímetro. Não poderia fugir, ainda que quisesse.
_ Não seria lógico fazer a escolha onde você ainda pode ter alguma chance? Por menor que ela possa ser...?
_ Muito bem então – Elly respondeu, tentando não ouvir a voz de Fei e seus próprios temores – Farei o que você diz.
_ Bom – Krelian acenou, visivelmente satisfeito – Você de fato é minha pequena ave preciosa. Agora, adiante com isso!
Regulus pousou diante de Golgoda em posição de defesa, parecida com Vierge mas de aparência mais imponente. Em sua poltrona, concentrada para o duelo, Elly pensava para si mesma:
_ Se isso der a Fei e a eles sequer a menor chance de escapar, então eu vou lutar! Não me importo mesmo que custe a minha vida!!
Diante dela pousaram os dois Gears especiais, um deles semelhante a uma espécie de dragão verde com lâminas móveis brotando de suas costas e o outro, um humanóide de feições de caveira, com uma bola de ferro maciça no lugar da mão direita e um imenso escudo giratório na mão esquerda. E os dois investiram sem aviso contra ela.
_ Rápidos demais!!
Primeiro as garras do dragão golpearam no que parecia ser uma combinação de três Níveis de Ataque em um, e quando ela tentou revidar, o imenso Gear de Rattan atacou, com a bola de ferro e depois o escudo, lançando Regulus para trás.
_ Sobrepujada... Mesmo no meu Omnigear... Mas...
Regulus ergueu-se depressa, embora Elly tivesse a nítida sensação de que parte dos danos causados a seu Gear estavam se refletindo em seu próprio corpo. Mas sua determinação permanecia.
_ Eu não posso simplesmente... Não... Não desse jeito...
Seus Turbos foram ativados, e o Omnigear de Shevat investiu novamente, atacando mais depressa.
_ Eu não posso perder!!
Regulus avançou sobre Rattan, os chutes e golpes de seu bastão numa velocidade quase celestial quando comparados à ‘Tempestade’ de Vierge. Poucos golpes entraram, no entanto, a maioria repelida ou contida pelo grande escudo enquanto Elly se esforçava.
_  P-preciso... de algum modo... deter... movimento...
O segundo Gear investiu por trás, aparentemente sem ser notado. Quando suas garras caíram sobre a rival, porém, encontraram apenas o vazio enquanto Regulus girou entre os dois adversários e atacou também o dragão com uma versão melhorada da Tempestade, passando pela defesa do outro e derrubando-o.
_ Parou? É a minha chance! Haaaaaaaaaaaaaaaah!
Atacando deliberadamente o escudo de Rattan, Regulus aproveitou o apoio e saltou para mais distante, convocando então o ataque mais poderoso de ether de que dispunha.
_ Fantasma da Terra!
Uma emanação tremenda de energia da terra pareceu mover imensos rochedos sobre os dois Gears que a atacavam. Quando o efeito do ataque terminou, os oponentes estavam imóveis. Tal foi a surpresa que Elly quase baixou sua guarda.
_ Eu... Consegui?
Por um longo instante foi o que pareceu, e Elly pôde apenas ouvir seu próprio ofegar. Então, os dois Gears vivos puseram-se de pé bruscamente, sem parecer seriamente danificados.
_ C-como pode ser...? Eu pensei que tivesse tido algum efeito...
_ Ô garota, isso doeu! – o dragão verde disse – Eu vou te dar o troco!!
_ Você errou em subestimar nosso poder!
Os dois lançaram-se ao ataque novamente, e embora Regulus tenha conseguido bloquear a primeira investida, sua guarda cedeu diante do primeiro impacto. A mesma velocidade e combinação de ataques dos dois, com um intervalo menor entre eles, e os dois revezando-se nos golpes, acabaram por derrubar novamente o Omnigear de Elly sob os olhares preocupados de seus amigos e a expressão indecifrável de Krelian. Era como se ele esperasse por algo.
_ Guh...! Huff... huff...
