domingo, 29 de janeiro de 2017

Capítulo Cinquenta e Seis

Capítulo 56 – Segredos Obscuros



<Citan>


‘Deus’... A arma de invasão interplanetária, – Deus – ,  tinha despertado e sua arca,

‘Merkava’

fora ativada.

Deus começou a absorver, um após o outro,
As pessoas mutadas destinadas a serem suas peças...

Enquanto os não-mutados, eventualmente,
Apenas se tornariam uma ameaça para ele.

Para nos exterminar, e à nossa civilização,
Ele se colocou em ação.

A superfície do planeta foi devastada...

... por Merkava e as armas nascidas dela
chamadas... ‘os anjos – Seraph –’.

Enquanto perseguíamos o recém-desperto Deus,
Por acaso encontramos Fei,
Cujo paradeiro até então se perdera...
Juntamente com seu Gear, Weltall...

Descobertos juntos,
No local onde ‘Merkava’ estava originalmente localizada.

Ficamos imensamente felizes com o retorno de Fei,
Mas durou pouco...

Por alguma razão desconhecida...
Fei foi descoberto em um estado de animação suspensa.

Ele não recuperava a consciência.

O povo de Shevat, e nós mesmos,
Temíamos uma recaída do poder de Fei...
Não, do poder de Id...
E não tivemos escolha,
A não ser colocar Fei em...

‘Congelamento em Carbonita’.


Os ânimos estavam pesados em Shevat. Os amigos acreditavam ter feito o melhor possível, mas isso não fazia a decisão tomada parecer melhor para nenhum deles, e Emeralda estava particularmente inquieta. Distante dos demais, Citan foi até a sala do trono para conversar com a Rainha Zephyr, que não pareceu em absoluto surpresa por vê-lo ali.
_ ... Sua Majestade. Por que o povo de Shevat teme Fei tanto assim? Mesmo que o poder de Grahf e Id seja comparável...
_ ... Não é que nós o temamos – ela meneou a cabeça, depois de hesitar por um instante – Tememos o erro que nós mesmos cometemos. E agora estamos simplesmente tentando por uma tampa sobre ele.
_ O erro que vocês mesmos cometeram?
_ Shevat instigou uma batalha, há quinhentos anos, para conquistar nossa independência de Solaris – Zephyr começou, caminhando até o próprio trono – No entanto, fomos dominados pela ânsia de poder. Temendo que a vontade do povo dilacerado pela guerra não mais fosse ficar com Shevat, mas com a Madre de Nisan, e que as pessoas se reunissem sob a proteção de Sophia... O Conselho de Anciãos de Shevat da época fez um acordo com Solaris.
_ Um acordo?
_ Sim – Zephyr voltou-se para ele – Naquela época, Solaris... Ou o Ministério Gazel, para ser exata... Estava passando por dificuldades com uma mulher que detinha o verdadeiro poder nos bastidores.
_ ... Por um acaso, essa seria Miang?
_ Muito provavelmente, era. Temendo o poder crescente das massas reunidas em Nisan, o Ministério Gazel planejou entregar a nós sua antagonista, Miang, e prometeu uma divisão do governo sobre a superfície da terra.
“Mas em troca... Nós tínhamos que dar a eles o exército rebelde que tinha se reunido em Nisan e também sua patrona, Sophia.”
_ Os líderes de Shevat aceitaram – Zephyr baixou seus olhos – e foi decidido que Nisan seria o local da batalha final decisiva com Solaris.
A Rainha acionou um comando no braço de seu trono e Citan pôde ver, espelhada numa das paredes da sala, uma imagem holográfica representando uma antiga força de soldados, tanques móveis e Gears de escudos e lanças em punho, com uma majestosa nau capitânea sobre eles. Era curioso, mas as armas de quinhentos anos antes pareciam mais avançadas do que as do mundo moderno, ele observou, enquanto Zephyr prosseguia:
_ Shevat não participou daquela batalha. Sobrepujados pelos números impressionantes do exército solariano, e com sua rota de retirada cortada, o exército rebelde de Nisan ficou sem opções e foi destruído. Presos em meio a isso tudo estávamos Lacan, o ancestral de Bart, Roni, eu mesma... e ‘Krelian’.
_ Você também estava lá?
_ Sim – ela recordou com pesar – Cercados por todos os lados... Estávamos preparados para morrer. E então, a nau capitânia das forças rebeldes surgiu, com Sophia a bordo. Ela se sacrificou para criar um caminho para a nossa retirada... A nave de Sophia partiu diretamente para a nave principal do inimigo num ataque suicida.
E dos registros históricos que a Rainha exibia, um filme antigo mostrou a imponente nau capitânia mergulhando em direção do vaso de guerra inimigo, recebendo todo o poder de suas armas principais sem sequer tentar defender-se ou revidar. A nave capitânia rebelde foi engolida pelas chamas, atingida em seqüência por um número crescente de canhões, mas manteve-se firme num curso em linha reta até o fim, espatifando-se como uma flecha contra as torres principais de artilharia, fazendo com que ambas as naves desaparecessem e viessem ao chão numa gigantesca bola de fogo.
_ Graças ao sacrifício de Sophia, fomos capazes de sobreviver – Zephyr prosseguiu, sacudindo a cabeça baixa como se para espantar as lembranças – No entanto, a morte dela mudou para sempre o destino de dois homens...
“Krelian, que seguia próximo sob o comando dela como líder da milícia da seita de Nisan, perdeu completamente a fé depois de chamar por um deus que não responderia.

