sábado, 24 de setembro de 2016

Capítulo Quarenta e Nove

Capítulo 49 – Veículo da Alma



<Fei>

Embora o impacto inicial de ser libertos do selo – Limitador – tenha causado algum caos momentâneo, tudo lentamente começou a se acalmar. Nós então começamos a procurar pelas ‘Relíquias Anima’... o catalisador para transformar Gears em Omnigears.

No passado, dez Relíquias tinham sido recuperadas... É dito que cerca de metade delas está nas mãos do Ministério.

De acordo com Zephyr, devia haver muito mais Relíquias escondidas ao longo do mundo.
Nós sabíamos que Solaris muito certamente estaria em busca delas. Não havia como podermos permitir que Solaris as tivesse.

Nós visitamos o local onde, usando registros arcaicos, Zephyr e seu povo tinham sido capazes de conseguir pistas sobre o paradeiro das Relíquias.

Seguindo a informação que obtivemos de lá, partimos rumo às ruínas do que parecia ser uma civilização antiga.

Parecia difícil acreditar que aquilo era tão antigo, pensou Fei. Uma instalação subterrânea tão imensa que fazia os Gears parecerem minúsculos, totalmente construída em metal! Mesmo já tendo estado em Solaris antes, ele achava aquilo difícil de ser real.
_ Daqui por diante, devemos seguir a pé – Billy avisou, tendo encontrado a passagem – Os sensores de Renmazuo mostram que a passagem é por aqui.
_ Antigo... – Emeralda deteve Crescens junto à passagem e olhou ao redor antes de descer – Lugar fechado há muito, muito tempo...
_ É impressionante – Fei desceu e Billy, Emeralda e Elly seguiram – O ‘Ethos’ alguma vez catalogou algo parecido com isso, Billy?
_ Não que tivesse chegado ao meu conhecimento, Fei – Billy meneou a cabeça – Mas uma vez que os maiores segredos eram enviados para Solaris, e que o Ministério conseguiu metade das Relíquias já descobertas, eu diria que tudo é possível.
_ Não sei – Elly olhou ao redor enquanto entravam nas repartições menores – Isso não se parece com qualquer equipamento utilizado em Solaris, mesmo na Gebler. Mas, é melhor nos apressarmos.
_ Verdade – Fei concordou – Pode ser uma questão de tempo até que alguém a serviço de Krelian ou do Ministério apareça por aqui. Vamos.
Passando por portas lacradas, sistemas de computadores que não funcionavam por causa de fusíveis danificados e monstros à espreita, o quarteto chegou a um grande salão onde havia um elevador central, conduzindo a um nível inferior. E lá embaixo, Elly encontrou um banco de dados com as informações de que precisavam.
_ Vejam, esse é o ‘Sistema de Liberação’. A Relíquia Anima está mantida num subnível abaixo de nós, mas... – mostrou outros dois computadores – há um código para o acesso a ela. Quatro números devem ser inseridos naqueles terminais, neste aqui e no último, do lado oposto ao elevador. Inseridos corretamente, eles liberam a passagem.
_ Alguma maneira de descobrir o código daqui? – perguntou Fei.
_ É uma seqüência de algarismos unitários – Elly respondeu, analisando o monitor – Sendo ‘zero’ nulo, os demais são colocados num eixo vertical e um horizontal, e a soma dos algarismos tem que ser igual nos dois eixos. Só assim vamos ter acesso ao nível onde a Relíquia está.
_ ... Parece complicado – murmurou Fei.
_ Nem tanto assim – Billy retrucou, olhando para o monitor que Elly mostrava – Veja, é uma questão de medir os resultados. Levando em conta que o resultado da soma até agora é esse, e com os números que restam... Espere, acho que é isso...
Billy inseriu em cada um dos computadores um dos quatro algarismos que faltavam, e um sinal sonoro seguiu-se, acompanhado com uma mensagem no monitor:

‘Relíquia Anima Liberada’

