Capítulo 45 – Frustrações
_ Elly!! – Fei sorriu, muito mais
aliviado do que sonhara possível. Elly estava bem! Tinham conseguido resgatá-la
ilesa! E apenas depois de alguns segundos a mais ele percebeu que ainda estava
segurando as mãos dela.
_ ... Hã... Você tá bem?
_ Fei... – Elly sorriu com
ternura, também parecendo levar um instante a mais para perceber que não
estavam sozinhos, e que estava olhando demais para o rosto de Fei, e desceu da
mesa onde estivera – S-sim... Sim, estou ótima.
_ Viu, desculpa interromper os
dois – Bart chamou com olhar vazio do elevador de Krelian – mas essa não é a
hora pra uma reunião carinhosa.
_ Depressa, venham por aqui.
Billy estivera analisando o
elevador de Krelian e, através de uma leitura no computador, conseguiu encontrar
uma escotilha secreta por baixo da plataforma, e por ali fugiram.
Enquanto isso, tiros eram
trocados diante do Gerador de Portão de Solaris, e Jessie recebeu a chegada de
Citan com uma bronca.
_ Por quê é que demorou tanto? –
ele perguntou, sob o som dos disparos do exército de Solaris – Já levei bala
demais! Anda logo e explode eles de uma vez!
_ Eu lamento – Citan respondeu,
enquanto Jessie respondia ao fogo com sua carabina e os disparos continuavam a
riscar o piso metálico – Tenho outras questões a resolver.
_ ... O que diabo você está
fazendo? – Jessie perguntou, detendo-se por um momento ao ver onde o
companheiro estava. Distraidamente enquanto digitava um código de entrada num
painel de controle, Citan respondeu:
_ A serviço de Sua Majestade...
_ Está falando do Imperador...?
Tem certeza, Hyuga...? – e tornou a disparar.
_ Sim. Sua Majestade entende a
situação. Ele... diz para deixarmos tudo com ‘eles’...
Jessie não respondeu, fosse por
estar ocupado demais mantendo as tropas opositoras do outro lado do gerador ou
por estar admirado demais que até o Imperador estivesse do lado deles, de certa
forma. E após mais um momento, Citan acenou afirmativamente.
_ Isso! Está pronto!! Senhor!!
_ ... Beleeeeeza! – Jessie
sinalizou de volta – Tamos caindo fora!! ... Hã?!
Pois uma porta paralela se abrira
e, dela, parecendo alheio aos disparos que cruzavam a passarela, Kahran Ramsus
caminhou impávido até estar próximo ao gerador, e olhar para os dois
ex-companheiros de forma estranha... quase como se estivesse em transe.
Ignorando Jesiah, ele perguntou:
_ Onde está ele...? Hyuga...
_ ... Kahr...?
_ Então... Você também... Mesmo
você está me traindo.
O olhar parado e as mãos trêmulas
de Ramsus eram uma visão tão incomum que mesmo Jessie não parecia encontrar algo
para dizer. Nos anos em que trabalhara com o atual comandante da Gebler, ele
sempre fora racional e distante, quase indiferente demais. O que lhe acontecera
para estar, de repente, não apenas demonstrando nervosismo mas mal parecendo
capaz de se controlar? E, Jessie percebeu, mesmo Hyuga parecia surpreso.
_ Kahr, nós apenas estamos em
situações diferentes. Eu não pretendia trair você. Apenas decidi permanecer com
o grupo de Fei.
Obviamente, Citan escolhera mal
as palavras pois, à menção daquele nome, o pouco auto-controle de Ramsus
aparentemente desapareceu.
_ Você disse ‘Fei’? Você
também... Está do lado dele... Eu nunca vou perdoar você! NUNCA!
_ Kahr, tá certo que você é um
inimigo – Jessie perguntou, incapaz de se conter – mas por quê está tão
obcecado com o garoto?! Você não era assim antes!
_ Cale-se! Eu tenho que acabar
com ele com minhas próprias mãos...
Ramsus ergueu as mãos trêmulas,
parecendo mais descontrolado do que nunca. Não havia mais como esconder os
tremores ou a voz, e tal foi a surpresa que Jessie chegou a baixar a carabina.
Gesticulando com impaciência, Ramsus voltou-se para eles com raiva.
_ E todos vocês trabalhando com
ele são meus inimigos! Inimigos roubando ‘as minhas coisas’! Inimigos!
Inimigos, inimigos!!
_ K, Kahr...
Jesiah ficou tão surpreso com uma
explosão tão infantil vinda de Ramsus quanto Citan, mas ainda estava
concentrado o suficiente em sua tarefa ali para puxar o amigo pelo braço com
urgência.
