(...)
<Elly>
Um sonho...
Eu estava sonhando um sonho...
Ou talvez fosse uma memória
De um passado distante...
Um sonho...
Uma memória...
Aquelas palavras que eu era
Incapaz de expressar...
Naquele dia...
Naquele tempo...
Aqueles pensamentos que eu era
Incapaz de levar adiante...
Palavras e pensamentos...
A conexão entre os dois...
Sem palavras,
Pensamentos não podem ser
expressos...
Sem pensamentos,
Não há palavras...
São ambos vitais,
Tanto um quanto o outro...
Eles nunca podem ser
divididos...
Como as asas dos anjos...
Como um homem e uma mulher...
Um destino imutável...
Sentimentos que uma pessoa
gostaria de poder mudar...
Me encontrar com a pessoa que
me transformaria...
E assistir a mim mesma
enquanto mudava...
Eu sonhei um sonho tal como
esse...
Um longo...
Sonho sem fim...
_ La... Can...
Uma janela imensa aberta na
parede. Uma janela, em forma de um crucifixo cristalino. A luz do sol penetrava
por ela em sua plena majestade naquele horário, fazendo parecer que a figura
representada na parede era feita de luz.
_ Lacan, o que houve?
A porta estava fechada, ninguém
interromperia, e ela não entendia por que ele parecia tão inquieto.
_ Lacan?
Naquele sonho, eu era chamada
‘Sophia’...
Madre Sophia...
Um nome simbólico...
Colocado como uma coroa sobre
a pessoa que seria a esperança do povo...
Um nome que eu estava
destinada a ter.
Quer eu o quisesse ou não...
_ Hã... Não, não é nada.
Mas ela o conhecia bem demais
para acreditar tão facilmente. Alguma coisa o perturbava, e ela gostaria muito
que ele não fosse tão reservado agora, quando estavam sozinhos.
_ ... Vamos encerrar por hoje.
Você parece um tanto cansado... Está mesmo bem?
_ Eu estou bem, obrigado. Mas,
agora que mencionou...
Ele parou de pintar, parecendo
realmente prestar atenção a ela pela primeira vez em quase uma hora; em seus
olhos e na pessoa dela, não em sua modelo.
_ Que tal se encerrarmos por
hoje? Deve ser você quem está cansada, ‘Madre Sophia’?
_ Já chega disso.
Ela baixou os olhos. Não havia
como evitar aquele nome, mas era pior ter que ouví-lo vindo dele. Fazia com que
mesmo ele a tratasse de forma diferente.
_ Quando estivermos só nós dois,
sozinhos, quer parar de me chamar assim? – e olhou para ele, o pedido implícito
em seu olhar – Me chame apenas de ‘Elly’... Como você costumava fazer nos
velhos tempos... E não tem que ser tão rígido e formal.
_ Ah, er... Está certo. Muito bem
então... Não, digo...
Ela sorriu, ocultando o riso
verdadeiro que estava em seu interior. Assim era melhor. Quando ele ficava sem
jeito, era como nos velhos tempos. E ele também parecia mais à vontade quando
sorriu e respondeu:
_ É, vamos fazer isso então,
‘Elly’!
‘Elhaym’...
Eu sempre gostei desse nome...
Porque, quando eu me encontrei
com ele pela primeira vez,
Foi assim que ele me chamou...
Esse é meu verdadeiro nome...
Ele olhou inquieto para o quadro
enquanto guardava seus pincéis, e acenou com a cabeça. Parecia insatisfeito com
algo, e veio até o centro do tapete vermelho, onde o crucifixo desenhado a sol
iluminou seu rosto quando ele ergueu a cabeça e disse:
_ Acho que eu podia voltar pra
casa. Só por uma semana, mais ou menos.
_ Ah, mesmo? Qual o problema?
_ ... Fiquei sem tinta – ele
respondeu, parecendo sem jeito – Então, eu... er, preciso ir fazer mais um
pouco.
_ Vai andar toda aquela
distância... só pra fazer isso?
Lá estava ele, querendo se
afastar de novo. Mas por quê?
_ Se eu não for até lá – ele
acenou com a cabeça, parecendo muito sério – não vou conseguir obter os
pigmentos certos.
_ Ah. Então, que tal se eu pedir
a um dos meus seguidores, os ‘Kahal’, para levarem você em um dos nossos Gears?
Você vai chegar mais rápido e vai estar muito mais seguro.
Eu me pergunto quando foi que
começou...
Que ele começou a me
rejeitar...
Os muros entre nós...
Nossas ‘posições’...
Nossas ‘circunstâncias’...
Ele se recusava a reconhecê-las...
Não... Talvez fosse eu...
Sendo assim...
Eu não as queria...
Eu queria que nós dois
Ficássemos por nossa própria
conta...
É isso o que eu desejava...
Por isso,
Eu fiz com que ele me
pintasse...
Da forma como eu realmente
sou...
Sonhos...
Uma vida de uma mulher chamada
Sophia...
E as vidas de incontáveis
outras mulheres...
Nada além de sonhos...
Agora que estou acordada,
Aquele número incontável de
longos sonhos de partir o coração são quase absolutamente impossíveis de se
lembrar...
Naqueles sonhos,
Eu amava um homem...
Não importando o dia,
Não importando a era...
Isso não mudava...
Apenas o nome dele...
‘Fei’
Aquele sonho me mudou...
Aquele sonho foi o catalisador
para que eu resolvesse qual era meu propósito.
Eu acho que sei agora...
O que tenho que fazer...
Aquela memória longa, tão
longa, de um sonho...
Aquilo talvez fosse a memória
da minha alma...
Um sinal eletrônico se fez ouvir
no que parecia uma biblioteca antiga, iluminada por velas. Mas não havia nada
de antigo no equipamento localizado bem ao centro do cômodo, nem o sinal
parecia surpresa ao senhor idoso que estivera lendo sob a vela e voltou-se para
os cilindros separados. No interior do esquerdo, uma jovem de cabelos vermelhos
flutuava num líquido esverdeado luminescente; no direito, um rapaz de cabelos
castanhos presos num rabo de cavalo.
_ Hmm... Ele finalmente
despertou...
O estudioso deixou o que estivera
lendo e acercou-se do painel de controle no cilindro do rapaz, e sob os óculos
seus olhos se iluminaram com um sorriso. As condições finalmente estavam
estabilizadas, e ele iniciou os procedimentos de esvaziamento.
_ Pronto...! Aí está...
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