_ Hmmm, não estou recebendo resultados – analisou Rattan, enquanto Elly se esforçava para ficar de pé – Não podia ser evitado, Mugwort. Já está na hora de encerrar o trabalho.
As duas máquinas tornaram a atacar enquanto Regulus ainda se punha de pé, e os amigos de Elly podiam apenas observar com horror enquanto os golpes pesados ou cortantes dos oponentes se abatiam sobre o Gear de sua companheira.
Maria desviou os olhos, Citan e Rico observando com ar aflito, Fei se debateu inutilmente em suas amarras e Bart baixou o rosto enquanto o som de metal golpeando metal parecia alto demais e os ataques de Rattan e Mugwort lançavam Regulus de um para outro, detendo-se apenas quando ela caiu inerte.
_ Gahahahahahaha! Já desabou? É de se esperar. Fraturas múltiplas, perda maciça de sangue... Eu não ficaria surpreso se a cabine for um mar de sangue. Na pior das hipóteses, morte! Geh hah hah hah hah!!
E após um momento de silêncio, Regulus tornou a ficar de pé, parecendo ilesa, algo que Mugwort e Rattan definitivamente não esperavam.
_ O que...? Não há como você poder ficar de pé depois de sofrer tamanho dano...
Os visores de Regulus cintilaram e o Gear dragão verde explodiu sem aviso, uma descarga de reação no meio de sua fuselagem fazendo com que toda a sua estrutura se consumisse e desfizesse em milhares de fragmentos.
_ M-Mugwort?!!
Rattan voltou-se para Regulus, abalado mas irritado. Não compreendera bem o que tinha acontecido, mas a essa altura, não importava mais.
_ Ora sua...! Como ousa fazer isso ao meu parceiro!
Rattan atacou por cima, novamente parecendo rápido e forte demais para o Omnigear, mas Regulus voltou-se para ele e saltou, os dois se equiparando em velocidade por um instante enquanto os golpes da ‘Tempestade’ agora serviam para interceptar cada um dos ataques de Rattan.
Os dois caíram separados, ainda em postura de ataque e de frente um para o outro. Para a surpresa de Rattan quando se investiria novamente, havia várias marcas redondas marcadas no imenso escudo em seu braço esquerdo, que trincou e perdeu vários pedaços. A pesada maça de ferro não se despedaçou, mas as marcas perfuradas e amassadas para dentro também estavam lá, e era evidente que elas só podiam ter sido causadas pelos punhos e pelo bastão de Regulus.
_ O q-quê...?
Regulus tinha suas duas mãos voltadas para ele, as aletas de sua cintura inclinada e catalisando energia, que ela disparou num único feixe de reação e atingiu em cheio o tronco de Rattan, parecendo simplesmente atravessá-lo no primeiro instante.
E o imenso corpo máquina do auxiliar de Krelian explodiu, fragmentos espessos de metal atirados para todos os lados sem que ele sequer gritasse, antes de Regulus tombar sobre os próprios joelhos.
_ Não pode ser...! Elly...! – chamou Fei, sem resposta, enquanto Krelian aproximou-se do Gear imóvel parecendo menos preocupado do que curioso.
_ O verdadeiro despertar dela...? Ou meramente estava... ‘protegendo sua mestra’...? De qualquer modo, não altera o fato de que ela é a existência – Mãe – que estive procurando! Agora homens... Recolham aquela máquina. A prioridade é a segurança da piloto. Usem o que for necessário para preservar a vida dela!
_ Bem então – Krelian voltou-se para os prisioneiros – Estarei levando a garota comigo! Quanto ao resto de vocês... Por que não chafurdam pateticamente em sua fraqueza enquanto meditam sobre sua própria falta de qualquer poder verdadeiro?
Krelian e seus seguidores se retiraram, levantando vôo em seus Gears e aeronaves, mas Grahf ainda deteve-se por um momento diante de Fei.
_ Deprimente... Você não consegue proteger uma única mulher. Não vale sequer o esforço de colocar um fim na agonia de um destroço sem coragem como você!

