sábado, 6 de agosto de 2016

Capítulo Quarenta e Seis Ponto Três

(...)

_ Este é o segundo advento de Lacan... Não, do sombrio! É o segundo advento de Grahf!
Citan tivera que repetir sua explicação diante do conselho de Shevat e, ao contrário da Rainha Zephyr, eles não aceitaram as notícias pacificamente. A própria Rainha, na verdade, parecia contrariada com a reação de seus conselheiros, mas não podia culpá-los. Ela entendia a razão dos temores deles.
_ Devemos detê-lo e selá-lo; caso contrário, não sabemos o que pode ocorrer!
_ Cessem esta discussão imediatamente! – ordenou Zephyr – Podemos ao menos aguardar que o Sábio retorne antes de tomarmos qualquer resolução?
_ Embora ele seja um tático, por que dá tanta importância a ele? – outro conselheiro questionou – Eu fiquei em silêncio esse tempo todo desde a morte de Khan, já que ele foi recrutado diretamente pela Rainha. No entanto, eu questiono a razão pela qual você usaria tal pessoa, cujos princípios ignoram qualquer entendimento de sacrifício?
_ Bem – Zephyr hesitou – É por que...
_ Precisa olhar para a realidade! – o conselheiro enfatizou – A existência daquele poder!
_ Peraí, peraí! – Bart interrompeu, olhando para Zephyr e para o conselheiro – Que história é essa de segundo advento do Grahf?
_ O Dia do Colapso foi causado por Grahf. Grahf manipulou Diabolos para que destruíssem este mundo. E aquele poder no interior de Id é semelhante até demais ao de Grahf. Não podemos permitir que tal ameaça seja libertada!
_ Deveríamos congelá-lo imediatamente em carbonita – outro conselheiro tornou – Caso contrário, podemos esperar pelo pior a qualquer momento.
_ Não! – Elly se intrometeu – Mas, o Fei atual não é o Fei verdadeiro? Se é esse o caso, então por quê...
_ Mas ele ainda é perigoso até demais! – o conselheiro repetiu – Pense nisso. Ele, de mãos nuas, aniquilou a capital de Solaris! Não podemos colocá-lo em liberdade!
_ Não só isso – Jessie replicou, a cabeça baixa e os olhos ocultos – No passado, houve incontáveis outras cidades que foram destruídas por Id. Não conheço as intenções deles, mas Grahf e Krelian sempre estiveram envolvidos de algum modo. E um daqueles incidentes foi Elru. Era a terra natal de Dominia. A purga de Solaris sobre a cidade rebelde de Elru foi feita através do uso de Id. Pra testar as capacidades dele. Como resultado, não apenas Elru foi arrasada, todas as unidades de Solaris presentes foram eliminadas.
_ Ele é responsável pelo que houve com a Ygg – Bart murmurou, também de cabeça baixa, seu único olho oculto sob os cabelos – E com a gente dentro...
_ Então, foi ele quem matou meus subordinados nos esgotos... – Rico murmurou, também parecendo sombrio. E isso foi mais do que Elly pôde suportar em silêncio.
_ O que é que há com todos vocês? – ela olhou de um para outro, inconformada – Nós não devíamos ser os amigos dele?
_ ... Parece que todos os demais estão de acordo... – Citan olhou para todos, ignorando Elly – Os riscos são grandes demais.
_ Citan?! – Elly não podia acreditar no que estava ouvindo – Não... Isso é terrível!
_ Está decidido então. Programemos o congelamento dele em carbono para amanhã.
Zephyr manteve-se em silêncio, olhando para as próprias mãos e de cabeça baixa. Ser a Rainha dava a ela autoridade, e muita responsabilidade também. Responsabilidade que, frequentemente, passava sobre seus desejos ou opiniões pessoais. E ela sozinha não poderia contrariar a maioria.

