(...)
<Elly>
Quando Fei e os outros chegaram à parte mais
profunda de Mahanon, eu estava tomando conta das pessoas recém-mutadas em
Nisan.
Pessoas mutando, uma após a outra.
Como num eterno pesadelo, que fez com que me
perguntasse exatamente quanto mais teríamos que continuar cuidando deles...
Elly afastou-se dos
pacientes, indo até a janela da Sala de Reuniões de Nisan, onde os pacientes
recém-chegados estavam sendo mantidos e tratados, e olhou para fora com ar
cansado. Sua mente e seu corpo estavam divididos naquele momento, e não
conseguia se concentrar.
_ Você está bem?
Voltando-se, Elly
deparou com a preocupada Margie, que tocou sua fronte e olhou bem para seu
rosto.
_ Você não
descansou nem um minuto, não foi? Eu posso cuidar das coisas sozinha por algum
tempo. Por que você não sai para dar uma volta?
_ Obrigada – Elly
meneou a cabeça – Mas eu vou ficar bem. Prefiro me manter ocupada, assim não
vou me preocupar demais com as coisas.
_ Sério?... Ei!
Elly, o que é isso?
_ Isto? – Elly
remexeu em si mesma, seguindo o olhar de Margie até encontrar o crucifixo que
Fei deixara.
_ Posso dar uma
olhada?
Ainda no pescoço de
Elly, Margie examinou o crucifixo atentamente por um longo momento antes de
soltá-lo e concluir:
_ Exatamente como
eu pensava... É o Pingente de Nisan. Mas, como foi que você o conseguiu, Elly?
_ É do Fei. Estou
guardando para ele. Mas... – e Elly apertou o crucifixo entre seus dedos – A
sensação é como se eu sempre o tivesse usado...
_ Hmmm – Margie
afastou-se, voltando para olhar o semblante de Elly sob a luz da janela –
Quando usa isso, você parece ainda mais com Sophia!
_ Mesmo? Hmm – Elly
sorriu – Ficar me elogiando não vai levar a nada, viu? Bom, precisamos nos
apressar e testar o novo supressor de mutação naquelas pessoas ali. Não podemos
deixar que eles mudem ainda mais... Ah!
Enquanto voltava
para o salão principal, Elly sentiu a corrente do crucifixo afrouxar-se de
repente, e o pingente soltou-se, batendo contra o soalho com um retinir
metálico de mau presságio.
_ Oh não...
Aconteceu alguma coisa com Fei e os outros!
E sem dar atenção a
quem quer que fosse, Elly correu para fora.
Tomada por um medo indescritível, eu decidi
ascender até Shevat, que estava estacionada nos céus acima de Nisan. Esperando
por mim havia uma transmissão de Krelian...
Ele me disse que se eu quisesse salvar Fei e os
outros, eu teria que ir até Golgoda.
Krelian queria a mim.
A fim de salvar Fei e meus outros amigos, eu parti
no último Omnigear restante em Shevat.
Meu medo prévio de utilizar essa máquina foi
sobrepujado pelo meu desejo de resgatar as pessoas importantes para mim.
Regulus, era o nome
pelo qual as pessoas de Shevat se referiam àquele Omnigear que tanto lembrava
Vierge. Mais curiosa que o nome era a sensação de imensa familiaridade e
tristeza que parecia permear a cabine do piloto desde o momento em que Elly
tomara seu assento. E, mesmo sem nunca ter pilotado um Omnigear durante toda a
sua vida, a moça sabia exatamente o que fazer e como operá-lo.
A intenção de Elly
era partir sem causar comoção, mas ao captar a aproximação de cinco outros
objetos voadores menores se aproximando em sua retaguarda, ela soube que não
tivera sucesso. E sabia quem a estava seguindo.
_ Está falando
sério quanto a ir sozinha, chefe?!
Renk, em seu
Atirador, seguindo adiante dos outros quatro Cavaleiros da Gebler. Detendo-se
no ar e voltando-se para eles, ela estabeleceu contato entre os comunicadores
de todos.
_ Krelian me disse
para ir sozinha. Não posso me permitir quebrar o acordo. Então, por favor,
fiquem para trás e protejam a todos aqui.
_ Mas é uma
armadilha! – Helmholz avisou.
_ Eu sei.
_ Então, por
quê...? – perguntou Stratski.
_ Se eu não for,
Fei e os outros serão executados com certeza – Elly meneou a cabeça – Krelian
não se importa com mais ninguém, exceto eu.
_ Então, o que te
faz pensar que ele vai manter sua parte na barganha? – quis saber Renk – Você
tem algum modo de saber que definitivamente vai salvar seus amigos fazendo
isso?
_ Não...
_ Tá vendo? Então é
suicídio! – forçou Vance, e Regulus deu as costas a eles.
_ Pode ser. Mas...
Eu cheguei tão longe por causa de Fei e dos outros... Porque eles me aceitaram
como sua amiga.
_ Se você for
embora – Renk perguntou – E quanto a nós...? E quanto a todas as pessoas que
reuniu em Nisan, que está deixando para trás? Todos estão contando com você
para ter apoio espiritual.
_ ... As pessoas em
Nisan ficarão bem – Elly conseguiu sorrir – Eles podem ficar de pé por si
mesmos sem qualquer apoio da minha parte... E isso também é verdade pra vocês
todos, certo?
_ Mas – quis saber
Broyer – Por que você faz tanto por ele...?
_ Eu não sei... Acho
que é a prerrogativa de uma mulher ser egoísta... talvez.
_ Prerrogativa de
uma mulher...? – perguntou Helmholz, confuso.
_ Eu não sou uma
mulher santa de qualquer espécie – Elly meneou a cabeça, sorrindo serenamente –
Sou só uma mulher comum. Eu me zango... Eu choro... Eu rio... Mesmo que às
vezes eu possa me ressentir das pessoas, também sei como amá-las. Amar
multidões inteiras às vezes... e amar apenas uma pessoa pelo resto do tempo.
E ela uniu suas
mãos diante de si e baixou os olhos, seu Gear movendo-se como ela.
_ Eu fico na benção
suprema quando sou abraçada pelo homem que eu amo. Dando o que tenho a ele, e
recebendo o que ele me dá, nós nos tornamos uma só carne... Este é o momento em
que eu fico mais em paz. É simplesmente minha prerrogativa como uma mulher
querer salvar o homem que eu amo!
_ Chefe...
Vance, como todos
os outros, ficara profundamente impressionado com o que Elly dissera, e nenhum
deles encontrava qualquer outra coisa para dizer. Novamente meneando a cabeça,
ela pareceu despertar.
_ Me desculpem...
por dizer coisas tão egoístas. Eu vou agora, e farei tudo o que puder pelos
meus amigos. Então, eu quero que vocês todos façam qualquer coisa que puderem
pelos nossos amigos aqui. Bem... É melhor eu ir andando.
Não havia mais o
que ser dito, ou modo de fazer com que ela mudasse de idéia. Nenhum dos cinco
podia pensar em coisa alguma, nem mesmo Renk, e Elly partiu.
COM OLHOS QUE VIGIAM O MUNDO
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