domingo, 20 de março de 2016

Capítulo Trinta e Sete

Capítulo 37 – Tiro de Precisão
  

No dia seguinte, na sala do conselho do castelo, Bart estava sentado à cabeceira da mesa e cercado pelos retratos dos antigos reis, tendo Citan, Fei, Elly e Chu-Chu sentados na fileira da direita e Sigurd, Billy, Maria e Rico à esquerda, com Maison servindo a todos seu famoso chá. E Bart agradeceu.
_ Graças a vocês, Aveh foi recuperada de Shakhan e da Gebler. Muito obrigado.
Todos inclinaram as cabeças, sorrindo. Alguns tinham comentários pessoais como Rico, que sem dúvida não estava acostumado a tamanha pompa e consideração, mas também ele estava satisfeito por dentro que Bart fosse tão generoso na fortuna quanto tinha sido no infortúnio. E embora ainda fosse o mesmo de sempre, havia algo de mais sério nos modos do rapaz, parecendo-se mais com um rei do que nunca ao prosseguir.
_ Agora, a fim de libertar outras terras de Gebler e Solaris... temos que destruir os outros dois portões e trazer Solaris abaixo. Descobrimos, pelas anotações de Shakhan, que os portões formam as pontas de um triângulo. Uma ponta era o Grande Mausoléu. Duas outras permanecem, mas nós só sabemos onde uma está.
_ Sim, aquela sob o quartel general do ‘Ethos’ – concordou Citan – No entanto...
_ Não estava lá quando seguimos Stone sob o quartel general do ‘Ethos’ – Billy abanou a cabeça – Se está mesmo lá... deve estar enterrado muito abaixo da terra...
_ Então, como vamos destruí-lo? – perguntou Rico.
Por um instante fez-se silêncio e então Chu-Chu opinou:
_ Combinando o poder dos Gears de todo mundo.
_ E o que vamos fazer com os Gears de todo mundo, cavar um buraco gigante no solo? – Rico exasperou-se, e Chu-Chu deu de ombros.
_ O que há de errado com ichu?
A maioria da mesa acenou que não, e Sigurd explicou pacientemente.
_ Isso levaria anos.
_ ... E se nós usássemos o canhão de Shevat... – ponderou Fei, mas Maria rejeitou a idéia de pronto.
_ Se isso funcionasse, já teríamos tentado.
_ Então – Citan considerou, após um curto silêncio – tem que ser algo mais poderoso do que o canhão de Shevat.
_ E não temos uma nave de batalha da Gebler.
Mais silêncio seguiu-se às palavras de Elly, interrompido por Fei.
_ ... Existe alguma arma tão poderosa assim nesse mundo?
_ As naves de batalha da Gebler e o canhão de Shevat são as armas mais poderosas já produzidas pelo homem – Citan esclareceu, e Bart moveu-se inquieto em sua cadeira.
_ ... Mas... parece que me lembro de ver alguma coisa...
_ O quê? – perguntou Sigurd, e Bart continuou perdido em pensamentos, se concentrando muito.
_ Uma arma com poder de fogo igual ao dessas duas... Ah, eu já sei!
Tamanha foi sua exaltação que ele bateu na mesa e derramou o próprio chá, ao que Maison silenciosamente apanhou a xícara caída e a substituiu com outra, devidamente cheia.
_ O Forte Jasper! – Bart exclamou animado – O canhão dele pode derrubar uma montanha! Que tal essa?
Os demais pareceram admirados, começando a seguir a empolgação de Bart, mas Citan abanou a cabeça novamente, chamando a atenção de Bart.
_ Citan, o que foi?
_ Por poderosa que seja a arma do Forte Jasper, como vamos apontá-la para o quartel-general do ‘Ethos’? Para danificar algo tão enterrado sob o solo, teríamos que atacar diretamente de cima. Mas a arma do Jasper...
_ Sim, é claro – Sigurd concordou, e Rico olhou de um para o outro sem querer entender.
_ O quê, estão dizendo que devíamos colocar o Forte Jasper em cima de Babel?
_ Agora que você mencionou – Billy concordou pensativamente – Babel realmente faz sombra sobre o quartel-general deles. Se dispararmos lá de cima, poderia realmente ser possível alcançar tão profundamente sob o solo.
_ Mas como poderíamos mover o Forte Jasper? – quis saber Sigurd, e Elly abanou a cabeça.
_ É impossível. Uma coisa tão pesada...