<Fei>


Elly foi levada... E, como Krelian tinha dito a ela, fomos deixados vivos...

Krelian estava apenas mantendo sua promessa...? Não, não pode ser isso...

Tinha que haver alguma outra razão ‘real’ pela qual ele nos permitiu viver.
E tínhamos que descobrir isso...



E MEU NOME COMO UMA SOMBRA

sábado, 19 de novembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Um Ponto Dois

(...)


<Elly>


Quando Fei e os outros chegaram à parte mais profunda de Mahanon, eu estava tomando conta das pessoas recém-mutadas em Nisan.
Pessoas mutando, uma após a outra.

Como num eterno pesadelo, que fez com que me perguntasse exatamente quanto mais teríamos que continuar cuidando deles...

Elly afastou-se dos pacientes, indo até a janela da Sala de Reuniões de Nisan, onde os pacientes recém-chegados estavam sendo mantidos e tratados, e olhou para fora com ar cansado. Sua mente e seu corpo estavam divididos naquele momento, e não conseguia se concentrar.
_ Você está bem?
Voltando-se, Elly deparou com a preocupada Margie, que tocou sua fronte e olhou bem para seu rosto.
_ Você não descansou nem um minuto, não foi? Eu posso cuidar das coisas sozinha por algum tempo. Por que você não sai para dar uma volta?
_ Obrigada – Elly meneou a cabeça – Mas eu vou ficar bem. Prefiro me manter ocupada, assim não vou me preocupar demais com as coisas.
_ Sério?... Ei! Elly, o que é isso?
_ Isto? – Elly remexeu em si mesma, seguindo o olhar de Margie até encontrar o crucifixo que Fei deixara.
_ Posso dar uma olhada?
Ainda no pescoço de Elly, Margie examinou o crucifixo atentamente por um longo momento antes de soltá-lo e concluir:
_ Exatamente como eu pensava... É o Pingente de Nisan. Mas, como foi que você o conseguiu, Elly?
_ É do Fei. Estou guardando para ele. Mas... – e Elly apertou o crucifixo entre seus dedos – A sensação é como se eu sempre o tivesse usado...
_ Hmmm – Margie afastou-se, voltando para olhar o semblante de Elly sob a luz da janela – Quando usa isso, você parece ainda mais com Sophia!
_ Mesmo? Hmm – Elly sorriu – Ficar me elogiando não vai levar a nada, viu? Bom, precisamos nos apressar e testar o novo supressor de mutação naquelas pessoas ali. Não podemos deixar que eles mudem ainda mais... Ah!
Enquanto voltava para o salão principal, Elly sentiu a corrente do crucifixo afrouxar-se de repente, e o pingente soltou-se, batendo contra o soalho com um retinir metálico de mau presságio.
_ Oh não... Aconteceu alguma coisa com Fei e os outros!
E sem dar atenção a quem quer que fosse, Elly correu para fora.

Tomada por um medo indescritível, eu decidi ascender até Shevat, que estava estacionada nos céus acima de Nisan. Esperando por mim havia uma transmissão de Krelian...

Ele me disse que se eu quisesse salvar Fei e os outros, eu teria que ir até Golgoda.

Krelian queria a mim.

A fim de salvar Fei e meus outros amigos, eu parti no último Omnigear restante em Shevat.

Meu medo prévio de utilizar essa máquina foi sobrepujado pelo meu desejo de resgatar as pessoas importantes para mim.

Regulus, era o nome pelo qual as pessoas de Shevat se referiam àquele Omnigear que tanto lembrava Vierge. Mais curiosa que o nome era a sensação de imensa familiaridade e tristeza que parecia permear a cabine do piloto desde o momento em que Elly tomara seu assento. E, mesmo sem nunca ter pilotado um Omnigear durante toda a sua vida, a moça sabia exatamente o que fazer e como operá-lo.
A intenção de Elly era partir sem causar comoção, mas ao captar a aproximação de cinco outros objetos voadores menores se aproximando em sua retaguarda, ela soube que não tivera sucesso. E sabia quem a estava seguindo.
_ Está falando sério quanto a ir sozinha, chefe?!
Renk, em seu Atirador, seguindo adiante dos outros quatro Cavaleiros da Gebler. Detendo-se no ar e voltando-se para eles, ela estabeleceu contato entre os comunicadores de todos.
_ Krelian me disse para ir sozinha. Não posso me permitir quebrar o acordo. Então, por favor, fiquem para trás e protejam a todos aqui.
_ Mas é uma armadilha! – Helmholz avisou.
_ Eu sei.
_ Então, por quê...? – perguntou Stratski.
_ Se eu não for, Fei e os outros serão executados com certeza – Elly meneou a cabeça – Krelian não se importa com mais ninguém, exceto eu.
_ Então, o que te faz pensar que ele vai manter sua parte na barganha? – quis saber Renk – Você tem algum modo de saber que definitivamente vai salvar seus amigos fazendo isso?
_ Não...
_ Tá vendo? Então é suicídio! – forçou Vance, e Regulus deu as costas a eles.
_ Pode ser. Mas... Eu cheguei tão longe por causa de Fei e dos outros... Porque eles me aceitaram como sua amiga.
_ Se você for embora – Renk perguntou – E quanto a nós...? E quanto a todas as pessoas que reuniu em Nisan, que está deixando para trás? Todos estão contando com você para ter apoio espiritual.
_ ... As pessoas em Nisan ficarão bem – Elly conseguiu sorrir – Eles podem ficar de pé por si mesmos sem qualquer apoio da minha parte... E isso também é verdade pra vocês todos, certo?
_ Mas – quis saber Broyer – Por que você faz tanto por ele...?
_ Eu não sei... Acho que é a prerrogativa de uma mulher ser egoísta... talvez.
_ Prerrogativa de uma mulher...? – perguntou Helmholz, confuso.
_ Eu não sou uma mulher santa de qualquer espécie – Elly meneou a cabeça, sorrindo serenamente – Sou só uma mulher comum. Eu me zango... Eu choro... Eu rio... Mesmo que às vezes eu possa me ressentir das pessoas, também sei como amá-las. Amar multidões inteiras às vezes... e amar apenas uma pessoa pelo resto do tempo.
E ela uniu suas mãos diante de si e baixou os olhos, seu Gear movendo-se como ela.
_ Eu fico na benção suprema quando sou abraçada pelo homem que eu amo. Dando o que tenho a ele, e recebendo o que ele me dá, nós nos tornamos uma só carne... Este é o momento em que eu fico mais em paz. É simplesmente minha prerrogativa como uma mulher querer salvar o homem que eu amo!
_ Chefe...
Vance, como todos os outros, ficara profundamente impressionado com o que Elly dissera, e nenhum deles encontrava qualquer outra coisa para dizer. Novamente meneando a cabeça, ela pareceu despertar.
_ Me desculpem... por dizer coisas tão egoístas. Eu vou agora, e farei tudo o que puder pelos meus amigos. Então, eu quero que vocês todos façam qualquer coisa que puderem pelos nossos amigos aqui. Bem... É melhor eu ir andando.
Não havia mais o que ser dito, ou modo de fazer com que ela mudasse de idéia. Nenhum dos cinco podia pensar em coisa alguma, nem mesmo Renk, e Elly partiu. 