_ Eu ouvi a respeito pelo Doc. Id... Quem teria pensado que, dentro de mim, tem um outro eu...
Fei estava no bloco de prisioneiros de Shevat, preso numa jaula semelhante a uma gaiola. Elly estava com ele, a única de seus amigos ali e parecendo não poder se importar menos com o que todos os demais temiam.
_ Mas você é o mesmo Fei que eu sempre conheci. Você voltou a si. Por favor, não fique obcecado com isso.
_ Eles dizem que eu sou o segundo advento de Grahf – Fei comentou tentando parecer casual, embora não erguesse os olhos para Elly – Aquele que destruiu tudo neste mundo... Parece que Grahf costumava ser um habitante da superfície chamado Lacan...
_ Eles não estão pensando no que estão dizendo! – Elly retrucou – Só estão confusos por causa do seu poder!
_ Grahf me chamou de ‘aquele que destruiria deus’. De certa forma, eu agora consigo entender o que ele queria dizer. Embora o meu poder como Id não seja bom o bastante, se ele tem a mesma qualidade que o de Grahf... Eu...
_ Vamos fugir.
Fei ergueu a cabeça. Elly não dissera aquilo à toa, muito pelo contrário; havia propósito no olhar dela para ele, claro demais apesar da meia luz.
_ Se Grahf ou a guerra trazem Id, vamos para um lugar onde nenhuma guerra exista.
_ ... Se fizesse isso, você estaria...
_ Está tudo bem – Elly desviou os olhos – Eu também não tenho um lugar para o qual voltar...
Fei sorriu com tristeza, considerando a idéia por um momento. E então deu as costas a Elly, sacudindo a cabeça.
_ Obrigado Elly, mas não. Mesmo que eu abandonasse o campo de batalha, não há garantia alguma de que Id nunca mais vai aparecer. Além do mais... Eu tentei matar você. Está tudo bem pra você, levando isso em conta?
_ Então, você poderia ter me matado se quisesse de verdade, certo? – Elly insistiu junto às grades – O seu outro lado, o poder de Id, não é nada parecido com aquilo. Mas ainda assim você não foi adiante. Você soube quando bastava. Não é porque a sua vontade estava em ação?
Fei acenou com a cabeça. Não sabia. Ele queria acreditar no que ela estava dizendo, mas...
_ Se você fosse controlado por Id e todos à sua volta se tornassem seus inimigos... Eu ainda ficaria ao seu lado. Por que...
Fei olhou para Elly, que tinha seus olhos baixos. Ela suspirou profundamente e então olhou para ele, e o entendimento entre os dois quase dispensava palavras.
_ Por que... Eu sei que é muito solitário quando se está sem ninguém.

E ele quase podia ouvir aquelas mesmas palavras, ditas por alguém muito parecida com Elly. Mesmo o nome dela... Não, ele não conseguia se lembrar. Mas havia um crucifixo prateado cintilando na luz, e a mão estendida dela... Havia cabelos tão parecidos com os dela, mas diferentes de algum modo, e aquele estranho ar de serenidade, que ele já conhecia de algum lugar. Serenidade e tristeza. Onde foi que ele vira...?

_ Eu vou abrir agora. Vamos, Fei.
Fei voltou-se. Não conseguia lembrar bem o que passara por sua mente naquele momento, mas... Elly. Tinha algo a ver com ela.
_ Elly...

