sábado, 5 de novembro de 2016

Capítulo Cinquenta e Um (agora sim)

Capítulo 51 – Merkava Chama


<Fei>

         Afastando as forças interceptoras solarianas, nós chegamos até o continente flutuante, Mahanon. Era o casco central de uma espaçonave colossal com um diâmetro de pelo menos 40 kelts.
         A julgar pela condição do casco, nós estimamos que a nave tivesse milhares de anos de idade.

         A Yggdrasil, tendo afastado os perseguidores mais próximos, manobrou sobre o que deveria ter sido a proa da nave que o paraíso – Mahanon – fora. Apesar de todos os milênios passados, um nome ainda era visível na proa: ‘Eldridge’.
         Sua ponte de comando, escura e desolada, repleta de assentos há muito abandonados, transmitia uma curiosa sensação de perda e tristeza.

         Foi determinado, ao examinar-se o interior dos destroços, que alguma espécie de acidente ocorrera nesta nave a cerca de dez mil anos atrás... O que forçou a sua queda em nosso planeta.

         Seres alienígenas que vieram ao nosso planeta de uma galáxia distante, a eons atrás...

         Seria possível que os nossos ancestrais fossem os passageiros desta nave, e que tivessem caído aqui, neste planeta...?

         Procurando deus e sua sabedoria divina... a ‘Árvore de Razael’ que, dizia-se, jazia aqui em Mahanon... nós seguimos adiante.

Um cilindro imenso ergueu-se numa das dependências da nave no momento em que Fei, Citan e Maria entraram, e mesmo os Gears pareciam minúsculos diante dele. Mais curioso, no entanto, era o seu conteúdo; algo que se assemelhava a uma figura humanóide cinzenta gigantesca, com asas tão amplas dobradas às suas costas que à primeira vista pareciam com o casco de uma tartaruga. Estava imerso em líquido protéico e, aparentemente, dormira durante todo o período de hibernação da nave.

Nas profundezas da nave, nós vimos uma forma de vida alienígena. Estava parcialmente apodrecido e petrificado... Um ser gigante e grotesco. ‘Ele’ passava um ar inexplicável de intimidação.

Talvez fosse mais do que uma reação instintiva.

Talvez fosse o medo do ‘Absoluto’ que vinha próprio âmago de nossos instintos hereditários.

Foi então que o sistema caiu. A iluminação daquela ala se foi, o cilindro começou a ser retirado para o subsolo mas, sem aviso, o ser imenso libertou-se e nos atacou. Sem outra alternativa lutamos, mesmo que ataque algum que fizéssemos causasse qualquer dano permanente.

Confesso que em mais de um momento, minha reação instintiva teria sido fugir, se houvesse como. E foi Maria quem descobriu como derrotá-lo.

_ Resistam como puderem, mas não ataquem! – Maria alertou a Fei e Citan, mantendo Seibzehn em guarda e ativando a restauração de sistemas – Ele vai acabar caindo sozinho!
_ Como é? – Fei não podia acreditar, Weltall-2 já preparado para investir de novo, agora que o Sistema Id fora ativado, mas Citan murmurou:
_ Poderoso demais... Como foi que não percebi isso antes?
_ Hein? – Fei voltou-se para o estudioso, um pouco incomodado por ser o único que não estava entendendo – Do que está falando, Doc?
_ É presumível que este organismo seja, pelo menos, tão antigo quanto a própria nave, Fei – Fenrir manteve-se em guarda, a katana erguida e protegendo a própria cabeça, mas sem investir – E está manipulando uma quantidade considerável de poder. Agora me diga, o que acontece numa casa cuja fiação não é trocada por décadas, e onde os proprietários decidem usar geradores de carga intensa?
_ Mas... – Fei continuava incerto – estamos falando de um ser vivo...
O organismo fossilizado ergueu-se sobre três das quatro patas e golpeou, atingindo Seibzehn com uma palmada. Diante do olhar surpreso de Fei, no entanto, o Gear de Maria amorteceu a maior parte do impacto com seus imensos pulsos e deslizou para trás, resistindo quase sem dano ao ataque.
_ O princípio é o mesmo para qualquer coisa, Fei – Maria replicou, tornando a colocar seu Gear em guarda – Pressão demasiada sobre condutos deteriorados causa colapso do sistema. Mecanismos enferrujados, tubulações rachadas... Organismos sem exercício. Só temos que suportar mais do que ele.
Aquilo não parecia ser uma luta para Fei; por pouco menos de dois minutos, a criatura os atacou usando principalmente de força física e uma espécie de emanação de energia de alto nível, algo semelhante à descarga de energia do Alkanshel de Stone, mas imensuravelmente mais poderosa. Sentindo os efeitos nos sistemas de Weltall-2, Fei perguntou:
_ Maria, Doc... Vocês têm certeza? Se ele fizer isso outra vez...!
_ Continue em guarda, Fei! – Citan insistiu, enquanto Fenrir também não parecia em boas condições – Desvie combustível para os sistemas de auto-reparo se necessário, mas agüente firme! A julgar pelo esforço que fez até agora, a criatura não deve suportar muito mais.
Mal Citan repetiu seu aviso, o organismo fossilizado pareceu padecer, contorcendo-se como se sentisse dores internas horríveis, e tornou a emitir o pulso violento de energia. Desta vez, no entanto, como se mesmo extravasar sua dor o torturasse, o monstro não conseguiu mais do que derrubar os três Gears, e desabou sobre os próprios membros.
Fei voltou sua atenção para o monstro, temendo um novo ataque enquanto estava desprotegido, mas percebeu que se preocupara por nada. As duas asas imensas caíram de repente, desfazendo-se em pó aos poucos. E o mesmo começou a acontecer com diversas partes do corpo colossal do monstro, que deitou sua cabeça depois de um último gemido de dor. Enquanto os pilotos agiam como um, maximizando os sistemas de reparos dos seus Gears para poderem avançar, a plataforma onde a criatura estivera começou a retirar-se para o subsolo, e o organismo desintegrava-se aos poucos.
_ Aquele... era o poder supremo?