COM OLHOS QUE VIGIAM O MUNDO

sábado, 12 de novembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Um Ponto Um

(...)

_ Seibzehn, Ataque Meteoro!
O gear pesado de Maria caiu sobre Grahf pela esquerda, com força suficiente para deslocar mesmo o Omnigear de bronze. Aproveitando-se da surpresa dos dois, a menina pediu:
_ Fei, eu vou tentar ganhar algum tempo! Aproveite e concentre-se melhor na união com seu Gear! Não está rápido o bastante!
_ Maria...?
_ Não interfira – Grahf rolou, amortecendo o deslocamento e colocando seu Gear novamente de pé – Seu Seibzehn é poderoso, mas não é adversário para o meu Alpha Weltall, e este assunto não diz respeito a você.
_ Seibzehn, abrir Cápsula de Mísseis!
O Gear de Maria caiu sobre o joelho direito e os emissores de mísseis em seus jatos se abriram, disparando inúmeros projéteis de ether num arco amplo, tornando impossível que Grahf os evitasse.
_ Hnf.
Enquanto Fei inspirava e expirava, tentando regularizar a própria respiração e se concentrar, o Alpha Weltall avançou diretamente contra a salva de mísseis de Seibzehn, esquivando-se da grande maioria deles e golpeando os mais próximos com seus pulsos repletos do chi agressivo de seu mestre. Tão depressa ele avançou que pareceu surgir do nada de repente diante de Seibzehn, em posição para um chute de volteio.
Mas Maria antecipara um ataque frontal, improvável mas possível. O chute do Alpha Weltall passou onde Seibzehn estivera um instante antes enquanto seus jatos o colocavam na altura certa para o melhor ataque naquela posição.
_ Mega Martelo!
Os dois punhos pesados de Seibzehn caíram como marretas sobre o Gear de Grahf, mas foram bloqueados pelo pulso esquerdo dele. Diante da surpresa de Maria, a voz do adversário se fez ouvir, não sem admiração.
_ Impressionante. Muito bem...
As duas asas metálicas do Gear de bronze golpearam, tirando o equilíbrio e derrubando Seibzehn de costas no chão. Num movimento veloz, Alpha Weltall saltou e pairou sobre a forma caída diante de si, movendo os punhos como se golpeasse o ar na direção de Seibzehn e disparando rajadas maciças de chi como na técnica Fukei de Fei e Grahf. 
_ Uma adversária de respeito – disse o encapuzado, encerrando seu ataque e pousando com seu Gear novamente de braços cruzados – merece ser derrotada com força à altura.
_ Grahf!
Alpha Weltall permaneceu imóvel, enquanto seu piloto tomava conhecimento do Weltall-2 de Fei, sem parecer impressionado. A menina fora corajosa e garantira a ele tempo para sintonizar suas reações às do seu Gear. Mas não bastaria.
_ Está perdendo seu tempo.
Sem uma palavra, Fei lançou-se ao ataque com um Raibu, buscando o Alpha Weltall de Grahf com punhos explosivos para abrir sua guarda e depois derrubá-lo.
Em movimento reverso, usando pulsos, pernas e até suas asas de metal, o Gear de bronze do oponente bloqueou os ataques de Weltall-2 um após o outro. Enquanto via seu Nível de Ataque falhar, Fei admirou-se. Era como se o outro pudesse ler seus pensamentos!
Alpha Weltall afastou-se com um salto novamente, e pela segunda vez chutou na altura do tórax. Desta vez, porém, Fei deteve seu Gear com antecipação e também recuou, quebrando o padrão de Grahf.
_ O que?
_ Onda de Thor!
A onda de chi incandescente reuniu-se entre as palmas de Weltall-2 e jorrou sobre o oponente, que teve apenas tempo de se cobrir com as próprias asas metálicas.
Fei sabia que sua melhor oportunidade era continuar atacando. Enquanto o outro estivesse na defensiva, ele ainda podia vencer.
_ Inferno de Chamas!