Weltall estava intacto no hangar. Retornara à sua forma costumeira, assim como seu piloto, sem qualquer marca da luta pela qual passara. Fei e Elly tinham conseguido alcançar o hangar sem atrair atenção sobre si mesmos, e sem palavra, concordaram. Era o melhor momento.
_ Eu achei mesmo que já era hora de vocês virem...
Citan se aproximou por trás deles calmamente, e Elly ficou em guarda entre ele e Fei.
_ Não adianta tentar me deter. Mesmo que seja você, se ficar no meu caminho, eu não tenho escolha a não ser...!
E ergueu o bastão. Citan meramente acenou com a cabeça em negativa.
_ Isso não é maneira de uma dama falar. Eu só vim até aqui para ver vocês partirem.
Apesar da penumbra do hangar, a expressão de dúvida de Elly foi clara, e Citan ajeitou seus óculos.
_ Eu reabasteci Weltall. Podem partir a qualquer momento.
_ ... Citan...
_ Mas, Elly, você não pode usar seu Gear, já que Vierge está em reparos.
_ O quê? Então, o que eu vou...
_ Sabe, há aquele Omnigear... E se você o pegasse emprestado...
_ De jeito nenhum – Fei acenou em negativa – Eu não posso levar propriedade de Shevat sem permissão...
_ Elly é a única pessoa apropriada para o Gear – mas Citan reparou que Elly tinha os olhos baixos, embora não dissesse nada – Ninguém mais pode operá-lo.
_ Não... Nunca!! – Elly deu as costas a Citan, sacudindo a cabeça numa negativa enfática – Eu não vou subir nele, nunca!!
_ Elly...? – Fei se aproximou dela, preocupado – O que foi?
_ Eu tenho tanto medo... – a voz dela tremia, apesar do apoio da mão de Fei em seu ombro – É por isso que... Eu nunca vou querer pilotar aquilo!!
_ Isso pode ser um problema... – murmurou Citan, e alguém atrás dele perguntou:
_ E se eu pilotasse ele com você?
Fei e Elly se voltaram. Margie, Bart e Billy estavam logo atrás de Citan, todos parecendo bem a par do que acontecia e em nada dispostos a interferir.
_ Pessoal...?
_ Fei... Me desculpa – Bart veio adiante, e baixou a cabeça. Não tinha esquecido do acontecido no deserto, mas também lembrava que fora ele quem insistira com Fei para se juntar a eles em sua luta. Se o que Citan dissera era verdade, ele também era em parte responsável pelas aparições de Id. Mais ainda, Fei era seu amigo; o verdadeiro Fei ao menos. E Billy, atrás dele, também inclinou a cabeça.
_ Peço desculpas.
Ele podia lembrar-se de Fei lutando para proteger Shevat quando chegaram lá pela primeira vez, e lhe parecia injusto que o povo dali se esquecesse daquilo tão rápido. Era verdade que o poder de Id assustava; ele próprio o vira desviando de tiros. Mas, aquele não era Fei.
_ Nos desculpe, Fei... – Margie pediu, também baixando a cabeça. Ela se lembrava de Fei tendo aparecido justamente quando o resgate que Bart planejara parecia fadado a fracassar, e de como ele fizera toda a diferença. Ela não teria escapado de Aveh sem a ajuda de Fei, que Bart considerava seu melhor amigo, e ela era grata a ele por isso. E Fei sorriu, tornando a acenar que não.
_ Não... Muito obrigado, a todos vocês.
_ Bem, eu sei que vocês odeiam partir – Citan interrompeu – Mas deveríamos fazer esta partida antes que chegue o amanhecer. Eu fiz algum trabalho no radar, então deve funcionar bem!

_ ... Eles se foram...
Citan, Margie, Bart e Billy estavam de pé no hangar, ainda ouvindo à distância o som dos jatos de Weltall, onde Fei e Elly tinham partido juntos. Cada um deles tinha, pessoalmente, a nítida impressão de que o casal não conseguiria encontrar um local afastado o bastante de Grahf, batalhas ou Id, mas apenas podiam esperar. O clima era pesado, no entanto.
_ Fei... Onde?
Os quatro olharam ao redor. Emeralda aproximou-se deles e deteve-se na grade, olhando para onde deveria estar Weltall. E Citan respondeu:
_ Eles foram para longe.
_ Eu... Vou... – a menininha murmurou, olhando para o hangar vazio.

