Capítulo 51 – Merkava Chama
<Fei>
Afastando as forças interceptoras solarianas, nós
chegamos até o continente flutuante, Mahanon. Era o casco central de uma
espaçonave colossal com um diâmetro de pelo menos 40 kelts.
A julgar pela condição do casco, nós estimamos
que a nave tivesse milhares de anos de idade.
A Yggdrasil, tendo afastado os perseguidores mais
próximos, manobrou sobre o que deveria ter sido a proa da nave que o paraíso –
Mahanon – fora. Apesar de todos os milênios passados, um nome ainda era visível
na proa: ‘Eldridge’.
Sua ponte de comando, escura e desolada, repleta de
assentos há muito abandonados, transmitia uma curiosa sensação de perda e
tristeza.
Foi determinado, ao examinar-se o interior dos
destroços, que alguma espécie de acidente ocorrera nesta nave a cerca de dez
mil anos atrás... O que forçou a sua queda em nosso planeta.
Seres alienígenas que vieram ao nosso planeta de
uma galáxia distante, a eons atrás...
Seria possível que os nossos ancestrais fossem os
passageiros desta nave, e que tivessem caído aqui, neste planeta...?
Procurando deus e sua sabedoria divina... a
‘Árvore de Razael’ que, dizia-se, jazia aqui em Mahanon... nós seguimos
adiante.
Um cilindro imenso ergueu-se numa das dependências
da nave no momento em que Fei, Citan e Maria entraram, e mesmo os Gears
pareciam minúsculos diante dele. Mais curioso, no entanto, era o seu conteúdo;
algo que se assemelhava a uma figura humanóide cinzenta gigantesca, com asas
tão amplas dobradas às suas costas que à primeira vista pareciam com o casco de
uma tartaruga. Estava imerso em líquido protéico e, aparentemente, dormira
durante todo o período de hibernação da nave.
Nas profundezas da nave, nós vimos uma forma de
vida alienígena. Estava parcialmente apodrecido e petrificado... Um ser gigante
e grotesco. ‘Ele’ passava um ar inexplicável de intimidação.
Talvez fosse mais do que uma reação instintiva.
Talvez fosse o medo do ‘Absoluto’ que vinha próprio
âmago de nossos instintos hereditários.
Foi então que o sistema caiu. A iluminação daquela
ala se foi, o cilindro começou a ser retirado para o subsolo mas, sem aviso, o
ser imenso libertou-se e nos atacou. Sem outra alternativa lutamos, mesmo que
ataque algum que fizéssemos causasse qualquer dano permanente.
Confesso que em mais de um momento, minha reação
instintiva teria sido fugir, se houvesse como. E foi Maria quem descobriu como
derrotá-lo.
_ Resistam como
puderem, mas não ataquem! – Maria alertou a Fei e Citan, mantendo Seibzehn em
guarda e ativando a restauração de sistemas – Ele vai acabar caindo sozinho!
_ Como é? – Fei não
podia acreditar, Weltall-2 já preparado para investir de novo, agora que o
Sistema Id fora ativado, mas Citan murmurou:
_ Poderoso
demais... Como foi que não percebi isso antes?
_ Hein? – Fei voltou-se
para o estudioso, um pouco incomodado por ser o único que não estava entendendo
– Do que está falando, Doc?
_ É presumível que
este organismo seja, pelo menos, tão antigo quanto a própria nave, Fei – Fenrir
manteve-se em guarda, a katana erguida e protegendo a própria cabeça, mas sem
investir – E está manipulando uma quantidade considerável de poder. Agora me
diga, o que acontece numa casa cuja fiação não é trocada por décadas, e onde os
proprietários decidem usar geradores de carga intensa?
_ Mas... – Fei
continuava incerto – estamos falando de um ser vivo...
O organismo
fossilizado ergueu-se sobre três das quatro patas e golpeou, atingindo Seibzehn
com uma palmada. Diante do olhar surpreso de Fei, no entanto, o Gear de Maria
amorteceu a maior parte do impacto com seus imensos pulsos e deslizou para
trás, resistindo quase sem dano ao ataque.
_ O princípio é o
mesmo para qualquer coisa, Fei – Maria replicou, tornando a colocar seu Gear em
guarda – Pressão demasiada sobre condutos deteriorados causa colapso do
sistema. Mecanismos enferrujados, tubulações rachadas... Organismos sem
exercício. Só temos que suportar mais do que ele.
Aquilo não parecia
ser uma luta para Fei; por pouco menos de dois minutos, a criatura os atacou
usando principalmente de força física e uma espécie de emanação de energia de
alto nível, algo semelhante à descarga de energia do Alkanshel de Stone, mas
imensuravelmente mais poderosa. Sentindo os efeitos nos sistemas de Weltall-2,
Fei perguntou:
_ Maria, Doc...
Vocês têm certeza? Se ele fizer isso outra vez...!
_ Continue em
guarda, Fei! – Citan insistiu, enquanto Fenrir também não parecia em boas
condições – Desvie combustível para os sistemas de auto-reparo se necessário,
mas agüente firme! A julgar pelo esforço que fez até agora, a criatura não deve
suportar muito mais.
Mal Citan repetiu
seu aviso, o organismo fossilizado pareceu padecer, contorcendo-se como se
sentisse dores internas horríveis, e tornou a emitir o pulso violento de
energia. Desta vez, no entanto, como se mesmo extravasar sua dor o torturasse,
o monstro não conseguiu mais do que derrubar os três Gears, e desabou sobre os
próprios membros.