A coisa parcialmente apodrecida eventualmente se auto-desintegrou. E nós seguimos ainda mais adiante...

Weltall-2 foi o primeiro a adentrar a câmara central, as portas imensas abrindo-se para revelar uma câmara escura. Descendo adiante seguido dos amigos, Fei encontrou dois pilares dourados gigantescos que lembravam muito os cubos de memória, mas tão imensos diante dos Gears quanto a criatura anterior parecera.

Nós chegamos a uma caverna enorme que era grande o suficiente para engolir a capital de Aveh inteira. Em seu centro estavam dois objetos brilhando gentilmente.

Era a fonte da sabedoria divina... Era a ‘Árvore de Razael’. E a caverna em si era um computador gigante chamado Razael.

Espirais de luz esverdeada giravam interminavelmente ao redor dos pilares e Fei chamou atenção para eles, mas Citan o corrigiu:
_ Não são apenas ‘espirais’, Fei. São dados.
_ Dados?
_ Transmitidos diretamente do computador central – Citan confirmou, acessando um console diante dos dois – Reparou nas figuras demonstradas nos pilares? O da direita exibe claramente um livro aberto, e o da esquerda... Deus! Será possível?
_ Doc, o que foi?
_ Aqueles círculos... – Citan apontou para o pilar esquerdo – E as trilhas entre eles... Aquilo parece ser o ‘Caminho de Sephiroth’, mas não faz qualquer sentido...
_ Doc, espere um pouco, o que é esse ‘Caminho’...?
_ Mas o que isso estaria fazendo aqui...? – Citan prosseguiu, como se não tivesse ouvido Fei – A não ser que haja mais relacionado...

A sabedoria de deus, oculta dentro de Razael... Nós descobrimos o impensável quando acessamos seus dados.

Uma imensa arma estratégica sem piloto e seu batalhão de armas de interface terminal, viajando de sistema estelar para sistema estelar.

E uma nave mãe imensa usada para carregá-los...

A criação do anjo – Malakh... O exército de deus para reinar sobre o vasto universo com ele...

E a construção de uma arca divina.

Estas armas eram chamadas, ‘Yabeh’, o sistema de armas de invasão interplanetária.

O que o Ministério Gazel estava perseguindo estava bem aqui.

De acordo com os dados, o organismo gigante apodrecido que acabáramos de derrotar era de fato o núcleo deste sistema. Estávamos à beira de acessar os dados para o objeto chamado... ‘Zohar’.

... o circuito neural central e fonte de força controlando o sistema inteiro, das armas à nave mãe...

quando subitamente ‘ELE’ apareceu.

Ao redor da Árvore de Razael, uma armada imensa de Gears e seres convertidos em Gears desceu, formando um cerco. Adiante deles, obviamente liderando, estava o conhecido Gear de bronze de Grahf, acompanhado por Krelian.
_ Ah, os dados ocultos da Árvore de Razael... Afastem-se daí. Esta é uma questão muito além de complexa para tipos como vocês.
_ Nós temos que protegê-lo com nossas vidas! – Fei murmurou, os amigos se pondo em guarda – Não podemos deixar que eles fiquem com os dados de Razael.
_ Vocês cuidam deles! – Citan comandou, operando o computador tão depressa quanto seus dedos permitiam – Eu tentarei extrair tantos dados quanto puder! Se alguma coisa sair errada... eu destruirei este lugar!
_ E imagino que eu ficaria imóvel enquanto você age, caro Hyuga?
Fei não pôde ver de fato o que estava acontecendo a Citan quando Krelian avançou sobre o doutor porque, em sua tentativa de intervir, ele foi subitamente bloqueado pelo próprio Gear de Grahf, pousado diante dele de braços cruzados e tão parecido com Weltall.
_ Não vai interferir.
_ Saia do meu caminho!
Weltall-2 avançou com Turbos ativos e atacou seguidamente, vendo seus golpes serem repelidos um após o outro por acenos da mão direita estendida do Gear de bronze que apenas recuava, parecendo mais entediado do que em guarda. Saltando para trás, então, as asas metálicas abertas e pairando no ar, o Gear de Grahf chutou Weltall-2 na altura do peito e o lançou para trás, pousando sobre um pé só.
_ Lento demais.
Fei voltou-se, seu Gear se posicionando para tentar outra investida e tudo o que viu foi a máquina de Grahf sobre ele, rápido demais na defesa e no ataque para que ele acompanhasse.
_ Acabou.

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