Em outro lugar, o Ministério Gazel descobria os detalhes do ocorrido. Tinham conseguido deixar Solaris antes que a calamidade se abatesse, mas agora tinham perdido seu lar. E não estavam muito satisfeitos com isso, ou com o modo como os eventos tinham se precipitado.
_ Cain... Fazendo uma combinação ridícula com Hyuga...
_ Ele certamente tem suas deficiências, comparado à nossa existência digitalizada, que nos permite usar um nível mais alto de pensamento lógico...
_ Ele está restrito por sua forma humana.
_ De qualquer modo – outro ministro lembrou, voltando ao assunto principal – Com apenas uma máquina, ele aniquilou Etrenank... Seus poderes não devem ser subestimados...
_ Nós já estamos com pouco tempo. A Chave, usem a Chave...
_ Mesmo vocês estão começando a sentir a pressão?
A atenção do Ministério voltou-se para Krelian, na costumeira plataforma que ocupava quando falava com eles. Então, já concluíra seus afazeres.
_ Krelian... Qual é a situação de Cain?
_ O tratamento de extensão da vida de costume – Krelian deu de ombros – Ele vai resistir... por mais algum tempo.
_ Significa que podemos não conseguir em tempo...?
_ Eu não saberia – Krelian respondeu – Vocês falaram de usar a Chave. Têm mesmo certeza de que ele pode ser eliminado?
_ Isso nós não sabemos. Você sabe quem ele é...
_ Se ele for o ‘contato’, há uma possibilidade de que ele possa não transmigrar.
_ É um organismo composto de múltiplas gerações. É uma questão de probabilidade.
_ Isso não quer dizer que possamos simplesmente ficar inativos.
_ Sim. Neste ritmo, estamos fadados a cometer o mesmo engano. Mas nós não podemos fracassar uma segunda vez.
_ Bem, não se preocupem – Krelian retomou – Eu enviei Ramsus para lidar com ele.
_ O que um fracassado como ele pode fazer?
_ Ele nem sequer conseguiu defender Etrenank. O que se pode esperar de ‘lixo’ como ele?
_ Mesmo se ele tiver a ‘Relíquia Anima’? – Krelian perguntou, de braços cruzados, conseguindo toda a atenção do Ministério.
_ A ‘Relíquia’...?
_ A relíquia que recuperamos antes foi alinhada com o Gear dele – Krelian explicou – Não deve haver qualquer problema agora. Ele deve ser capaz de utilizar seu pleno poder.
_ Vai tomar a tarefa para si mesmo? – perguntou um dos ministros, intrigado – Embora ele tenha transmigrado, um dia ele não foi um dos seus? Eu não o compreendo.
_ Eu joguei fora todos os sentimentos da emoção humana – Krelian retrucou, seu rosto vazio – Tudo de que necessito é ‘ela’.
_ Mas, isso também não é uma emoção?
_ ... É claro – Krelian aborreceu-se. Apesar de ser óbvio, ele de fato não esperava que eles o notassem. Mas, não deviam compreender totalmente, fosse como fosse; teria que servir. Um dos ministros, olhando para sua expressão, perguntou:
_ Isso é um empecilho...?
_ Vocês são irritantes... Desejam encerrar sua existência?
_ Ótimo. Deixaremos isso como está.

“Elhaym?”
Ramsus estava cruzando os céus azuis numa velocidade incrível, enquanto lembranças de sua conversa recente com Krelian eram repassadas no olho de sua mente.
“Sim. Este é o local. Eu quero que a traga para cá. Ela é uma mulher importante para mim.”
“Não seja ridículo. Por que eu tenho que ouvir você? Se precisa dela, vá pegá-la você mesmo!”
“Você está absolutamente correto. Mas, pode dizer o mesmo depois de olhar para isto?”
Apesar de toda a sua experiência, Ramsus não teve como não se admirar da visão que o aguardava. Era o seu Gear, Wyvern... Em parte.
“I-isso é...”
“Seu Gear e a Relíquia Anima foram alinhados. Este é o Omnigear. Ah, e ela está com Fei agora.”
“O quê?!”
Mesmo agora, Ramsus podia sentir a revulsão, o estranho formigamento em sua pele e a mescla de sentimentos de raiva e medo, que se tornavam cada vez mais intensos recentemente sempre que ouvia aquele nome. E estava obcecado demais para notar o quanto Krelian o conduzira na conversa.
“Perder aquelas batalhas contra Fei, uma vez após a outra... Eu acredito que seja por causa da diferença no desempenho dos Gears. Acredito que você será capaz de utilizar cem por cento das habilidades dele. E então, que tal? No entanto, se ainda falhar com isso, você é realmente ‘lixo’.”
Ele apertou as mãos com força, como fizera ao ouvir Krelian. Ele não era lixo...! Estava farto de ouvir aquilo!
“Ramsus, você vai...?”