_ Mas, esperem um pouco! – Fei lembrou – Não havia uma sala de controles em Babel que movia um canhão, ou algo do tipo? Não, esperem... Acho que ela movia o espelho gigante do lado de fora.
Elly e Bart concordaram. Havia mesmo uma sala de controle pouco depois do ponto onde haviam lutado contra Ramsus e Miang, e aquilo parecera sem propósito na ocasião. Mas talvez...
_ Maria, você sabe algo a respeito disso? – perguntou Bart.
_ Nunca ouvi nada sobre essa sala, mas...
_ Mas pode valer a pena tentar – Fei murmurou – Devíamos checar isso.
_ Tá certo...
_ Esperem um momento – Citan interrompeu Bart – Um espelho gigante e um canhão gigante, ambos combinando em ruínas antigas? Deve haver algum propósito nisso...
_ Como o quê?
_ Ah... Resolvi a charada... – Citan murmurou.
_ Charada? – Sigurd perguntou – Mas, que charada?
_ A Torre de Babel e o Forte Jasper são da mesma civilização, uma muito mais avançada do que a nossa própria... As duas estruturas não parecem similares a vocês? Eu acredito que ambas tenham sido construídas com Gears, e com um poderoso adversário em mente.
_ ... É, acho que percebi – Fei concordou com a cabeça – Mas o que isso tudo significa?
_ Significa, que as pessoas que construíram o espelho gigante na Torre de Babel sabiam sobre a arma gigante em Jasper!
_ E...? – perguntou Bart – Aonde você quer chegar?
_ Podemos provavelmente deduzir que o espelho foi construído para refletir algo... Esse algo seria um feixe de energia. Um feixe disparado pela arma de Jasper!
_ Refletir? – Fei perguntou com admiração – Quer dizer que aquele espelho pode refletir um ataque de energia?
_ Sim.
_ Há muito tempo, então – Rico ponderou – Babel e Jasper devem ter estado em guerra.
_ Não exatamente – Citan discordou – O espelho de Babel e a arma de Jasper foram combinados para fazer uma arma.
_ O que cê quer dizer?
_ Mas, aquelas coisas estão tão distantes uma da outra – objetou Elly – Como poderiam ser uma só arma?
_ Bem, os Portões podem estar afastados, mas não são ainda assim um só aparelho?
_ ... Sim, eu entendo o que quer dizer, mas... – Elly concordou, ainda em dúvida, mas Billy a interrompeu.
_ Para que eles utilizaram essa arma, então?
_ Isso, eu não sei dizer.
_ Tanto faz! – Bart se animou, batendo as mãos uma na outra – A questão é, como fazemos pra usar as duas armas como uma só?
_ Aponte a arma do Forte Jasper para o espelho, e dispare. O espelho vai refletir o feixe de energia sobre o Portão.
A surpresa geral na mesa foi resumida num único ‘Putz!’ de Bart, e Maria foi a primeira a perguntar:
_ Você acha que isso vai funcionar?
_ Teoricamente – Citan acenou com a cabeça – Vai requerer alguns ajustes menores...
_ Ajustar o espelho será algo difícil, e tanto quanto tedioso – lembrou Sigurd, mas Citan negou outra vez.
_ Se as duas armas são uma só, então não deve ser tão difícil. Eu espero...
_ Parece perigoso – comentou Rico – Eu acho que foi feito pra refletir disparos de volta no inimigo. Se você estiver errado, o disparo vai voltar e te atingir.
_ Sim – concordou Citan – É por isso que vai ser mais difícil para a equipe do forte. O espelho deve ser atingido com precisão. Precisaremos nos dividir em dois grupos. Um irá disparar a arma enquanto o outro vai ajustar o ângulo do espelho para certificar-se de que o disparo atinja o quartel-general do ‘Ethos’. Já que a idéia foi minha, eu assumirei a parte perigosa de ajustar o espelho.
_ Muito bem, Hyuga, deixaremos que cuide disso – concordou Sigurd – Parece o seu tipo de trabalho.
_ Eu vou também – Fei se prontificou – O Doc pode precisar de ajuda.
_ Pode ser pouca gente se forem só Citan e Fei – Elly comentou – Eu estive lá, então é melhor que eu vá também.
_ Muito bem, então vocês três ficam com Babel – Sigurd concordou – Agora, e quanto à arma?
_ Eu faço isso – Billy se prontificou – Parece ser o meu tipo de trabalho. Não se preocupem, eu não vou errar. Não uso uma pistola há tanto tempo por nada.
