sábado, 27 de maio de 2017

Capítulo Sessenta e Quatro

Capítulo 64 – Alfa e Ômega



_ Tá legal, e daqui pra onde? – perguntou Bart, olhando ao redor desconfiado. – Alguém tá vendo alguma placa ou coisa do tipo?
         O corredor onde os Omnigears e Chu-Chu estavam era iluminado por trilhas de neon que seguiam pelas paredes, piso e teto, como se fossem uma versão artificial de vasos sanguíneos. Havia painéis holográficos mostrando o terreno lá fora em diferentes pontos de vista, embora os sinais que surgiam na tela não fossem números ou letras de qualquer idioma conhecido para eles. E a voz de Citan se fez ouvir.
         _ Sintonizem seus radares sônicos, todos... Devemos ter um diagrama em segundos... Ah, aí está!
         Nos painéis de todos os Gears surgiu um gráfico mostrando um padrão de túneis interligados formando colméias, e enquanto observavam eles foram instruídos pelo doutor:
         _ As diferenças de cor, mais clara ou escura, devem indicar diferenças de nível, pontos mais elevados ou abaixo de nossa atual posição. Lembrem-se, estamos todos procurando uma estrutura central, algo diferente do andar em que nos encontramos, onde deve haver um duto nos conduzindo para as profundezas de Deus.
         _ Nos atemos ao plano original, então? – Rico bateu os punhos.
         _ É nossa melhor opção – Citan respondeu. – Aqui dentro, os Seraph agirão como células defensivas. Nestes corredores, grupos numerosos serão fáceis de cercar e imobilizar; não devemos seguir todos juntos.
         _ Movimento! – Maria avisou, enquanto o radar de Seibzehn acusava inúmeras formas em aproximação. – Como você previu, Citan, estão vindo por vários corredores; vão nos cercar em menos de um minuto.
         _ Espalhar! – ordenou Citan. – Todos os grupos! E tenham cuidado.
         _ Nos vemos em breve, doutor – Fei murmurou. – Emeralda, vamos!
         Xenogears e Crescens seguiram rumo nordeste, enquanto os demais se espalharam em direções diversas; a idéia era que os Gears e Chu-Chu complementassem os grupos combinando maior poder ofensivo, resistência ou poder ether. Fei conduziu seu Gear depressa, procurando alcançar a saída da rede de túneis e também abrir caminho entre os Seraph, se necessário, e depararam com um Gear cintilante com braços fortes e sem pernas, e outro que lembrava um centauro usando uma armadura, portando uma lança longa. Fei se lembrava das batalhas anteriores, muito antes da destruição da Merkava, e dos Sete Atributos dos Seraph; aquele sem pernas devia ser um Seraph Terra e o centauro, um Seraph Força.
         O centauro investiu com a lança e Xenogears agarrou-se a ela, evitando a perfuração e sendo arrastado para trás enquanto o enfrentava de igual para igual. Fei teve um vislumbre de Crescens sendo atacada enquanto o Seraph Terra fazia seu braço direito crescer mais e então investindo com força explosiva, mas seu próprio duelo estava exigindo atenção no momento.
         Empurrado até uma parede atrás de si, Xenogears deteve a investida do Força e manteve-se travado, Gear e Seraph empurrando um ao outro por um momento tenso. E Fei percebeu o que o outro ia fazer quando as patas dianteiras do centauro ergueram-se.
         O Seraph Força empurrou e fraquejou, deixando-se virar de costas para que suas patas traseiras ficassem em posição para atacar com um coice, como um cavalo. Mas Fei tinha previsto o movimento e Xenogears desviou para esquerda, atacando com um Raigeki sem contato, abrindo a guarda do oponente e lançando-o pelo corredor com um pulso intenso de chi e energia de reação.
         Aquilo não parecia o bastante para deter um Seraph, mas obviamente tinha causado algum dano. Xenogears assumiu uma postura ofensiva e ia avançar quando Crescens surgiu entre os dois e abriu suas asas na direção do Seraph caído, e Emeralda chamou:
         _ Anemo Darm!