Weltall-2 investiu-se da energia chi flamejante, enquanto Alpha Weltall desfez sua postura defensiva. O Gear negro lançou-se como um projétil sobre o Gear de bronze, e Grahf comentou com algum interesse:
_ Hm, obra de Taura, eu imagino. Interessante, mas...
A surpresa de Fei não teve limites quando, em meio à investida de chamas, seu Gear foi agarrado de frente pelo Gear de Grahf, ambas as versões de Weltall empurrando um ao outro de mãos presas em meio à aura de fogo que emanava ao redor deles.
_ ... C-como...?
_ ... não é o bastante.
Subitamente, Alpha Weltall saltou, ainda agarrado às mãos do Weltall-2, e chutou sua cabeça enquanto virava num salto mortal, e pousou sobre si mesmo quase sem sair do lugar enquanto o Gear de Fei tombava de costas.
_ Seus recursos técnicos melhoraram – Grahf dizia, como se desse um diagnóstico – Sua força, depois de tantas batalhas, também cresceu. Mas ainda falta uma coisa.
_ Droga...!
Instintivamente, Fei podia prever o que Grahf estava para dizer, e não gostava da idéia. Colocando Weltall-2 de pé, ele ativou o Sistema Id e se posicionou para atacar. Pouco importando o que viesse depois, ele precisava derrotar Grahf ali.
_ Weltall-2 em Modo Hyper...
Diante dele, o Alpha Weltall de Grahf assumiu uma postura de ataque semelhante, lançando-se sobre Fei ao mesmo tempo em que o rapaz completou:
_ ... Kosho X!
Como antes acontecera em Solaris, os movimentos de Fei foram duplicados integralmente por Grahf, Weltall-2 e Alpha Weltall batendo punhos contra punhos e girando ao mesmo tempo, o chute de um bloqueando o do outro e o encerramento do ataque, uma descarga maciça de chi de cada palma servindo apenas para empurrar um ao outro para trás, sem dano para qualquer um dos dois.
E Weltall-2 ergueu-se novamente, equilibrado sobre uma das pernas e vendo o outro fazer exatamente o mesmo. Sabia o que viria depois, mas isso também serviria, se pudesse ser mais rápido.
_ Goten X!
Os dois Gears, negro e de bronze, avançaram um sobre o outro e confrontaram chutes cada vez mais fortes, sem conseguir abrir espaço para um golpe certeiro. Giraram então, um chute final carregado de chi e lançando os dois Weltalls para trás. Mas o Gear de Grahf girou no ar e pousou de pé, enquanto o de Fei rolou pelo chão antes de conseguir se firmar. Deslizara e ganhara espaço, e agora podia avançar para o último ataque.
_ Weltall-2, Kishin!
_ Finalmente...
Novamente, os dois Gears começaram a se atacar, mas desta vez Weltall-2 começou a levar vantagem enquanto seus punhos, carregados de chi escuro, começaram a varar a defesa do Alpha Weltall de Grahf.
Então, a asa direita do Gear de bronze chicoteou para frente e cravou-se no tórax do Weltall-2, detendo seu ataque por um longo segundo. Um novo golpe, da asa esquerda, e a postura de ataque do Gear negro foi desfeita.
As duas asas chicotearam para baixo, e Fei sentiu os talhos nos ombros de Weltall-2 como se fossem no seu próprio corpo. Isso era a sincronização...?
E então Alpha Weltall atacou com seus punhos e asas no que, a princípio, parecia uma seqüência aleatória de golpes. Mas Fei conhecia aquela técnica.
“I-isso é... o Raigeki!”
Num último ataque, as duas asas e os dois punhos do Gear de bronze atingiram o Gear negro de Fei ao mesmo tempo, lançando-o ao chão com danos múltiplos em sua estrutura.
Fei ainda buscava clarear a cabeça, Weltall-2 começando a se erguer, quando ele notou a figura ameaçadora pairando com seus punhos em posição, um instante antes das descargas de energia explosivas de Grahf começarem a cair sobre ele. E o duelo acabara.

