domingo, 19 de junho de 2016

Capítulo Quarenta e Três Ponto Um

(...)


_ O q-quê...! Ei, você está bem Elly? Elly?!
Nada. Nem a visão, nem a voz nem qualquer som vindo de Elly. Fei podia muito bem estar sozinho naquele corredor.
_ Elly! Doc... Citan!
Nada. Absoluto nada foi a única resposta.
_ Droga! Nos pegaram! Elly! Citan! Onde vocês estão!?
Luzes de emergência foram ativadas, então, uma tênue luz azulada no rés do chão e nas paredes, parecendo conduzir sempre adiante. Sem qualquer outra alternativa, Fei acompanhou o corredor até a porta seguinte, e passou por ela.
Pela meia luz, Fei podia ver que estava num compartimento amplo e espelhado. A porta selou-se sozinha assim que ele passou por ela, e após o primeiro impulso de voltar, ele se deteve e chamou:
_ Elly... Doc... Estão aí?
Enquanto caminhava, chamando pelos amigos, ele alcançou o centro da sala. Luzes ofuscantes foram acesas... Não, era iluminação comum, mas as paredes não eram meramente espelhadas, como lhe parecera. Cada um dos blocos era na verdade um monitor, mostrando a princípio apenas telas brancas para então alternar em telas de barras coloridas, e Fei então reparou no imenso aparato sobre si.
_ O quê...? I-isso...
Flashes brilhantes e luzes estroboscópicas seguiram-se, desnorteando o rapaz até que ele caísse, sem perceber que estava gritando em meio à dor aguda em sua cabeça.
Quanto tempo ficara desacordado, Fei não tinha como saber. Seu despertar foi lento, ele estava atordoado e confuso, e olhou ao redor enquanto tentava se lembrar do que se passara.
_ Huh... O-onde...
O aparato sobre a sala, agora, era claramente um equipamento de contenção. Quatro suportes ligados aos cantos do salão o mantinham aprisionado, suspenso e de braços colados ao corpo, no centro do que era uma área cujas paredes eram formadas pelas telas de monitores.
_ Hã...? Isso é... – Fei se debateu, mas foi inútil. Aquelas algemas eram de algum metal que não conhecia, mas apesar do aspecto frágil das hastes que o mantinham suspenso, estava claro que eram mais fortes do que ele.
_ Hmmmmph! Não consigo... soltar.
Quatro telas holográficas formaram-se ao redor de Fei, como um cubo. Ainda se debatendo, ele ficou confuso ao reconhecer uma imagem familiar de escuridão, chamas e um Gear negro lutando entre elas.
_ Uh... Isso é...
A imagem alterou-se, mostrando um Gear vermelho desconhecido cruzando o céu. E novamente o Gear negro numa postura de defesa familiar em meio a um incêndio noturno, e depois o Gear vermelho que era, ao mesmo tempo, estranho e familiar.
_ O quê é isso?! – Fei exigiu, olhando ao redor como se houvesse alguém com quem ele pudesse falar ali – Por que está me mostrando isso?!
O silêncio e as imagens repetidas foram a única resposta. Fei novamente tentou soltar os braços, sem qualquer sucesso, e a frustração cresceu.
_ Quem?! Quem fez isso?!? Elly! Doc! Onde vocês estão?! Onde...
Todos os monitores da sala foram ativados então, e a imagem de um rosto pálido, sem cabelos e com uma máscara respiratória sobre a boca e o nariz olhou de volta para Fei de cada canto da sala. E a voz por trás daqueles olhos hostis respondeu:
_ Você desempenhou este espetáculo. Essa voz é daquele que o assombra... Amaldiçoado, intocável... Ó filho amado do deus, aquele que impede nossas orações... Pegue... Destrua... Queime com o fogo do deus...
_ O que...?
As telas deixaram de mostrar os Gears em suas duas imagens diferentes. Ao invés disso, as quatro começaram a mostrar um estranho globo flutuante, com monitores que mostravam mais rostos cadavéricos ocultos por máscaras respiratórias, e um homem vestido em verde diante do mesmo globo, olhando para ele.
_ Doc?! E-esses sujeitos? O que é isso?!