“Eu vou criar deus com minhas próprias mãos!”

... foram as últimas palavras que ele murmurou antes de desaparecer”
“E Lacan...
Ele ressentia-se de si mesmo por não ter tido o poder de fazer coisa alguma enquanto ela morria diante dele... Por isso, ele começou a procurar pelo ‘Poder Lendário’.”
_ Poder Lendário?
_ O local do descanso de deus, ‘Mahanon’... A fonte da sabedoria divina, ‘Razael’... E as ‘Relíquias Anima’, que foram criadas por essa mesma sabedoria... Além deles... Há mais uma lenda.
_ E essa seria?
_ ‘Zohar’...
_ Zohar!? – Citan exclamou – É o mesmo nome do ‘Modificador Zohar’... o reator de força do qual Miang falou, dizendo que era a fonte da energia infinita de – Deus –... que ela também clamou ser a fonte de nossos poderes Ether e a força motriz de todos os nossos Gears.
_ Teria sido exatamente a mesma coisa – Zephyr concordou – É o local que contém a fonte suprema de poder deste mundo. É dito que apenas aquele que tem o destino correto seria capaz de descobrir sua localização. Perdendo toda a fé na humanidade, Lacan partiu em busca de seu poder... Tornou-se Grahf... e o mundo desabou.
Ela sacudiu a cabeça mais uma vez, pesarosa, antes de tornar a olhar para Citan.
_ Essa tragédia aconteceu por causa da ganância das pessoas por poder. Eu devo tomar parte da responsabilidade por não ter sido capaz de impedí-la. E agora, Fei... Aquele que tem o mesmo poder que Grahf... Nós apenas quisemos selar aquele poder assustador que se ergueu de nossos próprios pecados.

<Citan>


Grahf, o homem um dia conhecido como Lacan, partiu em busca do ‘Poder de Zohar’...

Aquele que tem o mesmo poder que Grahf... Fei...

Eu tive essa premonição de que Fei, também, despertaria e procuraria por esse poder.

E esse pressentimento tornou-se realidade.


O bloco de celas em Shevat era um lugar deprimente, abandonado às escuras e onde o único som audível era o gotejar incessante que decerto vinha do sistema de refrigeração, condensando o ar ambiente. Seu único prisioneiro não estava em condições de fazer qualquer ruído.
Fei Fong Wong estava confinado em carbonita, um ser humano encrustado num bloco opaco, totalmente alheio do mundo ao seu redor, ao que parecia. No interior de sua mente, tampouco, havia um mundo a perceber.
Ele estava caminhando num amplo espaço vazio, onde a única certeza que tinha era que algo cintilava em algum lugar; podia ouvir o som. Nada fazia sentido para a sua presença, caminhando sempre em frente sem sequer saber o porquê.

Onde... eu estou?

Outra vez o som de tilintar. Não havia nada à sua volta, mas aquele som era estranhamente familiar. Já o ouvira antes.

Quem... sou eu?

Seu ângulo de visão mudou de repente, e agora podia ver diante de si a figura inconfundível de um crucifixo de prata, pendendo de um lado a outro, cintilando na luz sempre que atingia um limite em seu balanço e parecendo girar enquanto pendia.