_ Ei, estamos de saída! Eu não
sei o que aconteceu, mas não tenho tempo de lidar com ele agora!
_ Mas...
_ Hyuga!!
Já estavam desperdiçando tempo
demais e, fosse qual fosse o problema, não resolveriam seu assunto com Ramsus
de uma hora para outra. Era preciso que se fossem, e Citan também sabia disso.
_ ... Entendo...
Citan correu para a saída, e
Jessie deteve-se mais um instante para olhar para o ex-companheiro, de pé na
plataforma oposta e olhando para ele com raiva e desapontamento. Voltaria a
pensar naquilo depois... De preferência, bebendo alguma coisa na Yggdrasil, e
bem longe dos tiros da força de defesa de Solaris. E, enquanto o som da
explosão do gerador o seguia rumo aos corredores da rota de fuga, Jessie pensou
ainda poder ouvir o grito frustrado de Ramsus seguindo-o.
_ Seus, traidores...!!
Neste ínterim, Fei, Bart, Billy e
Elly seguiram pelos túneis subterrâneos da saída de emergência de Krelian até
chegarem ao ‘ponto de encontro’ demarcado antes, o que Fei reconheceu de pronto
quando, ao passarem por uma porta, Emeralda gritou:
_ Ah, é o Fei!! Fei que é Kim
está aqui!!
Todos os amigos que o tinham
acompanhado na invasão de Solaris estavam ali reunidos. E, para a sua surpresa,
não apenas eles.
_ Pai! Mãe!
Elly separou-se deles para
abraçar os pais, tão aliviados quanto ela própria. E Rico, numa amostra rara de
gentileza, deu um tapa no ombro de Hammer.
_ Devia agradecer ao Hammer! Ele
buscou seus pais na hora certa. Certo, Hammer!?
_ Hã... É... F-foi isso mesmo...
_ M-muito obrigada, Hammer – Elly
separou-se dos pais e abraçou Hammer, que parecia mais do que sem jeito. E também
Erich o cumprimentou.
_ Gostaríamos de agradecer a
você, também. Eu nunca pensei que veria minha filha novamente... Muito
obrigado, Hammer.
Uma porta lateral abriu-se, e
Citan e Jessie chegaram correndo por ela. E enquanto o pistoleiro lacrava a
passagem, o doutor se fez ouvir.
_ Escutem todos, não temos tempo
a perder. A fim de não nos destacarmos demais, deveríamos nos dividir em dois
grupos. Fei, você já fez muito, mas eu gostaria que seguisse à frente e levasse
mais dois membros com você. Siga rumo a sudoeste daqui e cruze duas pontes
móveis de contato. Lá, você encontrará um hangar que levará ao exterior. Nos
reuniremos na base da ponte próxima.
_ Eu desliguei alarmes pra tudo
quanto foi lado enquanto estava quebrando portões – comentou Jessie – Mas ainda
tá perigoso. Cuidado!
_ Eu irei de antemão ao hangar –
Erich se adiantou – e vou conseguir uma carona para nós. Solaris está em
confusão no momento, então, se for sozinho, posso fazer alguns contatos.
_ ... Está certo – concordou
Citan – Por favor, não se arrisque demais.
_ Sim, eu sei. Elly, Medena...
Até mais tarde.
_ Querido – Medena segurou as
mãos do marido por um instante – Por favor, tenha cuidado.
_ Pai...
Erich sorriu para Elly e saiu por
uma porta a oeste. Fei seguiu adiante com Bart e Billy, e os demais
acompanharam em grupos separados, enfrentando pouca oposição enquanto seguiam.
Citan e Jessie estavam certos, a população não esperava que os prisioneiros do
Ministério pudessem escapar, muito menos destruir o Gerador de Portão, e estavam
em pânico. A grande maioria das forças de defesa estava lutando contra o
incêndio e tentando reparar os danos, restando poucos para deter a fuga deles.
Não tardou para que chegassem,
enfim, ao hangar, uma extensa pista de decolagem que terminava na vastidão dos
céus. Os três amigos se entreolharam, satisfeitos. Emeralda e Chu-Chu estavam
comentando alegremente como o céu estava azul e Citan pareceu ao mesmo tempo
grato e aliviado ao vê-los.
_ Ótimo! Com vocês, completamos o
grupo. Logo adiante está a saída. Vamos.
_ P... Parem!!
Todos se voltaram ao ouvir a voz
trêmula de Hammer, agarrado com firmeza ao braço de Elly e apontando uma
pistola para eles, particularmente Fei, mais próximo. Diante das expressões
surpresas de todos, ele disse:
_ Estou pedindo à Senhorita Elly
pra voltar comigo!!
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