Não houve resposta. Ao invés, a tela à esquerda de Fei mostrou uma sucessão de pessoas familiares deitadas no que pareciam leitos de hospital. Primeiro, um rapaz loiro de um olho só vestido em trajes vermelhos; depois, um rapaz ainda mais jovem num hábito verde de padre. E Fei parou de se debater.
_ Bart? Billy?! Doc, o que está havendo?! O que estão fazendo...? Doc! Responda!
_ Um dos Anjos Guardiões de Solaris está aqui – o ancião nas telas respondeu, ao invés – Hyuga Ricdeau.
_ Este homem é Cain – um segundo ancião prosseguiu – Recebendo as ordens daquele conhecido como o Imperador. Você adentrou o reino dele, e esteve sob sua supervisão contínua.
_ O Anjo Guardião de Solaris? – Fei não podia acreditar – Me monitorando?
_ Ah, sim – o ancião respondeu – Nós guiamos Solaris e até mesmo selecionamos o ‘Animus’ que foi atraído a você. E o guiamos até aqui, para Solaris.
_ O ‘Animus’ é necessário para a nossa ressurreição – um terceiro ancião se pronunciou – Estes são nossos corpos. Este, o que possuímos.
_ Sim, esta é a única razão pela qual existimos – outro ancião acrescentou, e Fei não acreditava ter compreendido.
_ Os corpos de Bart e dos outros pertencem a vocês? Isso é verdade?! Doc! Do quê eles estão falando?
Citan não respondeu em absoluto, meramente mantendo os olhos sobre Fei. E outro dos anciões se manifestou.
_ Por que tão apreensivo? É porque você foi vendido por aquele em quem confiava?
_ Eu não estou falando com vocês! – Fei retorquiu furioso, voltando o olhar para Citan – Doc, me responda!
_ Três anos – a tela esquerda desapareceu e também mostrava Citan, que finalmente parecia disposto a responder – Por três anos, eu estive ao seu lado. Eu tinha que determinar se você ia ser nosso inimigo ou não.
_ ... Vingança?
_ Sim, o inimigo – um dos anciões interrompeu – Sua existência é uma ameaça para nós...
_ Era necessário ficar de olho em você – outro ancião falou.
_ Aquele que ordenou que você fosse vigiado foi Cain – um terceiro disse, seguido por um quarto.
_ Estávamos planejando o amadurecimento do ‘Animus’ e seu extermínio. Nós também enviamos Hyuga a você.
_ No entanto, cada tentativa de exterminá-lo falhou... por causa daquele lixo que não serve para nada.
_ Mesmo assim, nós agora possuímos ‘Animus’. Hyuga cumpriu bem com seus deveres.
_ É... isso...? – Fei perguntou de olhos baixos, o cabelo ocultando o rosto – Você estava agindo pra esses caras... É por isso que você... Todo mundo...
Se o que era dito era verdade, os amigos tinham sido levados até ali desde o início por Citan... ou Hyuga, qualquer que fosse seu nome. E ele também...
_ Por quê!? – Fei bradou, tornando a se debater – Você fizeram sempre as coisas do seu jeito conosco, habitantes da superfície! Vocês já têm o mundo! O que mais vocês querem?
_ Você deve saber, a esta altura – respondeu um dos anciões – que nós planejamos ressuscitar Deus.
_ Deus vai despertar de seu longo sono depois que o homem tiver povoado a terra... Então, Mahanon também vai despertar.
_ O Paraíso Aéreo Mahanon? – Fei perguntou, detendo-se por um momento – O lugar que caiu na terra...
_ Paraíso... Hah hah hah. Sim, pode ser uma descrição adequada... Nossa arca... No bloco central do senhor, ‘Mahanon’ está selado. Esta é a fonte da sabedoria de nosso deus... Um paraíso de conhecimento...
_ Usando tal conhecimento, nós vamos ressuscitar o deus desperto e construir nossa ‘arca’ para nos levar ao grande universo.
_ A construção de nossa arca... para reinar sobre as forças do deus neste grande universo... A criação do anjo ‘Malakh’. O Projeto M era para este mesmo propósito.
_ O que querem dizer?!
_ Somos órfãos neste universo. Fomos jogados neste planeta em solidão juntamente com o deus.
_ Nós, humanos, não nascemos neste planeta. Há muito tempo, nós viemos para cá de outro corpo celeste. Nós somos seres de um planeta alienígena.
_ Isso é ridículo! – Fei abanou a cabeça.