“Kahr, você está indo?”
Miang o encontrara no hangar e, não fosse ela, ele nem teria se dignado a responder.
“Sim. Eu devo me livrar dele com minhas próprias mãos.”
“Tome cuidado. Eu acredito em você, não importa o que os outros digam.”
_ ‘Fei’...! Que nome mais aborrecido. Eu fiz o meu próprio caminho até o topo, por minha conta. Mas ele arruinou tudo outra vez...
Seu radar começou a sinalizar, despertando-o de suas reflexões. Verificou o rumo e o sinal, e soube que sua busca estava no fim.
_ Este sinal...! É ele! – e seus olhos fixaram-se na tela principal, no ponto minúsculo já visível à sua frente – Eu não sou lixo! Eu não sou sem valor!!
Algumas centenas de metros adiante, Weltall também cruzava os ares em grande velocidade. Mas seu radar e a tela traseira indicavam que não estavam mais a sós, e Fei e Elly perceberam ao mesmo tempo.
         _ Que espécie de... Gear é aquele...?
_ Omnigear!! – Elly analisou os dados – E, de acordo com as leituras... É claramente diferente daquele que Bart usa, ou daquele em Shevat. Você acha que é o... Gear Perfeito?!
_ Gear Perfeito...?
_ Lembra-se do que Citan disse? – ela voltou-se para ele – Ele disse que os Omnigears são controlados por ondas mentais. O poder... O potencial varia dependendo da taxa de sincronismo. Os números indicam sincronização completa.
Enquanto eles debatiam, o Gear de Ramsus aproximou-se. Estavam a quase um quilômetro de distância quando foram avistados, e no meio tempo da descoberta, o Gear dourado com asas imensas de dragão os alcançou enquanto Ramsus murmurava entre dentes.
_ Lento... Lento demais! Seu desempenho é triste.
_ Estão nos alcançando! – Elly exclamou, e Fei procurou acelerar. Não foi capaz de impedir a aproximação do Gear desconhecido, porém, até que o perseguidor se mantivesse a uma distância fixa deles.
_ Hmph... Eu sabia que você estaria aí.
_ Ramsus?!
Foi quando Elly e Fei reconheceram o modelo do Gear. Não tinha mais sua espada e a aparência era distinta, mas tendo visto o piloto no painel, era possível associar o Wyvern de Kahran Ramsus com o Omnigear atrás deles. E, se ele já era um adversário difícil antes...
_ Entregue a Tenente Elhaym para mim, Fei!
_ O quê?! Por que eu tenho que te entregar a Elly...?! Ah, já entendi. É idéia de Krelian, certo? Não, acho que não! Não pode esperar que eu concorde!
_ Eu posso tomá-la a força, se quiser – Ramsus sorriu entre dentes – Mas, nesse caso, não tenha qualquer esperança de ser capaz de tê-la em seus braços novamente!
_ Fei!! – Elly parecia preocupada, mas Fei deteve sua fuga, fazendo Weltall voltar-se para encarar o adversário.
_ Não se preocupe, eu vou proteger você.
_ Palavras impressionantes – o Omnigear dourado arqueou suas asas, detendo a aproximação e pairando no ar, pronto para a luta – Fei, eu pretendo tomar tudo o que você tem!! É o seu aviso final. Entregue a Tenente Elhaym, agora!
_ Eu me recuso! – Weltall também se colocou em guarda.
_ Tem certeza de que quer se recusar? Será tarde demais para mudar de idéia depois!
_ Chega de fazer pose!
_ Humm... Bem, então terei que mostrar a você se estou fazendo pose ou não! Que assim seja; sem se conter, e sem clemência!
Os dois Gears convergiram um contra o outro mas, por melhor que fosse, Weltall não parecia capaz de alcançar o Omnigear com seus punhos, bloqueados ou desviados sem qualquer dificuldade por Ramsus. E então, o Gear dourado golpeou uma vez, e outra, e no terceiro golpe empurrou Weltall de volta.