A figura imponente do Alpha Weltall de Grahf estava diante deles, de braços cruzados como de costume e claramente pronta para mais. Mas não havia mais o que ser feito.
_ Acho que é tudo o que pode levar por enquanto – Grahf murmurou, pousando diante de Fei – Está frustrado?
_ Uhhh...
Fei esforçou-se para ficar de pé, mas tudo o que conseguiu foi encarar Grahf com raiva. Era como se o outro soubesse o que ele estava pensando.
_ Mas isso é... ‘apenas natural’. Afinal de contas, você é imperfeito.
_ ‘Imperfeito’?!
_ Sim. Você está deficiente agora. A ausência de fúria é um impedimento para que utilize sua verdadeira força!
_ F-fúria...?
_ O impulso de massacrar e aniquilar, a compulsão de destruir seu oponente... – Grahf apertou o punho diante de si – Tal fúria é poder para a alma! Ao eliminar seu inimigo, você atinge sua primeira sublimação desse impulso. E é essa mesma sublimação que extrai os poderes ocultos dentro da pessoa! Mas, agarrar-se à razão, suprimir sua fúria e desejo, torna libertar seu verdadeiro poder um sonho dentro de um sonho para você.
Fei bateu o punho contra o piso. Em seu interior, ele sentiu algo rosnar em resposta à provocação de Grahf, e seu pulso formigou com a braçadeira de Taura. Ele sabia que Id, sem dúvida, não estaria no chão agora, nem seu Gear estaria impossibilitado de continuar lutando... mas...!
_ Você já sabe disso – murmurou Grahf – Quando a fúria aparecia em seu coração, a máquina respondia, não respondia? O que retirava tal poder de sua máquina era verdadeiramente o impulso de sua alma... Era o seu ‘Id’. O sinal de propósito que esteve procurando... A marca de um assassino nato!
_ E-está errado! – Fei finalmente ergueu-se, ficando de pé diante de Grahf – Isso é absolutamente falso! E-eu não sou ‘Id’! Eu...
_ O momento chegou... Eu tomarei sua alma, e extrairei seu poder até o limite!
Fei gostaria de se pôr em guarda, mas apenas ficar de pé parecia ter exaurido todas as suas forças, e a sombra negra de Grahf cresceu diante dele.
_ Basta!
Grahf voltou-se. Krelian, com a Executora ao seu lado, aproximava-se vagarosamente.
_ Hã? Pelo quê está me detendo!?
_ Ele é a isca. Se matar a isca, o pássaro precioso que desejamos capturar vai fugir.
As palavras pareceram atrair a atenção de Fei, mas não havia mais qualquer força restante nele, que tombou. E Krelian prosseguiu, olhando inexpressivamente para o rapaz caído.
_ Você sabe... Um pássaro muito importante... ‘necessário para cumprir meu mais precioso desejo’... Você entende, não entende, Lacan...?
Após um instante em silêncio, sem se mover, Grahf deu as costas a todos e partiu, rosnando:
_ ... Bom proveito.
_ Vamos crucificá-los – Krelian voltou-se para a Executora – Na terra de Golgoda, a oeste daqui. Reúnam todos os Gears danificados!

sábado, 5 de novembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Um (agora sim)

Capítulo 51 – Merkava Chama


<Fei>

         Afastando as forças interceptoras solarianas, nós chegamos até o continente flutuante, Mahanon. Era o casco central de uma espaçonave colossal com um diâmetro de pelo menos 40 kelts.
         A julgar pela condição do casco, nós estimamos que a nave tivesse milhares de anos de idade.

         A Yggdrasil, tendo afastado os perseguidores mais próximos, manobrou sobre o que deveria ter sido a proa da nave que o paraíso – Mahanon – fora. Apesar de todos os milênios passados, um nome ainda era visível na proa: ‘Eldridge’.
         Sua ponte de comando, escura e desolada, repleta de assentos há muito abandonados, transmitia uma curiosa sensação de perda e tristeza.

         Foi determinado, ao examinar-se o interior dos destroços, que alguma espécie de acidente ocorrera nesta nave a cerca de dez mil anos atrás... O que forçou a sua queda em nosso planeta.

         Seres alienígenas que vieram ao nosso planeta de uma galáxia distante, a eons atrás...

         Seria possível que os nossos ancestrais fossem os passageiros desta nave, e que tivessem caído aqui, neste planeta...?