_ É a verdade – um ancião replicou – Você viu as variadas regiões deste mundo. Por que acha que não há registros de humanos antes de dez mil anos atrás...?
_ Esta é a vontade de nosso deus. A ressurreição do deus esteve destinada desde o tempo anterior ao gênese...
_ Nós seremos um com o deus. Conquistando um novo ‘Animus’... Nós mais uma vez retornaremos aos céus estrelados...
_ Este é o sentido de nossa existência.
_ Este é o nosso supremo objetivo.
_ ... Então, não estão planejando usar o poder de Solaris para dominar o mundo? – Fei perguntou.
_ É claro que não – um dos anciões respondeu, como se fosse óbvio – Qual o sentido que há em ter o controle de um planeta tão insignificante quanto este? Deus nos deu o direito de governar pelo universo.
_ Sim. Apenas nós, que não carregamos o sangue impuro, temos o direito ao perdão...
_ Assim, nós ressuscitaremos o deus.
_ Já faz uma eternidade desde nosso exílio do paraíso. Se o tempo da ressurreição do deus não vier, teremos que seguir o caminho da destruição. Mas...
_ Tendo conseguido ‘Animus’, nossa ressurreição está próxima... A seguir, é a vez da ressurreição de nosso deus.
A tela diante de Fei tornou a mudar. Ao invés do computador onde o Ministério existia como dados e Citan diante deles, uma figura de rosto jovem e cabelos brancos apareceu.
_ Krelian?!
_ Este aqui apenas aguarda pelo despertar – Krelian murmurou inexpressivamente.
As quatro telas mudaram. Todas agora, ao invés de Citan, o Ministério ou Krelian, mostravam uma moça de cabelos ruivos, deitada e inconsciente, presa a uma máquina de propósito desconhecido.
_ Elly?!!
Todas as luzes se apagaram.

Num andar mais abaixo, Krelian deixou seu elevador e passou adiante do leito de análise ao qual Elly estava aprisionada, ignorando-a a princípio. Ativando o equipamento de bioleitura, ele retornou à sua plataforma e começou a ler os dados da análise e forçando sua atenção para as máquinas, apenas. Era realmente impressionante...
_ Onde estou...?
Ela despertara. Era preciso manter-se sob controle.
_ Olhei nos seus registros – Krelian voltou-se para Elly, que se admirou ao reconhecê-lo.
_ K-Krelian... Comandante?
_ Elhaym Van Houten – o rosto do cientista não traía qualquer emoção a não ser um certo brilho nos olhos, que poderia ser o interesse diante de uma nova experiência – Aquele incidente na academia de Jugend a um ano atrás... Caso 102. A liberação de seus poderes latentes derivada da administração sistemática de drogas de fortalecimento mental. Naquele instante, seu valor de Ether se elevou além de 400. E, naquele momento, dois foram criticamente feridos e três necessitaram de reciclagem. Estou correto?
_ Por favor, pare! – Elly afastou seu rosto, e assim não viu Krelian voltar sua atenção para o banco de dados diante de si.
_ Mas, este registro está errado. Não foi um caso comum de efeitos colaterais mentais incontroláveis. Isso foi causado pelo despertar de seu ‘outro eu’ interior.
_ Meu outro ‘eu’...? – Elly tornou a olhar para Krelian sem compreender. Mas, lembrou-se, havia preocupações mais urgentes no momento – Onde está Fei? Onde estão todos...?
_ Serão utilizados como uma oferenda para a ressurreição do Ministério Gazel – Krelian respondeu distraidamente, ainda operando seus painéis – O mesmo destino aguarda aquela menina, o organismo artificial. Já retirei amostras suficientes dela. Estou adiantado, já no quarto estágio do meu plano. Tudo de que preciso agora é o fator final. Assim sendo, seus amigos não são mais de qualquer uso para mim. São dispensáveis. Mas, você é diferente.
_ Está planejando enviá-los para o mesmo destino que aquelas pessoas na instalação de pesquisa! Tudo isso pelas suas próprias ambições egoístas... Sabe o que está fazendo?! Pessoas brincando com as vidas de outras pessoas. Isso é deplorável!