         Uma erupção de ventos e eletricidade, breve e terrível, explodiu ao redor do Seraph tombado e os danos causados pelo ataque de Xenogears fizeram sua parte, tornando o ataque de nanomáquinas de Emeralda em algo letal. Admirado, Fei viu Crescens girar em sua direção e Emeralda o apressou:
         _ Anda Fei, o tempo está acabando! Precisamos ir depressa!
         _ Emeralda, como você...
         _ Os Seraph de elementos são fracos contra o elemento oposto – ela explicou, enquanto Crescens encontrava a saída dos corredores em colméia. – Depois de um Anemo Darm, aquele Terra estava quase acabado. Mas tem mais deles vindo, vamos poder lutar melhor num lugar aberto.
         Xenogears e Crescens avançaram pelo corredor, tão depressa quanto a estrutura irregular permitia. Embora artificiais, os canais no interior de Deus não tinham regularidade e era comum ter que saltar módulos ou descer a depressões no caminho que, aparentemente, não tinham qualquer função discernível. À distância, quando pareciam na iminência de alcançar a saída do corredor, dois Seraph com asas triangulares, semelhantes a pequenos demônios, começaram a disparar ether de fogo na direção deles.
         _ Seraph de Fogo se aproximando! – avisou Emeralda.
         _ Também podemos atacar à distância – e Xenogears uniu as mãos – Radiância!
         _ Aqua Aroum!
         Uma esfera de chi formou-se no caminho do Seraph à direita, parecendo atrair energia à sua volta e crescer para então explodir, lançando o oponente de volta pelo corredor. E à esquerda, o Seraph foi coberto por uma cascata de água gelada vinda de parte alguma, que se cristalizou e congelou instantaneamente a blindagem do alvo, fazendo-o explodir de dentro para fora.
         _ Mais deles chegando! – Emeralda alertou, os sensores de Crescens disparando – Grupos em aproximação por quase todas as direções; não podemos com tantos de uma só vez!
         _ Isso não vai acabar nunca – Fei murmurou, começando a lamentar a idéia de separar o grupo – Tudo bem, estamos próximos de uma área maior, podemos lutar ou fugir se chegarmos até lá. Vamos!
         Os dois se voltaram e seguiram adiante, até a saída do corredor em colméia onde tinham lutado. A trilha continuava em passarelas abaixo do nível do corredor e Crescens e Xenogears saltaram para chegar lá. Fei pretendia afastar-se tanto quanto possível para escapar dos perseguidores ou, ao menos, colocar tanta distância quanto possível entre eles, mas o novo ambiente onde haviam chegado o distraiu por um momento.
         _ Onde... estamos, agora?
         A passarela onde se encontravam era longa, detendo-se num pilar circular mais adiante de onde outra passagem, para esquerda, se desenvolvia. Não havia qualquer tipo de parede ou barreira lateral nas bordas das passarelas, até onde era possível ver, e ao se aproximar do pilar de união, Fei e Emeralda descobriram um elevador que conduzia para um nível inferior da passarela. Acima do pilar, havia uma espécie de dial.
         _ Que tipo de estrutura é essa...?
         _ Sem sinal de Seraph – Emeralda disse, estranhando a súbita tranqüilidade nos sensores – E, é estranho... Sinto algo de diferente neste lugar.
         _ Diferente, como?
         _ Não sei explicar – Crescens ergueu a cabeça, parecendo vasculhar toda a extensão da área – É ilógico, mas... Mas parece claro que eles não virão até aqui. Não podem vir.
         _ Não podem...? Mas, se eles são a defesa interna de Deus...!
         _ Não podem vir até aqui – a moça repetiu, parecendo procurar por um teto – Não sei explicar, mas é a verdade. Os Seraph não têm acesso a essa câmara.
         Fei perguntaria mais a respeito, quando a voz familiar de Citan se fez ouvir nos comunicadores:
         _ ... Repetindo, alguém na escuta? Podem nos ouvir?
