domingo, 14 de agosto de 2016

Capítulo Quarenta e Sete

Capítulo 47 – Sonhos


<Fei>

Sonhando...

Eu estava sonhando...
Talvez tenha sido apenas uma memória há muito esquecida...

Um sonho...
Uma memória...

Coisas lembradas quando a pessoa está adormecida...
Coisas esquecidas quando a pessoa está acordada...

Onde as camadas mais profundas das memórias
Se tornam as camadas mais expostas dos sonhos da pessoa...

Quais são realidade?
Quais são ilusões?
A pessoa não sabe dizer até despertar...

Ou talvez elas sejam,
Ao mesmo tempo, ambas as coisas.
Verdade e ficção...

Uma vasta nebulosa...
Sem limite algum...

Um vazio equivalente
À minha própria existência...

Eu sonhei um sonho tal como esse...

Um longo...
Sonho sem fim...

_ ... La... Can...

Uma janela imensa aberta na parede. Uma janela, em forma de um crucifixo cristalino muito familiar. A luz do sol penetrava por ela em sua plena majestade naquele horário, fazendo parecer que a figura representada na parede era feita de luz.
_ Lacan, o que houve?
A sala estava melhor focalizada agora. Havia um castiçal pendurado, e aquele aposento parecia tremendamente antiquado para ele.
_ Lacan?

Naquele sonho, eu era chamado ‘Lacan’...
Eu era um artista...
Eu tinha me tornado reconhecido como um artista talentoso e agora estava pintando o retrato da Madre de Nisan, ‘Sophia’...

Havia um grande retrato diante dele, e era ele quem pintava. A luz da janela em forma de crucifixo na parede se desenhava perfeitamente no centro do tapete vermelho quadrado no chão, e Sophia estava sentada numa cadeira, olhando para ele com ansiedade e alguma preocupação, e ele soube que deveria responder...
_ Hã... Não, não é nada.
O olhar dela era mais expressivo do que qualquer coisa que ela pudesse ter dito. Não acreditava nele. Mas era gentil demais para dizer tal coisa.
_ ... Vamos encerrar por hoje. Você parece um tanto cansado... Está mesmo bem?
_ Eu estou bem, obrigado. Mas, agora que mencionou...
Voltou sua atenção para ela. Tinha uma razão boa o bastante agora.
_ Que tal se encerrarmos por hoje? Deve ser você quem está cansada, ‘Madre Sophia’?
_ Já chega disso – ela baixou os olhos, e parecia um pouco aborrecida – Quando estivermos só nós dois, sozinhos, quer parar de me chamar assim?
Ela ergueu o rosto e, como sempre, não havia qualquer desagrado ali. Apenas a gentileza e a tristeza de sempre, que faziam com que ele deixasse de respirar por um momento.
_ Me chame apenas de ‘Elly’... Como você costumava fazer nos velhos tempos... E não tem que ser tão rígido e formal.
_ Ah, er... Está certo. Muito bem então... Não, digo...
Ele se sentia um idiota. Mas conseguiu sorrir quando tornou a olhar para ela.
_ É, vamos fazer isso então, ‘Elly’!

‘Elly’...

Era um tempo em que ela respondia por tal nome.
Um tempo em que tínhamos nos reencontrado...
Um tempo em que nada importava entre nós...

Era melhor daquele jeito...
Só duas pessoas, juntas...

Seria melhor que tivesse ficado daquele jeito...

_ Acho que eu podia voltar pra casa – ele suspirou, se afastando do quadro e ficando sob a luz da janela para então erguer a cabeça – Só por uma semana, mais ou menos.
_ Ah, mesmo? Qual o problema?
_ ... Fiquei sem tinta – ele respondeu, olhando para ela e ainda um tanto sem jeito – Então, eu... er, preciso ir fazer mais um pouco.
_ Vai andar toda aquela distância... só pra fazer isso?
_ Se eu não for até lá – ele acenou com a cabeça, parecendo muito sério – não vou conseguir obter os pigmentos certos.
_ Ah – ela ficou de pé – Então, que tal se eu pedir a um dos meus seguidores, os ‘Kahal’, para levarem você em um dos nossos Gears? Você vai chegar mais rápido e vai estar muito mais seguro.

Eu menti...
Não estava sem tinta.
Só temia que pudesse acabar o retrato.
Eu queria continuar pintando... para sempre.

Por isso eu queria ganhar tempo...
Ela provavelmente me desprezaria por isso...
Não, ela provavelmente só me daria o seu costumeiro sorriso.
Ela era esse tipo de mulher...

Sonhos...

Uma vida de um homem chamado Lacan...
E as vidas de incontáveis outros homens...

Nada além de sonhos...

Agora que estou acordado,
Aquele número incontável de longos sonhos de partir o coração são quase absolutamente impossíveis de se lembrar...

Naqueles sonhos,
Eu amava uma mulher...
Não importando o dia,
Não importando a era...
Isso não mudava...

Nem o nome dela...

'Elly'


Aquele sonho me mudou...
Aquele sonho foi o catalisador para que eu resolvesse qual era o meu propósito.

Eu acho que sei agora...
O que tenho que fazer...

Aquela memória longa, tão longa
De um sonho...
Talvez fosse a memória
Da minha alma...

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