_ Entendo... – ele terminara com seus painéis e agora olhava para ela – Então, você viu a instalação de pesquisa. Atualmente, os pesquisadores de Solaris estão trabalhando em engenharia genética lá embaixo. É só um ninho para tolos que aprenderam o prazer desprezível de brincar com suas próprias criações orgânicas. Eles procuram apenas serendipismo e inumanidade. Aquele não é meu lugar. Eu me especializo em engenharia molecular... Nanotecnologia.
Voltando-se por um momento e digitando algo num painel diante de si, Krelian fez uma tela holográfica ampla surgir diante de si, de forma que mesmo da posição em que estava, Elly seria capaz de ver.
_ Sabe o que é isto? – ele indicou o gráfico, formado basicamente de globos verdes com estruturas amarelas no interior de cada um – Uma nanomáquina... Uma máquina molecular. Este é o montador, que é uma daquelas nanomáquinas. Ele pode quebrar moléculas e átomos e reconstruí-los em qualquer coisa.
“Cada uma destas esferas – ele prosseguiu, mostrando com as mãos do que falava – é equivalente a um átomo. Até recentemente, éramos apenas capazes de produzir materiais que tinham várias vezes o tamanho disto. Graças àquela menina, a que obtivemos das ruínas da civilização Zeboim, agora somos capazes de tornar isto compacto e elaborado. Pensar que tal mecanismo foi criado há 4000 anos. É realmente impressionante”.
“Até que descobríssemos isto, o trabalho era um tanto grosseiro. O melhor que poderíamos possivelmente fazer até então era aplicar soluções de aminoácidos em áreas feridas para aperfeiçoamento, ou selar quaisquer habilidades peculiares. Tenho certeza de que você teve alguma exposição aos genéticos quando estava na Jugend. Cada tipo daquelas enzimas dentro do DNA... também são máquinas moleculares que foram criadas pela natureza. Isso é, se formos de fato a progênie do próprio primeiro organismo”.
_ O que você espera conseguir usando essa máquina molecular? Que conexão eu tenho com isso?
_ ... Embora as nanomáquinas até agora pudessem recombinar o DNA, elas não podiam revelar qualquer informação nos introns localizados nos substitutos da hélice dupla – ele mostrou uma nova imagem, uma projeção da molécula orgânica – No entanto, as nanomáquinas mais novas descobriram facilmente estes dados. Dados que originalmente ‘não deveriam ter existido’. E estamos prestes a ver os resultados disto.
Krelian digitou algo em seu painel e o resultado foi uma tela púrpura onde o globo verde desapareceu, e um sinal de alarme indicando erro. Longe de desapontado, no entanto, ele pareceu intrigado.
_ Hm, de acordo com os dados transferidos, ele demonstra uma frequência de onda similar, como esperado. E...
Do nada, para surpresa de Elly, um anel móvel que girava interminavelmente e mantinha-se encolhendo e crescendo surgiu no centro da tela. E mesmo a expressão impassível de Krelian pareceu repleta de satisfação.
_ Sim, o Anel de Urobolus...! É isso, não é...? Os atos de Miang, e Lacan... Isso explica tudo. Elhaym – ele voltou sua atenção para Elly – você foi a ‘mãe’...
_ Mãe...?
_ Sim. É assim que seu exon se parecia antes da substituição... Esta é a forma em conceito do intron que carrega informação que, supostamente, não deve existir. Observe. Este é o Anel de Urobolus, que contem ‘informação de intron’ que apenas existe em ‘certas pessoas’. Urobolus... Caso anatomizássemos tal coisa – ele pareceu divagar nas especulações – Não ficaria interessada em que tipo de informação ele teria a nos oferecer?
Elly não respondeu em absoluto. Não entendia tanto de nanobiologia para compreender tudo o que Krelian estava dizendo, e nem importava mais do que os destinos de seus amigos. E Fei... Onde ele se encaixava nisso tudo? Estaria em segurança, ou...?
_ Elhaym, você é bela.
Elly tornou a voltar sua atenção para Krelian, incapaz de ignorar o comentário. E ele estava olhando para ela como se fosse uma pintura ou escultura maravilhosa.
_ Quando olho para você, eu aprecio o aspecto artístico da forma humana, sua perfeição... Não posso deixar de sentir a importância disso – e baixou os olhos, parecendo pesaroso – Como se minha máquina molecular fosse indigna de você.
Elly sentiu suas faces ruborizarem. De todos os locais, e circunstâncias, aquela certamente...