         Procurando deus e sua sabedoria divina... a ‘Árvore de Razael’ que, dizia-se, jazia aqui em Mahanon... nós seguimos adiante.

Um cilindro imenso ergueu-se numa das dependências da nave no momento em que Fei, Citan e Maria entraram, e mesmo os Gears pareciam minúsculos diante dele. Mais curioso, no entanto, era o seu conteúdo; algo que se assemelhava a uma figura humanóide cinzenta gigantesca, com asas tão amplas dobradas às suas costas que à primeira vista pareciam com o casco de uma tartaruga. Estava imerso em líquido protéico e, aparentemente, dormira durante todo o período de hibernação da nave.

Nas profundezas da nave, nós vimos uma forma de vida alienígena. Estava parcialmente apodrecido e petrificado... Um ser gigante e grotesco. ‘Ele’ passava um ar inexplicável de intimidação.

Talvez fosse mais do que uma reação instintiva.

Talvez fosse o medo do ‘Absoluto’ que vinha próprio âmago de nossos instintos hereditários.

Foi então que o sistema caiu. A iluminação daquela ala se foi, o cilindro começou a ser retirado para o subsolo mas, sem aviso, o ser imenso libertou-se e nos atacou. Sem outra alternativa lutamos, mesmo que ataque algum que fizéssemos causasse qualquer dano permanente.

Confesso que em mais de um momento, minha reação instintiva teria sido fugir, se houvesse como. E foi Maria quem descobriu como derrotá-lo.

_ Resistam como puderem, mas não ataquem! – Maria alertou a Fei e Citan, mantendo Seibzehn em guarda e ativando a restauração de sistemas – Ele vai acabar caindo sozinho!
_ Como é? – Fei não podia acreditar, Weltall-2 já preparado para investir de novo, agora que o Sistema Id fora ativado, mas Citan murmurou:
_ Poderoso demais... Como foi que não percebi isso antes?
_ Hein? – Fei voltou-se para o estudioso, um pouco incomodado por ser o único que não estava entendendo – Do que está falando, Doc?
_ É presumível que este organismo seja, pelo menos, tão antigo quanto a própria nave, Fei – Fenrir manteve-se em guarda, a katana erguida e protegendo a própria cabeça, mas sem investir – E está manipulando uma quantidade considerável de poder. Agora me diga, o que acontece numa casa cuja fiação não é trocada por décadas, e onde os proprietários decidem usar geradores de carga intensa?
_ Mas... – Fei continuava incerto – estamos falando de um ser vivo...
O organismo fossilizado ergueu-se sobre três das quatro patas e golpeou, atingindo Seibzehn com uma palmada. Diante do olhar surpreso de Fei, no entanto, o Gear de Maria amorteceu a maior parte do impacto com seus imensos pulsos e deslizou para trás, resistindo quase sem dano ao ataque.
_ O princípio é o mesmo para qualquer coisa, Fei – Maria replicou, tornando a colocar seu Gear em guarda – Pressão demasiada sobre condutos deteriorados causa colapso do sistema. Mecanismos enferrujados, tubulações rachadas... Organismos sem exercício. Só temos que suportar mais do que ele.
Aquilo não parecia ser uma luta para Fei; por pouco menos de dois minutos, a criatura os atacou usando principalmente de força física e uma espécie de emanação de energia de alto nível, algo semelhante à descarga de energia do Alkanshel de Stone, mas imensuravelmente mais poderosa. Sentindo os efeitos nos sistemas de Weltall-2, Fei perguntou:
_ Maria, Doc... Vocês têm certeza? Se ele fizer isso outra vez...!
_ Continue em guarda, Fei! – Citan insistiu, enquanto Fenrir também não parecia em boas condições – Desvie combustível para os sistemas de auto-reparo se necessário, mas agüente firme! A julgar pelo esforço que fez até agora, a criatura não deve suportar muito mais.
Mal Citan repetiu seu aviso, o organismo fossilizado pareceu padecer, contorcendo-se como se sentisse dores internas horríveis, e tornou a emitir o pulso violento de energia. Desta vez, no entanto, como se mesmo extravasar sua dor o torturasse, o monstro não conseguiu mais do que derrubar os três Gears, e desabou sobre os próprios membros.
Fei voltou sua atenção para o monstro, temendo um novo ataque enquanto estava desprotegido, mas percebeu que se preocupara por nada. As duas asas imensas caíram de repente, desfazendo-se em pó aos poucos. E o mesmo começou a acontecer com diversas partes do corpo colossal do monstro, que deitou sua cabeça depois de um último gemido de dor. Enquanto os pilotos agiam como um, maximizando os sistemas de reparos dos seus Gears para poderem avançar, a plataforma onde a criatura estivera começou a retirar-se para o subsolo, e o organismo desintegrava-se aos poucos.
_ Aquele... era o poder supremo?