Fei voltou sua
atenção para o monstro, temendo um novo ataque enquanto estava desprotegido,
mas percebeu que se preocupara por nada. As duas asas imensas caíram de
repente, desfazendo-se em pó aos poucos. E o mesmo começou a acontecer com
diversas partes do corpo colossal do monstro, que deitou sua cabeça depois de
um último gemido de dor. Enquanto os pilotos agiam como um, maximizando os
sistemas de reparos dos seus Gears para poderem avançar, a plataforma onde a
criatura estivera começou a retirar-se para o subsolo, e o organismo
desintegrava-se aos poucos.
_ Aquele... era o
poder supremo?
A coisa parcialmente apodrecida eventualmente se
auto-desintegrou. E nós seguimos ainda mais adiante...
Weltall-2 foi o
primeiro a adentrar a câmara central, as portas imensas abrindo-se para revelar
uma câmara escura. Descendo adiante seguido dos amigos, Fei encontrou dois
pilares dourados gigantescos que lembravam muito os cubos de memória, mas tão
imensos diante dos Gears quanto a criatura anterior parecera.
Nós chegamos a uma caverna enorme que era grande o
suficiente para engolir a capital de Aveh inteira. Em seu centro estavam dois
objetos brilhando gentilmente.
Era a fonte da sabedoria divina... Era a ‘Árvore de
Razael’. E a caverna em si era um computador gigante chamado Razael.
Espirais de luz
esverdeada giravam interminavelmente ao redor dos pilares e Fei chamou atenção
para eles, mas Citan o corrigiu:
_ Não são apenas
‘espirais’, Fei. São dados.
_ Dados?
_ Transmitidos
diretamente do computador central – Citan confirmou, acessando um console
diante dos dois – Reparou nas figuras demonstradas nos pilares? O da direita
exibe claramente um livro aberto, e o da esquerda... Deus! Será possível?
_ Doc, o que foi?
_ Aqueles
círculos... – Citan apontou para o pilar esquerdo – E as trilhas entre eles...
Aquilo parece ser o ‘Caminho de Sephiroth’, mas não faz qualquer sentido...
_ Doc, espere um
pouco, o que é esse ‘Caminho’...?
_ Mas o que isso
estaria fazendo aqui...? – Citan prosseguiu, como se não tivesse ouvido Fei – A
não ser que haja mais relacionado...
A sabedoria de deus, oculta dentro de Razael... Nós
descobrimos o impensável quando acessamos seus dados.
Uma imensa arma estratégica sem piloto e seu
batalhão de armas de interface terminal, viajando de sistema estelar para
sistema estelar.
E uma nave mãe imensa usada para carregá-los...
A criação do anjo – Malakh... O exército de deus para
reinar sobre o vasto universo com ele...
E a construção de uma arca divina.
Estas armas eram chamadas, ‘Yabeh’, o sistema de
armas de invasão interplanetária.
O que o Ministério Gazel estava perseguindo estava
bem aqui.
De acordo com os dados, o organismo gigante
apodrecido que acabáramos de derrotar era de fato o núcleo deste sistema.
Estávamos à beira de acessar os dados para o objeto chamado... ‘Zohar’.
... o circuito neural central e fonte de força
controlando o sistema inteiro, das armas à nave mãe...
quando subitamente ‘ELE’ apareceu.
Ao redor da Árvore
de Razael, uma armada imensa de Gears e seres convertidos em Gears desceu,
formando um cerco. Adiante deles, obviamente liderando, estava o conhecido Gear
de bronze de Grahf, acompanhado por Krelian.
_ Ah, os dados
ocultos da Árvore de Razael... Afastem-se daí. Esta é uma questão muito além de
complexa para tipos como vocês.
_ Nós temos que
protegê-lo com nossas vidas! – Fei murmurou, os amigos se pondo em guarda – Não
podemos deixar que eles fiquem com os dados de Razael.
_ Vocês cuidam
deles! – Citan comandou, operando o computador tão depressa quanto seus dedos
permitiam – Eu tentarei extrair tantos dados quanto puder! Se alguma coisa sair
errada... eu destruirei este lugar!
_ E imagino que eu
ficaria imóvel enquanto você age, caro Hyuga?
Fei não pôde ver de
fato o que estava acontecendo a Citan quando Krelian avançou sobre o doutor
porque, em sua tentativa de intervir, ele foi subitamente bloqueado pelo
próprio Gear de Grahf, pousado diante dele de braços cruzados e tão parecido
com Weltall.
_ Não vai
interferir.
_ Saia do meu
caminho!
Weltall-2 avançou
com Turbos ativos e atacou seguidamente, vendo seus golpes serem repelidos um
após o outro por acenos da mão direita estendida do Gear de bronze que apenas
recuava, parecendo mais entediado do que em guarda. Saltando para trás, então,
as asas metálicas abertas e pairando no ar, o Gear de Grahf chutou Weltall-2 na
altura do peito e o lançou para trás, pousando sobre um pé só.
_ Lento demais.
Fei voltou-se, seu
Gear se posicionando para tentar outra investida e tudo o que viu foi a máquina
de Grahf sobre ele, rápido demais na defesa e no ataque para que ele
acompanhasse.
_ Acabou.
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