_ Isso foi ótimo! – Fei cumprimentou – Pensou rápido, Billy!
_Ah, bem – Billy pareceu sem jeito – Isso parecia... com alguns códigos de segurança que as crianças no orfanato inventaram para o meu Gear, tempos atrás. Não foi nada de mais.
O elevador central destacou-se, revelando uma seção ainda mais abaixo onde apenas a plataforma podia chegar. Fei, Elly, Billy e Emeralda se viram na base do fosso metálico onde portas móveis escondiam um acesso a câmaras mais profundas, essas por sua vez lacradas por portas de tranca quádrupla, que saltaram ao serem destravadas.
No interior de um cilindro translúcido estava a Relíquia Anima, algo muito diferente do que Fei teria esperado. Ao invés de um Gear evoluído como o Andvari de Bart, havia uma placa retangular dourada com o que parecia o emblema de um grande olho no topo, girando devagar dentro de dois imensos diamantes de luz dourada, cada um girando em sentido oposto ao outro. Elly foi até o painel de liberação à beira da plataforma e deteve-se, admirada.
_ Isso é...
_ ... a Relíquia Anima – murmurou Billy.
Elly verificou os programas de liberação e então os ativou, e a plataforma encheu-se de luz enquanto as últimas travas se soltavam. Todos então se voltaram para Billy, que caminhou até a beirada da plataforma e parecia estar falando sozinho.
_ Quem é? Quem está me chamando? Não... Não, eu não sei.
Não havia ninguém mais ali, e a atenção de Billy prendeu-se à placa dourada que girava diante deles.
_ O que eu deveria fazer...? Você estava esperando? Por mim...?
_ Billy?
Os diamantes de luz giravam mais e mais depressa ao redor da placa e o brilho intensificou-se, até que num último faiscar tudo desapareceu. Mas Billy voltou-se para os amigos, e os quatro puderam perceber pelas expressões uns dos outros que tinham visto uma figura humanóide alta desaparecer.
_ Vocês viram aquilo? – perguntou Billy – Parecia com o... o meu Gear?
_ Talvez alguma coisa tenha acontecido ao seu Gear – Fei concordou – Vamos voltar para a saída e ver se alguma mudança teve lugar.
Sem mais, os quatro fizeram todo o caminho de volta até a ala do primeiro andar onde os Gears haviam ficado, até serem interrompidos num dos corredores por ninguém menos que Dominia, Kelvena, Tolone e Seraphita. As Quatro Elementos.
_ Vocês, meninas, de novo?! – Fei se colocou em guarda.
_ Vejo que vocês conseguiram um novo Gear que foi alinhado com uma Relíquia Anima – Dominia comentou, a princípio sem dar atenção a Fei.
_ Vocês sabem que deveríamos ter sido nós as pessoas a obtê-lo – Kelvena disse – Nós precisamos de poderes mais fortes para que o Comandante Ramsus realize seus tão ansiados desejos.
_ Sim – Tolone concordou – Para a construção do nosso país ideal, não podemos permitir que vocês o levem.
_ Então, vai – Seraphita balbuciou atrás das colegas – Deixa a gente ficar com ele!
_ Vocês sabiam o que Solaris estava fazendo aos habitantes da superfície – Fei meneou a cabeça – e sabem qual é a situação agora na terra... e ainda assim, vocês...
_ O que os Gazel fazem ou o que quer que aconteça aos Cordeiros, não é problema meu – reiterou Dominia – Cada um de nós tem suas próprias obrigações a cumprir. Não temos tempo para lidar com questões que digam respeito ao seu povo fraco e inferior.
_ Dominia... Você acredita mesmo nisso? – perguntou Elly.
_ Sim. Olhem pra vocês mesmos, por exemplo. Vocês, os fortes e superiores, foram os primeiros a se preservarem, sem qualquer mutação. Não é isso?
_ Poder e habilidade não têm nada a ver com isso – retrucou Fei – Foi pura coincidência que nós não mudássemos.
_ Pessoas são pessoas – Billy concordou – Nada mais ou menos. Eu admito que haja os fracos e sem poder, mas isso não é razão para que nós os abandonemos. Todos nós somos seres humanos!
_ Então... vocês desejam dar uma mão de auxílio a aqueles que seriam salvos? – Dominia perguntou, e Seraphita pulou como uma garotinha atrás das colegas.
_ Aaaaah! Vocês são tão legaaaais e bonziiiiiinhos!!
_ Quão admirável – Kelvena acenou com a cabeça – Mas... isso é mesmo o melhor para a humanidade?
_ Um dia, todas vocês foram habitantes da superfície – Elly lembrou – Não foram todas forçadas a viver sob a opressão de Solaris? Eu sei que vocês sabem como é ser um ‘não-tenho’, então por quê vocês...?
_ As pessoas devem ser capazes de erguerem-se por si mesmas em quaisquer circunstâncias em que se encontrem – Kelvena disse – Superproteção apenas embota a vontade de ser independente. Isso embota o crescimento das pessoas e do mundo. Nós experimentamos isso em primeira mão. Viver com a própria força, erguer-se sobre os próprios pés! É triste, mas também verdade, que os fracos serão arrebatados... mas não podemos olhar para trás. Essa é a providência da existência humana.
_ É apenas a providência daqueles que são os ‘tenho’! – Elly se colocou em guarda também, e Dominia soltou sua espada.
_ Hmph. Então, que assim seja. Me mostrem essa sua providência, que deseja salvar os ‘não-tenho’ indignos! Aqui vou eu!
Cada um dos quatro foi desafiado por uma das Elementos; Emeralda atacou Tolone, Elly ficou com Seraphita, Billy com Kelvena e Fei contra Dominia.