_ Bom, provavelmente é melhor eu ir pro Jasper – Bart esfregou as mãos.
_ Eu também! – Chu-Chu se ofereceu – Chu-Chu quer ir também!
_ Então, está decidido – Bart se levantou – Vocês vão com o Citan, Fei e Elly, e apontem o espelho pro quartel-general do ‘Ethos’. Nós vamos mirar o canhão de Jasper no espelho. Todo mundo pra Yggdrasil, e mãos à obra!
Em outra parte, Kahran Ramsus e Miang estavam diante do SOL-9000, e o Ministério Gazel. A imediato olhava para o grande computador tentando esconder seu aborrecimento; os tolos existiam havia mais tempo do que o correto, tendo alcançado um modo de sobreviver muito além de sua verdadeira época. No entanto, continuavam sendo os mesmos de quando ainda possuíam seus verdadeiros corpos, preocupados apenas com a própria existência.
_ Permitir o contato com Shevat...
_ Não apenas Shevat. A derrota em Ignas. A retirada na Thames. E, sim, até Elru, você...
Miang voltou-se. Sabia o que viria, e a expressão de Ramsus deixava claro que também ele sabia. Sua fachada de líder perfeito, de guerreiro invencível, tudo servira muito bem a um propósito por anos, mas a verdade era que sempre houvera uma incerteza em sua vida desde o momento em que adquirira consciência. Um medo profundo que coisa alguma que fizesse poderia mudar, e era agora exposto novamente pelos anciões na máquina.
_ Inútil... Como sempre...
_ Um fracasso desde o início...
_ ‘Lixo’...
_ O q-que foi que acabaram de dizer? – o Comandante olhou para o computador, e o rosto vermelho apenas mostrou descaso.
_ Hmph... É a verdade.
_ E que atitude é essa...? Você devia mostrar alguma lealdade.
_ C-como ousam me ridicularizar me chamando de ‘lixo’? Malditos sejam! Guh... guhaah...!
_ Acalme-se, Comandante! – Miang o amparou gentilmente – Não é bom para você. Ainda não se recuperou da última batalha!
_ Isso não importa – objetou um dos Gazel.
_ Os Cordeiros provavelmente estão a caminho para destruir o Portão. Mas, não desta vez...
_ Eu gostaria de ver seus poderes ‘intrínsecos’ – outro dos ministros comentou com ironia, ao que outro adicionou.
_ Se você não for o ‘lixo’ que achamos que é...
O computador desapareceu, e todos os Gazel com ele. Mas o rosto de Ramsus mostrava que a insegurança deixada por eles não desapareceria tão facilmente. Não importava o quanto se esforçasse, quanta força demonstrasse, sempre era derrotado. Sempre perdia...
“... para ele!!!”
_ Miang... – ele murmurou, o olhar ainda perdido no nada sem se voltar para sua imediato – Lance a nave... Acabar com ele...
Voltou-se. Miang não conseguiu conter totalmente um estremecimento de sua outra metade, a que se preocupava mais com Ramsus. Ele estava caindo aos pedaços. Lentamente, mas estava piorando a cada encontro. A verdade era demasiado cruel para ele.
_ Dessa vez... Irei eu mesmo... e eu vou fazê-lo cair...
_ Comandante, você não pode sair desse jeito!
_ Comandante, solicito permissão para lidar com a situação.
Miang e Ramsus voltaram-se. A voz era de Kelvena, e ela não estava sozinha. Suas colegas Dominia, Tolone e Seraphita estavam com ela, e sua intenção era óbvia: pretendiam enfrentar o inimigo de Ramsus em seu lugar.
_ Todas vocês?
_ Faremos o nosso melhor para cumprir com suas expectativas – Dominia perfilou-se diante de Ramsus como se Miang não estivesse lá.
_ Comandante, por favor – Kelvena tornou a falar – Você deve receber atenção médica...
_ Para fazer de nossos ideais uma realidade – Dominia concordou.
Ramsus não sabia bem o que dizer. Era o seu dever, sua obrigação provar sua superioridade sobre seu odiado rival... mas sabia que Wyvern ainda não fora totalmente refeito; ele próprio não se refizera. E antes que pudesse responder, Kelvena também se perfilou.
_ Bem então, estamos de saída.

  

BROKEN MIRROR

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