         _ Doc! – Fei respondeu, e o rosto do doutor apareceu no painel – Fei na escuta. Emeralda e eu chegamos a um lugar diferente, fora dos corredores. Há passarelas e pilares, e aparentemente nem teto nem piso inferior. E os Seraph não estão nos perseguindo.
         _ Parece um bocado com onde chegamos – veio a voz de Rico – Mas não vejo vocês em lugar nenhum.
         _ Rico! Vocês estão bem?
         _ Tudo em ordem por aqui – ele parecia estar rindo – Deveriam só ver; Chu-Chu está quase tão blindada quanto o meu Stier.
         _ Hein? – veio a voz de Maria, fazendo par com Billy – Do que está falando?
         _ Lá estou eu, sendo bombardeado por um ataque Seraph quando Chu-Chu aparece do nada, usando a blindagem de um deles como escudo. Eu nunca tinha visto nada parecido; esses Seraph têm um ataque que parece uma auréola, e descarrega muita energia. Mas resolvi adaptar a idéia da Chu-Chu, e tem funcionado bem contra as armas deles. Mas deixem pra lá; que tipo de lugar é esse? Citan?
         _ Só um instante, estou aguardando o gráfico do radar sônico...
         Por um instante houve silêncio, enquanto viam o mesmo diagrama formar-se em todos os painéis. Fei e Emeralda descobriram estar em um dos extremos de uma câmara ampla repleta de passarelas separadas em segmentos. Os sinais dos Gears dos amigos vinham de pontos diferentes do mesmo salão, e as passarelas formavam um padrão curioso de círculos e hastes conectadas.
         _ ... Posso estar enganado, mas... parece o ‘Caminho de Sephirot’ – murmurou Billy, analisando o padrão das passagens – Embora algumas das trilhas não pareçam estar corretas.
         _ Tá – Bart perguntou – E o que é esse negócio aí?
         _ Na crença antiga, a fórmula para a transformação do ‘desejo’ em ‘realidade material’, posto de forma simples – Citan respondeu – Imagino que seja a ‘estrutura’ que mencionei anteriormente; a passagem para o núcleo de Deus encontra-se nesta câmara. Provavelmente no centro.
         _ Ichu devia estar melhor protegidchu – Chu-Chu comentou, olhando ao redor como se esperasse ver uma horda de Seraph emergir das paredes a qualquer momento – É uma parte importante, não é?
         _ Emeralda está dizendo que os Seraph não podem vir, que não têm acesso a essa câmara – Fei lembrou – Doc, isso faz algum sentido pra você?
         _ Talvez – Citan murmurou – Talvez essa estrutura seja um setor vital, um dos condutores principais de energia do complexo todo. Não seria sensato permitir batalhas aqui dentro, se fosse esse o caso.
         _ Mais alguém sentiu que tivemos pouca oposição? – Maria perguntou, olhando preocupada para a passagem de onde viera – Se essa área é tão importante, deveria ter sido melhor defendida, não?
         _ Estão se movendo – Emeralda murmurou, enquanto Crescens continuava a olhar ao redor de si mesma – Para outra parte. Por isso não estão se concentrando tanto em nós.
         _ Que seja, tanto melhor! – Bart exclamou, impaciente – Alguém tem algo contra, ou podemos ir direto pra a área central? Não quero ficar aqui dentro o dia inteiro.
         _ Impaciente como sempre, jovem – Citan murmurou, completando a ligação entre os painéis – Mas dessa vez pode ter razão; estou com um mau pressentimento. Sigam todos pela rota demarcada em seus radares; deve nos levar mais depressa ao ponto central.
         Os grupos de Gears convergiram pelo caminho que Citan marcara pelas passarelas e pilares, por vezes saltando a distância entre elas até reencontrarem-se ao redor do centro da câmara que, como deduzira o catedrático, escondia um poço profundo.
         _ Faz lembrar daquela ‘traquéia’ no Terceiro Portão – Rico murmurou.
         _ Verdade – Bart deu apoio. – E nesse caso, vai você na frente, Fei. Pra mim, uma vez já deu. 

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