A reserva de Billy quanto a lutar com mulheres não se aplicaria, uma vez que já lutara com as Elementos. Mesmo assim, ele estava reagindo mais lentamente do que o necessário para atingir Kelvena, que parecia flutuar para fora do seu alcance.
_ O que houve? Acreditei que você seria meu adversário.
Kelvena era especialista em técnicas de ether da água, e agitou os braços na direção de Billy para formar duas estalagmites de ‘Aqua Gélida’ mais poderosas do que as de Elly.
Billy atirou-se para esquerda, atirando com as duas pistolas de pólvora enquanto rolava para o lado, mas perdendo Kelvena por pouco. Recuando enquanto flutuava no ar, ela agitou os braços na direção dele e chamou:
_ Névoa de Água.
Billy tentou se afastar enquanto sacava as pistolas de ether em suas mangas, mas foi colhido em cheio pelo feitiço de água e gelo e jogado para trás.
Pouco mais adiante, Tolone enfrentava Emeralda, e toda a contrariedade por ter que enfrentar uma criança (‘Devia ter ficado pra a Seraphita!’, pensou) acabou-se nos primeiros segundos de duelo. O corpo de Emeralda, formado por nanomáquinas, se moldava e alterava o tempo todo para combater a adversária, sendo mais do que rival para os implantes ciborgues de Tolone. Apontando seu braço direito para a menininha, Tolone disparou:
_ Raio Positrônico!
_ Cortador!
O disparo conseguiu atingir Emeralda, mas ela saltou na parede atrás de si ao invés de se chocar contra ela, e girando na forma de uma serra circular lançou-se de volta contra Tolone. Em cheio no peito ela atingiu a Elemento e a atirou para trás, e as duas caíram ao chão.
_ P-parece que... Eu não estava te levando a sério – Tolone sorriu, apertando o ferimento – Você é... aquela máquina que nós pegamos nas ruínas, não é?
Emeralda se colocou de pé, o ferimento do disparo se fechando depressa em seu peito enquanto as nanomáquinas trabalhavam. E ela não disse coisa alguma.
_ Nada pra dizer? Ótimo – Tolone se colocou em guarda, pronta para atacar – Menos conversa, mais ação. Eu prefiro assim.
Pouco mais afastadas, Elly e Seraphita combatiam. Na verdade, o que se via era Elly tentando atingir a outra sem qualquer sucesso, enquanto Seraphita parecia mais estar tropeçando ou se encolhendo de medo do que lutando de verdade.
_ Aaaaaaii, cuidado! Vai acabar me machucando assim!
Mas Elly não se deixou distrair; mesmo aquela atitude era parte da técnica de Seraphita, o que se confirmou em seu próximo ataque, o bastão de Elly passando sobre a cabeça de Seraphita, que se abaixou e levantou-se depressa, atingindo-a no rosto com uma cabeçada e derrubando-a de costas.
_ Poxa vida, desculpa – Seraphita juntou as mãos, sacudindo a cabeça novamente – Mas eu preciso levar aquilo pro Comandante, você entende né? Então, é melhor acabar logo com isso e te pegar de uma vez, tá bom?
Anéis escarlates de fogo formaram-se ao redor de Elly e fecharam-se sobre ela, enquanto fogo explodiu de quatro pontos diferentes ao redor dela e o calor aumentou de forma intolerável.
Adiante, Fei e Dominia trocavam golpes. A espada dava a ela maior alcance, mas Fei era capaz de aparar a maioria das estocadas e cortes detendo o punho de Dominia, ou simplesmente se esquivava para contra-atacar depois.
_ Você é bom – Dominia concedeu, cortando para o lado e recuando para ganhar espaço – Mas não sairemos daqui sem aquele Omnigear.
_ Com a força que têm – Fei acenou com a cabeça, mantendo-se em guarda – vocês já devem ser capazes de lutar muito bem. Não precisam disso.
_ Pelo Comandante – o olhar de Dominia escureceu – Para que ele consiga o que mais deseja... É por isso que nós lutamos! Vamos garantir que o Comandante crie a nação ideal que buscamos! E se for preciso, vamos tirar vocês do caminho no processo! Espada da Sombra!
_ Koho!
Fei e Dominia se atacaram ao mesmo tempo, mas o golpe de Fei repentinamente se perdeu quando sua adversária desapareceu no ar diante dele.
_ O que...
Sentindo a presença dela, Fei voltou-se uma fração de segundo tarde demais para evitar que Dominia o atingisse pelas costas, e então o talhasse pela frente, por cima, por baixo e em mais uma seqüência de golpes que mataria a qualquer ser humano.
E então Fei, curvado sobre si mesmo, percebeu que continuava intacto. Não havia ferimentos novos nele... mas sentia com clareza a dor de cada um dos golpes que sofrera. Diante dele estava Dominia, sorrindo ao ver a dor em seu rosto.
_ A técnica da ‘Espada da Sombra’ não causa ferimentos físicos, e sim ao espírito. Você sente como se tivesse sido realmente atingido, mas não há dano feito ao corpo. Ao menos... ainda não. Espada Elemental!
Erguendo a arma, Dominia fez com que a energia verde dos ventos se reunisse na lâmina, e Fei entendeu o que ela pretendia.
_ Pode imaginar o dano causado com as duas técnicas juntas? Acredito que poderei causar ferimentos físicos sérios desta vez... a menos que se renda.
_ Sabe muito bem... que não posso fazer isso – Fei ofegou, a mão direita apertando o peito. E o olhar de Dominia endureceu.
_ Por mim está ótimo... Elimino um obstáculo e o maior rival do Comandante ao mesmo tempo. Espada da Sombra!
_ Grande erro...

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