_ Você não mudou desde então – Krelian prosseguiu, quase como se falasse para si mesmo – Assim como o outro, Lacan... 

Em outro lugar, os monitores estavam desligados. Fei Fong Wong estava semiconsciente. Depois de tudo o que ouvira, tudo o que fizera... Ainda parecia difícil acreditar...!
_ Ugh...
Um som se fizera ouvir atrás dele, como se a porta tivesse sido aberta novamente. Ele levou algum tempo para focalizar, para perceber que aquilo acontecera de verdade, e havia uma figura de pé, diante e abaixo dele, contido como estava no centro da sala.
_ Está consciente? – perguntou Citan.
_ Doc...
_ É impossível se mover – Citan comentou, sem expressão – Esta máquina cortou fisicamente seus sinais nervosos. Você não será capaz de levantar um dedo, pouco importando o que sua mente diga.
_ ... O que é que vai fazer comigo? – Fei balançou a cabeça, que parecia a única parte do corpo que ainda podia mover – Com Bart e os outros? Onde está Elly?
_ Não se preocupe... Eles têm seus papéis... Você tem o seu. Eu simplesmente investigo.
Fei teve o impulso de fechar os punhos em frustração, mas como Citan dissera, apenas aconteceu em sua mente. Aquilo até parecia o mesmo Citan de quem se lembrava, a curiosidade acima de tudo, mas era uma versão distorcida e cruel do seu amigo. A pessoa de quem se lembrava nunca o teria traído.
_ Maldito... Isso... O que eu estava...
_ Assim, a batalha foi lutada... É o que diz? Isso foi discutido anteriormente pelo Ministério...
_ Que praga! – Fei olhou para baixo, ao menos ainda capaz de encarar o interlocutor – Nós não nascemos pra ser usados por eles! Não fizemos todo o caminho até Solaris pra isso! Eu, nós, todo mundo... Nós só queremos criar um lugar ao qual possamos pertencer... É por isso que estivemos lutando...! Mas agora...
_ É muito mais fácil receber um lugar ao qual pertencer do que criar um por si mesmo – Citan ajustou os óculos sobre o nariz – Não entende nem sequer um conceito simples como este?
_ Só o verdadeiro...! – Fei começou, mas Citan o interrompeu.
_ Ideais infantis empalidecem quando postos diante da realidade. Mas, na verdade, muitos se dão por satisfeitos com isso. Ao se ganhar um lugar, a pessoa se liberta de quaisquer riscos. Os infortúnios podem ser responsabilizados a outros. Sabe por que as pessoas não conseguem existir sozinhas, mas apenas sob algum conceito maior, tais como um grupo ou país? As pessoas precisam de um lugar para ir e serem elas mesmas... Quanto mais estável, mais eficiente.
“O Ministério dá a elas tal lugar. Sob total vigilância, não há necessidade de carregar o risco de manter a própria individualidade. Eles simplesmente vivem sob a ilusão de ser um ‘indivíduo’. O que poderia ser mais fácil?”
Fei desviou os olhos. Não podia se soltar e não tinha como evitar ouvir, mas ao menos podia tentar não prestar atenção. Embora Citan parecesse não fazer caso disso.
_ Fatos são fatos, então simplesmente os aceitemos. Será mais simples para todos nós. A resistência é fútil. Só torna as coisas dolorosas.
_ Eu... Eu...
_ Ainda pretende fazer algo a respeito? – Citan pareceu admirado – Olhe para si mesmo... O que acha que, possivelmente, pode fazer nesse estágio? Você não pode se mover. Não pôde sequer proteger seus amigos que lutaram com você, quando eles precisavam. Não pôde sequer proteger a pessoa mais importante da sua vida, Elly.
_ Pare! – Fei jogou a cabeça para trás, outra vez pensando em fechar pulsos que não obedeciam – Por favor!
_ Você não pode fazer nada – Citan deu-lhe as costas com indiferença, e Fei sentiu que não poderia suportar muito mais.
_ Pare... com isso...
As luzes tornaram a se apagar, e um som metálico forte se fez ouvir. Após um instante de silêncio, a voz de Citan tornou a se fazer ouvir.
_ Agora, podemos ficar à vontade e falar... Id...
  


WE CAN RUN TO THE END

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