Capítulo 47 – Sonhos
<Fei>
Sonhando...
Eu estava sonhando...
Talvez tenha sido apenas uma
memória há muito esquecida...
Um sonho...
Uma memória...
Coisas lembradas quando a
pessoa está adormecida...
Coisas esquecidas quando a
pessoa está acordada...
Onde as camadas mais profundas
das memórias
Se tornam as camadas mais
expostas dos sonhos da pessoa...
Quais são realidade?
Quais são ilusões?
A pessoa não sabe dizer até
despertar...
Ou talvez elas sejam,
Ao mesmo tempo, ambas as
coisas.
Verdade e ficção...
Uma vasta nebulosa...
Sem limite algum...
Um vazio equivalente
À minha própria existência...
Eu sonhei um sonho tal como
esse...
Um longo...
Sonho sem fim...
_ ... La... Can...
Uma janela imensa aberta na
parede. Uma janela, em forma de um crucifixo cristalino muito familiar. A luz
do sol penetrava por ela em sua plena majestade naquele horário, fazendo
parecer que a figura representada na parede era feita de luz.
_ Lacan, o que houve?
A sala estava melhor focalizada
agora. Havia um castiçal pendurado, e aquele aposento parecia tremendamente
antiquado para ele.
_ Lacan?
Naquele sonho, eu era chamado
‘Lacan’...
Eu era um artista...
Eu tinha me tornado
reconhecido como um artista talentoso e agora estava pintando o retrato da
Madre de Nisan, ‘Sophia’...
Havia um grande retrato diante
dele, e era ele quem pintava. A luz da janela em forma de crucifixo na parede
se desenhava perfeitamente no centro do tapete vermelho quadrado no chão, e
Sophia estava sentada numa cadeira, olhando para ele com ansiedade e alguma
preocupação, e ele soube que deveria responder...
_ Hã... Não, não é nada.
O olhar dela era mais expressivo
do que qualquer coisa que ela pudesse ter dito. Não acreditava nele. Mas era
gentil demais para dizer tal coisa.
_ ... Vamos encerrar por hoje.
Você parece um tanto cansado... Está mesmo bem?
_ Eu estou bem, obrigado. Mas,
agora que mencionou...
Voltou sua atenção para ela.
Tinha uma razão boa o bastante agora.
_ Que tal se encerrarmos por
hoje? Deve ser você quem está cansada, ‘Madre Sophia’?
_ Já chega disso – ela baixou os
olhos, e parecia um pouco aborrecida – Quando estivermos só nós dois, sozinhos,
quer parar de me chamar assim?
Ela ergueu o rosto e, como
sempre, não havia qualquer desagrado ali. Apenas a gentileza e a tristeza de
sempre, que faziam com que ele deixasse de respirar por um momento.
_ Me chame apenas de ‘Elly’...
Como você costumava fazer nos velhos tempos... E não tem que ser tão rígido e
formal.
_ Ah, er... Está certo. Muito bem
então... Não, digo...
Ele se sentia um idiota. Mas
conseguiu sorrir quando tornou a olhar para ela.
_ É, vamos fazer isso então,
‘Elly’!
‘Elly’...
Era um tempo em que ela
respondia por tal nome.
Um tempo em que tínhamos nos
reencontrado...
Um tempo em que nada importava
entre nós...
Era melhor daquele jeito...
Só duas pessoas, juntas...
Seria melhor que tivesse
ficado daquele jeito...
_ Acho que eu podia voltar pra
casa – ele suspirou, se afastando do quadro e ficando sob a luz da janela para
então erguer a cabeça – Só por uma semana, mais ou menos.
_ Ah, mesmo? Qual o problema?
_ ... Fiquei sem tinta – ele
respondeu, olhando para ela e ainda um tanto sem jeito – Então, eu... er,
preciso ir fazer mais um pouco.
_ Vai andar toda aquela
distância... só pra fazer isso?
_ Se eu não for até lá – ele
acenou com a cabeça, parecendo muito sério – não vou conseguir obter os
pigmentos certos.
_ Ah – ela ficou de pé – Então,
que tal se eu pedir a um dos meus seguidores, os ‘Kahal’, para levarem você em
um dos nossos Gears? Você vai chegar mais rápido e vai estar muito mais seguro.
Eu menti...
Não estava sem tinta.
Só temia que pudesse acabar o
retrato.
Eu queria continuar
pintando... para sempre.
Por isso eu queria ganhar
tempo...
Ela provavelmente me
desprezaria por isso...
Não, ela provavelmente só me
daria o seu costumeiro sorriso.
Ela era esse tipo de mulher...
Sonhos...
Uma vida de um homem chamado
Lacan...
E as vidas de incontáveis
outros homens...
Nada além de sonhos...
Agora que estou acordado,
Aquele número incontável de longos
sonhos de partir o coração são quase absolutamente impossíveis de se lembrar...
Naqueles sonhos,
Eu amava uma mulher...
Não importando o dia,
Não importando a era...
Isso não mudava...
Nem o nome dela...
'Elly'
Aquele sonho me mudou...
Aquele sonho foi o catalisador
para que eu resolvesse qual era o meu propósito.
Eu acho que sei agora...
O que tenho que fazer...
Aquela memória longa, tão
longa
De um sonho...
Talvez fosse a memória
Da minha alma...
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