Isso é... a minha memória?

A figura de um homem vestido de verde, com óculos de lentes quádruplas, surgiu à sua direita, e ele viu-se conversando com ele diante da porta de uma casa modesta sobre a montanha.

Doc...

À esquerda, ele conversava com um rapaz loiro, com um tapa-olho sobre o olho esquerdo, e ambos estavam de pé no convés de um cruzador de areia.

Bart...

Agora à direita, um gigante verde de cabelos de fogo falava com ele diante de uma porta, e por toda a volta havia uma cidade decadente como um bloco de prisão.

Rico...

Mais adiante, à esquerda, ele conversava com um rapaz vestido como padre, e ao redor deles havia várias camas como num hospital, ou orfanato.

Billy...

Diante dele, pouca coisa mais à direita, um estranho mascarado dava-lhe as boas vindas por finalmente ter chegado a uma cidade que flutuava nos céus.

Sábio...

Agora à sua esquerda, a lua brilhava escarlate atrás de um sombrio mascarado, parado sobre o ombro de um Gear de bronze, ambos ameaçadores e passando uma terrível impressão de inevitabilidade.

Grahf...

Só então ele percebeu que havia um vulto, uma ‘manifestação de si mesmo’ saindo e detendo-se na direção de cada uma das figuras familiares e que, de alguma forma, era como se aquelas figuras não fizessem mais parte dele.

Todo mundo... Minhas... memórias...

Um clarão mais intenso brilhou por um instante e o crucifixo pareceu maior, ou mais próximo, enquanto uma jovem de cabelos vermelhos e uniforme de Solaris seguiu em frente e ele parou.
_ Elly?
Um segundo clarão se fez por um momento, e agora era uma moça de cabelos escuros e vestido de camponesa que seguia em frente, alguém que sabia conhecer mesmo sem nunca ter visto até então.
_ Mãe?
Todas as imagens de si mesmo voltaram e pareceram fundir-se com ele enquanto o cintilar do pingente finalmente tornou-se numa luz mais intensa, crescendo em intensidade e marcando seu caminho numa trilha luminosa. E o pêndulo ficou cada vez maior, aproximando-se mais dele.
Diante dele por um longo momento, o rosto invertido de um menino sorrindo sob cabelos revoltos fez com que tudo à sua volta estremecesse. E após o tremor, Fei percebeu que não estava mais sozinho.
_ Quem é você?
A pessoa era idêntica a ele, da cabeça aos pés. Estava sentado imóvel no centro de um facho de luz semelhante a um holofote, e parecia levemente translúcido, como se seu corpo não fosse sólido. O rosto, apesar de idêntico ao dele, não tinha qualquer expressão, e seus olhos pareciam vazios.
_ Eu estou surpreso. Isso é muito esperto.
Fei voltou-se. O menino de cabelos revoltos aproximou-se até deter-se diante dele, e parecia sorrir.
_ Você... é o Id?
_ Eu te julguei mal – o menino prosseguiu, como se não tivesse ouvido – Eu não esperava que você, a personalidade falsa, fosse criar uma quarta persona.
_ Quarta persona?
Fei voltou-se para o outro, sentado imóvel atrás de si. E Id também voltou sua atenção para o outro.
_ Ele não consegue sentir coisa alguma. Está trancado dentro do seu ego. Os fatos e as verdades difíceis, que você não admite. Está com medo deles, então desejou se desligar completamente do mundo exterior. E assim – ele passou por Fei, detendo-se diante do outro – você formou uma quarta persona. Um quarto ‘Fei’. O nome... não importa.
“Ele é quem está no palco. É ele quem está no controle do nosso corpo. Mas essa é uma forma inútil de resistência”
Id voltou-se para o outro, então, e não estava mais sorrindo.
_ Venha comigo!
O outro prontamente se pôs de pé e começou a seguir Id, que se afastou de Fei naquele vazio mental.
_ Espere! Onde está indo?
_ Ele tem a chave – Id respondeu sem se voltar – Eu meramente quero pegar emprestado. Tenho que ir pra um lugar.
Fei nada disse ou fez enquanto Id e a quarta persona desapareciam diante de si. Quando não podia mais vê-los, no entanto, ainda pôde ouvir a voz de Id perguntar:
_ E você... Vem também?
As luzes se apagaram.

  

O ANTIGO ECO DESAPARECE

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