A coisa parcialmente apodrecida eventualmente se auto-desintegrou. E nós seguimos ainda mais adiante...

Weltall-2 foi o primeiro a adentrar a câmara central, as portas imensas abrindo-se para revelar uma câmara escura. Descendo adiante seguido dos amigos, Fei encontrou dois pilares dourados gigantescos que lembravam muito os cubos de memória, mas tão imensos diante dos Gears quanto a criatura anterior parecera.

Nós chegamos a uma caverna enorme que era grande o suficiente para engolir a capital de Aveh inteira. Em seu centro estavam dois objetos brilhando gentilmente.

Era a fonte da sabedoria divina... Era a ‘Árvore de Razael’. E a caverna em si era um computador gigante chamado Razael.

Espirais de luz esverdeada giravam interminavelmente ao redor dos pilares e Fei chamou atenção para eles, mas Citan o corrigiu:
_ Não são apenas ‘espirais’, Fei. São dados.
_ Dados?
_ Transmitidos diretamente do computador central – Citan confirmou, acessando um console diante dos dois – Reparou nas figuras demonstradas nos pilares? O da direita exibe claramente um livro aberto, e o da esquerda... Deus! Será possível?
_ Doc, o que foi?
_ Aqueles círculos... – Citan apontou para o pilar esquerdo – E as trilhas entre eles... Aquilo parece ser o ‘Caminho de Sephiroth’, mas não faz qualquer sentido...
_ Doc, espere um pouco, o que é esse ‘Caminho’...?
_ Mas o que isso estaria fazendo aqui...? – Citan prosseguiu, como se não tivesse ouvido Fei – A não ser que haja mais relacionado...

A sabedoria de deus, oculta dentro de Razael... Nós descobrimos o impensável quando acessamos seus dados.

Uma imensa arma estratégica sem piloto e seu batalhão de armas de interface terminal, viajando de sistema estelar para sistema estelar.

E uma nave mãe imensa usada para carregá-los...

A criação do anjo – Malakh... O exército de deus para reinar sobre o vasto universo com ele...

E a construção de uma arca divina.

Estas armas eram chamadas, ‘Yabeh’, o sistema de armas de invasão interplanetária.

O que o Ministério Gazel estava perseguindo estava bem aqui.

De acordo com os dados, o organismo gigante apodrecido que acabáramos de derrotar era de fato o núcleo deste sistema. Estávamos à beira de acessar os dados para o objeto chamado... ‘Zohar’.

... o circuito neural central e fonte de força controlando o sistema inteiro, das armas à nave mãe...

quando subitamente ‘ELE’ apareceu.

Ao redor da Árvore de Razael, uma armada imensa de Gears e seres convertidos em Gears desceu, formando um cerco. Adiante deles, obviamente liderando, estava o conhecido Gear de bronze de Grahf, acompanhado por Krelian.
_ Ah, os dados ocultos da Árvore de Razael... Afastem-se daí. Esta é uma questão muito além de complexa para tipos como vocês.
_ Nós temos que protegê-lo com nossas vidas! – Fei murmurou, os amigos se pondo em guarda – Não podemos deixar que eles fiquem com os dados de Razael.
_ Vocês cuidam deles! – Citan comandou, operando o computador tão depressa quanto seus dedos permitiam – Eu tentarei extrair tantos dados quanto puder! Se alguma coisa sair errada... eu destruirei este lugar!
_ E imagino que eu ficaria imóvel enquanto você age, caro Hyuga?
Fei não pôde ver de fato o que estava acontecendo a Citan quando Krelian avançou sobre o doutor porque, em sua tentativa de intervir, ele foi subitamente bloqueado pelo próprio Gear de Grahf, pousado diante dele de braços cruzados e tão parecido com Weltall.
_ Não vai interferir.
_ Saia do meu caminho!
Weltall-2 avançou com Turbos ativos e atacou seguidamente, vendo seus golpes serem repelidos um após o outro por acenos da mão direita estendida do Gear de bronze que apenas recuava, parecendo mais entediado do que em guarda. Saltando para trás, então, as asas metálicas abertas e pairando no ar, o Gear de Grahf chutou Weltall-2 na altura do peito e o lançou para trás, pousando sobre um pé só.
_ Lento demais.
Fei voltou-se, seu Gear se posicionando para tentar outra investida e tudo o que viu foi a máquina de Grahf sobre ele, rápido demais na defesa e no ataque para que ele acompanhasse.
_ Acabou.