Fei e Elly agarraram-se onde puderam, a cabine de comando sacudindo violentamente e os sensores acusando dano severo onde Ramsus golpeara. E a expressão do comandante no comunicador era serena, confiante demais.
_ Vamos, vamos! Que desempenho medíocre! O que há, Fei?! Na presença do meu ‘Vendetta’, seu Weltall é apenas um bebê!
Na verdade, até Ramsus estava secretamente admirado. As reações eram diferentes, mais velozes e poderosas do que ele jamais teria sonhado. Aquela era a resposta aos seus problemas...!
“Incrível! Esta diferença inegável em poder! Miang! Está assistindo?! Neste ritmo... e com este poder, eu posso derrotá-lo!”
Ele observou o Gear negro vazando fumaça no ar à sua frente, como se estivesse sangrando. Podia ver pelo comunicador os rostos de seus ocupantes, e a compreensão que transparecia neles: ele estava com toda a vantagem desta vez.
_ Hm hm hm hm hm hmm... Wah hah hah hah hah hah!
_ ... Ramsus, escute! – Elly chamou – Eu me entrego!! Por favor, pare de nos atacar neste instante!
_ O que está dizendo? – Fei voltou-se para ela – Se fizer isso...
_ É a mim que ele quer! Eu não posso colocar você em perigo só por minha causa!
Weltall estremeceu violentamente, atingido por mais um golpe do Vendetta, e Elly tornou a chamar:
_ Pare de atacar! Ramsus! Se é a mim que você quer, então me leve!
_ Hyah hah hah hah hah! Venci! Eu posso vencer! Eu não sou o inútil!!
_ Ramsus...?! – Fei percebeu então, enquanto lutava com os controles, a expressão vidrada do adversário – Não consegue nos ouvir...?
_ Ele se perdeu totalmente no poder imenso daquele Gear dele – Elly murmurou, reconhecendo o perigo da situação – Fei, é melhor fugirmos!
_ Acabou para você! Fei Fong Wong!
Vendetta mergulhou sobre eles novamente e golpeou. Seu punho atingiu o ventre, o peito e a cabeça de Weltall, e ele então se afastou. Unindo as duas palmas diante de si, o Omnigear concentrou energia e a disparou, uma descarga maciça que Weltall não pôde suportar e da qual não tinha como se esquivar, e Ramsus gargalhou ao ouvir os gritos de Fei e Elly.
_ Nuah hah hah hah! Eu não sou o inútil! Hah! Uha, haah... haah... hã?
Foi quando ele pareceu despertar para o que havia feito. Fosse no radar ou na tela principal à sua frente, não havia mais qualquer vestígio de Weltall ou Fei. Ou Elly.
_ Maldição...! Eu eliminei a tenente também... Me esqueci das minhas ordens...
E o que isso importava, afinal?
_ Hmph... Ah, bem... Pro inferno com as ordens de Krelian...

“Maldição... O sangue... O sangramento não pára...!”
Fei e Elly tinham sobrevivido ao que fora um terrível pouso de emergência, de algum modo. Mas isso ainda podia mudar muito em breve.
“Se as coisas não mudarem... Desse jeito, Elly não vai conseguir...!”
Estavam numa floresta desconhecida. Weltall estava caído e em chamas, a porta da cabine escancarada enquanto Fei carregava Elly que gemia, semiconsciente e sangrando muito.
_ Elly! Aguente firme!
Não estivesse tão preocupado com o estado da companheira, no entanto, Fei poderia muito bem estar desmaiado ele próprio. Sentia que algo estava quebrado em seu tórax, não conseguia firmar a perna direita... e não tinha a menor idéia de onde estavam. Mas não podia terminar daquele jeito.
_ Elly, eu vou salvar você! Eu prometo! Elly...!!
E os dois estavam feridos demais para perceber a figura sombria de Grahf, oculto e quase invisível, a observá-los.



CORRA PELO FRIO DA NOITE...

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